"Dispomos da afirmação que o poder não se dá nem se
retoma, mas se exerce, só existe em ação, como também da afirmação que o poder
não é principalmente manutenção e reprodução da relações econômicas, mas acima
de tudo de uma relação de força. Questão: se o poder se exerce, o que é este
exercício, em que consiste, qual é a sua mecânica?"Michel Foucault (Microfísica do poder)
domingo, 28 de fevereiro de 2016
Machado de Assis era Brasileiro. Uma genealogia brasileira.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), escritor
carioca, brasileiro, universal. Machado de Assis é reconhecido pela crítica
como um dos cinco maiores nomes da literatura portuguesa em toda a sua
história. Foi fundador e Presidente da Academia Brasileira de Letras.
A melhor obra "machadiana" para fins genealógicos
é o trabalho de Gondin da Fonseca, Machado de Assis e o Hipopótamo, 6ªed, 1974.
Joaquim Maria Machado de Assis (MA) foi batizado na Capela
de Nossa Senhora do Livramento (Santa Rita L8, 167) aos 13 de novembro de 1839,
nascido aos 21 de junho do mesmo ano. Filho legítimo de Francisco José de Assis
e de Maria Leopoldina Machado de Assis. Foram padrinhos o Viador Joaquim
Alberto de Souza da Silveira e Dona Maria José de Mendonça Barroso, senhores da
Quinta do Livramento, genro e nora entre si, como veremos depois.
O pai de Machado de Assis, Francisco José de Assis era
pintor e dourador.Sabia ler e escrever e possuía certa cultura, como se
depreende de uma assinatura sua do Almanaque Laemmert. Foi batizado aos onze
dias de outubro de 1806 na Catedral, Santíssimo Sacramento (L3A, 330). Era
filho de Francisco de Assis, pardo forro e de Inácia Maria Rosa,
parda forra. Foi padrinho o Reverendo Antonio de Azevedo e Protetora Nossa
Senhora das Dores. Muitos biógrafos de MA indicam o Padre Antonio de Azevedo
como avô de Francisco José de Assis. O Padre Antonio de Azevedo era
natural da Ilha do
Faial, Açores.
Casou o pai de Machado de Assis (MA), Francisco José de
Assis, com Maria Leopoldina aos dezenove dias de agosto de 1838 na Capela do
Livramento (Santa Rita, L4, 42). Maria Leopoldina era natural da
freguesia de São Sebastião da Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores,
filha de Estevão José Machado e de Ana Rosa. Foram testemunhas o Comendador
Baltazar Rangel de Souza e Azevedo Coutinho e o Alferes Joaquim José de
Mendonça. A mãe de MA foi indicada por alguns biógrafos como lavadeira e
certamente era de origens humildes, mas sabia ler e asinava com bela
caligrafia.
Machado de Assis só teve uma irmã, Maria, batizada no
Livramento em outubro de 1841. Foram padrinhos o Brigadeiro, Senador e Ministro
Bento Barroso Pereira e D. Maria José de Souza Silveira, novos senhores do
Livramento. (Santa Rita, L8, 243v.244). Maria faleceu em 4/7/1845. A
madrinha de MA D. Maria José de Mendonça faleceu em 11/10/1845, com 75 anos,
viúva do Senador Bento Barroso Pereira. A mãe de MA faleceu em 18/1/1849.
Os avós paternos de MA casaram na Igreja do Santíssimo (L2,
97). Francisco José de Assis, pardo forro, filho natural, desobrigado na
freguesia de Santa Rita, de Benedita Maria da Piedade, escrava que foi de D.
Maria Teresa dos Santos, com Inácia Maria Rosa, forra, filha natural de Rosa,
preta, escravas do Padre José Pereira dos Santos. Foram testemunhas o
Reverendo Chantre Filipe Pinto da Cunha e Souza e o Tenente Coronel Francisco
Cláudio Pinto da Cunha e Souza. Presente também o Padre Antonio de Azevedo, o
suposto pai do noivo, o que levou o matrimônio para outra freguesia e a sua
desobrigação da
Igreja de Santa Rita.
As origens da família paterna de MA encontram-se nos
segundos proprietários do Livramento. Manuel Pinto da Cunha e Sousa casou com Maria
Teresa dos Santos em 1737. Eram os senhores do Morro do Livramento,
extensa propriedade que ia desde a orla do Valongo até quase o Campo de Santana,
depois Campo da República. Todo o Morro pertencia à Quinta do Livramento.
Manuel Pinto da Cunha faleceu por volta de 1771. Eram os
senhores de Benedita Maria da Piedade, escrava negra, bisavó de MA. José
Pereira dos Santos, eclesiástico, provavelmente irmão ou parente próximo
de Maria Teresa dos Santos, era o senhor de Rosa, outra bisavó de MA.
O Livramento e os seus senhores
A chácara do Livramento foi criada pelo português José
Caieiro da Silva. Instituiu a Capela dedicada a Nossa Senhora do Livramento. O
primeiro dono faleceu em 15/8/1736. A propriedade foi comprada por Manoel
Pinto da Cunha, que legou a chácara a dois de seus filhos. A 10 de fevereiro
de 1827, Ana Teresa faz a doação do Livramento, em escritura, para Bento
Barroso Pereira em 10/2/1827. A escritura afirma que Bento administrara os
bens e os resgatara das dificuldades e das dívidas deixadas pelo irmão
dela, o Brigadeiro Francisco Cláudio Pinto da Cunha e Sousa,
falecido em 1822. A doadora ficaria em usufruto na propriedade e o Brigadeiro
Bento continuaria a morar em sua companhia na dita Quinta. Deu o valor da
Quinta em 24 contos. O imóvel deveria valer muito mais. D. Ana Teresa faleceu
seis meses depois, aos 19/9/1827.
Manuel Pinto da Cunha e Sousa e Maria Teresa dos Santos
foram os pais de Ana Teresa Angélica da Cunha e Sousa, senhora solteira, que
herdou a propriedade do Livramento após a morte de seu irmão, o Tenente Coronel
Francisco Cláudio, falecido em 1822. Nesta parte entra em cena o
Brigadeiro Bento Barroso Pereira, que freqüenta o círculo das pessoas da
chácara do Livramento, ganha a confiança, ajuda D. Ana Teresa Angélica
a administrar a propriedade e paga as dívidas dela. Bento Barroso Pereira
receberia em doação boa parte do Livramento em 19/2/1827, como agradecimento
pela convivência e pelo pagamento das dívidas da Quinta. Bento Barroso Pereira
casou na Capela do Livramento um ano antes com a viúva Maria José Mendonça,
nascida em Portugal, batizada na freguesia de São Vitor, Braga, aos 9/3/1773.
Foi exposta e seu padrinho foi o Cônego João Cardoso de Mendonça Figueira. Era
filha natural de Manuel Cardoso de Mendonça Figueira de Azevedo. Em 6/3/1802,
por procuração passada na Cidade do Porto, Igreja de Santo Ildefonso, Maria
José Alexandrina Cardoso de Mendonça Figueira de Azevedo casou com um primo,
Joaquim José de Mendonça Cardoso, Desembargador Intendente do Ouro no Brasil,
falecido no Rio de Janeiro em 17/10/1807. Joaquim José de Mendonça Cardoso era
filho natural de
Maria Clara, batizado em 15/10/1766 na freguesia de São
Martinho de Anta, Concelho de Sabrosa, Porto. Maria Clara era natural de São
João Batista, Vila de Moimenta da Beira, Bispado de Lamego, filha de
Domingos de Aguiar e de Clara dos Santos. Seria Joaquim José de Mendonça Cardoso,
primeiro marido de Maria José Mendonça, filho do Cônego Joaquim José
de Mendonça Cardoso ? No ato do casamento é que Maria José revelou o
nome do pai dela, a mãe nunca foi revelada. Eram pessoas riquíssimas em Portugal
e no Brasil. Maria José teve dois filhos do seu primeiro enlace, nascidos
em Portugal e que vieram depois também para o Livramento: O Alferes
Joaquim José de Mendonça e Antonia Margarida de Mendonça Figueira de
Azevedo, casada com Joaquim Alberto de Sousa da Silveira.
Foram padrinhos de MA D. Maria José Mendonça e seu genro o
Sargento-Mor Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, também parentes entre
si em Portugal em grau recuado. Também seriam ambo considerados parentes
distantes de D. Ana Teresa Angélica da Cunha e Sousa (300). O Livramento seria
uma rede de parentesco ? Temos que verificar empiricamente a afirmação com
outras pesquisas.
O Sargento-Mor Joaquim Alberto de Sousa da Silveira e D.
Antonia Margarida tiveram uma única filha, batizada com o mesmo nome da avó
materna (Maria José de Mendonça, a madrinha de MA), nascida em Pati do Alferes,
Maria José de Mendonça da Silveira. Casou com Jorge Firmo Loureiro, adido à
legação de Portugal. D. Maria José de Mendonça da Silveira era Dama de Honra da
Imperatriz do Brasil.
Como referimos antes, D. Maria José Mendonça, viúva com 53
anos, casou na Capela do Livramento (Santana L1, 120v.) aos 25/11/1826 com
o Brigadeiro Bento Barrosos Pereira, com 41 anos. Dona Ana Teresa
Angélica da Cunha e Sousa foi testemunha junto com o Sargento-Mor Pedro
Francisco Guerreiro
Drago.
O Brigadeiro Bento Barroso Pereira faleceu em 9/2/1837, em
Niterói. Sem filhos do seu casamento, como seria presumível em função da
idade de sua mulher D. Maria José de Mendonça Barrosos e que também faleceria
em 1845. O Alferes Joaquim José de Mendonça faleceu em 1847, em estado de
demência. A única herdeira foi Maria José de Mendonça Silveira, a filha de
Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, o padrinho de MA. A herdeira seria
representada no inventário pelo seu marido Jorge Firmo Loureiro. Houve um
litígio com D. Maria Paula (ver a seguir) e a herança do Alferes Joaquim José
de Mendonça, com problemas mentais, que somou 18:734. 493
D. Maria José de Mendonça da Silveira voltou a casar em
6/10/1866 na Capela do Livramento com João Antonio Martins Tinoco. Do primeiro
casamento teve a filha Carolina da Silveira Loureiro, que casou e morreu em
Braga. Do segundo casamento em Braga, Portugal, também teve geração conhecida.
Um dos irmãos de Bento Barroso Pereira era Joaquim Barroso
Pereira, que casou em 1831 com Maria Paula Rangel de Sousa Coutinho
Azevedo, filha do Capitão Baltazar Rangel de Sousa Coutinho Azevedo e D.
Antonia Joaquina Duque Estrada Furtado de Mendonça. D. Maria Paula teve longa
vida, nasceu no Rio de Janeiro em 10/5/1797 e faleceu em 27/6/1893, com 96
anos. Foi a cunhada e sucessora no Livramento de D. Maria José Mendonça.
Teve dois filhos: Antonio Barroso Pereira e Bento Barrosos Pereira. MA
"sempre a amou". Maria Paula foi a testamenteira de D. Maria José
de Mendonça em 1845. Como vimos antes, no casamento na Capela do Livramento dos
pais de MA, Francisco José com Maria Leopoldina, foram testemunhas
Baltazar Rangel de Sousa Coutinho Azevedo, pai de Maria Paula Rangel e Joaquim
José de Mendonça, filho de Maria José Mendonça e que ficou demente
(louco), legando para sua mãe a renda do ofício de Escrivão das Execuções do
Sabará.
A família da mãe de Machado de Assis
Maria Leopoldina Machado da Câmara, a mãe de MA, foi
batizada em 7/3/1812, freguesia de São Sebastião de Ponta Delgada, Ilha de São
Miguel dos Açores. Faleceu no Rio de Janeiro em 18/1/1849. Filha de Estevão
José e de Ana Rosa, casados em 9 de junho de 1809. Estevão José era natural da
Vila do Porto, Ilha de Santa Maria, freguesia de Nossa Senhora da Assunção,
nascido em 16 de março de 1790, a princípio foi declarado filho de pais
incógnitos e exposto nas Casas da Câmara. Depois seus pais, João Pedro e
Francisca Rosa, regularizaram a situação, quando casaram em 9/7/1796 na
freguesia de Nossa Senhora da Purificação, Candeias, da Ilha de Santa Maria.
João Pedro, bisavô de MA era filho de João Machado e de Helena Rosa.
Ana Rosa, avó materna de MA, era viúva de Antonio da Câmara,
que "não foi sepultado por cair no mar donde nunca saiu". O nome
Câmara e o nome Leopoldina da mãe de MA devem ter sido inventados para fins
de prestígio talvez. "O nome heráldico Maria Leopoldina Machado da
Câmara deve ter sido criação artística de D. Maria José de Mendonça Barroso,
protetora da moça" (Gondin da Fonseca, 286). Ela nasceu em 7/3/1812, na
freguesia de Nossa Senhora da Ajuda, lugar Bretanha. Filha de Sebastião Arruda
Cordeiro, batizado na mesma freguesia da Bretanha em 18/11/1743 e de
Maria da Estrela. Ana Rosa era neta paterna de Julião Cordeiro e de Maria de
Viveiros e neta materna de Antonio Tavares e de Maria do Nascimento. Julião
Cordeiro era filho de Manuel Cordeiro Benevides e de Margarida de
Viveiros. Maria de Viveiros era filha de Pedro Arruda e de Francisca de
Viveiros (38).
Casa Grande e Senzala no Livramento
O Livramento era uma típica estrutura social brasileira no
estilo da Casa Grande e Senzala. Formava uma comunidade senhorial e
patriarcal, mesmo estando dentro da Cidade do Rio de Janeiro e sendo comandada
por mulheres bondosas e de vidas familiares também sofridas. Era uma
pequena comunidade escravista com as suas hierarquias e divisões. Havia várias
camadas. O proprietário ou a proprietária principal (no caso mais as
“matriarcas”), os senhores, os agregados superiores, os agregados, os
trabalhadores e os escravos na base da pequena comunidade. Havia a Capela do
Livramento, havia também a Casa Grande, que na verdade era um amplo palacete,
contrastando com outras casas dos agregados e com as senzalas Havia o trabalho
agrícola, as plantações, a fruticultura e as hortas nas atividades vinculadas
ao abastecimento da Cidade do Rio de Janeiro. Integração social e conflito
coexistiam. A comunidade do Livramento atravessaria quase todo século XIX e os
seus vínculos durariam ao longo do tempo.
Os pais de Machado de Assis podiam ser considerados
agregados em posição intermediária. Eram respeitados e inclusive batizaram filhos
de escravos do Livramento. O maior capital social que dispunham era a
cultura acima da média e a sua capacidade de escrever e ler. Isto faria a
diferença para a formação inicial do jovem Machado de Assis. O resto seria
com o próprio escritor e o ambiente progressista e modernizante em várias
esferas sociais e econômicas do Rio de Janeiro na virada do XIX para o XX.
Passemos a palavra para um comentarista estrangeiro, o
francês Jean Michel Massa (A Juventude de Machado de Assis: 1971, 55):
"Foi entre essa família patriarcal, um pouco voltada
sobre si mesma, que Machado de Assis passou os seus primeiros anos. Cresceu no
meio de um grupo social particular, que é uma espécie de gens, unida por uma
sólida argamassa. O chefe era uma velha dama, no crepúsculo de sua
vida, que conheceu uma existência bastante agitada, Maria José de
Mendonça, filha natural, casada em segundas núpcias, rica, muito rica mesmo.
Ali existia uma hierarquia implícita que todos aceitavam. Ela se exercia sem
violência, até mesmo com certa benevolência, porque se excetuarmos a idade
da proprietária, nada ameaçava as bases do edifício. Os anos 1840-1850
assistiram ao apogeu do sistema patriarcal; para alguns foram os seus últimos
clarões. As classes existiam nesta sociedade como em todas as épocas e em todos
os lugares, mas não se tinha ainda nitidamente consciência das diferenças. O
sistema era equilibrado e compensado por um certo tipo de vida afetiva,
muito brasileiro, de respeito e submissão”.
Ricardo Costa de Oliveira
12/5/2005
Cuando mi error y tu vileza veo
De amor, puesto antes en sujeto indigno, es enmienda
blasonar del arrepentimiento
Cuando mi error y tu vileza veo,
contemplo, Silvio, de mi amor errado,
cuán grave es la malicia del pecado,
cuán violenta la fuerza de un deseo.
A mi misma memoria apenas creo
que pudiese caber en mi cuidado
la última línea de lo despreciado,
el término final de un mal empleo.
Yo bien quisiera, cuando llego a verte,
viendo mi infame amor poder negarlo;
mas luego la razón justa me advierte
que sólo me remedia en publicarlo;
porque del gran delito de quererte
sólo es bastante pena confesarlo.
Sor Juana Inés de la Cruz
Biblioteca Digital Ciudad Seva
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Não te rendas, ainda é tempo
De se ter objetivos e começar de novo,
Aceitar tuas sombras,
Enterrar teus medos
Soltar o lastro,
Retomar o vôo.
Não te rendas que a vida é isso,
Continuar a viagem,
Perseguir teus sonhos,
Destravar o tempo,
Correr os escombros
E destapar o céu.
Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo morda,
Ainda que o sol se esconda,
E o vento se cale,
Ainda existe fogo na tua alma.
Ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua e teu também o desejo
Porque o tens querido e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor, é certo.
Porque não existem feridas que o tempo não cure.
Abrir as portas,
Tirar as trancas,
Abandonar as muralhas que te protegeram,
Viver a vida e aceitar o desafio,
Recuperar o sorriso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo
Celebrar a vida e se apossar dos céus.
Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio te queime,
Ainda que o medo te morda,
Ainda que o sol ponha e se cale o vento,
Ainda existe fogo na tua alma,
Ainda existe vida nos teus sonhos
Porque cada dia é um novo começo,
Porque esta é a hora e o melhor momento
Porque não estás sozinho, porque eu te amo
(Mario Benedetti)
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
repercussão da ação intitulada “Provocações Cotidianas”
Diante da repercussão da ação intitulada “Provocações
Cotidianas” que fez parte do projeto desenvolvido no Colégio Estadual Castro
Alves que aborda a dimensão das relações de gênero e sexualidade, que foi
criticada duramente pela “Psicóloga Cristã” e ex-canditada a deputada federal
Marisa Lobo nas redes sociais, gostaríamos de fazer alguns esclarecimentos
sobre as relações de gênero na educação.
A produção do conhecimento deve ser um instrumento na busca
pelo avanço de uma sociedade livre de preconceitos e de todas as formas de
violência. A escola deve debater as relações de gênero, na perspectiva de que o
ser humano deve ser ensinado a respeitar todas as pessoas, a partir da garantia
da igualdade de direitos entre homens e mulheres, de combate à violência
doméstica, pelo direito à vida das mulheres que são vítimas do Feminicídio
(nova qualificação ao homicídio, a partir da Lei 13.104/2015) e da população
LGBT, vítimas da homofobia.
É papel social da escola e do ensino, criar e estimular
mentes criativas, críticas e questionadoras, como processo contínuo de
formação, fundamentado em texto constitucional:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
Reafirmamos que o ambiente escolar deve ser espaço de
análise, debate e formação, com base nas Diretrizes Nacionais para a Educação
em Direitos Humanos, que definem, entre outros fundamentos:
Art. 3º A Educação em Direitos Humanos, com a finalidade de
promover a educação para a mudança e a transformação social, fundamenta-se nos
seguintes princípios: I - Dignidade humana; II - Igualdade de direitos; III -
Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; IV - Laicidade
do Estado; V - Democracia na educação; VI - Transversalidade, vivência e
globalidade; e VII - Sustentabilidade socioambiental. RESOLUÇÃO Nº 1, DE 30 DE
MAIO DE 2012.
Com base na Nota Técnica nº 24/2015 da Coordenação Geral de
Diretos Humanos, da Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e
Cidadania, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão do Ministério da Educação, o MEC, os conceitos de gênero e de
orientação sexual são conceitos científicos, construídos em bases acadêmicas. O
que este campo de pesquisa aponta é que o processo de construção de práticas e
representações de gênero e sexualidade ocorre em diferentes espaços sociais: na
família, na comunidade, no trabalho e, também, na escola.
O projeto desenvolvido no Colégio Estadual Castro Alves teve
como objetivo conscientizar nossos estudantes para a o combate ao preconceito,
a discriminação e pela cultura do RESPEITO, sempre pautados na Declaração de
Direitos Humanos, na Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases para a
Educação Nacional e orientações da Secretaria de Estado da Educação.
A repercussão, os comentários e o posicionamento de algumas
pessoas diante do desenvolvimento deste projeto, demonstra que o preconceito, a
discriminação e a violência contra o “diferente” ainda fazem parte de nossa
sociedade, o que torna a reflexão gerada por este projeto extremamente
pertinente em nosso contexto histórico atual.
Parabéns aos professores, alunos e alunas envolvidos/as.
A Direção
Colégio Estadual Castro Alves
"Versão final da carta de repúdio produzida pelo coletivo dos professores reunidos no Colégio Yvone Pimental, Setor Portão
Curitiba, 24 de fevereiro de 2016.
Nós professores reunidos no Colégio Yvone Pimentel, a
propósito dos trabalhos da Semana Pedagógica 2016, temos a considerar:
1 – Com relação à forma e à metodologia de trabalho adotada
pela SEED para dinamizar o debate sobre a BNCC, as julgamos inadequadas e pouco
democráticas. A proposição da SEED contou com os seguintes problemas: •
Desorganização; responsabilização das escolas para realizar e providenciar
subsídios materiais, obrigações que, a rigor, são atribuições próprias da
mantenedora e seus respectivos quadros profissionais. • Ausência de orientações
acerca do objeto a ser debatido e suas respectivas implicações. Esta condição,
a nosso ver, é intencional e expressa mais uma tentativa de dar uma aparência
de democracia às deliberações futuras, realizadas em outros âmbitos
(governamental, acadêmico e privado) cujos resultados, os/as trabalhadores/as
da educação não têm acesso e espaço de intervenção.
2 – Avaliamos como positiva a reunião de vários
profissionais em fóruns de discussão como agora realizado. A ampliação do
debate é necessária e atende aos requerimentos e sugestões de organizações
educacionais e seus sujeitos. Porém, todo debate para ser considerado
democrático requer qualificação, e isto não se faz apenas com “número de
pessoas”. Desta forma, a positividade mencionada ficou diluída, pois, conforme
enunciado no item anterior, os debates de hoje sofreram com as limitações e
ausências de elementos necessários ao seu aprofundamento e à tomada de posição.
3 – Em se tratando do debate curricular nacional (BNCC),
denunciamos a toda a sociedade paranaense que, embora os veículos de
comunicação, por intermédio do CONSED e outros órgãos, afirmem que estes foram
amplos e legítimos. Nós trabalhadores/as da educação, afirmamos que o processo
que resultou no Documento Base foi pouco transparente. Boa parte das discussões
hora utilizadas como legitimadoras do Documento Base de deu por via digital, de
forma unilateral, sem permitir a expressão de contradições. Outra
característica da formulação do documento é sua metodologia academicista, já
que o texto base foi escrito por “especialistas” que em sua maioria não dominam
os problemas e contextos das escolas públicas de Educação Básica em seus
diversos níveis e modalidades.
4 – Sobre o Documento Base da BNCC e a respectiva legislação
que o fundamenta, afirmamos que há uma série de problemas conceituais. Os
conceitos ali propostos, conforme entendemos, estão implicitamente inseridos na
lógica neoliberal e neoliberalizante que, no plano prático traduz-se em
situações como: militarização e terceirização de escolas, precarização e perda
da identidade do trabalho dos/as profissionais da educação, entre outras. É
fundamental que, tanto nos textos legais, como nos documentos curriculares
nacionais, se explicitem os conceitos de área, disciplina, componente
curricular, transdiciplinaridade, interdisciplinaridade e transversalidade.
Mais do que preciosismo linguístico estas especificações traduzem-se em
diferenças de organização do trabalho pedagógico e consequentemente na qualidade
da educação pública.
5 – Por fim, tornamos público que o Governo do Paraná por
intermédio da SEED, sistematicamente desconsidera o acúmulo de discussões e os
produtos das lutas históricas dos/as trabalhadores/as da educação paranaense.
Exemplo disso, são as proposições de programas educacionais e de cursos de
formação (como o que se realiza hoje) como se a educação paranaense não tivesse
um documento orientador. Lembramos que as DCEs PR, embora seja documento aberto
a mudanças e aprimoramentos, reflete um logo processo de discussão democrática,
coletiva e, acima de tudo, qualificada.
Coletivo dos Professores de Ciências Humanas e parte do
Coletivo de Agentes Educacionais das Escolas do Setor Portão de Curitiba."
Valéria Arias
HÁ UMA HORA CERTA, HÁ UMA HORA CERTA.
Há uma hora, há uma hora certa
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Há uma hora, desde as sete e meia horas da manhã
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Estamos no ano da graça de 1946
em Lisboa, a sair para, o meio da rua.
Saímos? Mas sim, saímos!
Saímos: seres usuais, gente gente! olhos, narinas, bocas,
gente feliz, gente infeliz, um banqueiro, alfaiates,
telefonistas,
varinas, caixeiros desempregados,
uns com os outros, uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo, abrindo os sobretudos, descendo aos
mictórios para apanhar eléctricos,
gente atrasada em relação ao barco para o Barreiro
que afinal ainda lá estava apitando estridentemente,
gente de luto, normalmente silenciosa
mas obrigada a falar ao vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico, em marcha,
gente jovial a acompanhar enterros
e uma mãe triste a aceitar dois bolos para a sua menina.
Há uma hora, isto: Lisboa e muito mais.
Humanidade cordial, em suma,
com todas as consequências disso mesmo
e a sair a sair para o meio da rua. (...)"
— Mário Cesariny
Gracias, vientre leal
Mario Benedetti
"A nadie", le había dicho el Colorado, "a
nadie, ni siquiera a tu mujer. ¿Estamos?" Y él había contestado:
"Estamos". "Ni el menor indicio, ¿eh? Bastante caro hemos pagado
ya esos y otros liberalismos. Y la acción de mañana es particularmente
riesgosa. Aun extremando las medidas de seguridad, vos y Alfredo van a correr
mucho peligro. Eso lo sabés, ¿verdad?" "Está bien, está bien",
había dicho él. El Colorado había resoplado antes de concretar: "Bueno, a
las siete te recogerá Alfredo en Durazno y Convención".
Ahora Marta le servía lo que ella denominaba
"costillitas de cerdo a la riojana, versión libre". Siempre, para
bromear, le ponía un papelito sobre el plato con el menú del día. Ñoquis a la
romana. Escalope a la viena. Crême parmentière. Y así por el estilo. Esto de
"a la riojana" le había quedado de cierta vez que fueron a Buenos
Aires y a él le había gustado aquella combinación. Era la época en que todavía
podían ir de compras cada tres meses, y de paso veían cine, teatro,
exposiciones. A ellos, que en Montevideo vivían rodeados de padres, suegros,
tíos, primos, sobrinos, aquellas escapadas les servían como una puesta al día
de su mejor intimidad. Se sentían más unidos, más pareja, caminando del brazo
por Corrientes que en su propia casa donde había ojos en todos los rincones y
en todos los retratos. Pero hacía tiempo que esas "lunas de miel" se
habían acabado. Ahora había que hacer milagros con la plata.
-¿Te llamó tu madre? -preguntó Marta.
-Sí. Veinte minutos. De un tirón.
-¿Qué quería?
-Lo de siempre: compasión. Pobre vieja. Cómo se mira el
ombligo. El mundo puede venirse abajo, pero para ella no hay nada más
importante que el almacenero que le cobró de más y le pesó de menos.
-¿Sabés lo que pasa? Es bravo llegar a los setenta, y estar
sola, y no haber hecho otra cosa que pensar en sí misma. Además, a esa edad,
¿vas a pretender cambiarla?
-Ni se me ocurre. Apenas si alguna vez le digo: "Vieja,
¿por qué no lees los diarios? Así a lo mejor te enteras de que la gente muere
de hambre en el Nordeste brasileño, de los niños que en Vietnam son quemados
diariamente con napalm, y también de los botijas que aquí en tu país, no han
probado jamás leche. Enterate de todo eso y vas a ver cómo mañana vas corriendo
a darle un besito al almacenero que, con toda humildad, apenas si te afanó
treinta pesos".
Cuando iba por la mitad de la última frase, se fijó de
pronto en lo linda que estaba Marta esta noche. No venía nadie, y sin embargo
se había puesto el vestidito azul. O sea que era para él, nada más que por él.
Simultáneamente con la comprobación de lo bien que le quedaba el vestido, le
vinieron unas tremendas ganas de quitárselo. Pero se contuvo.
-Que linda estás hoy.
-¿Hoy nomás?
Ese juego de frases era casi una tradición entre ellos.
Tenían varias series de esos dialoguitos automáticos. A veces funcionaban bien
y provocaban otros dialoguitos, esto sí improvisados. Otras veces, en cambio,
sonaban a rutina. Dependía de tantas cosas: del estado de ánimo de uno, o de
los dos; de la buena o mala digestión; de la noticia desalentadora en la radio;
hasta de la niebla, la lluvia o el sol, que podía registrase en la ventana del
living.
-Vos en cambio estás feo.
-El hombre es como el oso, ¿no?
-Sí, cuanto más feo más espantoso.
En realidad, la variante era de él, pero ella se había reído
mucho cuando él la había incorporado al folklore doméstico.
-¿Te pido algo? No limpies la cocina esta noche. Dejala para
mañana.
-¿Vos me ayudás mañana?
Él vaciló, y ella se dio cuenta.
-Ah, no me ayudás.
-Mira, no voy a ayudarte mañana, porque tengo que salir
temprano. Pero igual te pido que no limpies la cocina esta noche.
-Bueno, el argumento no es muy convincente.
-¿Y la mirada?
-La mirada sí.
-¿Entonces no limpiás?
-Entonces no limpio.
Todo estaba implícito. Ocho años de matrimonio, ocho buenos
años de matrimonio, crean rutinas, claro, pero también crean entrelíneas,
claves, contraseñas. "No tenemos que dejar que nos aplaste la
costumbre", decía él a menudo. "Siempre hay que crear, siempre hay
que inventar." "¿Y yo te empujo mucho a la costumbre?",
preguntaba Marta. "No, en absoluto. Porque no alcanza con que invente un
solo integrante de la pareja; no alcanza con que se renueve uno solo. Algunas
noches vos me hacés una caricia nueva, una caricia inédita, y fíjate qué
curioso, esa caricia nueva también sirve para revitalizar las viejas caricias,
como si las contagiara de su novedad."
-Vení. Quiero quitarte yo el vestido.
-¿Qué pasa, amor?
-Nada. Sólo que quiero quitarte yo el vestido. Ya que es tan
lindo.
Marta se enfrentó a él, alegre y sorprendida, como dispuesta
a iniciar un juego del que aún no había captado totalmente el sentido.
-Quite, pues.
Él descorrió lentamente los cierres, desabotonó lo que había
que desabotonar, y luego presionó hacia abajo. El vestido azul quedó arrollado
a los pies de Marta. Ella iba a recogerlo, pero él dijo: "Después"
"Se va a arrugar." "No importa." La hizo girar frente a sí,
le desprendió el sostén.
-Realmente estás mucho más linda que cuando nos casamos.
-Pero, ¡qué pasa, amor?
-Eso es lo que quería confirmar. Ya lo he confirmado. Ahora
vení.
-¿No se piensa desvestir, compañero?
-¿Lo crees necesario?
-Absolutamente.
"A nadie", había dicho el Colorado, "ni
siquiera a tu mujer". Quizá por eso, él sentía oscuramente que en ese acto
de amor iba a haber una trampa. Pero estaba resuelto a trampear. Estaba
resuelto, aun en el instante de empezar a recorrer morosamente el cuerpo de
Marta. Sus manos estaban esa noche como nuevas. Su tacto tenía hoy una
increíble sensibilidad, todo lo captaba, todo lo excitaba, todo lo enamoraba.
Le pareció incluso que sus manos se habían vuelto repentinamente memoriosas, ya
que al acariciar un pecho, o un trozo de cintura, o un muslo, recobraba con
sorpresa sensaciones muy anteriores, es decir, volvía a sentir (junto con el
tacto nuevo) un recuperado tacto antiguo.
Marta advirtió que ésta era una noche excepcional. No sabía
la razón. Pero dejó para averiguarlo luego. No era ésta una noche para estar
pasiva, dejándose amar y punto. Era una noche para amar ella también
activamente, entre otras cosas, porque se sentía invadida por un deseo tierno,
fuera de serie. Él le susurraba: "Linda, tierna, buena", y ella
sentía que efectivamente lo era, en ese instante al menos. Por su parte, ella
no decía nada. Le gustaba que él le dijera cosas, pero ella callaba. Sólo sus
ojos y sus manos hablaban. Y eso bastaba. Mientras los ojos y las manos de
Marta hablaran, a él no le importaba que no hubieran palabras. Las palabras la
ponía él. Siempre había alguna nueva, y la palabra nueva era como una nueva
caricia, y también enriquecía las palabras de siempre.
Sólo en un instante, cuando él sintió que se conmovía casi
hasta el llanto, ella abrió desmesuradamente los ojos, suspendió todo ritmo y
murmuró en su oído: "¿Qué hay?" Él balbuceó promesas, pidió perdones,
juró amor, pero todo en un lenguaje cifrado que ella no alcanzó a comprender.
Allí el deseo reclamó sus derechos, y también esa duda quedó para después.
Quedaron fatigados, satisfechos, unidos. Él pasó el brazo
bajo el cuello de Marta, y permanecieron en silencio, los dos fumando.
-Hacía mucho que... -empezó él.
-¿Verdad que sí? ¿Por qué será? Después de todo somos los
mismos hoy que la semana pasada.
-Quién sabe.
-Estoy contenta, ¿sabés?
-¿De qué? ¿De que el país ande como el diablo?
-No. Estoy contenta porque nosotros andamos bien. Lo del
país me amarga, claro. Pero te confieso que todavía no soy lo suficientemente
generosa como para anteponer el destino del país al destino nuestro.
-¿No te parece que el destino del país nos incluye a
nosotros?
-Sí, claro.
-¿Y entonces?
-Ya te dije que no soy lo suficientemente generosa.
-No es cierto.
-Bueno, a veces soy generosa casi por egoísmo. Con vos, por
ejemplo. ¿Cómo no ser generosa con vos? Pero eso también es egoísmo.
-Todo mezclado, como dice Guillén.
-Pero estoy contenta. ¿Y vos?
-También.
-Estoy contenta porque intuyo que todo lo nuestro va a ir
cada día mejor. Y a corto plazo.
-Ojalá Dios mejore de su sordera.
-¿Y eso?
-Es mi modo de decir que Dios te oiga.
Ella sonrió por entre el humo.
-Decime: ¿pensás seguir militando?
-Sí.
-¿Lo crees realmente necesario?
-Sí, Marta, lo creo. Sobre todo para mí, para nosotros.
-A veces tengo miedo. Todo se está complicando tanto. No sé
si vale la pena el sacrificio.
-Siempre vale la pena.
-Ese miedo es la única nube a la vista. Ya han caído tantos.
¿Puedo pedirte algo?
-Claro.
-No asumas riesgos mayores.
-No hay riesgos mayores y riesgos menores. Hay riesgos.
Punto. Y a ésos no pienso sacarles el cuerpo.
-Vos bien sabés a qué me refiero. No podría soportar que te
pasara algo.
-No me va a pasar nada.
-Ya sé. Ya sé. Pero...
-¿Vos me querrías si supieras que le escapo a los riesgos,
que me acobardo y flaqueo?
-No sé. No creas que es tan simple. A lo mejor mi cabeza te
haría reproches, pero creo que mi vientre te querría igual. ¿Sabés una cosa? Mi
cabeza puede atenerse a principios, y hasta asumir compromisos. Pero para mi
vientre vos sos mi único compromiso. Lo que pasa es que es un vientre leal, ¿no
crees?
Él siguió fumando en silencio, conmovido. Ella esperó la
respuesta, luego insistió.
-¿Qué? ¿No lo crees?
-Sí, lo creo.
Y la volvió a abrazar. Esta vez sin otra intención de
saberla cerca, y sentir de paso la lealtad de aquel vientre.
Se durmieron de a poco, despertándose o semidespertándose
sólo para sentirse confortados con la piel del otro, como si el simple tacto
los pusiera a salvo de toda desgracia.
Él se despejó por completo diez minutos antes de que sonara
el despertador. Durante la noche Marta se había apartado y ahora dormía boca
abajo, sin sábana: realmente una gloria. No la tocó siquiera. Se levantó en
silencio, fue al baño, se vistió de apuro. La miró una vez más. En un papel
garabateó una frase: "Gracias, vientre leal", y lo dejó sobre la cama
en desorden.
Salió a la calle y miró el reloj: tenía tiempo justo para
encontrarse con Alfredo en Convención y Durazno.
FIN
Biblioteca Digital Ciudad Seva
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
O partido da sociedade para poucos
..."Não é, então, muitíssimo estranho que se fale tão
pouco em uma reforma política profunda que torne a relação entre a economia e a
política mais transparente - que é o que importa no combate à corrupção - e se
fale tão somente em pessoas e partidos (políticos) específicos?"
...É que a fulanização da corrupção só serve à sua
continuidade. Se o foco se deslocar para uma reforma política profunda, os
endinheirados e seus amigos da mídia conservadora perdem seu filão. Pense
comigo: se depois de Getúlio, Jango, Lula e Dilma (os alvos do combate à
corrupção seletiva no passado e no presente) vier outro representante da
sociedade inclusiva? Como a rapinagem econômica e seu braço midiático vão
destruir o adversário? Como iriam legitimar de outro modo a drenagem dos
recursos de todos - via mercado e Estado - para seus bolsos?"
..."O combate à corrupção seletiva - que como sabemos
blinda alguns políticos e persegue outros arbitrariamente - confere à rapinagem
a aparência de luta por algo importante para todos. É nisso que somos feitos de
tolos. Nesse contexto, confie em mim quando digo que um debate sério no Brasil
sobre corrupção dificilmente existirá. A manipulação do tema da corrupção é o
verdadeiro núcleo da legitimação do poder no país."
de Jessé Souza, na Folha de São Paulo 21.02.2016.
Derrotado no alvo principal com Dilma e Lula, agora o alvo
secundário do "estilo da justiça paraguaia" de Moro é a interrupção
da internacionalização dos grandes serviços de marketing político e das grandes
empreiteiras brasileiras no exterior. Grandes obras e serviços na África,
América do Sul e Central devem ser detidos e impedidos para que os concorrentes
internacionais dos velhos imperialismos retomem seus lugares.
Ricardo Costa de Oliveira
domingo, 21 de fevereiro de 2016
O combate à 'corrupção seletiva' – que como sabemos blinda
alguns políticos e persegue outros arbitrariamente – confere à rapinagem a
'aparência' de luta por algo importante para todos. É nisso que somos feitos de
tolos. Nesse contexto, leitor e leitora, confie em mim quando lhe digo que um
debate sério no Brasil sobre a corrupção dificilmente existirá. A manipulação
do tema da corrupção é o verdadeiro núcleo da legitimação do poder no
Brasil." (Jessé Souza)
Mais um genocídio de imigrantes pobres silenciado pela mídia e pelos poderes globais. Não é no Mediterrâneo e nem apenas no Mar Egeu, mas na América do Norte. Mais de seis mil descendentes de nativos americanos pobres morreram ressecados nos últimos anos ao se deslocarem pelo mesmo Continente Americano em que suas famílias habitam há mais de dez mil anos. O número deve ser bem maior. Os Estados Unidos sempre exploraram e garantiram a pobreza com fragilidade das nações Centro-Americanas ao apoiarem ditaduras, crimes e corrupção nas juntas militares. O narcotráfico financiado pelos compradores desestabiliza a região. Imaginem se as maiores potências mundiais do século 18 estivessem ao lado da repressão do Império Britânico contra os insurgentes americanos de 1776 na sua luta pela liberdade e independência. Para a direita a culpa sempre é da vítima. Quem manda atravessar a fronteira sendo um invisível, um mestiço indígena pobre, tal qual sendo negro na KKK, sendo judeu no nazismo, sendo palestino em Israel das ocupações ilegais. O que é silenciado pela política é revelado pela genética.
Ricardo Costa de Oliveira
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
"A
doença da razão é que a razão nasceu da ânsia do homem para dominar a natureza,
e sua ‘recuperação’ depende da compreensão da natureza da doença original, não
de uma cura dos seus sintomas tardios. A verdadeira crítica da razão irá
necessariamente desvelar as camadas mais profundas da civilização e explorará
sua história mais remota.” (Max Horkheimer, com tradução de Carlos Henrique
Pissardo).
"Teoria Crítica e sociedade contemporânea",
organizada por Sinésio Ferraz Bueno
Privamo-nos para mantermos a nossa integridade, poupamos a
nossa saúde, a nossa capacidade de gozar a vida, as nossas emoções,
guardamo-nos para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este
hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais é o que faz de
nós seres tão refinados. Por que é que não nos embriagamos? Porque a vergonha e
os transtornos das dores de cabeça fazem nascer um desprazer mais importante
que o prazer da embriaguez. Por que é que não nos apaixonamos todos os meses de
novo? Porque, por altura de cada separação, uma parte dos nossos corações fica
desfeita. Assim, esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento do que na busca do
prazer."
— Sigmund Freud.
" Mourir auprès de mon amour "
Demis Roussos
S'il faut
mourir un jour
Je veux que tu sois là
Car c'est
ton amour
Qui
m'aidera a m'en aller vers l'au-delà
Alors,je
partirai
Sans peur
et sans regrets
Et dans mon
délire
Je revivrai toute une vie de souvenirs
Pour
traverser le miroir
Je ne veux
que ton regard !
Pour mon
voyage sans retour
Mourir
auprès de mon amour
Et
m'endormir sur ton sourire
Le temps qui nous poursuit
Ne peut nous séparer
Même après la vie
Nos joies passées
Pour nos unir à l'infini
Pour m'enfoncer dans la nuit
Et renoncer à la vie
Je veux dans tes bras qui m'entourent
Mourir
auprès de mon amour
Et
m'endormir sur ton sourire
Pour
traverser le miroir
Je ne veux
que ton regard !
Pour mon
voyage sans retour
Mourir auprès de mon amour
Et
m'endormir sur ton sourire .
El romance de la felicidad
José Santos Chocano
Felicidad: yo te he encontrado
Más de una vez en mi camino;
Pero al tender hacia ti el ruego
De mis dos manos has huido,
Dejando en ellas, solamente,
Cual una dádiva, cautivo
Algún mechón de tus cabellos
O algún jirón de tus vestidos.
Tanto mejor fuera no haberte
Hallado nunca en mi camino.
Por ser tu dueño, siento a veces
Que no soy dueño de mí mismo...
Toda esperanza es un engaño;
Todo deseo es un martirio...
Felicidad: te vi de cerca;
Pero no pude hablar contigo.
Ya voy sintiéndome cansado...
Cuando en la orilla del camino
Me siento a ver pasar a muchos
Que hacia ti vayan cual yo he ido,
Tal vez te atraiga mi reposo,
Mi displicente escepticismo,
Mi resignada indiferencia,
Mi corazón firme y tranquilo;
Y, paso a paso, a mí te acerques,
Sin que yo llegue a percibirlo,
Y, al fin, sentándote a mi lado,
Hablarme empieces: -Buen amigo...
¿Será mejor el no buscarte?
¿Será mejor el ser altivo
En la desgracia y no sentirse
Juguete vil de tus caprichos?
Yo solo sé que cuantas veces
Con más afán te he perseguido,
Más fácilmente, hacia más lejos,
Más desdeñosa huir te he visto.
Yo solo sé que cuantas veces
Tornó perfil un sueño mío,
Felicidad, te vi de cerca,
Pero no pude hablar contigo.
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sábado, 13 de fevereiro de 2016
Núcleo duro étnico brasileiro e governabilidade
Núcleo duro étnico brasileiro e governabilidade. Nenhum
governo será derrubado se tiver pelo menos força e alguns firmes apoios neste
estratégico grupo etno-histórico brasileiro: Homens brasileiros
"brancos" de origem miscigenada, famílias e clãs com sobrenomes
brasileiros de origem portuguesa ou aqui identificados desde o período
colonial, criadores da língua denominada de português brasileiro juntos com
todos os outros grupos, genealogizáveis nas genealogias regionais, Católicos
(praticantes ou não e mesmo ateus) e parentes de padres, descendentes de
"homens bons" das sesmarias escravistas, descendentes e parentes da
nobreza da terra colonial, da nobreza titulada imperial e da elite política
republicana, descendentes de formados em Coimbra e com várias gerações
escolarizadas nas escolas de elite e nos cursos superiores nacionais,
descendentes e parentes de homens armados e integrantes das Forças Armadas,
como Oficiais Superiores e Generais. Em 500 anos de Brasil e nos 300 anos do
Sul do Brasil (PR, SC, RS) sempre houve um centro de gravidade e sustentação
aos poderes e governos existentes, bem como seus membros também foram os atores
que proporcionaram as mudanças nas continuidades e rupturas políticas ao longo
das várias gerações. Lula, Dilma e o PT se sustentam enquanto tiverem pelo
menos algum apoio neste setor social crucial e eles têm bastante apoio neste
núcleo duro étnico brasileiro. Este grupo étnico brasileiro geralmente ocupa muitas
das posições sociais mais elevadas na burocracia, empresariado, letras, artes,
educação, cultura e Forças Armadas pela sua própria principalidade e
antiguidade. Segmentos de elites da antiga classe dominante tradicional,
Mazombos, Quatrocentões, Trezentões, hoje apoiadores da causa da modernização
da crítica social e do seu lastro de governabilidade e de apoio. Nossa gente
sempre acolhedora.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Havia ainda naquela época outra circunstância que me
torturava: precisamente o fato de que ninguém se parecia comigo e eu não era
parecido com ninguém. “Eu sou único e eles são todos”, pensava eu.
Daí se vê que eu ainda era inteiramente criança.
— Fiódor Dostoiévski, in Memórias do Subsolo – trecho do
texto 01, da segunda parte, pág 58.
Política I
Um dos campos onde a inteligência nacional mais desabou foi
o debate político. Em clima de Fla-Flu é difícil formular ideias. Queria fazer
uma reflexão básica sem coloração partidária.
Premissa inicial: somos uma sociedade marcada pela
desigualdade de renda, de educação e de acesso a serviços como saúde. A
desigualdade é um fato objetivo, logo, não cabe discussão. Não interessa aqui
se há sociedades mais ou menos desiguais, pensarei apenas a nossa, a sociedade
brasileira.
Diante da desigualdade, existem duas (entre centenas) de
atitudes básicas. Destacarei apenas estas duas (há mais sim)
01) A desigualdade é provocada pelas diferentes energias
aplicadas ao trabalho, pelo empreendedorismo de cada um, pela capacidade de
crescer quanto à renda e quanto ao conhecimento. Logo, a desigualdade registra
pessoas mais ou menos aptas e é, de certa forma, a recompensa pela
inteligência, pelo trabalho, pela estratégia e pelo esforço. A desigualdade
será resolvida pela energia das próprias pessoas quando estas pararam de
esperar coisas, pararem com sua dependência do Estado e começarem a produzir e
trabalhar mais. A ambição individual e o trabalho são a chave. Esta seria,
grosso modo, a postura liberal (com muitas variações ) e a defesa Adam Smith do
trabalho.
02) A desigualdade é dada estruturalmente pelo capitalismo e
suas formas de dominação. Ela não é um acidente e nem pode ser eliminada porque
o capitalismo precisa de massas desiguais. Mesmo que alguns cresçam, a grande
maioria nunca poderá sair de onde está, porque há demanda de mão de obra barata
e de controle político. A saída é quebrar o sistema por uma ação organizada
contendo em maior ou menor grau a noção de revolução. Esta seria a postura, em
geral, do pensamento de Marx e de muitos grupos marxistas.
A partir destes dois pólos generalizantes (com muitas
diferenças, eu sei) as pessoas se posicionam sobre bolsa família, cotas
raciais, reforma agrária , incentivos fiscais para áreas pobres etc. A noção
básica é: quem é o responsável pela desigualdade e quem pode resolvê-la? Os
exemplos históricos e dados levantados pelos debatedores não são a base para
sua posição política. São, em geral, a posteriori, ou seja, cada grupo
seleciona da história e de outros países o que acha relevante para embasar sua
posição. A posição é anterior aos fatos, quase sempre. Voltaremos a este fato.
messianismos políticos
Ricardo Costa de Oliveira
Até que ponto observamos os resultados dos muitos
messianismos políticos existentes por aí ? Os inimigos e desafetos de Lula
devem saber que quanto mais o perseguirem, mais o injustiçarem e mais o
caluniarem com todas as suas perfídias - Só farão o Mito Lula crescer e se
agigantar mais ainda. Sempre foi assim desde 1978 e Lula já entrou na História
do Brasil como um dos Grandes. As seguidas derrotas eleitorais que Lula
infligiu à direita e à extrema esquerda só consolidaram o nome de Lula nestes
últimos 14 anos vitoriosos do PT. O PT antes de ser um partido político foi uma
ideia e a sua vasta base social e política sempre estará disposta a resolver as
diferenças pelos votos democráticos. Lula da Silva veio do fundo do povo
brasileiro como o grande chefe civilista contemporâneo. Lula se confunde com
mitos muito profundos e arcaicos da sociedade brasileira. O messianismo da
Bandeira Vermelha do Divino e o estandarte de que ele voltará de novo e nascerá
do povo ! Nunca houve momento tão especial e tão importante como na criação do
nosso Estado há quase mil anos. O Estado do Brasil é o prolongamento guerreiro
messiânico do Estado de Portugal. O messianismo sempre acompanhou a política na
língua portuguesa e foi o que nos assegurou um território gigantesco nestes
últimos séculos, com muito mais vitórias do que derrotas. Um Lula da Silva,
cabra nordestino, da classe trabalhadora dos anos 1970, um Brasileiro renascido
nas lutas políticas em quarenta anos de duros embates, com erros e acertos !
Lula da Silva representa as raízes profundas dos Cristãos X Mouros pós-modernos
! Como canta a música: Que o homem seja livre e que a justiça sobreviva ! Que
seguiram a estrela guia, a bandeira segue em frente atrás de melhores dias !
Venganza moruna
Vicente Blasco Ibáñez
Casi todos los que ocupaban aquel vagón de tercera conocían
a Marieta, una buena moza vestida de luto, que, con un niño de pechos en el
regazo, estaba junto a una ventanilla, rehuyendo las miradas y la conversación
de sus vecinas.
Las viejas labradoras la miraban, unas con curiosidad y
otras con odio, a través de las asas de sus enormes cestas y de los fardos que
descansaban sobre sus rodillas, con todas las compras hechas en Valencia. Los
hombres, mascullando la tagarnina, lanzábanle ojeadas de ardoroso deseo.
En todos los extremos del vagón hablábase de ella relatando
su historia.
Era la primera vez que Marieta se atrevía a salir de casa
después de la muerte de su marido. Tres meses habían pasado desde entonces. Sin
duda sentía miedo a Teulaí, el hermano menor de su marido, un sujeto que a los
veinticinco años era el terror del distrito; un amante loco de la escopeta y la
valentía que, naciendo rico, había abandonado los campos para vivir unas veces
en los pueblos, por la tolerancia de los alcaldes, y otras en la montaña,
cuando se atrevían a acusarle los que le querían mal.
Marieta parecía satisfecha y tranquila. ¡Oh, la mala piel!
Con un alma tan negra, y miradla qué guapetona, qué majestuosa; parecía una
reina.
Los que nunca la habían visto se extasiaban ante su
hermosura. Era como las vírgenes patronas de los pueblos: la tez, con pálida
transparencia de cera, bañada a veces por un oleaje de rosa; los ojos negros,
rasgados, de largas pestañas; el cuello soberbio, con dos líneas horizontales
que marcaban la tersura de la blanca carnosidad; alta, majestuosa, con firmes
redondeces, que al menor movimiento poníanse de relieve bajo el negro vestido.
Sí, era muy guapa. Así se comprendía la locura de su pobre
marido.
En vano se había opuesto al matrimonio la familia de Pepet.
Casarse con una pobre, siendo él rico, resultaba un absurdo; y aún lo parecía
más al saberse que la novia era hija de una bruja, y por tanto, heredera de
todas sus malas artes.
Pero él firme que firme. La madre de Pepet murió del
disgusto; según decían las vecinas, prefirió irse del mundo antes que ver en su
casa a la hija de la Bruixa; y Teulaí, con ser un perdido que no respetaba gran
cosa el honor de la familia, casi riñó con su hermano. No podía resignarse a
tener por cuñada una buena moza que, según afirmaban en la taberna testigos
presenciales (y allí la reunión era de lo más respetable), preparaba malas
bebidas, ayudaba a sacar a su madre las mantecas a los niños vagabundos para
confeccionar misteriosos ungüentos, y la untaba los sábados a media noche,
antes de salir volando por la chimenea.
Pepet, que se reía de todo, acabó casándose con Marieta, y
con esto fueron de la hija de la bruja sus viñas, sus algarrobos, la gran casa
de la calle Mayor y las onzas que su madre guardaba en los arcones del estudi.
Estaba loco. Aquel par de lobas le habían dado alguna mala
bebida, tal vez polvos seguidores, que, según afirmaban las vecinas más
experimentadas, ligan para siempre con una fuerza infernal.
La bruja, arrugada, de ojillos malignos, que no podía
atravesar la plaza del pueblo sin que los muchachos la persiguieran a pedradas,
se quedó sola en su casucha de las afueras, ante la cual no pasaba nadie por la
noche sin hacer la señal de la cruz. Pepet sacó a Marieta de aquel antro,
satisfecho de tener como suya la mujer más hermosa del distrito.
¡Qué manera de vivir! Las buenas mujeres lo recordaban con
escándalo. Bien se veía que el tal casamiento era por arte del Malo. Apenas si
Pepet salía de su casa: olvidaba los campos, dejaba en libertad a los
jornaleros, no quería apartarse ni un momento de su mujer; y las gentes, a
través de la puerta entornada o por las ventanas siempre abiertas, sorprendían
los abrazos; los veían persiguiéndose entre risotadas y caricias, en plena
borrachera de felicidad, insultando con su hartura a todo el mundo. Aquello no
era vivir como cristianos. Eran perros furiosos persiguiéndose, con la sed de
la pasión nunca extinguida. ¡Ah, la grandísima perdida! Ella y la madre le
abrasaban las entrañas con sus bebidas.
Bien se veía en Pepet, cada vez más flaco, más amarillo, más
pequeño, como un cirio que se derretía.
El médico del pueblo, único que se burlaba de brujas,
bebedizos y de la credulidad de la gente, hablaba de separarles como único
remedio. Pero los dos siguieron unidos; él cada vez más decaído y miserable;
ella engordando, rozagante y soberbia, insultando a la murmuración con sus
aires de soberana. Tuvieron un hijo, y dos meses después murió Pepet
lentamente, como luz que se extingue, llamando a su mujer hasta el último
momento, extendiendo hacia ella sus manos ansiosas.
¡La que se armó en el pueblo! Ya estaba allí el efecto de
las malas bebidas. La vieja se encerró en su casucha temiendo a la gente; la
hija no salió a la calle en algunas semanas y los vecinos oían sus lamentos.
Por fin, algunas tardes, desafiando las miradas hostiles, fue con su niño al
cementerio.
Al principio le tenía cierto miedo a Teulaí, el terrible
cuñado, para el cual matar era ocupación de hombres, y que, indignado por la
muerte del hermano, hablaba en la taberna de hacer pedazos a la mujer y a la
bruja de la suegra. Pero hacía un mes que había desaparecido. Estaría con los
roders en la montaña, o los negocios le habrían llevado al otro extremo de la
provincia. Marieta se atrevió, por fin, a salir del pueblo; a ir a Valencia
para sus compras... ¡Ah, la señora! ¡Qué importancia se daba con el dinero de
su pobre marido! Tal vez buscaba que los señoritos le dijesen algo, viéndola
tan guapetona...
Y zumbaba en todo el vagón el cuchicheo hostil; las miradas
afluían a ella, pero Marieta abría sus ojazos imperiosos, sorbía aire
ruidosamente con gesto de desprecio, y volvía a mirar los campos de algarrobos,
los empolvados olivares, las blancas casas, que huían trazando un círculo en
torno del tren en marcha, mientras el horizonte inflamábase al contacto del
sol, que se hundía entre espesos vellones de oro.
Detúvose el tren en una pequeña estación, y las mujeres que
más habían hablado de Marieta se apresuraron a bajar, echando por delante sus
cestas y capazos.
Unas se quedaban en aquel pueblo y se despedían de las
otras, de las vecinas de Marieta, que aún tenían que andar una hora para llegar
a sus casas.
La hermosa viuda, con el niño en brazos y apoyando en la
fuerte cadera la cesta de las compras, salió de la estación con paso lento.
Quería que la adelantasen en el camino aquellas comadres hostiles; que la
dejasen marchar sola, sin tener que sufrir el tormento de sus murmuraciones.
En las calles del pueblo, estrechas, tortuosas y de
avanzados aleros, había poca luz. Las últimas casas extendíanse en dos filas a
lo largo de la carretera. Más allá veíanse los campos, que azuleaban con la
llegada del crepúsculo, y a lo lejos, sobre la ancha y polvorienta faja del
camino, marcábanse como un rosario de hormigas las mujeres que, con los fardos
en la cabeza, marchaban hacia el inmediato pueblo, cuya torre asomaba tras una
loma su montera de tejas barnizadas, brillantes con el último reflejo de sol.
Marieta, brava moza, sintió repentinamente cierta inquietud
al verse sola en el camino. Este era muy largo, y cerraría la noche antes que
llegase a su casa.
Sobre una puerta balanceábase el ramo de olivo, empolvado y
seco, indicador de una taberna. Bajo de él, y de espaldas al pueblo, estaba un
hombre pequeño, apoyado en el quicio y con las manos en la faja.
Marieta se fijó en él... Si al volver la cabeza resultase
que era su cuñado, ¡Dios mío, qué susto! Pero segura de que estaba muy lejos,
siguió adelante, saboreando la cruel idea del encuentro, por lo mismo que lo
creía imposible, temblando al pensar que fuese Teulaí el que estaba a la puerta
de la taberna.
Pasó junto a él sin levantar los ojos.
-Buenas tardes, Marieta.
Era él... Y la viuda, ante la realidad, no experimentó la
emoción de momentos antes. No podía dudar. Era Teulaí, el bárbaro de sonrisa traidora,
que la miraba con aquellos ojos más molestos y crueles que sus palabras.
Contestó con un ¡hola! desmayado, y ella, tan grande, tan
fuerte, sintió que las piernas le flaqueaban y hasta hizo un esfuerzo para que
el niño no cayera de sus brazos.
Teulaí sonreía socarronamente. No había por qué asustarse.
¿No eran parientes? Se alegraba del encuentro; la acompañaría al pueblo, y por
el camino hablarían de algunos asuntos.
-Avant,
avant -decía el hombrecillo.
Y la mocetona siguió tras él, sumisa como una oveja,
formando rudo contraste aquella mujer grande, poderosa, de fuertes músculos,
que parecía arrastrada por Teulaí, enteco, miserable y ruin, en el cual
únicamente delataban el carácter los alfilerazos de extraña luz que despedían
sus ojos. Marieta sabía de lo que era capaz. Hombres fuertes y valerosos habían
caído vencidos por aquel mal bicho.
En la última casa del pueblo una vieja barría canturreando
su portal.
-¡Bòna dòna, bòna dòna! -gritó Teulaí.
La buena mujer acudió, tirando la escoba. Era demasiado
célebre el cuñado de Marieta en muchas leguas a la redonda para no ser
obedecido inmediatamente.
Cogió al niño de brazos de su cuñada, y sin mirarlo, como si
quisiera evitar un enternecimiento indigno de él, lo pasó a los brazos de la
vieja, encargándole su cuidado... Era asunto de media hora: volverían pronto
por él, en cuanto terminasen cierto encargo.
Marieta rompió en sollozos y se abalanzó al niño para
besarle. Pero su cuñado tiró de ella.
-Avant, avant.
Se hacía tarde.
Subyugada por el terror que inspiraba aquel hombrecillo
venenoso a cuantos le rodeaban, siguió adelante, sin el niño y sin la cesta,
mientras la vieja, santiguándose, se apresuraba a meterse en casa.
Apenas si se distinguían como puntos indecisos en el blanco
camino las mujeres que marchaban al pueblo. Los pardos vapores del anochecer
extendíanse a ras de los campos, la arboleda tomaba un tono de oscuro azul, y
arriba, en el cielo, de color violeta, palpitaban las primeras estrellas.
Continuaron en silencio algunos minutos, hasta que Marieta
se detuvo con una decisión inspirada por el miedo... Lo que tuviera que
decirle, lo mismo podía ser allí que en otra parte. Y la temblaban las piernas,
balbuceaba y no se atrevía a alzar los ojos por no ver a su cuñado.
A lo lejos sonaban chirridos de ruedas; voces prolongadas se
llamaban a través de los campos, rasgando el silencioso ambiente del
crepúsculo.
Marieta miraba con ansiedad el camino. Nadie. Estaban solos
ella y su cuñado.
Este, siempre con su sonrisa infernal, hablaba con
lentitud... Lo que tenía que decirle era que rezase; y si sentía miedo, podía
echarse el delantal por la cara. A un hombre como él no le mataban un hermano
impunemente.
Marieta se hizo atrás, con la expresión aterrada del que
despierta en pleno peligro. Su imaginación, ofuscada por el miedo, había
concebido antes de llegar allí las mayores brutalidades; palizas horrorosas, el
cuerpo magullado, la cabellera arrancada, pero... ¡rezar y taparse la cara!
¡Morir! ¡Y tal enormidad dicha tan fríamente!...
Con palabra atropellada, temblando y suplicante, intentó
enternecer a Teulaí. Todo eran mentiras de la gente. Había querido con el alma
a su pobre hermano, le quería aún; si había muerto fue por no creerle a ella, a
ella que no había tenido valor para ser esquiva y fría con un hombre tan
enamorado.
Pero el valentón la escuchaba acentuando cada vez más su
sonrisa, que era ya una mueca.
-¡Calla, filla de la Bruixa!
Ella y su madre habían muerto al pobre Pepet. Todo el mundo
lo sabía; le habían consumido con malas bebidas... Y si él la escuchaba ahora
sería capaz de embrujarlo también. Pero no; él no caería como el tonto de su
hermano.
Y para probar su firmeza de hiena, sin otro amor que el de
la sangre, cogió con sus manos huesosas la cara de Marieta, la levantó para
verla más de cerca, contemplando sin emoción las pálidas mejillas, los ojos
negros y ardientes que brillaban tras las lágrimas.
-¡Bruixa... envenenaora!
Pequeñín y miserable en apariencia, abatió de un empujón a
la buena moza; hizo caer de rodillas aquella soberbia máquina de dura carne, y
retrocediendo buscó algo en su faja.
Marieta estaba anonadada. Nadie en el camino. A lo lejos los
mismos gritos, el mismo chirriar de ruedas: cantaban las ranas en una charca
inmediata; en los ribazos alborotaban los grillos, y un perro aullaba
lúgubremente allá en las últimas casas del pueblo. Los campos hundíanse en los
vapores de la noche.
Al verse sola, al convencerse de que iba a morir,
desapareció toda su arrogancia de buena moza; se sintió débil como cuando era
niña y le pegaba su madre, y rompió en sollozos.
-¡Mátam, mátam! -gimió echándose a la cara el negro
delantal, enrollándolo en torno de su cabeza.
Teulaí se acercó a ella impasible, con una pistola en la
mano. Aún oyó la voz de su cuñada gimiendo a través de la negra tela con
lamentos de niña, rogándole que la rematase pronto, que no la hiciera sufrir
intercalando sus súplicas entre fragmentos de oraciones que recitaba
atropelladamente. Y como hombre experimentado, buscó con la boca de la pistola
en aquel envoltorio negro, disparando los dos cañones a la vez.
Entre el humo y los fogonazos viose a Marieta erguirse como
impulsada por un resorte y desplomarse con un pataleo de agonía que desordenó
sus ropas.
En la masa negra e inerte quedaron al descubierto las
blancas medias de seductora redondez, estremeciéndose con el último estertor.
Teulaí, tranquilo como hombre que a nadie teme y cuenta en
último término con un refugio en la montaña, volvió al inmediato pueblo en
busca de su sobrino, satisfecho de su hazaña.
Al tomar al pequeñuelo de manos de la aterrada vieja, casi
lloró.
-¡Pobret! ¡pobret meu! -dijo besándole.
Y su conciencia de tío inundábase de satisfacción, seguro de
haber hecho por el pequeño una gran cosa.
FIN
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
El barrio - Cuando el rio suena
Que extraño silencio en mi alma,
Que oscura la luz de mis ojos,
Me asusta tener esta calma,
Me da que el destino me ha puesto un cerrojo.
Te miro y no te conozco, presiento que no eres la misma,
Te analizo y te veo de reojo rotundamente distinta.
Que pena de ver mi persona, como se ha enraizao a tu cama,
Y pa tu pelo una hermosa corona y pa mi cabeza manojos de
canas.
El sol entra por mi ventana, el día corrige la aurora,
El sudor empapa mi cama y mi almohada se siente muy sola.
Como el novio de la muerte, he defendio lo indefendible,
Siempre con miedo a perderte, siempre hablandote sensible,
He jugado con mi suerte de manera incomprensible.
Siempre midiendo las palabras, siempre con buenas maneras,
Siempre con abracadabra pa tus pintas de embustera.
Y pa tus crueles miradas, dueñas de toas mis cegueras.
Te vas, soy una sombra de tristeza arrumbaito en el olvio,
Ya no te vale siquiera lo mucho que te he querio,
Se respira en el ambiente que tu cariño ha adormecio.
Te vas, y me quedo tan solo con mi soledad,
Hablo con mi almohada, nadie sabe contestar
Que los desengaños siempre son pa el que más da.
Es tanto lo que te quiero,
Que me conformo con ser una orquillita pa tu pelo.
Y mira si yo a tí te quiero...
Pero hoy está pa mí, no señalo a nadie, no me gusta señalar,
Pienso que el destino me ha elegido al azar
Hoy esta pa mí (tris)
Tal vez con el mañana me tenga yo que alegrar ,
De haber pasao por alto las locuras del sufrir,
Hoy está pa mi (tris)
Me voy con paso firme , sin volver la cara atrás ,
Dicen que si te vuelves solo haces recordar
Cuando eras muy feliz .
Hoy está pa mí (bis)
Haré que tu egoísmo nunca me vea llorar
Veras que en mis facciones solo ves el sonreír
Hoy esta pa mi (bis)
Obrajes e mensus
Quando a expedição comandada pelo tenente engenheiro José
Joaquim Firmino chegou em 22 de novembro de 1889 na foz do rio Iguaçu encontrou
uma terra dominada por empresas concessionárias da exploração de erva-mate e
madeira de lei. Nos obrajes, o trabalho era escravo e os trabalhadores, suas
mulheres e filhos eram tratados com violência.
Os mensus, uma derivação do espanhol mensualista, eram a
mão-de-obra quase absoluta empregada nos trabalhos de extração. Sua
arregimentação era feita pela força e eles deviam obediência irrestrita aos
obrajeros e seus capatazes, verdadeiros monarcas, com poder de vida e morte
sobre os trabalhadores.
Essa situação perdurou mesmo depois da instalação da Colônia
Militar. As autoridades constituídas da Colônia atuavam sempre em defesa dos
donos dos obrajes.
Arthur Martins de Franco, em suas Recordações de viagem ao
Alto Paraná, conta que o Tenente Pimenta de Araújo, comandante da força
pública, para melhor castigar os peões que caiam em seu desagrado, mandara colocar
dentro de um dos quartos da casa, que servia de cadeia, uma caixa grande onde
cabia uma pessoa de cócoras ou mal sentada e dentro dela mandava prender quem
desejava castigar.
A arbitrariedade e a corrupção não se restringiam unicamente
à força policial.Segundo ainda Martins de Franco muitos oficiais encarregados
de administrar a Colônia Militar agiam de maneira, no mínimo incorreta, fazendo
vistas grossas ao que acontecia nos obrajes.
A violência, corriqueira nos acampamentos madeireiros e de
extração da erva-mate, não era contestada pelos mensus. Fracos, descalços, eles
passavam meses embrenhados no mato. Fugir era impossível. Quem se aventurava
acabava boiando nas águas do rio Paraná ou preso na caixa do Tenente Pimenta. A
vigilância sobre eles era severa e constante.
Os atos de violência mais contundentes ocorriam na hora do
acerto de contas. Os mensus estavam sempre devendo para o patrão. Esse
endividamento constante e progressivo aumentava o grau de dependência, que já
começava na contratação do peão. Ao começar a trabalhar a peonada recebia um
adiantamento, chamado de antecipo. O dinheiro era dado a peonada antes do
embarque para os futuros locais de trabalho. As embarcações atrasavam de
propósito até cinco dias e durante esse tempo os peões gastavam todo o antecipo
com mulheres e bebidas e já chegavam no obraje devendo para o patrão. O
desgraçado do trabalhador nunca mais conseguia pagar o que havia recebido.
* Aluizio Palmar é jornalista em Foz do Iguaçu.
http://aluiziopalmar.blogspot.com/
http://aluiziopalmar.blogspot.com.br/2016/01/obrajes-e-mensus.html
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