sexta-feira, 8 de novembro de 2019

O rei não queria tirar a roupa




Um dia, o rei adoeceu, mas, por algum motivo misterioso, recusava-se a tirar a roupa para ser tratado pelos médicos. 
Refiro-me a Bernadotte, rei da Suécia e da Noruega no começo do século 19.
 Ainda vou escrever mais sobre esse Bernadotte. Grande personagem. Imagine que ele foi rei da Suécia e da Noruega, mas não era sueco nem norueguês, nem mesmo nórdico era.
 Era francês.
 Bernadotte foi general vitorioso da Revolução Francesa e depois se consagrou como o principal marechal de Napoleão Bonaparte. Em meio a lutas tantas, conquistou, além de terras, o coração de Desirèe, uma beldade que havia sido noiva de Napoleão nos tempos da juventude do pequeno grande corso.
 Há quem diga que Desirèe era o grande amor de Napoleão e existe até um filme a respeito exatamente com esse título: “Desirèe, o Amor de Napoleão”. O papel de Napoleão coube a ninguém menos do que Marlon Brando, o maior ator de cinema de todos os tempos. O de Bernadotte foi de Michael Rennie, um galalau de queixo quadrado que interpretou o alienígena daquele filme “O Dia em que a Terra parou”.
 Bem.
 Por aquelas questões intrincadas da política europeia da época, Bernadotte acabou eleito rei da Suécia e da Noruega. E foi em meio ao seu reinado que adoeceu e, doente, não admitia despir-se a fim de ser submetido à sangria prescrita pelos doutores. O problema é que o rei ia piorando, seu estado se agravava a cada dia. A corte inteira insistia, os médicos insistiam, Desirèe insistia, e nada de ele querer tirar a roupa. Por quê? Por quê??? Ninguém compreendia tanta teimosia.
 Até que, temendo mais a morte do que a vergonha, Bernadotte concordou em desnudar-se. E então os médicos viram tatuada em seu braço uma frase que ele mandou gravar nos tempos febris da Revolução Francesa:
 “Morra o rei!”
 O rei era contra a monarquia. Ou foi contra, antes de ser rei.

DAVID COIMBRA - 

ZERO HORA.

Nenhum comentário: