domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Vida Sem Objeto


Emil Cioran


Idéias neutras como olhos secos; olhares lúgubres que roubam das coisas todo relevo: auto-auscultações que reduzem os sentimentos a fenômenos de atenção; vida vaporosa- sem prantos nem risos- , como inculcar-lhe uma seiva, uma vulgaridade primaveril? E como suportar esse coração demissionário e esse tempo demasiado embotado para transmitir ainda a suas próprias estações o fermento do crescimento e da dissolução?
Quando viste em toda convicção uma desonra e em todo apego uma profanação, já não tens direito a esperar, nem neste mundo nem no outro, uma sorte modificada pela esperança. Deves escolher um promontório ideal, ridiculamente solitário, ou uma estrela farsante, rebelde às constelações. Irresponsável por tristeza, tua vida ridicularizou seus instantes; mas a vida é a piedade da duração, o sentimento de uma eternidade dançarina, o tempo que se supera e rivaliza com o sol...

(Breviário de Decomposição)

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