terça-feira, 31 de março de 2015

O PT de volta ao divã

André Castelo Branco Machado

Não posso aceitar que a nossa sociedade, cada vez mais violenta, superficial, competitiva e egoísta, queira estabelecer leis ainda mais severas para punir a agressividade e os crimes que ela própria produz. É apagar incêndio com pólvora. Estamos rumando para a barbárie e muitos estão aflitos para acelerar esse destino.
Poderíamos aproveitar esse momento de caos para efetivarmos mudanças radicais no metabolismo dessa sociedade e transformarmos as relações humanas.
Socialismo ou barbárie, cada vez mais atual.


O PT de volta ao divã
De tempos em tempos, assim como reforma política, reforma ministerial, reforma tributária, o destino do PT emerge como assunto de destaque. Com o 5º congresso marcado para junho e em meio a um tiroteio político generalizado, volta-se a falar em refundação, aliança com movimentos sociais e até a criação de “puxadinhos” tipo Frente Ampla do Uruguai.
Fala-se de tudo, menos do essencial. Com base em que propostas, em que projeto social vai repousar esta reformulação? Eis o ponto.
O problema do PT, decididamente, não é organizativo. Está longe dos movimentos sociais? Sim, está, mas é ilusão culpar erros administrativos. Deixou de dialogar com os setores trabalhistas e operários? Evidente, mas o motivo não é uma questão de comunicação. Afastou-se dos sem-teto, da juventude que saiu às ruas, da classe média? Basta olhar os fatos.
Pergunte aos militantes petistas qual programa seguem. “A favor dos pobres”, dirão –mesmo porque nem o dirigente mais aguerrido saberá descrever quatro ou cinco pontos específicos da plataforma do partido.
O certo é que não dá para defender a maioria recorrendo ao instrumental da minoria.
Concebido como representante de trabalhadores, o PT pouco a pouco tem abandonado sua essência. De bancário, arrisca-se a virar banqueiro, a ponto de hoje ocupar as manchetes como paladino do superávit primário, do corte de benefícios sociais, do encolhimento de recursos para a educação. Só falta imprimir as propostas em inglês. Isso para não citar os tentáculos expostos na área da corrupção.
A inapetência do PT, sem intenção de trocadilho, salta aos olhos. São Paulo sofre com a falta d’água, vive uma epidemia de dengue e assiste a uma nova greve de professores. Onde está o PT?
O máximo que se vê é sua principal figura no Estado, o prefeito paulistano, preocupado em travar uma batalha de morte por…ciclovias. Nada contra elas, assim como muitos poucos serão a favor da destruição da camada de ozônio ou da proibição de pasta de dente. Mas transformar isto em bandeira de governo numa capital de tamanhas carências revela, como diria o povo, falta de senso de noção.
No plano federal, a mesma coisa. Além do caso Petrobras, o partido submete-se a um papel secundário, de coadjuvante, também frente a escândalos como a lista do HSBC e a recente Operação Zelotes. Ambas provam que o Brasil, tido como um dos campeões de carga tributária, revela-se, na verdade, imbatível na sonegação de impostos.
Só na Zelotes, calcula-se um prejuízo de quase 6 bilhões de reais para o Tesouro –valor três vezes maior que o indicado pelo Ministério Público na Operação Lava Jato. Repita-se: três vezes maior.
Os jornalistas Fábio Fabrini e Andreza Matais, de “O Estado de S. Paulo”, deram a lista de alguns acusados: Santander, Bradesco, Ford, Gerdau, Safra, RBS, Camargo Corrêa e outros nomes de calibre parecido. Onde estão o governo do PT e o ministro da Fazenda que ele nomeou? Em vez de atacar os peixes graúdos, os emissários do Planalto mendigam votos no Congresso para encolher pensões de viúvas, cortar bolsas de universitários e onerar desempregados.
Para fazer este trabalho, convenhamos, já há legendas de sobra na paisagem nacional.

Artigo do jornalista Ricardo Melo publicado no jornal Folha de São Paulo de 30 de março de 2015.




"Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo que a memória amou fica eterno. Um pôr do sol, uma carta que recebemos de um amigo, os campos de capim-gordura brilhando ao sol nascente, o cheiro do jasmim, um único olhar de uma pessoa amada, a sopa borbulhante sobre o fogão de lenha, as árvores do outono, o banho da cachoeira, mãos que seguram, o abraço do filho: houve muitos momentos de tanta beleza em minha vida que eu disse: ‘Valeu a pena eu haver vivido toda a minha vida só para poder ter vivido esse momento. Há momentos efêmeros que justificam toda uma vida’."

- Rubem Alves, em “Do universo à jabuticaba”. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010, p. 144.
"A destruição do passado - ou melhor,dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem."

(Eric Hobsbawn, no Livro "A Era dos Extremos", 2ª edição, Companhia das Letras, p. 13)

sábado, 28 de março de 2015

Viabilidade da reforma eleitoral e de suas consequências

Olha, vou postar aqui porque tenho visto muitas "análises rápidas" sobre a atual (?) viabilidade da reforma eleitoral e de suas consequências. Vamos partir do pressuposto de que o que representa a base social dos partidos no Brasil é o desempenho deles nas disputas municipais majoritárias: eleições para prefeito. Isso porque trata-se de uma disputa eleitoral em condições similares nacionalmente e que se dão em mais de 5,6 mil distritos eleitorais distintos. Quer dizer, se um partido se dá bem comparativamente aos demais nessas condições, ele pode ser considerado uma partido forte nacionalmente e terá boas chances de se dar bem nas eleições nacionais. Os gráficos postados aqui mostram os desempenhos dos partidos nas últimas 5 eleições municipais (1996 a 2012), compreendendo o período de polarização PT-PSDB em âmbito nacional. Para cada eleição há um par de gráficos. O primeiro mostra a distribuição do número de candidatos a prefeito por partido, indicando a capacidade dos partidos de se organizar para as disputas majoritárias municipais. O segundo mostra a distribuição do número de votos obtidos pelos partidos, uma forma de representar o respaldo social (dos eleitores) que os partidos recebem em cada disputa.
Os três principais partidos do período estão destacados por cores específicas (PT-PMDB-PSDB). O objetivo é demonstrar como ao longo do período houve uma concentração, seja de candidatos, seja de votos, nos três partidos dominantes na esfera das disputas municipais. Isso contradiz a tese da fragmentação. Uma coisa é fragmentação formal (número oficial de partidos). Outra é o número de partidos que importam de fato. Em todas as eleições do período o número de partidos com candidatos a prefeito variou entre 27 e 30, mostrando uma estabilidade.
O PMDB é o partido que mais apresenta candidatos a prefeito em todas as eleições, mas nunca foi o que teve mais votos. Ele oscila entre a segunda e terceira posição quanto ao número de votos obtidos. O PSDB varia entre o segundo e terceiro maior partido em número de candidatos. Em relação ao número de votos, em 1996 ele é o mais votado. Logo em seguida, em 2000, cai para a quarta colocação. Desde então tem ficado entre segundo e terceiro mais votado em cada disputa. Já o PT apresenta os maiores crescimentos do período nos dois indicadores. Em 1996 o PT é apenas o 7º colocado em número de candidatos, ficando atrás de PFL, PPB, PDT e PTB, por exemplo. Quantoao número de votos, ele ficou na 5ª colocação. Em 2000 o PT sobe para a 5ª posição em número de candidatos e fica em 1º lugar no número de votos. Em 2004 já é o segundo em candidatos e mantém a dianteira em número de votos. Em 2008 cai para 3ª posição em número de candidatos e para a 2ª posição em número de votos. Na mais recente eleição municipal o PT subiu para 2º lugar em número de candidatos e voltou à primeira posição em número de votos.
Para além das descrições individuais, o que essa comparação mostra é, por um lado, uma concentração de candidatos e votos nos três grandes partidos. Se em 1996 e 2000 PFL e PTB ainda tinham força político-eleitoral nos municípios, nas três eleições mais recentes cederam espaço para o "trio de ferro eleitoral". Porém, a eleição de 2012 mostrou que embora os PT-PMDB-PSDB continuem dominando o cenário, a distância deles em relação aos demais partidos diminuiu.
A pergunta que fica é: nesse cenário alguém acredita que as representações dos três partidos no congresso se empenharão para uma reforma político-eleitoral que altere os fundamentos do sistema que os está beneficiando?

Emerson Urizzi Cervi

domingo, 8 de março de 2015

Pancada matinal do Thomas de Toledo:



Só queria entender: por que o PSDB é o único partido que pode roubar livremente neste país, pois sempre dão um jeitinho de salvá-lo pela mídia ou pela "justiça"? O mensalão do PSDB ficou anos tendo seu julgamento sendo enrolado e quando o STF decidiu fazer alguma coisa, devolveu-o a primeira instância e tudo terminou em pizza por ter expirado o prazo. A privataria tucana foi comprovada e documentada pela CPI do Banestado, mas o engavetador (vulgo procurador) de FHC sequer enviou as denúncias ao MPF e tudo terminou como está. Há algumas semanas, o STF proibiu que uma CPI investigue o escândalo bilionário de desvios dos trens e metrôs de SP. Agora, no caso da Petrobrás, quando há denúncias fundamentadas de que Aécio se envolveu no esquema a partir de Furnas, seu nome foi tirado da lista enviada e ele não é réu. A regra do STF parece ser clara: só investiga o que envolver o atual governo e em troca os deputados aprovam a PEC da Bengala para estender o mandato dos atuais ministros para até 75 anos. Vale ainda mencionar SP, onde já são quase 100 CPIs barradas pelo PSDB na Assembleia Legislativa. Assim, o PSDB dá o recado ao país de que o crime compensa desde que seja feito na legenda 45. Portanto, ladrões, se quiserem roubar e sequer serem investigados, já sabem o caminho.

Thomas de Toledo
"(...) 45% de toda a renda e a riqueza nacionais é apropriada por apenas 5 mil famílias extensas. Estas são nossas elites. Vivem de rendas e da especulação financeira, portanto, ganham dinheiro sem trabalho. Pouco o nada investem na produção para alavancar um desenvolvimento necessário e sustentável.
Veem, temerosas, a ascensão das classes populares e de seu poder. Estas invadem seus lugares exclusivos. No fundo, começa a haver uma pequena democratização dos espaços sociais. (...) Como teólogo me pergunto angustiado: na sua grande maioria, essas elites são de cristãos e de católicos. Como combinam esta prática perversa com a mensagem de Jesus? (...) Mas entendo, pois para elas vale o dito espanhol: entre Deus e o dinheiro, o segundo é primeiro.

Infelizmente."

 Leonardo Boff

O ANIMAL QUE LOGO SOU

Frequentemente me pergunto, para ver, quem sou eu - e quem sou eu no momento em que, surpreendido nu, em silêncio, pelo olhar de um animal, por exemplo os olhos de um gato, tenho dificuldade, sim, dificuldade de vencer um incômodo.
Por que essa dificuldade?
Tenho dificuldade de reprimir um movimento de pudor. Dificuldade de calar em mim um protesto contra a indecência. Contra o mal-estar que pode haver em encontrar-se nu, o sexo exposto, nu diante de um gato que nos observa sem se mexer, apenas para ver. Mal-estar de um tal animal nu diante de outro animal, assim, poder-se-ia dizer uma espécie de animal-estar: a experiência original, única e incomparável deste mal-estar que haveria em aparecer verdadeiramente nu, diante do olhar insistente do animal, um olhar benevolente ou impiedoso, surpreso ou que reconhece. Um olhar de vidente, de visionário ou de cego extralúcido. É como se eu tivesse vergonha, então, nu diante do gato, mas também vergonha de ter vergonha. Reflexão da vergonha, espelho de uma vergonha envergonhada dela mesma, de uma vergonha ao mesmo tempo especular, injustificável e inconfessável. No centro ótico de uma tal reflexão se encontraria a coisa - e aos meus olhos o foco dessa experiência incomparável que se chama nudez. E que se acredita ser o próprio do homem, quer dizer, estranha aos animais, nus como são, pensamos então, sem a menor consciência de sê-lo.


JACQUES DERRIDA, "O ANIMAL QUE LOGO SOU" (Editora Unesp, 2. edição, 2011), tradução de Fábio Landa.

Porrada no estômago:



"Em 23 de abril de 1849 Dostoiévski foi preso e torturado a mando do Czar e chorou lendo os salmos da Bíblia. Em 1867 um poeta inglês morreu afogado tentando atravessar o canal da mancha carregando sonetos para uma prostituta francesa. Em 1315, no auge da crise da fome na Europa, uma escritora obscura escreveu seu último poema e decepou o próprio braço e arrancou um pedaço da bunda para dar de comer aos filhos famintos. Em 1968 Waly Samolão sentiu o peso do amor e escreveu “Vapor Barato” com Jards Macalé. Em 2098, o último negro africano do planeta escreverá um poema tão lindo que desativará a bomba atômica. A poesia é antibiótico para as desilusões da vida. O consolo dos perseguidos e descontentes. A poesia salva." 

Diego Moraes

Mignon


Conheces o país onde os limões florescem
E laranjas de ouro acendem a folhagem?
Sopra do céu azul uma doce viragem
Junto ao loureiro altivo os mirtos adormecem.
Conheces o país?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amado! Longe, longe!
Conheces o solar? O teto que descansa
Nas colunas, a sala, os quartos luminosos,
E as estátuas a olhar-me, os mármores zelosos:
Que fizeram a ti, minha pobre criança?
Conheces o solar?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amigo! Longe, longe!
Conheces a montanha e a vereda de bruma,
A alimária que busca a enevoada senda?
Nas grutas ainda vive o dragão da legenda,
A rocha cai em ponta e à roda a onda espuma,
Conheces a montanha?
É onde, para onde
Nosso caminho, pai, nos chama. Vamos. Longe.

- Johann Wolfgang von Goethe. 
"Da Atualidade de Goethe". [tradução Haroldo de Campos]. In:_____. O arco-íris branco. Rio de. Janeiro: Imago 1997.

Mignon
Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn,
Im dunkeln Laub die Goldorangen glühn,
Ein sanfter Wind vom blauen Himmel weht,
Die Myrte still und hoch der Lorbeer steht?
Kennst du es wohl? Dahin!
Dahin möcht’ ich mit dir,
O mein Geliebter, ziehn.
Kennst du das Haus? Auf Säulen ruht sein Dach,
Es glänzt der Saal, es schimmert das Gemach,
Und Marmorbilder stehn und sehn mich an:
Was hat man dir, du armes Kind, getan?
Kennst du es wohl? Dahin!
Dahin möcht’ ich mit dir,
O mein Beschützer, ziehn.
Kennst du den Berg und seinen Wolkensteg?
Das Maultier such im Nebel seinen Weg,
In Höhlen wohnt der Drachen alte Brut;
Es stürzt der Fels und über ihn die Flut.
Kennst du ihn wohl? Dahin!
Dahin geht unser Weg!
O Vater, laß uns ziehn!

- Johann Wolfgang von Goethe


http://www.elfikurten.com.br/…/johann-wolfgang-von-goethe.h…

O Poder da Ideologia

“Somente nas condições de uma crise importante – como durante a Primeira Guerra Mundial e sua sequência de revoluções, não apenas na Rússia mas também em vários países europeus, ou durante a Segunda Guerra Mundial, seguida pela vitória da revolução chinesa e por um deslocamento significativo para a esquerda do espectro político em quase todo o mundo, pelo menos durante alguns anos – os sistemas críticos de pensamento podem afetar drasticamente o ‘panorama ideológico da época’. Em circunstâncias normais, devem lutar não apenas contra seus adversários ideológicos especializados, mas também, o que é muito mais desalentador, contra a ‘aliança profana’ entre o ‘senso comum’ e a ideologia dominante sustentada pela evidência prática das estruturas materiais estabelecidas, em cujo interior as pessoas têm de reproduzir as condições materiais e culturais de sua existência e ‘sentir-se à vontade como um peixe dentro d’água.”


(István Mészáros em O Poder da Ideologia, p. 482)

quarta-feira, 4 de março de 2015

El acusado


Naguib Mahfuz

Como iba solo en su cochecito, no tenía más aliciente que la velocidad; volaba -en dirección a Suez- sobre una cinta de asfalto ceñida por arenas. En el paisaje nada mitigaba el pálpito de soledad, ni había novedad alguna que le hiciese más llevadera su semanal ida y vuelta. Divisó a lo lejos un colosal vehículo de transporte. Le dio alcance y redujo la marcha de su Ramsés para continuar cerca y al ritmo del coloso. Era un camión cisterna del tamaño de una locomotora. Un ciclista iba agarrado a su borde trasero, y daba, de vez en cuando, una patada en la rueda, tan tranquilo. Cantaba. ¿De dónde vendría? ¿A dónde iría? ¿Habría podido hacer tanto camino de no hallar un vehículo que tirase de él? Sonrió admirado y le vio con simpatía. Dejaron atrás, a la derecha, unas lomas, y enseguida entraron en una zona verde, sembrada de maíz y rodeada de pastizales, donde pacían cabras. Redujo aún más la velocidad para gozar de aquel verde jugoso, y entonces un grito desgarró el silencio.
Con sobresalto volvió la cara hacia delante, a tiempo de ver cómo la rueda del camión, imperturbable, enganchaba a bicicleta y ciclista. Soltó un grito de horror y chilló para advertir al camionero. Detuvo luego su coche, a dos metros de la bicicleta, y se bajó sin pensar y sin que sus gritos hubiesen alcanzado al camión. Se acercó espantado al lugar del accidente y vio el cuerpo tendido sobre el costado izquierdo, con el brazo moreno apuntando hacia él; una mano pequeña, que asomaba por la camisa -polvorienta, lo mismo que la piel-, estaba cubierta de rasguños y heridas. De la cara no se le veía más que la mejilla derecha. Las piernas ceñían aún la bicicleta. El pantalón, gris, estaba desgarrado y salpicado de sangre. Las ruedas se habían roto, los radios estaban retorcidos y una guía del manillar desquiciada. Una respiración, fatigosa, forzada, inquieta, ocupaba el pecho de la víctima, que aparentaba unos veinte años o muy poco más. Se le contrajo la cara y los ojos se le fijaron en una expresión de pena y compasión, pero no supo qué hacer. En aquel descampado se sentía impotente. Descartó la idea que primero le vino a las mientes de llevarle a su coche. Y finalmente se libró de su confusión decidiendo tomar su automóvil y salir en pos del vehículo culpable. Quizá en el camino encontrase un puesto de vigilancia o de control y pudiese informar del accidente. Marchó hacia su coche y se disponía a subir cuando oyó unos gritos que decían:

-Quieto... no te muevas...

Se volvió y pudo ver a un grupo de labradores corriendo hacia él. Venían de los sembrados. Algunos llevaban garrotes, otros piedras. Contuvo el impulso de montarse -no fuera que la emprendieran a pedradas- y les esperó asustado por su crítica situación. Los rostros torvos, agresivos, le disiparon cualquier esperanza de entendimiento. Tendió la mano veloz a la guantera y sacó su pistola, apuntándoles y gritando con voz estremecida:

-¡Quietos!

Se dio cuenta, con fulgurante y agitada percepción, que aquella actitud había cerrado todavía más cualquier esperanza de comprensión futura, pero tampoco había tenido tiempo de obrar con reflexión. Cedieron en su carrera y, finalmente, se pararon del todo a unos diez metros, en los ojos una mirada torva y resentida. Ardía en sus fulgores la inesperada desventaja de encontrarse ante un arma. Los rostros tenían un aspecto oscuro, hosco, subrayado por los rayos del sol. Las manos crispadas en torno a los garrotes y las piedras, y los pies enormes, descalzos, clavados en el asfalto Uno dijo:

-¿Piensas matarnos como a él?

-Yo no lo he matado. Ni le he tocado siquiera, quien lo atropelló fue el camión cisterna.

-Fue tu coche... tú...

-No lo habéis visto...

-Todo...

-Me estáis impidiendo que alcance al culpable...

-Tú lo que quieres es huir...

Había aumentado la rabia. Había aumentado el miedo. La idea de poder verse obligado a disparar le producía angustias de muerte. Matar, que el homicidio le llevase a una pendiente. ¿Cómo borrar la pesadilla si no estaba durmiendo?

-De verdad que no he sido yo quien le ha atropellado. He visto perfectamente cómo el camión le aplastaba...

-Aquí no hay más culpable que tú...

-Habría que llegarse al Hospital más cercano...

-Intenta.

-Al puesto de Policía...

-Intenta.

-¿Es que vamos a esperar sentados hasta que la verdad resplandezca?

-Si no te escapas ya lo creo que resplandecerá.

-Válgame Dios, ¿por qué tanta tozudez?

-¿Por qué le has matado?

¡Qué tremendo problema; qué tremenda falsedad! Cuándo acabaría aquel infernal compás de espera. El sufrimiento sin paliativo, el miedo, las ideas frenéticas. ¿Por qué se detuvo? ¿Cómo demostrar la verdad? El mismo conductor del camión no se enteró de nada. Ni la menor esperanza que todo aquel maldito lío fuese una pesadilla.

Del caído llegó una queja, seguida de un ay gangoso y un largo gruñido. Después, otra vez silencio. Uno chilló:

-¡Dios tiene que castigarte!...

-Dios castigará al culpable...

-Tú has sido...

-¿Me habría parado de ser culpable?

-Creíste que no había nadie...

-Creí que podía ayudarle...

-Buena ayuda...

-Es inútil hablar con vosotros.

-Bien inútil.

Si les daba la espalda un solo instante, las piedras le aplastarían. No había más remedio que aguantar en el trance. Imposible perseguir al camionazo. Él, sólo él quedaba en prenda. Y si no mantuviese un resquicio de esperanza, aquello sería el horror de los horrores. ¿Cómo se van a establecer las responsabilidades? ¿O a determinar el castigo? ¿Podrá salvarse el pobre accidentado? Su mirada manifestaba espanto, las de ellos un rencor obstinado.

Dos vehículos aparecieron allá en el horizonte. Al verlos acercarse respiró aliviado. Una ambulancia y un coche patrulla se pararon en el lugar del accidente. Los camilleros marcharon hacia la bicicleta sin demora. Los del grupo les rodearon. Zafaron las piernas de la víctima delicadamente y le trasladaron al coche con sumo cuidado. Y sin esperar más se fueron por donde habían venido. La policía alejó a los del grupo y el inspector procedió a examinar el lugar sin decir palabra. Tras un lapso se volvió al hombre y preguntó:

-¿Fue usted?

Los labradores se encargaron de contestarle a gritos, pero el inspector ordenó silencio con un gesto de la mano, mientras le examinaba. Repuso:

-No. Yo iba detrás de un camión cisterna al que el ciclista se agarraba. Un grito me alarmó y cuando miré, le vi bajo la rueda.

Gritaron casi todos.

-Él le atropelló...

-No lo atropellé. Vi cómo pasaba...

Nuevo griterío. El inspector atronó:

-¡Orden!

Y le preguntó:

-¿Vio cómo se producía el accidente?...

-No. Cuando me volví al grito ya estaba la bicicleta debajo de la rueda.

-¿Cómo había ido a parar allí?

-No sé.

-¿Y luego qué hizo?

-Paré para ver cómo estaba y qué se podía hacer. Se me ocurrió salir detrás del camión pero entonces aparecieron éstos corriendo hacia mí, con garrotes y piedras, y no tuve más remedio que tenerles a raya con el arma.

-¿Tiene licencia?

-Sí, soy pagador en Suez y viajo mucho.

El inspector se volvió hacia los labradores y les preguntó:

-¿Por qué sospecháis de él?

Gritaron, quitándose la palabra de la boca:

-Porque vimos perfectamente lo que hizo y no le dejamos escapar...

El hombre dijo angustiado:

-Es mentira, no vieron nada.

El inspector ordenó a un agente quedarse vigilando y a otro avisar al fiscal mientras se trasladaba con todos a Jefatura, para escribir el atestado. Tanto Alí Musa como los labradores mantuvieron sus declaraciones. Alí empezaba a dudar de que la investigación fuese a poner en claro la verdad. De la víctima salió a luz el nombre: Ayyad al-Yaáfari, y que era vendedor ambulante, en tratos con casi todos aquellos labradores. Alí Musa preguntaba:

-¿Me habría parado si fuera culpable?

El inspector contestó fríamente:

-Atropellar a alguien y huir no son cosas que se sigan necesariamente.

Más espera. Los labradores en cuclillas. Alí Musa ocupó una silla con permiso del inspector. El tiempo transcurría lento, doloroso, espeso. Acabado el atestado, el inspector se desentendió de ellos. Nada de aquel asunto parecía ir con él y se puso a matar el rato leyendo la prensa. ¿Por qué tendrían los labradores aquel empeño en culparle? Lo peor es que mantenían su testimonio con la misma limpieza que si fueran sinceros. ¿Sería todo un espejismo? ¿Sería que, como suele suceder, uno habría lanzado aquella versión del accidente y los demás le seguían como ciegos?... Ay... la única esperanza es que no muera Ayyad al-Yaáfari. ¿Qué otro puede sacarle de aquella pesadilla con una simple palabra? Se dirigió al inspector, cortés y anhelante:

-¿Podríamos averiguar si hay esperanzas con el accidentado?

El inspector le miró hosco, pero se puso en comunicación con el Hospital por teléfono. Después de colgar, manifestó:

-Está en el quirófano, ha perdido mucha sangre... imposible hacer pronósticos...

Tras dudarlo unos momentos preguntó:

-¿Cuándo llegará el fiscal?

-Ya se enterará cuando llegue.

Dijo, como hablando para sí:

-¿Cómo puede uno verse envuelto en tales situaciones?

El inspector contestó, mientras retornaba al periódico:

-Usted sabrá.

Volvió a quedar horriblemente solo, y a examinar el lugar con enojo. Aquellos labradores estaban empeñados en condenarle, pero quizá lograra que la sentencia se volviera contra ellos. Y el inspector le considera, por rutina, culpable. Una ciega fuerza anónima quería destruirle inconscientemente. Tenía a sus espaldas muchas culpas, pero resultaba absurdo, a todas luces, ser atrapado en un embrollo. Suspiró quedamente:

-Ay, Señor.

Y casi todos le hicieron eco, por motivos diversos:

-Ay, Señor.

Fuera de sí, les chilló:

-No tenéis conciencia.

Y ellos chillaron también:

-Dios es testigo, canalla...

El inspector sacó la cara de entre las hojas del periódico y dijo malhumorado:

-Vale... vale... no tolero esto...

Alí dijo excitado:

-De no ser por esta infame mentira, a estas horas estaría en mi casa tranquilo...

Uno replicó:

-Si no fuese por tu descuido, el pobre Ayyad podría estar a estas horas tranquilamente en su casa...

El inspector les miró de un modo que les dejó sin habla. Reinó la calma, el dolor de la espera empeoró. El tiempo pasaba como si anduviese para atrás. Alí no pudo soportar más la tensión y se vio impulsado a recurrir otra vez al inspector, preguntándole en el colmo de la cortesía:

-Señor, no puede hacerse idea lo que siento causarle esta molestia, pero, ¿puedo saber cuándo vendrá el fiscal?

Le contestó sin dejar el periódico y de mal talante:

-¿Cree que su caso se da todos los días?

No recordaba un sufrimiento igual. Nunca había sentido tan negros barruntos de desastre. Aquella inexplicable malquerencia entre él y los labradores no tiene precedentes. ¿El vasto cielo, bajo el que el accidente se había producido, era también algo sin precedentes? Con el paso del tiempo, el horror y el agobio le habían dominado completamente. Sin reparar en consecuencias, exclamó:

-Señor inspector...

Le cortó como si le hubiese estado esperando:

-¿Se calla?

-Pero es que esta tortura...

-Molestias que han soportado todos cuantos han pasado por esta jefatura desde que se inauguró...

-¿No puede preguntar, al menos, por el herido?

-Me comunicarán cualquier novedad sin que lo pregunte...

Mi vida depende de la tuya, Ayyad. Las apariencias van a burlar la perspicacia del fiscal. ¿Me encarcelarán sin haber hecho nada? ¿Ha ocurrido algo igual jamás? ¡Qué bueno sería poder echarte la culpa encima!, y que te sonrieras con desdén y torpeza. Las lágrimas casi le brotaban y se echa a reír de una forma que a poco lo enajena. Por Dios, recuerda tus culpas y consuélate de este trance, aunque no haya relación alguna. ¿Quién dijo que el caos con el caos se combate?

Veo a esos labradores, a través de un prisma negro que muchas generaciones han tupido, pero, ¡yo no he colaborado en eso! ¿O lo he hecho sin saberlo? Es curioso, estoy pensando por primera vez en mi vida. Y pensaré más todavía cuando me metan entre cuatro paredes. Hoy he trabado conocimiento con cosas que me eran directamente desconocidas: la casualidad, el destino, la suerte, la intención y su resultado, el labrador, el inspector, el effendi, los monzones, el petróleo, los vehículos de transporte, la lectura de la prensa en jefatura, lo que recuerdo y lo que no recuerdo. Sobre todo esto, tengo que meditar más, en singular y en bloque. Hay que empezar a familiarizarse con entender todo, y dominarlo todo, hasta que no quede ninguna cosa sin registrar. Una convulsión no es en sí culpable, lo es la ignorancia. Tú lo único que tienes que hacer desde hoy, es someterte a los dictados del sistema solar y no al oscuro lenguaje de las estrellas. ¿Por qué temes al inspector que lee la página de esquelas y nadie le da el pésame? Y al llegar a este punto gritó desaforado:

-Todo tiene un límite.

El rostro del inspector asomó tras el periódico con expresión desaprobatoria. Entonces le dijo muy serio:

-Usted lee el periódico y no hace nada.

-¿Cómo se atreve?

-Ya ve...

-¡Es que no tiene miedo de...!

-No tengo miedo de nada...

-Le traicionan los nervios, pero tengo remedio para todo.

-¡Yo también tengo remedio para todo!

El inspector se puso de pie y dijo furioso:

-¡¿Usted?!

-Retrasa la presencia del fiscal, no respeta las leyes.

-Le llevo al calabozo.

-¿Es peor que este caos?

-¿Es que quiere recurrir al expediente de locura?

Alí se levantó desafiante, la mirada extraviada. El inspector llamó a los agentes. Entonces sonó el timbre del teléfono. El inspector descolgó y estuvo atento unos momentos. Colgó y miró a Alí con malicia y rencor, disimulando a la par una sonrisa; y le dijo:

-Ha muerto a consecuencia de las heridas. Alí Musa se demudó ligeramente. La mirada maliciosa chocó con otra de cólera ciega. Gritó con voz estremecida:

-La ley aún no ha dicho nada, esperaré...

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La mujer caída


Víctor Hugo

¡Nunca insulten a la mujer caída!
Nadie sabe qué peso la agobió,
ni cuántas luchas soportó en la vida,
¡hasta que al fin cayó!
¿Quién no ha visto mujeres sin aliento
asirse con afán a la virtud,
y resistir del vicio el duro viento
con serena actitud?

Gota de agua pendiente de una rama
que el viento agita y hace estremecer;
¡perla que el cáliz de la flor derrama,
y que es lodo al caer!

Pero aún puede la gota peregrina
su perdida pureza recobrar,
y resurgir del polvo, cristalina,
y ante la luz brillar.

Dejen amar a la mujer caída,
dejen al polvo su vital calor,
porque todo recobra nueva vida
con la luz y el amor.


Biblioteca Digital Ciudad Seva
¿Se acuerdan de Tema del traidor y del héroe de Borges? (Ficciones). El historiador Ryan, sin querer dañar la tenaz memoria de Irlanda, advierte en los documentos que el traidor era precisamente el que encabezaba la revolución. Y lo sorprendente fue el método usado para hacer pagar la culpa al traidor y a la vez líder de la revuelta, Fergus Kilpatrick. Los conspiradores decidieron que no lo delatarían en público porque eso debilitaría su lucha. Al contrario, moriría como un héroe. Todo había sido planeado como en una obra de teatro, incluso unas palabras que le dijo un mendigo a Fergus habían sido ya escritas por Shakeaspeare en Macbeth. Borges escribe sin temblar: "Que la historia hubiera copiado a la historia ya era suficientemente pasmoso; que la historia copie a la literatura es inconcebible..." Lo interesante es que al final Ryan decide llamarse a silencio. Siempre me pregunté por qué alguien podría imaginar semejante historia. Suena inconcebible por donde se la mire.


Alejandro de Oro

En defensa propia


Interesante la marcha de ayer. Hay varias cosas para pensar a partir de ella y creo que lo más interesante de todo son los lenguajes que estuvieron en juego. Por un lado, uno encuentra que el espacio de expresión existe y eso habla de cierto registro democrático que se hace presente a partir de treinta y tantos años complejos, no carentes de conflictos por cierto, que la sociedad argentina viene tramando poco a poco desde la dictadura. Por ejemplo, los hilos que invocan memoria y justicia aparecieron en el formato pre político que en conjunto marcó la marcha. No digo pre político en sentido peyorativo sino descriptivo. No es menor, en segundo lugar, la composición de la marcha y ciertos rituales que la definen: el respeto por los canteros, el polimorfismo ideológico que a falta de expresión más certera llamamos derecha, la capacidad de movilización que tienen ciertos medios con respecto a un imaginario concreto de las clases medias y medias altas urbanas en el país, entre otras cosas. Se le opuso durante el día un discurso sobre la proyección internacional del país en el plano de la tecnología nuclear, podría haber sido otra cosa, eso no importa, las industrias y el trabajo desplegado a partir del control de ciertos procesos tecnológicos, etc. Es decir, hubo en circulación dos discursos fuertemente morales, como todos los discursos en un punto, que se dirigían uno a mostrar consecuencias, políticamente articulado, y el otro a mostrar sobre un hecho de sangre (no sabemos de qué naturaleza todavía), los rastros y restos de una expresión pre política que no acierta a estructurarse y brindar confianza representacional. Es claro que uno puede hacer varias cosas cuando se dan estas marchas, lo que no puede hacer es simular que no existieron. El mayor riesgo se presenta allí, un riesgo que proponen por otra parte muchos de los participantes de la caminata, a saber, hacer como que el otro no hace, no produce eventos, no impacta en ningún plano, etc. De allí se deriva una demanda real y concreta para la derecha argentina: la construcción de un discurso complejo. Un discurso que desde quien enuncia pueda hacer algo más con los restos con los que pacta actualmente. No basta cierta dimensión donde se expresa indignación, no parece suficiente para una discusión democrática que apenas un poco más allá de la superficie del discurso institucional emerjan las sobre simplificaciones que produjeron en el orden simbólico y material de la historia de este país las horas más sombrías, bajo nombres variados pero similares en su función discursiva, los otros, los corruptos, los subversivos, los zurdos, los fachos, los negros, los putos, los cabecitas, etc., etc. La marcha de ayer, me parece, demostró que hay pocos lenguajes articulados en el espacio relativamente heterogéneo que constituyó. Puede sonar extraño lo que voy a decir dado que me considero en las antípodas de casi todo lo que allí pasó, excepto, claro, de que es preciso explicar cómo murió el fiscal, de eso no hay duda, pero, me parece, que como nunca antes es preciso imaginar fuera de toda ilusión consesualista que casi siempre expresa una idea velada de sumisión, que las derechas argentinas necesitan discursos articulados en la experiencia democrática, no sólo restos que evoquen esa experiencia, sino una articulación profunda que vaya más allá de los argumentos liberales simplificados que la mayoría de sus intelectuales y voceros expresan. Un lugar para comenzar, me permito sugerirles, es tensionar el discurso liberal con las prácticas que llevan adelante, desandar los engarces incuestionados de conservadurismo y pensamiento liberal, presionar sobre los límites de cierta expresión refugiada en constitucionalismos mediocres e imaginarios chirles sobre lo que llaman el "mundo". Salirse de la zona de confort pues. Digo todo esto en defensa propia, porque queda claro desde hace mucho tiempo que vivimos juntos y viviremos juntos, más allá o más acá de toda separación, más allá y más acá de las brechas, hondonadas y demás metáforas. A menos, claro está, que las tesis de Micky Vainilla y sucedáneos triunfen. Ya sabemos el resultado de eso.


Alejandro de Oro

Ver, V


He visto señorita,
que en el polvo de un mueble
usted ha escrito NO con el dedo,
pero está equivocada
se ha asustado de su primer muerte, nada màs
Ocurre que si ha escrito eso
viene después alguien y pasa el plumero
Siempre sucede olvido
Es lindo que la cosa sea así,
con alas de mariposas muertas
óxido y moho cimientos carcomidos porque
las ruinas son necesarias
Entonces compóngase el cabello
arréglese el vestido;
repita conmigo diga: Las aves de paso son hermosas

Por Leónidas Escudero, poeta sanjuanino. Argentina

Libro: Ler dije y me dijo