quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

"Versão final da carta de repúdio produzida pelo coletivo dos professores reunidos no Colégio Yvone Pimental, Setor Portão


Curitiba, 24 de fevereiro de 2016.
Nós professores reunidos no Colégio Yvone Pimentel, a propósito dos trabalhos da Semana Pedagógica 2016, temos a considerar:
1 – Com relação à forma e à metodologia de trabalho adotada pela SEED para dinamizar o debate sobre a BNCC, as julgamos inadequadas e pouco democráticas. A proposição da SEED contou com os seguintes problemas: • Desorganização; responsabilização das escolas para realizar e providenciar subsídios materiais, obrigações que, a rigor, são atribuições próprias da mantenedora e seus respectivos quadros profissionais. • Ausência de orientações acerca do objeto a ser debatido e suas respectivas implicações. Esta condição, a nosso ver, é intencional e expressa mais uma tentativa de dar uma aparência de democracia às deliberações futuras, realizadas em outros âmbitos (governamental, acadêmico e privado) cujos resultados, os/as trabalhadores/as da educação não têm acesso e espaço de intervenção.
2 – Avaliamos como positiva a reunião de vários profissionais em fóruns de discussão como agora realizado. A ampliação do debate é necessária e atende aos requerimentos e sugestões de organizações educacionais e seus sujeitos. Porém, todo debate para ser considerado democrático requer qualificação, e isto não se faz apenas com “número de pessoas”. Desta forma, a positividade mencionada ficou diluída, pois, conforme enunciado no item anterior, os debates de hoje sofreram com as limitações e ausências de elementos necessários ao seu aprofundamento e à tomada de posição.
3 – Em se tratando do debate curricular nacional (BNCC), denunciamos a toda a sociedade paranaense que, embora os veículos de comunicação, por intermédio do CONSED e outros órgãos, afirmem que estes foram amplos e legítimos. Nós trabalhadores/as da educação, afirmamos que o processo que resultou no Documento Base foi pouco transparente. Boa parte das discussões hora utilizadas como legitimadoras do Documento Base de deu por via digital, de forma unilateral, sem permitir a expressão de contradições. Outra característica da formulação do documento é sua metodologia academicista, já que o texto base foi escrito por “especialistas” que em sua maioria não dominam os problemas e contextos das escolas públicas de Educação Básica em seus diversos níveis e modalidades.
4 – Sobre o Documento Base da BNCC e a respectiva legislação que o fundamenta, afirmamos que há uma série de problemas conceituais. Os conceitos ali propostos, conforme entendemos, estão implicitamente inseridos na lógica neoliberal e neoliberalizante que, no plano prático traduz-se em situações como: militarização e terceirização de escolas, precarização e perda da identidade do trabalho dos/as profissionais da educação, entre outras. É fundamental que, tanto nos textos legais, como nos documentos curriculares nacionais, se explicitem os conceitos de área, disciplina, componente curricular, transdiciplinaridade, interdisciplinaridade e transversalidade. Mais do que preciosismo linguístico estas especificações traduzem-se em diferenças de organização do trabalho pedagógico e consequentemente na qualidade da educação pública.
5 – Por fim, tornamos público que o Governo do Paraná por intermédio da SEED, sistematicamente desconsidera o acúmulo de discussões e os produtos das lutas históricas dos/as trabalhadores/as da educação paranaense. Exemplo disso, são as proposições de programas educacionais e de cursos de formação (como o que se realiza hoje) como se a educação paranaense não tivesse um documento orientador. Lembramos que as DCEs PR, embora seja documento aberto a mudanças e aprimoramentos, reflete um logo processo de discussão democrática, coletiva e, acima de tudo, qualificada.
Coletivo dos Professores de Ciências Humanas e parte do Coletivo de Agentes Educacionais das Escolas do Setor Portão de Curitiba."


Valéria Arias

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