"Luís Roberto Barroso merece ser estudado. Não por ele
próprio, mas como uma trajetória emblemática daquilo que leva ao sucesso no
campo jurídico-político brasileiro atual.
Por um lado, ele é uma demonstração quase caricata dos
atributos do nosso renitente bacharelismo. A vaidade gigantesca e
indisfarçável. O discurso pomposo, arrogante e vazio de ideias. O gosto pelas
palavras altissonantes. Até mesmo o jeito de torcer a boca para pronunciar
nomes estrangeiros.
Barroso também é ilustração perfeita da tese, no entanto
controversa, do caráter fake de nossos valores políticos dominantes. Ostenta a
toga de herói do liberalismo, mas não esconde seu desprezo pelos direitos e
horror a qualquer forma de igualdade. Posa de iluminista, mas é guardião das
trevas. Paladino intransigente da moral, defende com unhas e dentes benefícios
imorais para o seu grupo e o vale-tudo contra os adversários.
Visto por outro ângulo, ele pode ilustrar a ideia de
'neoliberalismo progressista', colocada em circulação por Nancy Fraser. Há uma
adesão a teses progressistas no âmbito da vida privada, que lhe permite manter
uma fachada de homem de seu tempo, mas que se combina ao reforço de uma
estrutura social extremamente excludente e autoritária.
O mais interessante, porém, é pensar por que, com tantos
candidatos ao posto na política eleitoral (está aí o Álvaro Dias que não me
deixa mentir), o espírito do lacerdismo decidiu reencarnar em um político
togado. Desconfio que isso nos diz bastante coisa sobre a dinâmica recente da
política brasileira."
Luis Felipe Miguel
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