Ouvi bons amigos e pessoas em que eu confio nos últimos dias
dizerem que há um certo exagero no desejo de punição para os gremistas que
xingaram de macaco o goleiro do Santos. Com tantos crimes mais violentos, como
os milhares de assassinatos nas grandes cidades, por que nos indignaríamos a
esse ponto com um xingamento.
Tudo bem: também acho que nos indignamos de menos com
assassinatos. Nunca vou esquecer a frieza da recepção das matérias que fizemos
mostrando como ocorreram mil assassinatos em Curitiba. A maior parte era na
periferia, e as pessoas pareciam não estar nem aí para aquilo. Mas uma coisa
não diminui a outra.
Ouvi o argumento de que chamam o juiz e a mãe dele de outras
coisas, e que em estádios a coisa é assim mesmo. Mas espere aí. Há algo errado
nisso. Chamar alguém de macaco é bem diferente de qualquer outro xingamento
possível. Porque se você chama alguém de fdp, por pior que seja, você ainda
está considerando o outro como humano.
O que tentaram fazer com o goleiro do Santos, o que tentam
fazer sempre que chamam alguém de macaco, é tirar do cara a própria humanidade.
E é essa "desumanização" que revolta. Porque se o outro não é humano,
tudo é possível contra ele. É só um animal. Alguém inferior.
Foi esse tipo de pensamento e de discurso que possibilitou
que se escravizassem pessoas por quase quatro séculos em nosso país: eles
podiam ser escravos porque eram inferiores.
Foi esse tipo de pensamento que levou ao Holocausto dos
judeus: eles não eram comparados pelos nazistas a macacos, mas a ratos, que
deviam ser exterminados.
Quando se xinga alguém de macaco, o xingamento não é só
contra o sujeito, a mãe dele ou contra o time. O que se vê é uma tentativa de
manter todo um grupo de pessoas, toda uma imensa etnia e seus descendentes, em
um lugar de inferioridade racial, em uma sub-humanidade, em um nível
animalesco.
Quando se xinga alguém de macaco, é a própria humanidade que
é desprezada.
Rogerio Galindo
Nenhum comentário:
Postar um comentário