segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Quando se xinga alguém de macaco, é a própria humanidade que é desprezada.

Ouvi bons amigos e pessoas em que eu confio nos últimos dias dizerem que há um certo exagero no desejo de punição para os gremistas que xingaram de macaco o goleiro do Santos. Com tantos crimes mais violentos, como os milhares de assassinatos nas grandes cidades, por que nos indignaríamos a esse ponto com um xingamento.
Tudo bem: também acho que nos indignamos de menos com assassinatos. Nunca vou esquecer a frieza da recepção das matérias que fizemos mostrando como ocorreram mil assassinatos em Curitiba. A maior parte era na periferia, e as pessoas pareciam não estar nem aí para aquilo. Mas uma coisa não diminui a outra.
Ouvi o argumento de que chamam o juiz e a mãe dele de outras coisas, e que em estádios a coisa é assim mesmo. Mas espere aí. Há algo errado nisso. Chamar alguém de macaco é bem diferente de qualquer outro xingamento possível. Porque se você chama alguém de fdp, por pior que seja, você ainda está considerando o outro como humano.
O que tentaram fazer com o goleiro do Santos, o que tentam fazer sempre que chamam alguém de macaco, é tirar do cara a própria humanidade. E é essa "desumanização" que revolta. Porque se o outro não é humano, tudo é possível contra ele. É só um animal. Alguém inferior.
Foi esse tipo de pensamento e de discurso que possibilitou que se escravizassem pessoas por quase quatro séculos em nosso país: eles podiam ser escravos porque eram inferiores.
Foi esse tipo de pensamento que levou ao Holocausto dos judeus: eles não eram comparados pelos nazistas a macacos, mas a ratos, que deviam ser exterminados.
Quando se xinga alguém de macaco, o xingamento não é só contra o sujeito, a mãe dele ou contra o time. O que se vê é uma tentativa de manter todo um grupo de pessoas, toda uma imensa etnia e seus descendentes, em um lugar de inferioridade racial, em uma sub-humanidade, em um nível animalesco.
Quando se xinga alguém de macaco, é a própria humanidade que é desprezada.

Rogerio Galindo

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