terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Fanal

Aqui, onde entre mares cresceu a ilha,

pedra e ara súbito como torre erguida,

aqui ascende sob um negro céu

Zaratustra os seus fogos das alturas,-

fanal para navegantes sem rumo,

ponto de interrogação para os que têm resposta...



Esta chama de ventre esbranquiçado

-sua cobiça lança línguas a distâncias frias,

dobra o pescoço para alturas mais puras -

cobra erguida a pino, de impaciência:

este sinal o pus eu em frente a mim.



A minha própria alma é esta chama:

insaciável de distâncias novas,

lança ao alto, ao alto o seu ardor silente.

Porque fugira Zaratustra dos bichos e dos homens?

porque se escapou de repente de toda a terra firme?



Seis solidões conhece ele já -,

mas o seu próprio mar não lhe era solitário bastante,

a ilha deixou-o subir, sobre o monte ele se fez chama,

a uma sétima solidão

lança buscando agora o seu anzol por sobre a fonte.



Navegantes sem rumo! Destroços de astros velhos!

Ó mares de futuro! Ó céus inexplorados!

Lanço agora o anzol a tudo o que é solitário:

dai resposta à impaciência da chama,

agarrai para mim, pescador nos altos montes,

a minha sétima última solidão! -



Friedrich Nietzsche (1844-1900) in Rosa Do Mundo 2001 poemas para o futuro

2. ed. Assírio & Alvim, 2001

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