domingo, 2 de setembro de 2018

Helena de Carlos




O crepitar da resina no bosque dos abetos. O arquejo do milho abafado no porão do navio. O murmúrio dos anfíbios na época da posta. Bagas e mel, açafrão brilhante e pérolas. A colisão estrepitosa das galáxias. O assovio do trem atravessando os laranjais. O adejo do ventilador na casa de Wilsnackerstraβe. O rumor do tempo na caixa do relógio. O derramar do vinho no cálice consagrado: a tigela cheia de espuma, o espelho e a navalha. Os guinchos dos coelhos nas gaiolas do jardim.

Os mergulhos dos pelicanos nas águas doces. A viagem calada do pólen pelo mar do ar. O chamariz agudo do passarinheiro. O ranger de umas pás despedaçadas. O latido do cão quando vislumbra a presa. A viração que infla as velas. O ricochete e o eco das contas ao se espalhar pelo chão. Cartografias do som, matéria de harmonias ocultas, musgo do fonema, câmara do silêncio.

Joan Navarro, “Magrana | Romã”. Tradução para o português: Veronika Paulics. (No prelo, Selo Demônio Negro).

http://zunai.com.br/…/1771547…/torre-de-babel-4-joan-navarro

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