" O disco chega ao fim. A agulha ergue-se e o braço regressa ao seu suporte. O empregado do bar aproxima-se do gira-discos para mudar o 33 rotações. Levanta com todo o cuidado o LP de vinil e guarda-o dentro da respectiva capa. Depois tira outro, examina a superfície à luz e coloca-o em cima do prato. Carrega no botão e a agulha desce sobre o disco. Ouve-se um leve arranhar, após o que «Sophisticated Lady» de Duke Ellington começa a tocar. Ouve-se um solo calmo de Harry Carney no clarinete baixo. O barman move-se com todo o vagar, fazendo com que o tempo no bar se escoe a um ritmo muito próprio.
Mari pergunta ao homem:
- Só põe a tocar discos de vinil?
- Não gosto de CD - responde ele.
- Porquê?
- São demasiado brilhantes.
Kaoru mete a sua colherada.
- Por acaso é algum corvo ou quê?
- Com o vinil, a chatice é ter de estar sempre a mudar o disco - diz Mari.
O barman ri-se.
- Repare, estamos a meio da noite. Não há comboios até de manhã. Qual é a pressa?
Excerto de " After Dark/Os passageiros da Noite ", de Haruki Murakami, Trd. Maria João Lourenço, Ed. Casa das Letras
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