domingo, 2 de setembro de 2018


"Luís Roberto Barroso merece ser estudado. Não por ele próprio, mas como uma trajetória emblemática daquilo que leva ao sucesso no campo jurídico-político brasileiro atual.

Por um lado, ele é uma demonstração quase caricata dos atributos do nosso renitente bacharelismo. A vaidade gigantesca e indisfarçável. O discurso pomposo, arrogante e vazio de ideias. O gosto pelas palavras altissonantes. Até mesmo o jeito de torcer a boca para pronunciar nomes estrangeiros.

Barroso também é ilustração perfeita da tese, no entanto controversa, do caráter fake de nossos valores políticos dominantes. Ostenta a toga de herói do liberalismo, mas não esconde seu desprezo pelos direitos e horror a qualquer forma de igualdade. Posa de iluminista, mas é guardião das trevas. Paladino intransigente da moral, defende com unhas e dentes benefícios imorais para o seu grupo e o vale-tudo contra os adversários.

Visto por outro ângulo, ele pode ilustrar a ideia de 'neoliberalismo progressista', colocada em circulação por Nancy Fraser. Há uma adesão a teses progressistas no âmbito da vida privada, que lhe permite manter uma fachada de homem de seu tempo, mas que se combina ao reforço de uma estrutura social extremamente excludente e autoritária.

O mais interessante, porém, é pensar por que, com tantos candidatos ao posto na política eleitoral (está aí o Álvaro Dias que não me deixa mentir), o espírito do lacerdismo decidiu reencarnar em um político togado. Desconfio que isso nos diz bastante coisa sobre a dinâmica recente da política brasileira."

Luis Felipe Miguel

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