terça-feira, 26 de junho de 2012

Lassidão

Lassitude

Paul Verlaine (1844-1896)

De la douceur, de la douceur, de la douceur!
Calme un peu ces transports fébriles, ma charmante.
Même au fort du déduit parfois, vois-tu, l’amante
Doit avoir l’abandon paisible de la sœur.

Sois langoureuse, fais ta caresse endormante,
Bien égaux tes soupirs et ton regard berceur.
Va, l’étreinte jalouse et le spasme obsesseur
Ne valent pas un long baiser, même qui mente!

Mais dans ton cher coeur d’or, me dis-tu, mon enfant,
La fauve passion va sonnant l’olifant!…
Laisse-la trompeter à son aise, la gueuse!

Mets ton front sur mon front et ta main dans ma main,
Et fais-moi des serments que tu rompras demain,
Et pleurons jusqu’au jour, ô petite fougueuse!

Lasitud

Paul Verlaine

Encantadora mía, ten dulzura, dulzura…
calma un poco, oh fogosa, tu fiebre pasional;
la amante, a veces, debe tener una hora pura
y amarnos con un suave cariño fraternal.

Sé lánguida, acaricia con tu mano mimosa;
yo prefiero al espasmo de la hora violenta
el suspiro y la ingenua mirada luminosa
y una boca que me sepa besar aunque me mienta.

Dices que se desborda tu loco corazón
y que grita en tu sangre la más loca pasión;
deja que clarinee la fiera voluptuosa.

En mi pecho reclina tu cabeza galana;
júrame dulces cosas que olvidarás mañana
Y hasta el alba lloremos, mi pequeña fogosa.

Serenata

Sérénade

Paul Verlaine

Comme la voix d’un mort qui chanterait
Du fond de sa fosse,
Maîtresse, entends monter vers ton retrait
Ma voix aigre et fausse.

Ouvre ton âme et ton oreille au son
De ma mandoline:
Pour toi j’ai fait, pour toi, cette chanson
Cruelle et câline.

Je chanterai tes yeux d’or et d’onyx
Purs de toutes ombres,
Puis le Léthé de ton sein, puis le Styx
De tes cheveux sombres.

Comme la voix d’un mort qui chanterait
Du fond de sa fosse,
Maîtresse, entends monter vers ton retrait
Ma voix aigre et fausse.

Puis je louerai beaucoup, comme il convient,
Cette chair bénie
Dont le parfum opulent me revient
Les nuits d’insomnie.

Et pour finir, je dirai le baiser
De ta lèvre rouge,
Et ta douceur à me martyriser,
- Mon Ange! – Ma Gouge!

Ouvre ton âme et ton oreille au son
De ma mandoline:
Pour toi j’ai fait, pour toi, cette chanson
Cruelle et câline.

Comme la voix d’un mort qui chanterait
Du fond de sa fosse,
Maîtresse, entends monter vers ton retrait
Ma voix aigre et fausse.

Serenata

Paul Verlaine

Como la voz de un muerto que cantara
desde el fondo de su fosa,
amante, escucha subir hasta tu retiro
mi voz agria y falsa.

Abre tu alma y tu oído al son
de mi mandolina:
para ti he hecho, para ti, esta canción
cruel y zalamera.

Cantaré tus ojos de oro y de onix
puros de toda sombra,
cantaré el Leteo de tu seno, luego el
de tus cabellos oscuros.

Como la voz de un muerto que cantara
desde el fondo de su fosa,
amante, escucha subir hasta tu retiro
mi voz agria y falsa.

Después loare mucho, como conviene,
A esta carne bendita
Cuyo perfume opulento evoco
Las noches de insomnio.

Y para acabar cantaré el beso
de tu labio rojo
y tu dulzura al martirizarme,
¡Mi ángel, mi gubia!

Abre tu alma y tu oído al son
de mi mandolina:
para ti he hecho, para ti, esta canción
cruel y zalamera.

sábado, 16 de junho de 2012

¿Que dirá el Santo Padre?

Miren cómo nos hablan
de libertad
cuando de ella nos privan
en realidad.
Miren cómo pregonan
tranquilidad
cuando nos atormenta
la autoridad.

¿Qué dirá el santo Padre
que vive en Roma,
que le están degollando
a su paloma?

Miren cómo nos
hablan del paraíso
cuando nos llueven balas
como granizo.
Miren el entusiasmo
con la sentencia
sabiendo que mataban
a la inocencia.

El que ofició la muerte
como un verdugo
tranquilo está tomando
su desayuno.
Con esto se pusieron
la soga al cuello,
el quinto mandamiento
no tiene sello.

Mientras más injusticias,
señor fiscal,
más fuerzas tiene mi alma
para cantar.
Lindo segar el trigo
en el sembrao,
regado con tu sangre
Julián Grimau.

(Violeta Parra)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

aquele que simula afeição, caminha à sombra do assassino!

Ricardo Pozzo

As cidades e os símbolos

"(...)cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma , preenchida pelas cidades particulares.
(...)O viajante anda de um lado para outro e enche-se de dúvidas: incapaz de distinguir os pontos da cidade , os pontos que ele conserva distintos na mente se confundem. Chega-se à seguinte conclusão: se a existência em todos os momentos é uma única , a cidade de Zoé é o lugar da existência indivisível. Mas então qual é o motivo da cidade ?Qual é a linha que separa a parte de dentro da de fora , o estampido das rodas do uivo dos lobos ? "

Ítalo Calvino.As Cidades Invisíveis.
p 36-37.
"... O escritor Ítalo Calvino diz que vivemos em cidades escritas, que deixamos nossas marcas em cada segmento do espaço urbano.Símbolos que não só refletem o que somos, como também nos situam, dão indicações, informam , permitem nosso passo ou o interditam. Sem a possibilidade de comunicação com o mundo que nos rodeia, nós nos perdemos nele e, com isso, perdemos parte da condição de sujeitos.
Os refugiados que se fixaram no Brasil sentem isso na pele. "

Figueró, Inês. Português para refugiados. Ponto-e-vírgula.Revista Educação.número 119. Março 2007.p 67.

Preguiça

para Rose

Algo de sol se infiltra
no quarto e , por um ápice,
embora, mais que fibra
de lã puída, esfiape-se ,
ainda recalcitra,
riscando, como lápis
que escreve um verso capaci
osíssimo , a tez vítrea
de quem permite, imersa
em si mesma, conforme
o escuro se dispersa,
que um grão de luz se forme
no âmago da inércia
e , sem notá-lo, dorme.

Nelson Ascher
«Resto lì a lungo, la mano appoggiata al bordo della finestra, a fissare il punto in cui è sparita. Magari potrebbe accorgersi di aver dimenticato di dirmi qualcosa, e tornare indietro. Ma non torna. In quel punto rimane solo una specie di cavità invisibile che ha la forma della sua assenza».

Haruki Murakami, "Kafka sulla spiaggia"
"Descanse lá por muito tempo, a mão apoiada na borda da janela, olhando para o local onde ela desapareceu. Talvez você possa perceber que você esqueceu de me dizer alguma coisa, e voltar. Mas não vá. Nesse ponto permanece apenas um tipo de cavidade invisível que tem a forma de sua ausência. "

Haruki Murakami, "Kafka on the Shore"

sábado, 9 de junho de 2012

Zé Quitolas(português lusitano):Zé Ninguém, Zé da Véstia.
Aquele que me ler ,saiba:

Eso es la ultima prof&cia.

Última no sentido demais ressente, e no sentido de finitiva.
Isto disto, ba bamos escarecer que o trexto é prescrito em
entranha língua.Cada parlava vem do âmargo, portanto deve ser
linda com a máxima anteção, para que não se tome uma letra por
loutra

A beabase é o português, trespassado por anglais, french,
italiano e espinhol, et ambém por neologilhos , trocadismos,nonsentes,
abreviações, transefigurações, fussões e , sobrestudo, erros, significativos
ou não.

A razão de tão mix não vende uma pré-tensão de etctabelecetera
espécime de esperanto.
É que este que vos escravo est vítima de bombom bardeio informa
(ativo e ático).

Arnaldo bloch
(Geração de 90. Os Transgressores. in OESP. c 2. 13/05/03)
The bower of bliss(ing) a alcova dos deleites
Deus é quem nutre o homem,
e o Estado é quem o reduz à fome.

Walter Benjamin
A raça humana não consegue suportar muita realidade.

T.S.Eliot
De que sedas se fizeram os teus dedos,
de que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
a graça de camurça com que pisas.
De que amoras maduras se espremeu
o gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.
A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.
de que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas.

José Saramago
Inventário.Poemas Possíveis.
Se la mosca ti avessa vista
anche una sola volta
quanto amore ti avrebbe
accordato.Non è facile
per me dare se non
per interposta persona,
cosa direbbe la Gina
Se decidessi d'essere
padre all'improviso

Eugênio Montale
Diário Póstumo (1)

Se a mosca te houvesse visto
uma só vez que fosse
quanto amor te teria
dedicado. Não me é fácil
dar-me senão
por interposta pessoa,
que diria Gina
se eu me decidisse
a ser pai de improviso.

Tradução Ivo Barroso
Quanto mais poético mais verdadeiro
a verdade psicológica é sempre menor
que a verdade poética.

Antônio Abujamra
As coisas têm alma.
Seu nome:Palavra.

Alexandre Marino

DECÁLOGO DO LEITOR

DECÁLOGO DO LEITOR
Por Alberto Mussa

I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.

VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.


Disponível em: http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/decalogo_do_leitor.html

La babe

Y yo me levanto de la cama relleno de los últimos gestos íntimos y besos de despedida. Todo antes que la mente despierte, tras sombras y puertas cerradas en una oscurecida casa
Donde los habitantes vagan insatisfechos en la noche,
Fantasmas desnudos buscándose en el silencio.

Allen Ginsberg

Sueños Rotos

-William Butler Yeats-

Hay gris en tus cabellos;
los jóvenes ya no se quedan sin aliento
a tu paso;
acaso te bendiga algún vejete
porque fue tu plegaria
la que lo salvó en el lecho de muerte.
Por tu bien -que ha sabido de todo dolor del corazón,
y que ha impartido todo el dolor del corazón,
desde la magra niñez acumulando
onerosa belleza- por tu solo bien
el cielo desvió el golpe de su sino,
tan grande su porción en la paz que estableces
con sólo penetrar dentro de un cuarto.

Tu belleza no puede sino dejar entre nosotros
vagos recuerdos, recuerdos nada más.
Cuando los viejos se cansen de hablar, un joven
le dirá a un viejo: «Háblame de esa dama
que terco en su pasión nos cantaba el poeta
cuando ya su sangre debiera estar helada por los años».

Vagos recuerdos, recuerdos nada más.
Pero en la tumba todos, todos se verán renovados.
La certidumbre de que veré a esa dama
reclinada o erecta o caminando
en el primor inicial de su feminidad
y con el fervor de mis ojos juveniles,
me ha puesto a balbucear como un tonto.

Era más bella que cualquiera
no obstante tu cuerpo tenía una tacha;
tus manos pequeñas no eran bellas,
y temo que has de correr
y las hundirás hasta la muñeca
en ese lago misterioso, siempre rebosante
donde todos los que cumplieron la ley sacra
se hunden y resurgen perfectos. Deja intactas
las manos que besé,
por bien del viejo bien.

Muere el último toque de media noche.
Todo el día, en la misma silla
de sueño a sueño y rima a rima he errado,
en charla incoherente con una imagen de aire:
vagos recuerdos, recuerdos nada más.


Versión: Hernando Valencia Goelkel

Soneto XVIII

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meu cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de Vela amarelada...
Como único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada

Aves da noite! Asas de horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca.

Mario Quintana

quinta-feira, 7 de junho de 2012

In Galleria

Un occhio di stelle
ci spia da quello stagno
e filtra la sua benedizione ghiaociata
su quest'acquario
di sonnmbula noia.

Giuseppe Ungaretti

Na Galeria

Um olho de estrelas
nos espia daquele charco
e filtra sua benção gelada
sobre este aquário
de tédio sonâmbulo.

Trad: Sérgio Wax
"Se quisesse e soubesse dizer por que trilhos passara, falaria de veredas e carreiros que nunca conhecera, descobertos na ocasião pelo instinto dos pés, e rasgados no meio de uma natureza cósmica, verde como uma alucinação."

Miguel Torga. O Caçador
futebol.Lamentavelmente transformado em lavanderia de dinheiro, tão corroída de corrupção.Onde os pés de obra(a maioria ,não os poucos astros miliardários desse picadeiro )são não mais escravos ,tratados como mera mercadoria vivemos momentos de escapismo e histeria, arremessamos nossas tragédias na ópera futebol.

Wilson Roberto Nogueira

mirror

I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, un misted by love or dislike.
I am not cruel, only truthful -
The eye of a little god, four-cornered.

Sylvia Plath, Mirror

Sou prata e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engolir imediatamente
Assim como é, un misted de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro -
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.

Sylvia Plath, Mirror
?Est-ce que vous faites quelquefois votre prière?? demanda-t-elle.
Elle vit le chapeau noir bouger entre les omoplates.
?Jamais?, dit-il.
Il y eut un coup de pistolet dans le bois, suivi presque immédiatement d’un second. Puis tout fut silence. La tête de la grand-mère pivota vers le bois. Elle entendit la rumeur du vent qui glissait dans les cimes des arbres, comme une longue aspiration voluptueuse.

Flannery O’Connor, Les braves gens ne courent pas les rues


Você às vezes reza ? , perguntou ela.
Ela viu o chapéu preto se movendo entre as omoplatas.
Nunca?, Disse.
Um tiro de pistola na floresta.Um estampido e Tudo era silêncio. A cabeça da avó virou para os bosques. Ela ouviu o som do vento que caiu nas copas das árvores, como uma aspiração muito voluptuosa.

Flannery O'Connor, As pessoas boas não crescem em árvores

LADRO

Oggi mi sento un ladro
non prendo in prestito
ma rubo con destrezza.
Non esiste ingordigia
nella mia bocca
ma solo stile di convinzione.

Cadono gesti difformi
la vista li cattura
ne arresta l’evoluzione
prevedendoli
ma il sorriso,
ne decreta la libertà.

tra i miei bottini vi sono
nudi baleni sospesi
tra rocce laviche,
frescura silente bianca e umile
occhi rassicuranti
di genitori lontani.

Rubo ragnatele di pensieri
nascosto tra le cosce della musica
soave ridacchio dei mie averi
Rubo...rubo senz’alibi
come un animale privo di istinto
la luce del sole penserà a coprirmi

Marco Scarpulla
Estaba sentado en el escano de madera bajo las hojas amarillas del parque solitario, contemplando los cisnes polvorientos con las dos manos apoyadas en el pomo de plata del baston, y pensando en la muerte.

Gabriel Garcia Marquez, Doce cuentos peregrinos.
A memória é como um cão que se deita onde lhe agrada.
Cees Nooteboom, Rituels
En arrivant ici, j’ai toujours l’impression d’avoir été engloutie par un monstre. Je m’assieds, et mes cheveux, mes sourcils et le corsage de mon uniforme ne tardent pas à s’imprégner de la chaleur ambiante et à devenir moites. Je baigne dans une humidité plus douce que la transpiration, d’où s’élève une discrète odeur de crésol.

Yôko Ogawa, La piscine

(Chegando até aqui, tenho a impressão de ter sido engolida por um monstro. Sento-me, e meu cabelo, minhas sobrancelhas e o corpete do meu uniforme não demorara muito tempo para absorver o calor do ambiente e tornar-se úmido. banhei-me numa umidade mais suave do que uma transpiração, do qual ergue-se um leve cheiro de cresol)

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca

sábado, 2 de junho de 2012

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
– João Guimarães Rosa
Feliz

Deitado no alto do carro de feno… com os braços e as pernas abertos em X… e as nuvens, os vôos passando por cima… Por que estradas de abril viajei assim um dia? De que tempos, de que terras guardei essa antiga lembrança, que talvez seja a mais feliz das minhas falsas recordações?

_________Mario Quintana - Sapato florido

Pós-Modernidade e Academia.

Se é pra ser "pós-moderno" (um isso!!), ok, até seja,mas antes, em 1º lugar, assuma que "nunca fomos tão modernos", pra daí então avaliar se esse "um isso" (viço?!) que vc acredita ter encontrado, é mesmo uma "experiência" sólida, a qual não te deixaria escorrer e/ou escorregar, dentro e fora da academia.
Monica Castro

O melhor lugar do mundo não é aqui e não é agora, sabemos disso. Agora o duro é saber disso e, tentando driblar essa constatação óbvia, jogar e apostar na hipótese de que haveria um lugar e um tempo imponderáveis, nos quais se teria a "oportunidade" de verificar isso REALMENTE... ESPERANDO PRA VER O ÓBVIO... Não creio que devamos perder nosso tempo (nem tão precioso assim, mas enfim, é o tempo que temos), discutindo/ debatendo o óbvio, afinal, há questões bem mais urgentes a serem pensadas, dentro e fora da nossa Galáxia. Há necessidade (não discuto o "sentido"...), de se atribuir ao "Infinito" um caráter teológico que ele não tem, para apaziguar a sensação de que "não estamos sozinhos"?! Eu posso até entender a criação dessa necessidade, até mesmo historicamente determinada, mas o que não entendo de forma alguma, é a obrigação de se "enxergar" um sentido teológico atribuído ao Universo.... seria algo tão vasto e por isso mesmo, para além do nosso entendimento?!
Monica Castro

bem... até onde pude observar... a academia é um palco de ilusões também... Tem muito trabalho sério, é claro, mas até chegar lá, há muita imitação, uma mimese desvairada de textos, autores, pessoas, estilos, caras e bocas e olhares... e a gente vai tendo que encontrar o caminho no meio desta selva de troncos mortos, outros nascendo... outros que nunca serviram prá nada e continuam atravancando o caminho!!! mas isso é a vida, não é? não é diferente em outros domínios também... o bom é entender que a "academia" não tem nenhuma prerrogativa a mais... é a sociedade em miniatura ali dentro! seguimos em frente...
Selma Baptista,antropóloga, cantora

Penso também que a "academia" apenas reflete, em micro, o que é macro... o duro da questão é que, afora a pretensão desse "locus academicum", há uma patente inércia, no sentido mesmo de uma pretensão mal "utilizada"... sim porque se a pretensão estivesse efetivamente gerando troncos (em meio a selva na qual todos vivemos) e assim, fazendo com que os troncos velhos fossem deslocados de seus cômodos lugares, ok, beleza, mas, não é assim... Na "academia" há que se ser "pós-moderno", como se esse qualificativo (indefinível e inefável...) tivesse uma certa potência, a qual, mesmo que inescrutável, carregasse os seus sujeitos de atribuições apáticas (?!), as quais de caráter inquestionável, os fazem inquestionáveis e... bem, tudo volta ao círculo e ele, a si mesmo.
Monica Castro,filosofa,professora