domingo, 10 de fevereiro de 2013


XXII. Que minha pele sirva para tambor. E que repercuta em mim a voz do tempo, com suas estações de diferentes respirações e ritmos. Este lastro de um desejo africano, escondido nas dobras das páginas, nos vincos das folhas, nas linhas traçadas com a chibata, que açoita a palavra e depura o sangue, faz de mim, devotamente, um escravo de toda ancestral poesia. Não importa se escreverei em verso ou em prosa! Se gigantes ou homúnculos desvendarão minha carta-enigmática. Crescerei com os volumes de além-mar, lidos com a avidez de um faminto, esquecido pela tribo entre a floresta e o deserto, para arborescer. Que corra de agora em diante no meu corpo essa história das legiões de sussurradores anônimos de mitos, que devotam ao narrar o feito único de ser grão.

10.02.2013

(Texto de Celso Sisto para o a série “Vestir os vivos”)

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