No caminho onde pisou um deus
há tanto tempo que o tempo não lembra
resta o sonho dos pés
sem peso
sem desenho.
Quem passe ali, na fracção de segundo,
em deus se erige, insciente, deus faminto,
saudoso de existência.
Vai seguindo em demanda de seu rastro,
é um tremor radioso, uma opulência
de impossíveis, casulos do possível.
Mas a estrada se parte, se milparte,
a seta não aponta
a destino algum, e o traço ausente
ao homem torna homem, novamente.
Carlos Drummond de Andrade
em 'A Falta que Ama'.
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