Mao:
30.11.2015
Quem são os nossos inimigos? Quem são os nossos amigos? Esse
problema é de importância primordial para a revolução. A razão básica por que
as anteriores lutas revolucionárias na China obtiveram tão fracos resultados
está no facto de não se ter sabido fazer a união com os verdadeiros amigos para
atacar os verdadeiros inimigos. O partido revolucionário é o guia das massas,
não podendo portanto a revolução alcançar a vitória se este as conduz por uma
via errada. Para não dirigirmos as massas pela falsa via, para estarmos seguros
de alcançar definitivamente a vitória na revolução, devemos prestar atenção à
unidade com os nossos verdadeiros amigos para atacar os nossos verdadeiros
inimigos. Para distinguir os verdadeiros amigos dos verdadeiros inimigos,
impõe-se proceder a uma análise geral da situação económica das distintas
classes da sociedade chinesa, bem como da atitude que estas tomam frente à
revolução.
Qual é pois a situação das diferentes classes na sociedade
chinesa?
A classe dos senhores de terras e a burguesia compradora.
Na China, país economicamente atrasado e semi-colonial, a
classe dos senhores de terras e a burguesia compradora são uns vassalos
perfeitos da burguesia internacional; a sua existência e desenvolvimento
dependem do imperialismo. Tais classes representam as relações de produção mais
atrasadas e mais reaccionárias; e constituem um obstáculo ao desenvolvimento
das forças produtivas na China. A sua existência é de todo incompatível com os
objectivos da revolução chinesa. Isso é particularmente verdadeiro com respeito
à classe dos grandes senhores de terras e à classe dos grandes compradores, os
quais estão invariavelmente ao lado do imperialismo e constituem a força
contra-revolucionária extrema. Os seus representantes políticos são os estadistas(1)
e a ala direita dò Kuomintang.
A média burguesia
Essa classe representa as relações capitalistas de produção
nas cidades e nas zonas rurais da China. Por média burguesia entende-se,
sobretudo, a burguesia nacional. A sua atitude com respeito à revolução chinesa
é contraditória: quando sente com dor os golpes que lhe vibra o capital
estrangeiro, assim como o jugo que lhe é imposto pelos caudilhos militares, ela
entende a necessidade da revolução e aprova o movimento revolucionário dirigido
contra o imperialismo e os tais caudilhos; mas assim que o proletariado do
nosso país se lança duma maneira ousada e vigorosa, na revolução, assim que o
proletariado internacional começa a prestar à revolução uma ajuda activa a
partir do exterior, logo que a média burguesia começa a sentir que a realização
do seu sonho mais caro — elevar-se ao nível da grande burguesia — periga, as
dúvidas passam a dominá-la relativamente à revolução. A sua plataforma política
é a criação dum Estado onde uma classe, a burguesia nacional, deve reinar.
Certo indivíduo, que se apresenta como um "verdadeiro discípulo" de
Tai Tsi-tao(2), declarou no Tchempao(3) de Pequim:
"Levantem o vosso punho esquerdo para abater o
imperialismo e o direito para abater o Partido Comunista".
Tais propósitos expressam claramente a posição contraditória
da burguesia nacional e o receio que a atormenta. Essa classe pronuncia-se
contra a interpretação, segundo a teoria da luta de classes, do princípio do
bem-estar do povo formulado pelo Kuomintang, pronuncia-se contra a realização,
por este, duma aliança com a Rússia e pronuncia-se contra a admissão de
comunistas(4) e elementos de esquerda no seio do Kuomintang. Mas a aspiração
dessa classe de criar um Estado onde reine a burguesia nacional é absolutamente
irrealizável, uma vez que a situação internacional actual se caracteriza pelo
combate decisivo de duas forças gigantescas: a revolução e a contra-revolução.
Essas duas forças gigantescas levantaram dois grandes estandartes: um, o
estandarte da revolução, a bandeira vermelha, foi levantado pela III
Internacional, chamando todas as classes oprimidas do mundo a unirem-se à sua
volta; o outro, o estandarte da contra-revolução, a bandeira branca, foi
levantado pela Sociedade das Nações, a qual chama todas as forças
contra-revolucionárias do mundo a unirem-se sob essa bandeira. Muito em breve,
no seio das classes intermédias produzir-se-á inevitavelmente uma císsão: umas
irão à esquerda, de encontro à revolução; e outras, à direita, de encontro à
contra-revolução! Para elas, não haverá qualquer possibilidade de ocuparem uma
posição "independente". Assim, a concepção da média burguesia
chinesa, sonhando com uma revolução "independente" em que assumiria o
papel principal, é pura ilusão.
A pequena burguesia
Pertencem à pequena burguesia sectores tais como o dos
camponèses-proprietários(5), os proprietários de empresas de artesanato, as
camadas inferiores dos intelectuais — estudantes, professores de escolas
primárias e secundárias, pequenos funcionários, pequenos empregados, pequenos
advogados — e os pequenos comerciantes. Tanto do ponto de vista do número como
do ponto de vista da sua natureza de classe, a pequena burguesia merece que se
lhe preste uma séria atenção. Os camponeses-proprietários, como os proprietários
de empresas de artesanato, estão empenhados em explorações que se caracterizam
pelas dimensões reduzidas da respectiva produção. Embora os diferentes sectores
da pequena burguesia se encontrem todos na situação económica característica da
pequena burguesia, eles dividem-se em três grupos. O primeiro compõe-se de
gente desafogada, noutros termos, pessoas que, depois de satisfazerem as
necessidades que lhes são próprias, dispõem ainda, anualmente, dum certo
excedente em dinheiro ou cereais, produto de trabalho manual ou intelectual.
Tais indivíduos aspiram muito acentuadamente a enriquecer, sendo com o maior
zelo que se inclinam diante do Marechal Tchao(6). Sem sonhar com grandes
riquezas, aspiram a ascender ao nível da média burguesia. Em geral, quando pensam
nos pequenos ricos com direito a honrarias, babam--se de desejo. Mas são
cobardes: têm medo das autoridades, e a revolução inspira-lhes igualmente um
certo receio. Muito próximos, pela situação económica, da média burguesia, são
dados a crer na propaganda desta e têm dúvidas quanto à revolução. Esse grupo
representa uma minoria no seio da pequena burguesia, da qual constituí a ala
direita. O segundo grupo compõe-se de pessoas cuja situação económica permite
que satisfaçam, no essencial, as suas necessidades. Tais indivíduos
distinguem-se duma maneira sensível dos do primeiro grupo. Também sonham com
riquezas, mas o Marechal Tchao não lhas permite de modo algum; aliás, a
opressão e a exploração a que os submetem o imperialismo, os caudilhos
militares, os senhores de terras feudais e a grande burguesia compradora,
opressão e exploração que recentemente se reforçaram de modo considerável,
obrigaram-nos a compreender que os tempos antigos já se foram. Eles dão-se
actualmente conta de que, trabalhando como antes, correm o risco de não poder
continuar a assegurar a existência, sendo--lhes necessário alongar a jornada de
trabalho, labutar de manhã à noite e redobrar de esforços nas suas profissões.
E ei-los que começam a expressar-se com injúrias, tratando os estrangeiros de
"diabos estrangeiros", os caudilhos militares de
"extorsionários" e os déspotas locais e os maus nobres de
"esfoladores". Pelo que respeita ao movimento anti-imperialista e
anti-militarista, duvidam do respectivo sucesso (pensam que o poder dos
estrangeiros e dos caudilhos militares é muito grande) e, não ousando
arriscar-se a tomar parte nele, preferem adoptar uma posição neutra. Mas de
maneira nenhuma agem contra a revolução. Esse grupo é muito vasto, constituindo
cerca de metade do conjunto da pequena burguesia. Ao terceiro grupo pertencem
indivíduos cujas condições de vida pioram de dia para dia. Na sua maioria,
trata-se de indivíduos que outrora levavam uma existência cómoda, mas a quem se
tornou agora difícil conseguir o mínimo indispensável para viver,
agravando-se-lhes progressivamente a situação. No final de cada ano, quando
fazem as suas contas, exclamam aterrados: "Como! Ainda défices?".
Como outrora viviam relativamente bem, é agora vêem a situação agravar-se de
ano para ano, engrossando-se-lhes as dívidas e passando a levar uma existência
miserável, "a simples evocação do futuro provoca-lhes calafrios".
Eles sofrem tanto mais moralmente quanto é certo que ainda conservam uma
recordação particularmente viva dos dias melhores, tão diferentes dos actuais.
Como são bastante numerosos, a sua importância para o movimento revolucionário
é grande. É a ala esquerda da pequena burguesia. Em tempo normal, as atitudes
desses três grupos da pequena burguesia com respeito à revolução são diferentes.
Mas em tempo de guerra, isto é, nos períodos de expansão revolucionária, desde
que a aurora da vitória começa a luzir, vêem-se participar na revolução não só
os elementos de esquerda da pequena burguesia, mas igualmente os elementos que
aí ocupavam uma posição de centro; e mesmo os elementos de direita, levados
pelas ondas revolucionárias do proletariado e dos elementos de esquerda da
pequena burguesia, são constrangidos a juntar-se às fileiras da revolução. As
experiências do movimento de 30 de Maio de 1925(7) e do movimento camponês em
diversas regiões, demonstram a justeza de tal afirmação.
O semi-proletariado
Aqui, por semi-proletariado entendemos:
a esmagadora
maioria dos camponeses semi-proprietários(8);
os camponeses
pobres;
os pequenos artesãos;
os empregados
comerciais(9);
os mercadores
ambulantes.
A esmagadora maioria dos camponeses semi-proprietários e os
camponeses pobres formam uma massa rural enorme. Aquilo que se designa por
problema camponês é, no essencial, o problema relativo a essas categorias. As
explorações dos camponeses semi-proprietários, dos camponeses pobres e dos
pequenos artesãos são caracterizadas por uma produção ainda mais reduzida do
que a dos camponeses proprietários e a dos proprietários de empresas de
artesanato. Embora a maioria esmagadora dos camponeses semi-proprietários e os
camponeses pobres constituam o semí-proíetaríado, essas duas categorias,
tomadas em conjunto, dividem-se ainda, segundo a situação económica, nas
camadas superior, média e inferior. A existência dos camponeses
semi-proprietários é mais penosa do que a dos camponeses-proprietáriòs, pois os
cereais que possuem não lhes chegam, geralmente, para mais de seis meses, de
tal maneira que, para adquirirem meios suplementares de subsistência, vêem-se
constrangidos a tomar terras em arrendamento, ou a vender parte da sua força de
trabalho ou, enfim, a exercer um certo comércio. Nos fins da Primavera e
começos do Verão, quando a colheita do ano cessante começa a esgotar-se e a
próxima está ainda em erva, eles, vêem-se obrigados a obter dinheiro a alto
juro e a comprar cereais a preços elevados. Essa parte da população camponesa
tem pois de levar uma existencial mais difícil que a dos
camponeses-proprietáriòs, os quais não dependem de quem quer que seja, embora
os semi-proprietários tenham uma vida melhor que os camponeses pobres. Com
efeito, estes não dispõem de quaisquer terras, cultivam terras alheias e, pelo
seu trabalho, recebem metade, ou até menos, da respectiva colheita. Embora os
camponeses semi-proprietários recebam também metade ou menos da produção das terras
que tomam em arrendamento, nada os impede que guardem a totalidade da colheita
proveniente da sua própria terra. É por isso que os camponeses
semi-proprietários têm um espírito mais revolucionário que os
camponeses-proprietáriòs, mas menos revolucionário que os camponeses pobres. Os
camponeses pobres são rendeiros e encontram-se submetidos à exploração dos
senhores de terras. Segundo a situação económica, eles podem dividir-se em dois
grupos. O primeiro, dispõe dum material agrícola que, em termos relativos, é
suficiente, assim como de certos meios financeiros. Esses camponeses recebem
uma parte da colheita, parte que pode atingir a metade daquilo que produzem com
o seu trabalho anual. Eles compensam o que lhes falta semeando cereais
secundários, pescando, criando aves e porcos ou vendendo uma parte da sua força
de trabalho; dessa maneira chegam a assegurar, mal ou bem, a subsistência,
esperando, no meio da sua pobreza e penúria, sobrepujar o ano. A vida que levam
é mais penosa que a dos camponeses semi-proprietários mas, de qualquer modo,
mais fácil que a dos camponeses pobres do segundo grupo. Têm um espírito mais
revolucionário que os camponeses semi-proprietários, mas menos que os
camponeses pobres do segundo grupo. Pelo que respeita a estes últimos, regista-se
uma falta de material agrícola suficiente, bem como, de meios financeiros;
carecem de adubos e apenas conseguem magras colheitas. Uma vez pagas as rendas,
já não lhes fica grande coisa. Por isso têm maior necessidade de vender uma
parte da sua própria força de trabalho. Nos anos de fome, nos meses difíceis,
para compensar mendigam empréstimos, junto dos parentes e amigos, dumas quantas
medidas de cereal, que lhes permitam manter-se ainda que seja por três ou cinco
dias; as suas dívidas engrossam e convertem-se num fardo insuportável.
Constituem a parte mais miserável da população camponesa, e são muito sensíveis
à propaganda revolucionária. Nós incorporamos os pequenos artesãos no
semi-proletariado. Com efeito, se bem que disponham de meios primitivos de
produção e exerçam profissões "livres", eles também se vêem
frequentemente constrangidos a vender parte da sua força de trabalho; a sua
situação económica corresponde, sensivelmente, à dos camponeses, pobres. O
pesado fardo das despesas familiares, a desproporção entre o salário e o mínimo
vital, as privações incessantes, o medo de perder o trabalho, tudo isso os
aparenta aos camponeses pobres. Os empregados comerciais são os trabalhadores
assalariados das casas de comércio. Eles têm de manter a família com o seu
magro salário; ora, como o preço das mercadorias aumenta de ano para ano,
enquanto que os aumentos de salário não se verificam senão uma vez em cada
vários anos, esses indivíduos lamentam-se perpetuamente da sua sorte todas as
vezes que os encontramos. A sua situação não difere muito da dos camponeses
pobres e pequenos artesãos, sendo por isso muito sensíveis à propaganda
revolucionária. Os mercadores ambulantes, quer transportem as mercadorias,
suspensas duma vara, quer as exponham em lojas ambulantes, têm um capital
insignificante, não lhes chegando o pouco que ganham para viver. Encontram-se
sensivelmente na mesma situação que os camponeses pobres e estão, do mesmo
modo, interessados numa revolução que mude a ordem actual das coisas.
O proletariado
O proletariado industrial moderno conta, actualmente, cerca
de dois rmilhões de indivíduos. Esse número reduzido explica-se pelo atraso do
nosso país no plano económico. Esses operários são empregados essencialmente em
cinco sectores — caminhos de ferro, minas, transportes marítimos, indústria
têxtil e construções navais — encontrando-se uma parte importante deles sob o
jugo de empresas estrangeiras. Embora os efectivos do proletariado industrial
moderno sejam reduzidos, é ele quem representa as novas forças de produção e
constitui a classe mais progressiva da China moderna, tendo-se transformado na
força dirigente do movimento revolucionário. A simples observação da força que
se revelou nas greves dos quatro últimos anos, por exemplo, a dos marinheiros(10),
a dos operários ferroviários(11), a dos operários das hulheiras de Cailuan e
das hulheiras de Tsiaotsuo(12), a greve de Chamien(13), e as grandes greves de
Xangai e de Hong Kong(14) após os acontecimentos de 30 de Maio, mostra, de
maneira convincente, o grande papel que o proletariado industrial desempenha na
revolução chinesa. Isso é-lhe possível: primeiro, pela sua concentração, nenhum
outro grupo pode rivalizar com ele nesse plano, e, segundo, porque os operários
da indústria encontram-se numa situação económica extremamente penosa. Estão
privados de meios de produção, não dispõem mais do que dos seus próprios braços
e não têm qualquer esperança de enriquecer, encontrando-se, ademais, submetidos
a um tratamento ferocíssimo por parte dos imperialistas, dos caudilhos
militares e da burguesia. Essa a razão por que se mostram particularmente
capazes para a luta. As forças dos cúlis das cidades merecem igualmente que se
lhes dispense uma séria atenção. No interior deste grupo, a maioria é
constituída por estivadores de cais e condutores de carrinhos de mão,
contando-se igualmente nele os limpadores de latrinas, estradas, etc. Não têm
mais do que os próprios braços. Pela situação económica, estão próximos dos
operários da indústria, não lhes cedendo a não ser no grau de concentração e na
importância do seu papel na produção. A agricultura capitalista moderna está
ainda fracamente desenvolvida na China. Sob a designação de proletariado
agrícola compreendem-se os assalariados agrícolas que trabalham ao ano, ao mês
ou ao dia. Esses trabalhadores não dispõem nem de terras nem de material
agrícola, nem de quaisquer meios financeiros, não podendo portanto subsistir a
não ser vendendo a sua força de trabalho. Do ponto de vista da duração da
jornada de trabalho, magreza do ganho, ignomínia de condições de existência e
insegurança de emprego, estão em situação ainda pior que os demais operários.
Essa parte da população rural está submetida às mais pesadas privações e ocupa,
no movimento camponês, uma posição tão importante como a dos camponeses pobres.
Lumpen-proletariado
Existe também um numeroso lumpen-proletariado, composto de
camponeses que perderam as suas terras e de operários-artesãos sem trabalho.
São os elementos mais instáveis da sociedade. Eles mantêm por toda a parte
organizações de carácter secreto, como o San-ho-huei nas províncias do Fuquien
e do Cuan-tum, o Quelaohuei nas províncias do Hunan, Hupei, Cueidjou e
Setchuan, o Tataohuei nas províncias do Anghuei, Honan e Xantum, o Tsailihuei
na província do Tchili e nas três províncias do Nordeste, o Tchim-pam(15) em
Xangai e outras localidades, organizações que, originariamente, eram de ajuda
mútua na luta política e económica. A atitude com relação a esse grupo
constitui um dos problemas difíceis que se apresentam à China. Tais indivíduos
são capazes de lutar com a maior coragem, mas são propensos a acções
destrutivas. Conduzidos de maneira correcta, podem converter-se numa força
revolucionária.
De tudo quanto acaba de ser dito ressalta que os nossos inimigos
são todos os que estão conluiados com o imperialismo — os caudilhos militares,
os burocratas, a classe dos compradores, a classe dos grandes senhores de
terras e o sector reaccionário dos intelectuais que lhes é anexo. A força
dirigente da nossa revolução é o proletariado industrial. Os nossos mais
chegados amigos são a totalidade do semi-proletariado e a pequena burguesia.
Quanto à média burguesia, sempre vacilante, a sua ala direita pode
transformar-se em nossa inimiga e a esquerda, em nossa amiga, devendo no
entanto manter-nos constantemente em guarda e não permitir que tal classe venha
criar confusão nas nossas fileiras.
NOTAS
(1) Trata-se do punhado de vis políticos fascistas que
fundaram a Liga da Juventude "Estatal" da China, organização que mudou
em seguida o nome para Partido da Juventude da China. Recebendo subsídios dos
diferentes grupos reaccionários no poder, assim como dos imperialistas, os
"estadistas" eéspecializaram-se em intervenções
contra-revolucionárias dirigidas contra o Partido Comunista da China e a União
Soviética.
(2) Tai Tsi-tao: um dos velhos membros do Kuomintang. Em
certa altura ocupou-se de especulações na bolsa, com Tchiang Kai-chek. Após a
morte de Sun Yat-sen, em 1925, organizou uma campanha de perseguição ao Partido
Comunista da China, com o que preparou moralmente o golpe de Estado
contra-revolucionário de Tchiang Kai-chek de 1927. Durante um longo período foi
o cão fiel de Tchiang Kai-chek, um dos seus cúmplices na actividade
contra-revolucionária. Em Fevereiro de 1949, constatando que a dominação de
Tchiang Kai-chek corria para o desmoronamento inevitável e vendo que a sua
própria situação não tinha saída, suicidou-se.
(3) Tchempao; órgão publicado em Pequim pelo grupo político
dos "investigadores", um grupo que apoiava a dominação dos caudilhos
militares do Norte.
(4) Em 1923, com a ajuda do Partido Comunista da China, Sun
Yat-sen decidiu a reorganização do Kuomintang, a colaboração deste com o
Partido Comunista e a admissão de comunistas no Kuomintang e, em Janeiro de
1924, no I Congresso Nacional do Kuomintang, convocado por ele em Cantão,
formulou as suas três grandes políticas: aliança com a Rússia, aliança com o
Partido Comunista, ajuda aos camponeses e operários. Participaram nesse
Congresso os camaradas Mao Tsetung, Li Ta-tchao, Lin Po-tsui, Tsúi Tchio-pai e
outros. Essa participação nos trabalhos do Congresso foi de grande importância,
na medida em que ajudou o Kuomintang a adoptar uma via revolucionária. Foi
nessa mesma época que alguns desses camaradas foram eleitos membros, efectivos
ou suplentes, do Comité Central Executivo do Kuomintang.
(5) O camarada Mao Tsetung refere-se aos camponeses médios.
(6) Marechal Tchao, também chamado Tchao Cum-mim, é o deus
da riqueza na mitologia popular chinesa.
(7) Trata-se dum movimento nacional anti-imperialista, em
protesto contra o massacre do povo chinês perpetrado pela polícia inglesa, a 30
de Maio de 1925, em Xangai. Em Maio de 1925, num certo número de fábricas
japonesas de têxteis em Tsintao e em Xangai, rebentou um movimento de greve que
tomou enormes proporções. Esse movimento foi esmagado pelos imperialistas
japoneses e seus lacaios, os caudilhos militares do Norte. A 15 de Maio, no
seguimento das medidas de repressão tomadas pelos patrões contra os operários
das fábricas japonesas de têxteis de Xangai, o operário Cu Djem-hom foi morto a
tiro, registando-se mais de uma dezena de feridos. A 28 de Maio, sob ordem das
autoridades reaccionárias, foram executados oito operários em Tsintao. A 30 de
Maio, no território das concessões estrangeiras, mais de 2.000 estudantes de
Xangai passaram à agitação em favor dos operários em greve, e no sentido da
devolução das concessões à China. Depois, mais de 10.000 xangaineses realizaram
uma concentração diante do comando geral da policia da concessão inglesa. Os
manifestantes gritavam as palavras de ordem de "Abaixo o
imperialismo!", "Povo chinês, une-te!", etc. A polícia inglesa
abriu fogo, matando e ferindo numerosos estudantes. Tais acontecimentos tornaram-se
célebres sob a designação de "Acontecimentos Sangrentos de 30 de
Maio". Essa repressão selvagem suscitou a cólera do povo chinês e uma vaga
de manifestações e greves de operários, estudantes e comerciantes percorreu o
país, culminando num imenso movimento anti-imperialista.
(8) O camarada Mao Tsetung pensa aqui nos camponeses
indigentes que, não possuindo suficiente terra própria, têm de tomà-la de
arrendamento.
(9) Na China, os empregados comerciais dividem-sé em várias
camadas. O camarada Mao Tsetung pensa aqui na maioria; os outros — os da camada
inferior — encontram-se na mesma situação material que os proletários.
(10) Trata-se da greve dos marinheiros de Hong Kong e da dos
barqueiros do Yangtsé, nos começos de 1922. A primeira durou oito semanas. Face
a uma luta encarniçada e sangrenta, as autoridades imperialistas britânicas de
Hong Kong viram-se constrangidas a satisfazer as reivindicações dos grevistas:
aumento dos salários, restabelecimento dos sindicatos, libertacão dos operários
detidos e pagamento de pensões às famílias dos mártires. Pouco depois, os
barqueiros e os operários dos portos do Yangtsé começaram uma greve que durou
duas semanas e terminou, igualmente, com a vitória dos grevistas.
(11) Após a sua fundação, em 1921, o Partido Comunista da
China entregou-se a um trabalho de organização no seio dos operários
ferroviários e, em 1922 e 1923, nas principais ferrovias do país, passou-se a
um movimento de greves dirigido pelo Partido Comunista. A mais célebre foi a
greve geral dos ferroviários da linha Pequim-Hancou, que começou a 4 de
Fevereiro de 1923, sob o signo da luta pelo direito de organizar livremente um
sindicato único. A 7 de Fevereiro, apoiados pelo imperialismo britânico, Vu
Pei-fu e Siao Iao--nan, caudilhos militares do Norte, iniciaram uma feroz
repressão contra os operários em greve, repressão que ficou conhecida na
História da China pela designação de ''Acontecimentos Sangrentos de 7 de
Fevereiro".
(12) Hulheiras de Cailuan é o nome geral das minas de Caipim
e Luandjou, na província de Hopei. Essas hulheiras formavam uma importante
bacia que ocupava mais de 50.000 operários. Durante o Movimento dos Boxers, em
1900, o imperialismo inglês apoderou-se das minas de Caipim. Posteriormente, os
chineses criaram a Companhia Hulheiras de Luandjou, incorporada mais tarde na
Administração Mineira de Cailuan. Ambas as minas passaram a estar sob o
controle exclusivo do imperialismo britânico. A greve dos mineiros de Cailuan
ocorreu em Outubro de 1922. As hulheiras de Tsiao-tsuo situavam-se no Honan.
Actualmente situam-se no oeste da província de Pim-iuan. São muito conhecidas
na China. A greve de Tsiaocsuo começou em 1 de Julho de 1925 e terminou em 9 de
Agosto do mesmo ano.
(13) Chamien: antiga concessão dos imperialistas britânicos
em Cantão. Em Julho de 1924, os imperialistas britânicos que exploravam Chamien
introduziram uma nova regulamentação policial, nos termos da qual cada cidadão
chinês residente em Chamien devia apresentar um cartão de identidade, com a
devida fotografia, cada vez que entrasse ou saísse da concessão. A medida não
se estendia aos estrangeiros. A 15 de Julho, os operários de Chamien
desencadearam uma greve paira protestar contra tal discriminação. Finalmente;
os imperialistas britânicos viram-se obrigados a anular a regulamentação
policial.
(14) Após os Acontecimentos de Xangai de 30 de Maio de 1925,
estalou uma greve geral nessa mesma cidade, no dia 1 de Junho. A 19 de Junho,
começou uma greve geral em Hong Kong. Mais de 200.000 trabalhadores
participaram na greve de Xangai, e 25O.000 na de Hong Kong. Este última, que
beneficiou do apoio de todo o povo chinês, durou um ano e quatro meses e foi a
greve mais longa que se registou na história do movimento operário mundial.
(15) San-ho-huei, Quclaohuei, Tataohuei, Tsailihuei,
Tchimpam, eram sociedades secretas» primitivas, com ramos entre a massa da
população. No fundamental, essas organizações congregavam camponeses
arruinados, artesãos desempregados e elementos do lumpen-proletariado. Na época
feudal, o que aglutinava todos esses elementos era, muitas vezes, um
preconceito religioso. Essas sociedades, que se designavam por diversos nomes,
regiam-se por uma forma de organização patriarcal. Algumas possuíam armas. Os
seus membros esforçavam-se por assegurar-se ajuda mútua nas diferentes
circunstâncias da vida e, em certos momentos, serviam-se das sociedades para
organizar lutas contra os opressores, burocratas e senhores de terras. Como é
evidente, o pertencer a essas organizações de carácter retrógrado não podia
constituir uma saída para os camponeses e artesões. Acontecia até que, com
frequência, os senhores de terras e os demais tiranos estabeleciam sem
dificuldades um controle sobre elas, utilizando-as para fins egoístas. Além
disso, notava-se nessa sociedades uma tendência à destruição cega, razão por
que algumas se transformaram numa força reaccionária. Em 1927, por ocasião do
seu golpe de Estado contra-revolucionário, Tchiang Kai-chek utilizou essas
organizações retrógradas como um instrumento para destruir a unidade do povo
trabalhador e abater a revolução. Desde que começou a verificar-se uma expansão
poderosa das forças do proletariado industrial moderno, os camponeses, sob a
direcção da classe operária, criaram a pouco e pouco organizações inteiramente
novas, que lhes eram próprias. Desde então, a existência das tais organizações
primitivas e retrógradas perdeu todo e qualquer sentido.
Escrito por Mao Tsé-Tung, em março de 1926.
TEMAS:
Marxismo-leninismo
Mao Tsé-Tung
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