Stanley Kunitz
1
Certas espécies de sáurios, especialmente os lagartos, são
capazes de largar as suas caudas como forma de auto-defesa quando se sentem
ameaçadas. O apêndice separado, assumindo uma vida própria e remexendo-se
furiosamente, desvia a atenção para si. Tão depressa como o gato-bravo lança as
garras sobre a cauda que se agita, prendendo-a na areia para a abocanhar e
esmagar, assim o lagarto livre escapa apressadamente. E uma nova cauda começa a
crescer no lugar daquela que foi sacrificada.
2
A larva do escaravelho-tartaruga tem o excelente hábito de
recolher os seus excrementos e restos de pele dentro de uma bolsa que carrega
às costas quando avança em campo aberto. Se não fosse esse escudo fecal
apareceria nu diante dos seus inimigos.
3
Entre os Beduínos, os poetas-pedintes do deserto são vistos
com desprezo por causa da ganância, da habilidade para roubar e da sua
venalidade. Nos diversos acampamentos toda a gente sabe que os poemas de louvor
podem ser comprados, mesmo pelos piores canalhas, com comida ou dinheiro. Além
disso, estes bardos vagabundos são conhecidos por roubarem ideias, versos e
mesmo canções completas a outros. Muitas vezes a sua recitação é interrompida
pelos gritos dos homens agachados em volta das fogueiras: "Farsantes. Roubastes
isso deste e daquele!" Quando o poeta tenta defender-se, recorrendo a
testemunhas que comprovem a sua honradez ou, em casos extremos, apelando a Alá,
os seus ouvintes apupam-no, gritando, "Kassad, kaddad! Um poeta é um
mentiroso."
(Versão do original reproduzido em The collected poems, W.W.
Norton & Company, Nova Iorque/Londres, 2002, pp. 234-235).
Nenhum comentário:
Postar um comentário