sábado, 10 de junho de 2017

O SISTEMA DE TODOS OS MALES


Dentro da lógica do nosso sistema econômico, cada indivíduo representa uma determinada "força de trabalho". Essa força de trabalho deve atender às necessidades do mercado. Como esse mercado é heterogêneo, necessita de diferentes tipos de forças de trabalho.
Essa pluralidade, no fim, acaba desaguando em uma singularidade: a troca de qualquer força de trabalho por dinheiro. Dessa forma, toda e qualquer força de trabalho, dentro desse sistema econômico é, a rigor, uma mercadoria.

Assim, a princípio, esse sistema não vê qualquer diferença sobre quem são os indivíduos concretos (reais) que detém as diversas forças de trabalho. Se essa força de trabalho é de uma mulher, de um homem, de uma criança, de um holandês, de um cristãos, de um islâmico, de um cidadão, de um imigrante... nada disso importa...

O que importa para o sistema produtor de mercadorias é que esse indivíduo seja capaz de entregar essa determinada força de trabalho para os produtores de mercadorias.
Mas... Como acabou de ser colocado, apenas "a princípio" esse sistema não vê qualquer diferença. A realidade é que esse sistema não é cego e possui total interesse em desvalorizar a força de trabalho em geral.

Como a força de trabalho se comporta de forma análoga a uma mercadoria, a ideia é sempre tê-la em abundância, de modo que o seu preço caia pela clássica "lei da oferta e procura". Assim, enquanto esse sistema econômico existir, é importante que haja força de trabalho ociosa, o que chamamos comumente de desemprego.

Além disso, o sistema está atento às chamadas "depreciações históricas" da força de trabalho. Uma mulher pode produzir tanto quanto um homem, mas ainda assim sua força de trabalho é, em geral, mais barata devido aos preconceitos historicamente determinados.

O mesmo ocorre com os negros, os imigrantes, as minorias, etc. Assim, a esse sistema econômico, a continuidade do machismo e dos preconceitos em geral (antigos e novos) são de seu absoluto interesse, pois atendem ao processo geral de depreciação do valor da força de trabalho.
Chegamos aqui a dois fenômenos que sempre existirão enquanto existir esse sistema econômico produtor de mercadorias: desemprego e preconceito.

Parte dos indivíduos acreditam que ambos os fenômenos são "naturais" e "insuperáveis". São os indivíduos "sistematizados". Entretanto, há indivíduos que discordam e lutam para que esses dois fenômenos sejam superados em nossa sociedade. Essas lutas são "autorizadas" pelo sistema, desde que se travem dentro da lógica do próprio sistema. Vejamos.

Se em um determinado país os salários dos homens são superiores ao das mulheres (por um mesmo trabalho) é absolutamente interessante ao sistema uma luta pela igualdade salarial, desde que essa luta resulte em salários menores aos homens, isto é, uma igualdade nivelada por baixo.

Ao longo dessa luta também interessa ao sistema o foco exclusivo na desigualdade entre homens e mulheres (isto é, na desigualdade de gênero) ignorando-se completamente a igualdade de ambos como explorados (ainda que em níveis diferentes).

A luta pela igualdade de direitos civis também é permitida, desde que não atinja as bases da lógica de depreciação da força de trabalho. Nos países onde a igualdade social transcendeu os interesses do sistema, é importante se criar uma política militante e universal para destruir essa igualdade, ressuscitando antigas divisões e criando novos sentimentos de ódio e repugnância ao outro.

Não por acaso, todos os países onde a igualdade e os direitos civis são mais avançados, se encontram hoje sob a ameaça de ataques terroristas que possuem como efeito a desagregação do tecido social que antes beneficiava a todos.

Dessa forma, podemos observar que divisões culturalistas, divisões de gênero e a produção de uma sociedade aterrorizada pelo medo daqueles que são "diferentes", em especial os imigrantes, atende aos interesse do sistema produtor de mercadorias.

Um sistema que produz desemprego, preconceitos, divisões, medo e ódio entre todos os que vivem dentro dele poderia ter vários nomes: "sistema desumanizador", "sistema do ódio", "sistema da destruição"... enfim... fica a cargo de quem quiser, nomear esse sistema da maneira que lhe convir...

Seu nome de batismo é, entretanto, "sistema capitalista de produção". Não é possível afirmar que a luta contra esse sistema ocorrerá de forma efetiva e assertiva. A única coisa possível de se afirmar é que o seu combate e superação é uma necessidade histórica.


Carlos D’Incao

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