Vivi, olhei, li, senti, Que faz aí o ler, Lendo, fica-se a
saber
quase tudo, Eu também leio, Algo portanto saberás, Agora já
não estou tão certa, Terás então de ler doutra maneira,
Como, Não serve a mesma para todos, cada um inventa a
sua, a que lhe for própria, há quem leve a vida inteira a ler
sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam
pegados à pagina, não percebem que as palavras são
apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se
estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a
outra margem é a que importa, A não ser, A não, quê, A não
ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas
muitas, que cada pessoa que lê seja, ela, a sua própria
margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá
de chegar.
José Saramago
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