Walmir Braga Júnior_________________O apoio de tantos jovens a Bolsonaro é um fenômeno sinistro
e misterioso. Penso que é uma hipótese interessante considerar que parte
significativa desse jovem eleitorado é formada por quem vivenciou e vivencia
mais intimamente os deslocamentos na balança do poder que ocorreram dos anos
2000 pra cá. Flagrados desse ângulo, os jovens eleitores de Bolsonaro coincidem
amplamente com a chamada “geração canguru”. Não por acaso esta é formada
majoritariamente por homens (60,2%), que tendem a ser mais escolarizados do que
os da mesma faixa etária que moram sozinhos, e vivem sobretudo no sudeste
(dados da Síntese dos Indicadores Sociais – 2016 – do IBGE). Jovens pessoas que
pertencem a certas frações da classe média, e cresceram testemunhando a mudança
nas relações de força entre gerações e também na sua mesma geração. Entre
gerações porque, devido à inflação dos diplomas, tiveram que continuar morando
com a família. Isso frustrou desejos gestados desde a infância e os fez
experimentar o aumento do poder dos pais sobre eles, sendo obrigados a
prolongar os estudos não por escolha, mas sim necessidade. Na mesma geração
porque também foram os mais atingidos pela quebra do quase monopólio que a
classe média exercia sobre o capital cultural, sendo os mais envolvidos – e sempre
os mais vulneráveis – nas disputas com um outro jovem segmento. Embora pertença
à mesma geração, esse segundo é seu diametral oposto, forma uma base importante
de apoio as esquerdas, e se constituiu no entrelugar formado entre a classe
trabalhadora e a classe média. Uma jovem geração marcada pela mescla entre as
duas classes, acumulando o capital cultural recentemente acessado e um dos
poucos capitais que a socialização na classe trabalhadora oportuniza: a
capacidade de se esforçar árdua e obstinadamente (o que nas disputas contra
todo um segmento criado a leite com pera tem lá suas vantagens). São esses
recursos contra os diplomas e as redes de parentesco e amizade (ora mais amplas
e diversificadas, ora menos) do primeiro segmento que, por sua vez, tem suas
frustrações e angústias canalizadas no ódio orquestrado pela extrema direita
contra o PT, os direitos humanos, a soberania popular, a cidadania, a
constituição cidadã e a justiça social. (Ódio também alimentado por dealers,
mídia e judiciário, por tudo o que fizeram assumidamente ou não nos últimos
anos, e pela falta de visão de longo prazo e responsabilidade desses atores). A
eleição do presidente é um episódio e não o fim de um conflito significativo
para se entender o Brasil atual.
Paulo Cintra____________ Acho também Walmir Braga Júnior, que está
geração ascendeu a uma classe social sem uma consciência da luta de classes, da
real emancipação, apenas de olho nos bens de consumo. Além do fascínio e poder
que exerce o porte de armas para os adolescentes das classes populares...
apresentado pelo Bolsonaro.
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