RIO DE JANEIRO - Os menores de 30 podem não acreditar, mas
houve um tempo no Brasil -anos 70, por aí- em que cada família só dispunha de
um carro. O qual ficava com o chefe da dita, que o usava para ir trabalhar e o
trazia de volta à noitinha. No fim de semana, os filhos disputavam o carango, e
o pai podia cedê-lo ou não -Rita Lee fez uma música sobre isso, "Papai, Me
Empresta o Carro". Claro que de há muito já não é assim.
Com o telefone, idem. Até fins dos anos 80 (juro!), raras as
famílias que tinham mais de um. Não de mais um número, mas de mais um aparelho.
Por circunstâncias da época, era mais complicado comprar um telefone do que ir
a Adis Abeba. Tínhamos de apelar para pistolões, contratar despachantes,
subornar autoridades. Numa disputa de herança, os herdeiros se pegavam por
causa do aparelho. E, para se ter uma ideia, telefone era investimento. Hoje,
meu vendedor de coco na praia tem três ou quatro celulares pendurados na sunga,
e ainda acha pouco.
O mesmo com os televisores. Não que fosse proibido ter mais
de um -ao contrário. É que não se usava. Nas décadas de 60 e 70, por exemplo,
tanto fazia ter como não ter TV em casa -eu próprio, às vezes, passava anos
sem, e sem sentir a menor falta. E então começou a história de um aparelho na
sala e outro no quarto.
Hoje, como sabemos, em casa ou na rua, onde quer que você
esteja -salas de espera, táxis, aviões, elevadores-, há uma tela ligada.
Com o computador foi diferente. Do trambolho exclusivo das
grandes empresas, que ocupava um andar inteiro e ao qual só os técnicos tinham
acesso, passamos direto para o computador individual, o PC, que até eu e
menores de cinco anos conseguem manobrar.
Mas ainda é cedo para dizer se isso nos fará tão neuróticos
e estressados quanto o excesso de carros, telefones e aparelhos de TV.
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