Neoliberalismo é quando os ricos transferem livremente suas
riquezas para onde se pagam menos impostos, aplicam seus recursos onde os juros
são mais elevados e deslocam seus empreendimentos para onde haja o mínimo de
direitos trabalhistas e sociais. E vivem em qualquer lugar do mundo que assim o
desejarem, cercados de muros, bens luxuosos e aparatos de segurança privada.
São os habitantes das muralhas maravilhosas.
Enquanto isso, o resto da população trabalha para subsistir,
sobreviver e consumir as sobras do mundo afluente. Endividam-se para ter o
mínimo de conforto material e vivem onde é possível viver, cercados de
insegurança pública. Quando pacíficos, os excluídos são abandonados. Quando
violentos, são encarcerados. Um Estado mínimo garantido por presídios de
segurança máxima. Austeridades sociais em meio a prodigalidades armamentistas.
Os neoliberais e seus aliados conspiram incansavelmente pelo
desmantelamento das redes de proteção social, amparados por suas tropas de
elite espalhadas pelas casas legislativas. Suas indústrias bélicas são
amplamente representadas em seus interesses nos parlamentos e legalmente
blindadas pelos poderes judiciários. Os bancos de investimentos são suas
fortalezas mais sólidas. Jamais se acanham em se utilizar largamente das
instituições democráticas em benefício próprio.
E para disseminar suas ideologias, os poderosos do capital e
seus representantes corporativos cercam-se de acadêmicos vencedores do prêmio
Nobel, de políticos pretensamente defensores da social-democracia e de
porta-vozes midiáticos dos principais meios de comunicação. Mediante o mágico
efeito da dominação simbólica, o neoliberalismo faz com que dominantes e
dominados lutem por um mesmo ideal. É a globalização da ideologia. Uma distopia
real. Aqui e agora. Essa é a verdadeira contrarrevolução do final século XX,
cujos efeitos ainda reverberam incólumes em pleno século XXI.
Ulysses Ferraz
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