sexta-feira, 30 de abril de 2010

" - Quando conversar com um proletário, serei vermelho. Agora estou à conversa consigo e digo-lhe: a minha sociedade inspira-se naquela que no princípio do século nono organizou um bandido chamado Abdla-Aben-Maimum. Naturalmente, sem o aspecto industrial que eu confiro à minha e que será forçosamente uma garantia do seu sucesso. Maimum quis fundir os livres pensadores, aristrocatas e crentes de duas raças tão distintas como a persa e a árabe, numa seita na qual implantou diversos graus de iniciação e mistérios. Mentiam descaradamente a toda a gente. Aos judeus prometiam a chegada do Messias, aos cristãos a de Paracleto, aos muçulmanos a de Madhi... foi de tal modo que uma turba de gente com as mais distintas opiniões, situação social e crença, rabalhava em prol de uma obra cujo verdadeiro fim era conhecido por muito poucos. Desta forma Maimum esperava chegar a dominar por completo o povo muçulmano. Escuso de acrescentar que os directores do movimento eram uns cínicos estupendos, que não acreditavam absolutamente em nada. Nós vamos imitá-los. Seremos bolcheviques, católicos, fascistas, ateus, militaristas, em diversos graus de iniciação."



Excerto de " Os sete loucos", de Roberto Arlt, Trd. Rui Lagartinho e Sofia Castro Henriques, Ed. Cavalo de Ferro,2003

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