Um dia, o rei adoeceu, mas, por algum motivo misterioso,
recusava-se a tirar a roupa para ser tratado pelos médicos.
Refiro-me a Bernadotte, rei da Suécia e da Noruega no começo
do século 19.
Ainda vou escrever mais sobre esse Bernadotte. Grande
personagem. Imagine que ele foi rei da Suécia e da Noruega, mas não era sueco
nem norueguês, nem mesmo nórdico era.
Era francês.
Bernadotte foi general vitorioso da Revolução Francesa e
depois se consagrou como o principal marechal de Napoleão Bonaparte. Em meio a
lutas tantas, conquistou, além de terras, o coração de Desirèe, uma beldade que
havia sido noiva de Napoleão nos tempos da juventude do pequeno grande corso.
Há quem diga que Desirèe era o grande amor de Napoleão e
existe até um filme a respeito exatamente com esse título: “Desirèe, o Amor de
Napoleão”. O papel de Napoleão coube a ninguém menos do que Marlon Brando, o
maior ator de cinema de todos os tempos. O de Bernadotte foi de Michael Rennie,
um galalau de queixo quadrado que interpretou o alienígena daquele filme “O Dia
em que a Terra parou”.
Bem.
Por aquelas questões intrincadas da política europeia da
época, Bernadotte acabou eleito rei da Suécia e da Noruega. E foi em meio ao
seu reinado que adoeceu e, doente, não admitia despir-se a fim de ser submetido
à sangria prescrita pelos doutores. O problema é que o rei ia piorando, seu
estado se agravava a cada dia. A corte inteira insistia, os médicos insistiam,
Desirèe insistia, e nada de ele querer tirar a roupa. Por quê? Por quê???
Ninguém compreendia tanta teimosia.
Até que, temendo mais a morte do que a vergonha, Bernadotte
concordou em desnudar-se. E então os médicos viram tatuada em seu braço uma
frase que ele mandou gravar nos tempos febris da Revolução Francesa:
“Morra o rei!”
O rei era contra a monarquia. Ou foi contra, antes de ser
rei.
DAVID COIMBRA -
ZERO HORA.
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