Marilia Kubota
Apesar dos esforços do Ademir Demarchi em fazer um amplo
mapeamento da poesia no Paraná, publicar o resultado da investigação num jornal
como o "Cândido" não está com nada. Nem antologia patrocinada pela
BPPR, com fins marqueteiros. Em privado escrevi ao Ademir, não concordo com
esse marketing patrocinado pelo estado. Ah, literatura e poder. Já vimos esse
filme em Curitiba, com a Travessa dos Editores. Mas aqui, ter amnésia cultural
é estratégico.
Jorginho da Hora Ver "artistas" e produtores
culturais (hoje qualquer coisa é cultura e arte) chamando arte de produto como
já vi na televisão e em jornais é melancólico. Para esses zé ruelas tudo isso
que você escreveu aí é bobagem, não faz sentido algum. A única coisa que faz sentido para esses
mercenários é a palavra estourar e sucesso, sendo que se sucesso é isso que
eles imaginam, o traficante também é um homem bem sucedido, e daí ?
Mario Domingues Marilia Kubota, vou de moderado nesta
questão... a iniciativa do mapeamento é da BPP, para a qual chamou o Ademir
Demarchi... concordo com a má qualidade do Candido, na mesma linha rasteira do
Rascunho (abordagens sempre calcadas em "mensagem" e
significado" como se fosse possível fazer arte com espuma ou fumaça, e
destaque editorial para os compadres, polemicas com grandes poetas, só pra
chamar a atenção, etc). Mas discordo do fim marketeiro da iniciativa, porque
poesia não traz cartaz pra ninguém no mundo em que a gente vive. Outra coisa: o
produto é uma antologia, este é o resultado mais concreto. Topei participar
porque respeito o crivo crítico do Demarchi, que não trabalha na linha dos
compadrios... Longe de mim defender a a direção da bbltk, mas... ninguém
consegue ser medíocre sempre, o tempo todo... até pouco tempo atrás estes
meninos nem sabiam o que era poesia. Até a Gazeta do Povo, que escreve pra uma
província tão minúscula que me recuso a chamar de Curitiba, até a Gazeta já
anda publicando poesia, então, este mundo nem sempre é raso e rasteiro o tempo
todo.
Ademir Demarchi respeito as opiniões pessoais e as admiro,
como a postura crítica da Marilia, que tentei convencer em participar da
antologia, inutilmente, pois ela foi firme em sua decisão de não participar. No
entanto, no que me diz respeito esse assunto, em primeiro lugar devo dizer que,
embora procurando participar ativamente da cultura do Estado (entre antologias,
ensaios e resenhas e revistas, escrevo há mais de 5 anos num jornal em Maringá)
resido fora, muito longe daí da província, portanto alheio às questões locais
que, sei, são figadais, sempre, e não me interessaram para decidir fazer o
trabalho. Recebi um convite da instituição Biblioteca Pública do PR, que está
acima das pessoas que possam eventualmente administrá-las, é uma instituição
pública, tive total liberdade para fazer um trabalho que julgo sério, de
pesquisa e de seleção e análise, no qual em nada teve interferência de qualquer
pessoa. Os livros é que falam por si, no que há neles, não no que fazem deles.
Antes de terem lido o trabalho que fiz, sequer o ensaio que escrevi já o estão
tachando de "produto" me colocando na bacia de zé ruelas... Ora, zé
ruela é o que não lê... Creio que o melhor a fazer é abandonar essa leitura
desfocada e discutirem o conteúdo, o ensaio que escrevi e as questões que lá
coloquei, bem como a antologia que sairá. A discussão está aí, e não nesse
panfletarismo que somente seria aceitável se meu trabalho fosse o tal produto
esvaziado que o Fora de Hora aí comenta sem ter lido... Além disso, no que diz respeito à
instituição pública, cabe a ela realizar ações educativas e nesse quesito, no
que diz respeito à antologia e ao ensaio e poemas publicados no Candido, não
vejo marketing,mas o cumprimento dessa função, uma vez que os trabalhos falam
por si - a antologia será distribuída em todas as bibliotecas publicas do
Estado. E com isso não estou defendendo governo nenhum. Vejam a coleção Brasil
Diferente feita no governo Lerner - ele se foi, mas o trabalho realizado pelo
Miguel Sanches Neto está aí ainda ecoando para quem lê. Há que se fazer essas
distinções e não confundir tanto as coisas. Estou preocupado com a formação de
novos leitores, com a circulação da cultura do Estado (especialmente da
poesia), que vai se disseminar com trabalhos como esse que tem um valor acima
de questões políticas (que não devem ser menosprezadas, afinal isso também está
no meu trabalho, não de forma partidarizada).
Marilia Kubota Tem razão, Jorginho, estamos na época de
pleno vapor do marketing cultural. Para que possa sobreviver, a cultura está
enquadrada em editais. Todos nós , artistas, nos últimos anos, corremos atrás
de editais para poder sobreviver de nosso trabalho. Mas há quem se desvie dos
editais e, por ser amigo do rei, tenha privilégios. Conhecemos esses casos aqui
em Curitiba.
Mario Domingues o resultado, a culminância, o objetivo, o
suporte, Ademir, é a antologia...todas palavras melhores que produto, palavra
bastante judiada, que empreguei mal neste contexto. Abraço e parabéns pelo
trabalho.
Ademir Demarchi Prezada Marilia, ainda que talvez (espero)
não queira, sua afirmação, tal como está, deixa sugerido, já que o motivo
originário dos comentários é o trabalho que fiz para a BP, que me enquadro nos
que desviam dos editais, são amigos do rei, tem privilégios - por isso, já que
você generaliza não fazendo a devida ressalva, digo que fui convidado a fazer
um trabalho sobre poesia em nome da minha experiência (ou notório saber, como
se diz no jargão legal para explicar por que às vezes não se faz licitação para
elaborar um trabalho) que ela sim me autoriza a fazer isso, acima de todas
essas questiúnculas, uma vez que, só para ficar no último trabalho, editei 6
números da Babel Poética, resultado de um projeto premiado em primeiro lugar
entre 170 outros - nacionalmente - pelo MinC, por uma comissão composta por
críticos e professores de universidades federais acima de qualquer suspeita.
Indo por esse caminho anulatório do trabalho realizado daqui a pouco estarei
sendo chamado de Leni Riefenstahl, ilustre colaboracionista do regime
nazista... Ora, ora, ora, ocorre que estamos num espaço democrático, as
instituições existem e falam mais alto que os que as ocupam eventualmente,
instituições essas construídas graças ao esforço coletivo e das quais devemos
exigir que tenham ações positivas como essas de publicar livros, publicar
editais. Cordialmente, vou ler poesia. Abraço
Marilia Kubota Mário, um jornal patrocinado por uma
Secretaria da Cultura não tem uma linha editorial totalmente isenta. Nem o
Nicolau, que nasceu com uma concepção muito mais libertária tinha, sofria
imposições na pauta. O "Cândido", com certeza, funciona para pagar
dívidas de campanha eleitoral. É "obrigado" a trazer artigos sobre
escritores do Paraná por ser patrocinado pelo governo do Paraná. Por isso
encomenda pautas a gente que tem aval, como Ademir Demarchi, ou, se serve de
nomes dos autores do Paraná, como Valencio Xavier. São duas publicações
distintas, o "Candido", cujo co-editor é o diretor da Biblioteca
Pública do Paraná e o "Rascunho", cujo editor é o empresário Rogério
Pereira. Engraçado por tudo estar concentrado numa mesma pessoa, uma
publicação, que cresceu espicaçando os poetas do Brasil se confunde com outra,
que precisa tanto dos poetas como dos escritores do Paraná para ter
legitimidade. Creio que o conluio entre o público e o privado confunde a todo
mundo, e aí não se sabe o quanto um favorece o outro. A minha crítica em
relação à atual gestão da Biblioteca Pública do Paraná sempre foi essa. Se isso
não é mediocridade cultural , não sei o que é.
Marilia Kubota Ademir, em primeiro lugar: em termos de
literatura, não há províncias. Há, sim, atitudes provincianas. Contesto a quem
diga que Curitiba é uma província cultural, se há grandes escritores que
nasceram aqui. Dalton nasceu aqui e se correspondia com os maiores escritores do
Brasil, e lia literatura russa e alemã. Portanto, não é preciso morar em Nova
Iorque para ser cosmopolita. Mas há os que dizem, em todos os lugares em que
vão: "Curitiba é uma merda". E acham que a partir deles é que
começaram as luzes na cidade. Esses provincianos, que ignoram a história da
cidade, do Estado, do país e do mundo é que precisam do poder para se assegurar
de suas virtudes nulas. O seu trabalho, Ademir, tenho, certeza, é muito
profissional, como já foi a antologia "Passagens". Mas eu não tenho o
mesmo ponto de vista em relação a "relações figadais". É muito mais
do que divergências pessoais, se trata de postura política. Ou você aceita uma
política cultural ou não. Em relação ao mapeamento, sei que listou muita gente
boa e competente. Prefiro comentar quando ler a matéria impressa.
Marilia Kubota Ademir, o "amigo do rei" é outro...
Rogéria Reis Existe um plano nacional de cultura que o
Estado busca cumprir. Assisti a uma palestra de uma representante do Minc em
que afirmou a existência de verba para a cultura. A burocracia e complexidade
dos editais deixa de fora os artistas populares e estes realizam uma arte
independente com todas as dificuldades que todos já conhecemos.
Ademir Demarchi Marília, será um prazer ler suas críticas
tanto ao ensaio do Candido quanto à antologia, se isso te motivar. Como disse
antes, respeito e admiro sua opinião e meus comentários aqui são posturais,
nada pessoais. abraço
Marilia Kubota Rogéria, as políticas culturais são
determinadas por cada administração, de acordo com seu perfil. Do MinC vem a
política dos editais , em que o Estado não pode mais criar projetos com
recursos próprios. O jornal Nicolau, por exemplo, foi patrocinado pela
Secretaria do Estado do Paraná, nos anos 90, não era projeto de lei de
incentivo. Até a gestão anterior (Requião) havia projetos diretamente
administrados pela Secretaria da Cultura que não eram terceirizados. Um artista
poderia fazer uma reunião com o Secretario da Cultural e propor um projeto .
Hoje isso não é mais possível, só os que são muito amigos conseguem reunião e
aprovação de projetos fora das leis de incentivo.
Rogéria Reis Temos observado um movimento no campo da
poesia.Digo movimento, pois tem se expandido a cada dia. Um movimento que se
iniciou nas periferias de SP.Os rappers tem grande contribuição nisso.São coletivos de poesia por todo lado, com microfone aberto.Fora
os grupos nas redes sociais. Uma febre que tem atraído a mídia. João do
corujão, um grande incentivador da leitura e da poesia com seu coletivo
"Corujão da poesia", ganhou destaque na mídia e já conta com apoio de
artistas.
Penso que poesia já é economicamente viável sim até pelo
recente interesse editorial. Vejam que Leminsnki vendeu horrores.
Aqui no RJ carioca que não é bobo nem nada já mapeou os
coletivos de poesia e incluiu no circuito cultural.
Rogéria Reis E já lançou o movimento Rio capital da poesia,
baseado no princípio da economia criativa, cidade criativa coisa e tal. É uma
corrida do ouro. Diante disso é necessário que as cidades, regiões, seja lá o
que for elejam seus nomes no cenário poético e invistam nesses nomes. Me parece
que foi isso que a biblioteca pública tentou fazer e nisso vocês saíram na
frente.
Rogéria Reis Achei interessante o Ademir Demarchi, ter esse
cuidado de incluir na lista, os poetas que sempre acreditaram na poesia. Pensem
que grande parte dos poetas mais expressivos não estão entre nós.Precisamos de
um sociedade de poetas mortos mas também de vivos. Quanto as instituições?
Cumprem seu papel positivista de legitimar.
Marilia Kubota Bem, sempre houve movimento na poesia, a
questão é que agora há um maior interesse da classe média na poesia. Quando eu
comecei, os conceitos de poesia e marginalidade andavam juntos. Não existiam
saraus de poesia, as declamações eram feitas nos bares, como no Bar do Cardoso
e no Trem Azul, e improvisadas, sem luzes e microfones. Hoje, para falar em
público é preciso que tudo seja produzido. No recital "Cutucando a
inspiração", em que participei, vi que para poetas como Baptista do Pilar
e Altair de Oliveira, e próprio Geraldo Magela, falar um poema em público é
algo muito natural. Gostaria de ter o dom desses poetas. Aliás, Magela foi
outro que parece ter ficado fora do mapeamento do Ademir, e também Monica
Berger, Eudes Berger...
Rogéria Reis Não que não houvesse mas era mais focal.Hoje o
movimento é mais propagado até por conta das redes sociais e busca uma
unificação. Não sei aí em Curitiba mas a poesia no RJ está com força total nas
periferias e chegando nas escolas públicas. Em São Paulo também. Já temos
festas literárias nas periferias e favelas.
Rogéria Reis Veja que dias atrás o Roberto Prado foi em um
evento em Natal, onde o Marcos Prado foi homenageado. Achei interessante essa
iniciativa e essa interação. E quanto a poesia marginal, o movimento não
envolvia as donas de casa, por exemplo. Hoje, elas tiram seus caderninhos da
gaveta e vão embora. Lindo de ver e muito emocionante também. Mulheres das
favelas que perderam seus filhos na guerra do narcotráfico, encontraram na
poesia uma forma de expressão.
E por aí vai.
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