terça-feira, 4 de março de 2014

Discussões sobre a crise ucrâniana

exato, temos que torcer pra que não dê em nada. Se eu fosse arriscar um palpite, porém, acho que a Rússia colocou o ocidente numa sinuca de bico. Este acho que vai adotar a velha estratégia de apoiar os rebeldes internos, com o problema de não ter muita noção de onde isso vai dar.

Emerson Urizzi Cervi Postei o comentário a seguir em outro post, mas como é feriado de carnaval/tenho preguiça e acho que vale aqui também, vou apenas copiar e colar: Se formos falar sobre os condicionantes políticos da crise na Ucrânia não podemos nos esquecer que o país passou por uma profunda reforma eleitoral em 2011. A partir daquele ano o parlamento ucraniano passou a ser eleito pelo sistema que no Brasil é chamado de misto. 50% por listas partidárias e outros 50% por voto majoritário em distritos eleitorais com uma vaga no parlamento. Isso criou as condições necessárias (não suficientes, mas necessárias) para a cisão do País em distritos de um lado do País com a totalidade de representantes contra Rússia e a totalidade de representantes de outro lado do País pró-Russia. Por isso, gente, muito cuidado com propostas mirabolantes de reformas partidárias, os efeitos inesperados/imprevistos/indesejáveis podem aparecer antes do que se imagina.

Renato Perissinotto Emerson, acho que isso é mais efeito da própria constituição da Ucrânia, do que causa, ou seja, uma divisão étnica , regional e econômica histórica entre o lado ocidental e o lado oriental que se manifestou no sistema eleitoral, como você aponta. O problema é que esses dois lados são, eles próprios, muito heterogêneos, como populações não-ucranianas entre os majoritariamente ucranianos e populações não russas entre os majoritariamente russos (ucranianos e tártaros). Tudo isso embolado pelo fato de ter como vizinho um país como a Rússia,potência econômica e militar diretamente interessada. Pelo andar da carruagem, propostas de reforma política parecem ter ido pro espaço.

Jorge Fazendeiro De Oliveira nem tanto ,a Russia pode ter em vista , uma provável finlandização da Ucrânia

Emerson Urizzi Cervi ok Renato Perissinotto, mas com todas essas características culturais e históricas os caras resolvem aplicar um sistema eleitoral que favorece as divisões histórias e culturais ao invés de criar mecanismos políticos de compensação das divisões culturais e históricas. Para mim, a atual crise na Ucrânia, a despeito de todos os condicionantes de longo prazo, pode ser explicada em duas palavras: "voto distrital". E não estou falando em alguma proposta de reforma política nesse momento. Estou dizendo que a reforma realizada e concluída em 2011 é responsável pela atual crise e não que a crise será solucionada pela reforma política.
Rafael Wowk E tem um fator histórico mto pesado que é o Holomodor. As regiões predominantemente russas só o são pq em 1932-33 a Rússia exterminou 20% da população ucraniana. Acho que nenhum ucraniano espera outra coisa vinda da Rússia senão a anexação...

Rafael Wowk Emerson , mto bom saber disso! Reforma esta "patrocinada" pela Rússia para evitar uma nova revolução laranja, correto?
Emerson Urizzi Cervi Isso. A reforma concretizada em 2011 foi uma resposta à revolução laranja de 2004. E deu no que deu em 2014. PORRA! Os caras têm um histórico de cisão cultural e étnica. Daí vem algum "animal de tetas" e diz que cada distrito vai eleger seu próprio representante. Fodeu geral !! Some a isso o fato de os partidos terem forte ligação com grupos étnicos e localizados geograficamente. Por fim, adicione uma invasão russa ocorrida menos de 100 anos atrás, que deixou como resultado uma importante região do País (Crimeia) com 60% da população falando russo e uma base militar naval russa em território da Crimeia. Só poderia dar merda mesmo. O resto é fuleragem, como se diz por aqui...
Emerson Urizzi Cervi pode contar comigo se for para se posicionar contra voto distrital, ainda que misto, com uma representação como a atual no nosso congresso. Já foi tirar minha bandeira do armário e começar a limpar meu fuzil. Para que praça devo marchar?
Ricardo Costa de Oliveira O estado de guerra acontece quando a legitimidade é quebrada pela violência ilegítima. Derrubaram pela força o governo eleito democraticamente na Ucrânia e foi declarada a guerra. A situação repete a guerra anterior na Georgia e o controle da Ossétia do Sul e Abkhazia pelos russos.
Renato Perissinotto Bom, Emerson, o seu argumento reforça a minha posição, ou seja, o voto distrital é ruim porque agrava problemas que existem muito, muito antes dele. Mas eu iria além, a sua proposição parece sugerir, contrafatualmente, que se não fosse o voto distrital, não estaríamos vivendo essa crise. Na base dessa proposição, parece estar a suposição de que os grupos ali aceitariam algum tipo de convivência percentualmente equilibrada por um sistema eleitoral ótimo, e isso é altamente duvidoso pelos fatores de longo prazo, históricos, éticos, culturais etc. Vc acha que o partido Sloboda, declaradamente nazi-facista, quer dar algum tipo de representação a quem quer que não seja ucraniano? Russos e Tártaros na Crimeia querem conviver entre si? Ucranianos e russos querem conviver entre si. Esse é o problema fundamental. Essa gente toda tem sido mantida junta não por sistemas eleitorais ótimos; essa gente tem sido mantida junta, ao longo da história, por regimes de força (por isso tem gente que defende claramente que a Ucrânia deva deixar de existir, pois como país é inviável). Definitivamente, é preciso ir muito além de "voto distrital" para explicar esse troço aí, ainda que, como vc disse, ele tenha jogado lenha numa fogueira acesa muito antes de 1991. É mais ou menos como convencer bósnios, sérvios, croatas e muçulmanos a entrarem em acordo em torno de um sistema eleitoral depois do fim da Iugoslávia.

Eric Gil Dantas O negócio é que pode tá tudo explodindo, mas os bancos sempre saem ganhando.
http://www.valor.com.br/.../banco-central-da-russia-eleva...

Luiz Eva Essa questão do voto distrital é interessante como um elemento entre muitos outros que podem explicar uma situação historicmente muito complexa, e a própria reforma precisaria ser considerada muito cuidadosamente para evitar simplificações precipitadas. O fato é que a Rússia tem bases militares em Sebastopol que, por acordo internacional, não podem se deslocar para fora do território onde estão estacionadas, e a Ucrânia já avisou que vai considerar isso agressão militar. Por outro lado, a Rússia tem controle estratégico do poder na Criméia, e o poder legítimo da Criméia (que é uma República Autônoma) questiona (com base em argumentos que têm sua força) a legitimidade da deposição do Yanukovitch, e parte da frota Ucraniana parece que já hasteou bandeira russa. A situação está realmente muito delicada neste momento.
Luiz Eva A Rússia tem maioria na Criméia, mas há muitos tártaros e outras etnias. Os ucranianos alegam que os Russos foram transferidos para a Criméia por uma política de deslocamento de populações de Stalin. A ucrânia foi igualmente massacrada na segunda guerra pelos russos e pelos alemães (que foram todavia saudados, quando invadiram a Ucrânia, como libertadores...) Mas a Rússia vê a Ucrânia como parte de sua identidade nacional. É uma situação extremamente complicada.
Bruno Faria Professores,Tentando acompanhar o debate, e a reportagem efetuada pela Globo News, onde entrevistaram um cientista político que está, nesse momento, na Ucrânia, pelo qual o mesmo afirmou, além de todos ás probabilidades enunciadas por vocês, que pode ter acontecido, também, um golpe da direita como aconteceu na Itália de Mussolini?

Segue a reportagem (dos 20min em diante tal afirmação, mas toda a reportagem é interessante):

http://globotv.globo.com/.../sem-fonteiras.../3179785/

Sem Fonteiras mostra a importância da Ucrânia e a possível divisão do país em dois
globotv.globo.com

O movimento Euromaidan vai além da extrema-direita. É uma evolução. Começou com cidadãos normais, frustrados com a decisão do presidente de não assinar um acordo de associação com a União Europeia e com as denúncias de corrupção.

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