Fui chamado com urgência a casa dos veneráveis senhores de Ordeaz. A Menina Rosalía, a mais robusta e alta daquela casa, uma jovem com ar de comandante em vias de promoção, encontrava-se em pleno delírio de alegria, a dançar diante dos espelhos... E logo ela, que era tão formal!
Fui dar com ela, de facto, envergando um roupão solto e uma simples combinação, rindo à gargalhada, sentada num baloiço. Uma autêntica cena de pátio andaluz em dia de Verão, cuja origem só poderia residir nalgum acontecimento muitíssimo agradável.
- Estará louca? - perguntaram-me os pais, consternados. - Os médicos que a viram disseram que endoideceu de todo e que vai ser preciso interná-la...
- Nada disso - respondi-lhes eu -; os senhores devem é associar-se ao acontecimento que ela hoje festeja...
Coitada! Está hoje a despedir-se da vida passada, hoje que a sua vida genésica acabou... A natureza celebra a sua última festa, aquilo a que em Medicina se chama menopausa... Tragam doçarias, pastéis e umas garrafas de xerez...
É preciso embebedá-la e fazer que depois durma o longo e restaurador sono dos bêbados.
Capítulo de " O médico inverosímil ", de Ramón Gómez de la Serna, Trd. Júlio Henriques, Ed. Antígona
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