domingo, 10 de fevereiro de 2013

Tripla Aporia


Emil Cioran

O espírito descobre a Identidade; a alma, o Tédio; o corpo, a Preguiça.É um mesmo princípio de invariabilidade, exprimindo diferentemente sob as três formas de bocejo universal.
A monotonia da existência justifica a tese racionalista; revela-nos um universo legal, onde tudo está previsto e ajustado; a barbárie de nenhuma surpresa vem perturbar sua harmonia.
Se o mesmo espírito descobre a Contradição, a mesma alma, o Delírio, o mesmo corpo, o Frenesi, é para engendrar novas irrealidades, para escapar a um universo demasiado manifestamente invariável; e é a tese antirracionalista que triunfa. A eflorescência de absurdos revela uma existência ante a qual toda visão mostra-se de uma indigência irrisória. E a agressão perpétua do Imprevisível.
Entre essas duas tendências, o homem desenvolve seu equivoco: ao não encontrar seu lugar na vida, nem na Ideia, julga-se predestinado ao Arbitrário; no entanto, a embriaguez de sua liberdade não passa de uma agitação no interior de uma fatalidade, pois a forma de seu destino não está menos determinada que a de um soneto ou a de um astro.
(Breviário de Decomposição)

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