Lenin:
25.02.2016
O senhor catedrático liberal Tugán-Baranovski lançou-se em
campanha contra o socialismo. Desta vez não abordou a questão sob o ângulo
político-econômico, mas sob o ângulo dos raciocínios gerais sobre a igualdade
(talvez esses raciocínios gerais tenham parecido ao catedrático mais
apropriados para as palestras religioso-filosóficas em que ele usou da
palavra?).
“Se considerarmos o socialismo», proclamou o Sr. Tugán, «não
como uma teoria económica mas como um ideal de vida, então não há dúvida de que
ele está ligado ao ideal da igualdade, mas a igualdade é um conceito... que se
não pode deduzir da experiência nem da razão.”
Tal é o raciocínio de um douto liberal, que repete
argumentos incrivelmente rebatidos e gastos: a experiência e a razão, diz,
testemunham claramente que as pessoas não são iguais, e o socialismo baseia o
seu ideal na igualdade. Portanto, como veem, o socialismo é um absurdo, contradiz
a experiência e a razão e assim por diante!
O Sr. Tugán repete o velho processo dos reacionários:
primeiro deturpar o socialismo, atribuindo-lhe um absurdo, e depois refutar
vitoriosamente o absurdo! Quando se diz que a experiência e a razão testemunham
que as pessoas não são iguais, entende-se por igualdade a igualdade de
capacidades ou a identidade das forças físicas e das capacidades intelectuais
das pessoas.
É evidente que nesse sentido as pessoas não são iguais.
Nenhum homem sensato e nenhum socialista o esquece. Simplesmente, tal igualdade
não tem nenhuma relação com o socialismo. Se o Sr. Tugán de todo em todo não
sabe pensar, em todo o caso sabe ler, e se tomasse uma conhecida obra de um dos
fundadores do socialismo científico, Friedrich Engels, contra Dühring, o Sr.
Tugán poderia ler aí uma explicação especial segundo a qual seria tolice
entender por igualdade no domínio económico outra coisa que não seja a
supressão das classes. Mas quando os senhores catedráticos se dedicam a refutar
o socialismo, nunca se sabe o que mais nos surpreende, se a sua estupidez, se a
sua ignorância, se a sua má-fé.
É necessário começar pelos rudimentos, uma vez que tratamos com
o Sr. Tugán.
Por igualdade os sociais-democratas entendem, no domínio
político, a igualdade de direitos, e no domínio económico, como já foi dito, a
supressão das classes. Quanto a estabelecer a igualdade humana no sentido de
igualdade das forças e capacidades (físicas e intelectuais), os socialistas nem
sequer pensam nisso.
A igualdade de direitos é a reivindicação de direitos
políticos iguais para todos os cidadãos do Estado que atingiram uma certa idade
e não sofrem de debilidade mental, nem comum nem liberal-professoral. Esta
reivindicação foi apresentada pela primeira vez de modo nenhum pelos
socialistas, pelo proletariado, mas pela burguesia. A experiência histórica,
que todos conhecem, de todos os países do mundo testemunha-o, como se sabe, e o
Sr. Tugán poderia muito facilmente sabê-lo se não se referisse à “experiência”
exclusivamente com o objectivo de enganar os estudantes e os operários, com o
objectivo de agradar aos potentados com o “aniquilamento” do socialismo.
A burguesia apresenta a reivindicação de igualdade de
direitos de todos os cidadãos na luta contra os privilégios medievais, feudais,
de estado social. Na Rússia, por exemplo, diferentemente da América, da Suíça,
etc., ainda hoje se mantêm os privilégios do estado social da nobreza em toda a
vida política, nas eleições para o conselho de Estado, nas eleições para a
Duma, na administração local, em matéria de impostos e em muitos, muitos outros
domínios.
Até o indivíduo menos perspicaz e menos desenvolvido pode
compreender que as diferentes pessoas que pertencem ao estado social da nobreza
não são iguais quanto às suas capacidades físicas e intelectuais, tal como não
são iguais entre si as pessoas que pertencem ao estado social camponês,
“sujeito a tributo”, “plebeu”, “inferior” ou “não privilegiado”. Mas quanto aos
seus direitos todos os nobres são iguais, e todos os camponeses são iguais
quanto à sua falta de direitos.
Compreenderá agora o douto e liberal catedrático Sr. Tugán a
diferença entre a igualdade no sentido de igualdade de direitos e a igualdade
no sentido de igualdade de forças e capacidades?
Passemos agora à igualdade no sentido económico. Nos Estados
Unidos da América, tal como noutros Estados avançados, não há privilégios
medievais. Todos os cidadãos são iguais do ponto de vista dos direitos
políticos. Mas serão eles iguais quanto à sua situação na produção social?
— Não, Sr. Tugán, não são iguais. Uns possuem a terra, as
fábricas, os capitais, e vivem à custa do trabalho não pago dos operários;
esses são uma ínfima minoria. Os outros, precisamente a massa imensa da
população, não possuem quaisquer meios de produção e vivem apenas da venda da
sua força de trabalho; são os proletários.
Nos Estados Unidos da América não há nobres, e o burguês e o
proletário têm iguais direitos políticos. Mas eles não são iguais quanto à sua
situação de classe: uns, a classe dos capitalistas, possuem os meios de
produção e vivem à custa do trabalho não pago dos operários; os outros, a
classe dos operários assalariados, dos proletários, não têm meios de produção e
vivem da venda no mercado da sua força de trabalho.
Suprimir as classes, significa colocar todos os cidadãos em
situação idêntica relativamente aos meios de produção de toda a sociedade,
significa que todos os cidadãos têm idêntico acesso ao trabalho baseado nos
meios de produção sociais, na terra social, nas fábricas sociais, etc.
Esta explicação daquilo que é o socialismo era necessária
para esclarecer o douto catedrático liberal Sr. Tugán, que talvez agora,
fazendo um esforço, compreenda que é absurdo esperar a igualdade das forças e
capacidades das pessoas na sociedade socialista.
Em suma: quando os socialistas falam de igualdade, entendem
sempre por isso a igualdade social, a igualdade da situação social, e de modo
nenhum a igualdade das capacidades físicas e intelectuais dos diferentes
indivíduos.
O leitor perguntará talvez, perplexo, como é possível que um
douto catedrático liberal tenha esquecido estas verdades elementares,
conhecidas de qualquer um através de qualquer exposição das concepções do
socialismo? A resposta é simples: as particularidades pessoais dos atuais
catedráticos são tais que entre eles se podem encontrar mesmo pessoas de uma
estupidez tão rara como Tugán. Mas a situação social dos catedráticos na
sociedade burguesa é tal que só são admitidos nessas funções aqueles que vendem
a ciência ao serviço dos interesses do capital, apenas aqueles que concordam em
dizer contra os socialistas as mais incríveis tolices, os mais desavergonhados
absurdos e asneiras. A burguesia perdoa tudo isso aos catedráticos desde que
eles se ocupem em “aniquilar” o socialismo.
por Lenin, publicado no Put Právdi n° 33, de 11 de Março de
1914
TEMAS:
Marxismo-leninismo
Lênin
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