Depois da implosão das grandes religiões
institucionalizadas, restou-nos a autoajuda, a religião do capitalismo tardio,
o simulacro religioso da pós-modernidade. Aqui não há opressão (nenhum faraó a
ser vencido, nenhuma Babilônia a ser derrubada), nem mesmo pecado (pois se
houvesse havia o risco de se atribuí-lo aos detentores do capital). Aqui há só
que mentalizar de maneira correta e dizer as palavras certas -- e a portas do
sucesso (profissional, financeiro, sexual) se abrirão de par em par para você.
Há nessa nova religião algumas palavras-chave: foco, empreendedorismo e uma
série de termos em inglês, o latim litúrgico do novo rito. Se o calvinismo, segundo
Max Weber, foi a religião da aurora do capitalismo, a autoajuda é seu sucedâneo
nesses tempos de decadência hipermoderna. Nada de virtude, nada de morigeração,
nada de sacrifícios. O paraíso é agora. O céu está ao alcance de um clique.
Basta mudar sua forma de pensar e de falar. E se não der certo? Aí azar o seu,
meu irmão. Também não há misericórdia nessa religião. Nem purgatório. Só o
inferno dos derrotados.
Otto Leopoldo Winck
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