domingo, 30 de maio de 2010

Fanny Ardant

Persona - trailer

"Hour of the Wolf" Trailer

The Seventh Seal: The knight's first meeting with death

Rostropovich plays the Sarabande from Bach's Cello Suite # 1

Dmitri Shostakovich - Waltz No. 2

Glenn Gould plays Bach

Lixo que não é lixo vira riqueza para o País

Preservação do meio ambiente, inserção social, geração de riquezas. Estes são os principais benefícios encontrados em duas soluções simples e eficientes: a coleta seletiva e a reciclagem de materiais reaproveitáveis.



No Brasil, a primeira experiência do gênero aconteceu na cidade de Niterói (RJ), em 1985. Entre as capitais, Curitiba foi a pioneira, implantando, com sucesso, o Programa Lixo que não é lixo, em 1989.



De acordo com a jornalista e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Myrian Del Vecchio de Lima, a ideia politicamente correta acabou sensibilizando a população, fazendo com que a iniciativa desse resultado.



“A campanha do Lixo que não é lixo foi bem interessante. Trata-se de um “case’ histórico que despertou nas pessoas a consciência para a preservação do meio ambiente”, relata.



Vinte e um anos depois do projeto, a manutenção deste trabalho ainda continua firme na capital. Contudo, a doutora acredita que a cidade poderia ter avançado muito mais neste processo.



“A gente faz mais a parte simples, que é separar o lixo seco (reciclável) do molhado (orgânico). Acredito que poderíamos fazer algo um pouco mais avançado, como deixar um espaço exclusivo para cada material. Outra questão é que o pessoal não faz a devida limpeza na embalagem antes de descartá-la. Se isso não for feito, o material acaba perdendo valor e, em alguns casos, nem pode ser reciclado”, revela.



Como exemplo a ser seguido, a jornalista cita o caso da Alemanha, do Canadá e dos Estados Unidos. “A Alemanha é considerada o País mais avançado no que tange à coleta seletiva e à reciclagem. Canadá, embora conte com uma população bem menor que a do Brasil, também obtém ótimos resultados, assim como os Estados Unidos que, mesmo sendo um país extremamente consumista, faz um bom trabalho”, comenta.



Para Lima, porém, tão importante quanto a ideia de seleção do lixo e reciclagem é a de conscientizar a população para evitar o consumo exagerado dos produtos. “Um detalhe que constatei é o de que não existem campanhas para orientar as pessoas para frear o consumo e, principalmente, aumentar a vida útil de aparelhos eletrônicos, em especial celulares e computadores, que são substituídos com muita velocidade, gerando o que se chama de lixo eletrônico. Isso está se tornando um problema ambiental sério, pois possuem componentes tóxicos, como chumbo e cádmio. Por isso, que não dá para dispensá-los como lixo comum, até porque tem muita coisa ali que é reciclável”, alerta.



Assim como o lixo eletrônico, a doutora avisa que outros materiais tóxicos para a natureza podem ser reaproveitados. “Um bom exemplo disso é o óleo de cozinha. Se ele for reciclado, pode se transformar em produtos de limpeza, como sabão. Do contrário, se ele for descartado sem cuidado, vai entupir tubulações e, se cair na rede pluvial, contaminará a água. Pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes, que contém metais pesados, também podem ser reciclados. A exceção fica por conta do lixo hospitalar, que necessita de uma série de cuidados, coleta diferenciada e vai para aterros especiais, e lixo do banheiro, pois o papel higiênico, fralda e absorvente íntimo estão bem contaminadas”, salienta.



ONG da capital trabalha com material eletrônico



Uma organização não-governamental (ONG) de Curitiba vem trabalhando em uma medida interessante para o lixo eletrônico. O Instituto Brasileiro de Ecotecnologia (Biet) vem promovendo ações interdisciplinares de educação ambiental e inserção social por meio da reutilização, reciclagem, destruição e disposição final destes produtos.



De acordo com o engenheiro civil e presidente do conselho administrativo do Biet, Maurício Beltrão Fraletti, o instituto surgiu de outro projeto seu, a Robótica sem Mistério, no ano de 2003.



“Comecei a receber bastante ofertas do que eu chamo de e-lixo quando foi criada a Robótica sem Mistério. Por ter ciência de que é um problema sério e de não me conformar em ver tais materiais em aterros sanitários, passei a usar as peças na robótica e assim nasceu o Biet. Desde então, fizemos diversas parcerias com governos estadual e municipal, iniciativa privada e a sociedade como um todo. Recentemente recebemos materiais vindos da Cargil, Bosch e da Ordem dos Advogados do Brasil seção Paraná (OAB-PR)”, conta.



O Biet conta com um centro no bairro Sítio Cercado e outros municípios já demonstraram interesse em abrir estes espaços. “Recebemos convites para levar o projeto para Colombo, São José dos Pinhais, Campo Largo e Araucária (todos na Região Metropolitana de Curitiba RMC). Vamos abrir um centro em uma escola pública de Ponta Grossa (Campos Gerais) e realizamos oficinas pelo Estado por meio do programa Paraná em Ação”, diz Fraletti.



A ação do Biet consiste em receber o e-lixo, testar os equipamentos, um a um, e o que funcionar é separado e o que está estragado é desmontado. “O que ainda puder ser utilizado, nós utilizamos no nosso centro e doamos para alguma outra instituição, mas com o compromisso de devolução após o produto não ter mais funcionamento. Por exemplo, um monitor queimou de vez. A gente pega o que estragou e substitui por outro que pode ser utilizado. O material inutilizado será reciclado e vai ser destinado para as oficinas de robóticas e para a confecção de novos produtos”, salienta.



A única coisa que falta para a ONG é o de conseguir fazer a reciclagem total dos computadores, conforme conta o presidente do Biet. “Estamos buscando ajuda nas universidades para descobrir como resolver a questão que envolve os metais pesados nos computadores”, afirma.



Para doar um equipamento eletrônico para o Biet, é preciso agendar antes. Os telefones de contato são (41) 3289-8856 e (41) 9932-0168 ou pelo e-mail falecom@biet.org.br. Mais informações da ONG pelo site www.biet.org.br.



Programa



Não são apenas plásticos, metais e papéis que vão para o programa de reciclagem da Prefeitura de Curitiba. Segundo a gerente de limpeza do Departamento de Limpeza Público, Gisele Martins dos Anjos, o lixo eletrônico e o tóxico também são recolhidos.



A gerente diz ainda que no caso dos eletro-eletrônicos, a reciclagem não é feita pela prefeitura. “É feito apenas uma pré-triagem dos materiais e as peças são leiloadas para empresas que trabalham com esse tipo de reciclagem”, avisa.

Paraná aplica há sete anos a responsabilidade solidária



O governo do Paraná, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), vem aplicando há sete anos a Lei Federal número 6938/81 que, entre outras coisas, aborda a questão da responsabilidade solidária. O que seria isso? Significa que a empresa cuja logomarca da embalagem está presente num determinado produto é responsável pelo destino final do mesmo.



O coordenador de resíduos sólidos da Sema, Laerty Dudas, diz que para que a lei funcione plenamente, é necessário uma mudança nos hábitos da população. “Vamos tomar como exemplo a questão dos computadores. Estamos sempre conversando com as empresas e elas não se negam a fazer a chamada logística inversa (que vai do consumidor até o fabricante). Entretanto, elas pedem a nota fiscal da mercadoria. Infelizmente, não temos esse hábito de guardar notas fiscais, que é fundamental para que o fabricante descaracterize o produto ao receber”.



No caso das lâmpadas fluorescentes, o diálogo vem sendo mais extenso, conforme explica o coordenador. “Antes eles não queriam nem saber de dar o destino do produto após o seu uso. Hoje já há um canal de diálogo.



Já existe uma lei estadual que informa que a responsabilidade de recolher a lâmpada após o uso é de responsabilidade do fabricante ou do importador”, informa.



Dudas conta que foi conversado com a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux) e com a Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (Abilumi) para que encontrem uma solução para este problema. “Em abril deste ano, foi feita uma reunião dos municípios que mais geram resíduos no Paraná, chamados de G-22.



Eles têm um passivo de 260 mil lâmpadas estocadas, o que é um agravante, pois trata-se de um material que contém mercúrio, tóxico para o ser humano. A Abilux ficou de retirar esse passivo ambiental e dar um fim a ele. A Abilumi recebeu um prazo final até o dia 30 de junho deste ano, para apresentar um projeto para solucionar este impasse”, conta.

Flávio Laginski
fonte: http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news

sábado, 29 de maio de 2010

Leia íntegra traduzida da carta de Barack Obama a Lula sobre acordo com o Irã



O acordo nuclear entre o Brasil, a Turquia e o Irã se­gue, ponto a ponto, todas as solicitações que o presidente Barack Obama havia exposto em carta a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, datada de 20 de abril, apenas três semanas antes, portanto, da viagem de Lula ao Irã, da qual resultou o acordo. A Folha obteve, com ex­clusividade, cópia integral da carta, na qual Obama es­creve que o objetivo era ofe­recer “explicação detalhada” de sua perspectiva “e sugerir um caminho a seguir”.



FOLHA SP   27/05/2010



Leia a íntegra traduzida da mensagem:



“Gostaria de agradecê-lo por nossa reunião com o primeiro-ministro Erdogan, da Turquia, durante a Conferência de Cúpula sobre Segurança Nuclear. Dedicamos algum tempo ao Irã, à questão da provisão de combustível nuclear para o Reator de Pesquisa de Teerã (TRR), e à intenção de Turquia e Brasil quanto a trabalhar para encontrar uma solução aceitável. Prometi responder detalhadamente às suas ideias, refleti cuidadosamente sobre a nossa discussão e gostaria de oferecer uma explicação detalhada sobre minha perspectiva e sugerir um caminho para avançarmos.



Concordo com você em que o TRR representa uma oportunidade para abrir caminho a um diálogo mais amplo no que tange a resolver preocupações mais fundamentais da comunidade internacional com respeito ao programa nuclear iraniano em seu todo. Desde o começo, considerei a solicitação iraniana como uma oportunidade clara e tangível de começar a construir confiança mútua e assim criar tempo e espaço para um processo diplomático construtivo. É por isso que os Estados Unidos apoiaram de forma tão vigorosa a proposta apresentada por Mohamed El Baradei, o ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).



A proposta da AIEA foi preparada de maneira a ser justa e equilibrada, e para permitir que ambos os lados ganhem confiança. Para nós, o acordo iraniano quanto a transferir 1.200 quilos de seu urânio de baixo enriquecimento (LEU) para fora do país reforçaria a confiança e reduziria as tensões regionais, ao reduzir substancialmente os estoques de LEU do Irã. Quero sublinhar que esse elemento é de importância fundamental para os Estados Unidos. Para o Irã, o país receberia o combustível nuclear solicitado para garantir a operação continuada do TRR a fim de produzir os isótopos médicos necessários e, ao usar seu próprio material, os iranianos começariam a demonstrar intenções nucleares pacíficas. Não obstante, o desafio continuado do Irã a cinco resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que ordenam o final de seu programa de enriquecimento de urânio, estávamos preparados para apoiar e facilitar as ações quanto a uma proposta que forneceria combustível nuclear ao Irã usando urânio enriquecido pelo Irã uma demonstração de nossa disposição de trabalhar criativamente na busca de um caminho para a construção de confiança mútua.



No curso das consultas quanto a isso, reconhecemos também o desejo de garantias, da parte do Irã. Como resultado, minha equipe se concentrou em garantir que a proposta da AIEA abarcasse diversas cláusulas, entre as quais uma declaração nacional de apoio pelos Estados Unidos, a fim de enviar um claro sinal do meu governo quanto à nossa disposição de nos tornarmos signatários diretos e até mesmo potencialmente desempenharmos um papel mais direto no processo de produção do combustível; também ressaltamos a importância de um papel central para a Rússia e da custódia plena da AIEA sobre o material nuclear durante todo o processo de produção de combustível. Na prática, a proposta da AIEA oferecia ao Irã garantias e compromissos significativos e substanciais da parte da AIEA, dos Estados Unidos e da Rússia. O dr. El Baradei declarou publicamente no ano passado que os Estados Unidos estariam assumindo a vasta maioria do risco, na proposta da AIEA.



Como discutimos, o Irã parece estar seguindo uma estratégia projetada para criar a impressão de flexibilidade sem que concorde com as ações que poderiam começar a gerar confiança mútua. Observamos os vislumbres de flexibilidade transmitidos pela Irã a você e a outros, enquanto reiterava formalmente uma posição inaceitável à AIEA, por meio dos canais oficiais. O Irã continuou a rejeitar a proposta da AIEA e insistiu em reter em seu território o urânio de baixo enriquecimento até a entrega do combustível nuclear. Essa é a posição que o Irã transmitiu formalmente à AIEA em janeiro e uma vez mais em fevereiro de 2010.



Compreendemos pelo que vocês, a Turquia e outros nos dizem que o Irã continua a propor a retenção do LEU em seu território até que exista uma troca simultânea de LEU por combustível nuclear. Como apontou o general [James] Jones [assessor de Segurança Nacional da Casa Branca] durante o nosso encontro, seria necessário um ano para a produção de qualquer volume de combustível nuclear. Assim, o reforço da confiança que a proposta da AIEA poderia propiciar seria completamente eliminado para os Estados Unidos, e diversos riscos emergiriam. Primeiro, o Irã poderia continuar a ampliar seu estoque de LEU ao longo do período, o que lhes permitiria acumular um estoque de LEU equivalente ao necessário para duas ou três armas nucleares, em prazo de um ano. Segundo, não haveria garantia de que o Irã concordaria com a troca final. Terceiro, a “custódia” da AIEA sobre o LEU no território iraniano não nos ofereceria melhora considerável ante a situação atual, e a AIEA não poderia impedir o Irã de retomar o controle de seu urânio a qualquer momento.



Existe uma solução de compromisso potencialmente importante que já foi oferecida. Em novembro, a AIEA transmitiu ao Irã nossa oferta de permitir que o Irã transfira seus 1,2 mil de LEU a um terceiro país especificamente a Turquia- no início do processo, onde ele seria armazenado durante o processo de produção do combustível como caução de que o Irã receberia de volta o seu urânio caso não viéssemos a entregar o combustível. O Irã jamais deliberou seriamente quanto a essa oferta de “caução” e não ofereceu explicação confiável quanto à sua rejeição. Creio que isso suscite questões reais quanto às intenções nucleares iranianas. Caso o Irã não esteja disposto a aceitar uma oferta que demonstre que seu LEU é para usos pacíficos e civis, eu instaria o Brasil a insistir junto ao Irã quanto à oportunidade representada por essa oferta de manter seu urânio como “caução” na Turquia enquanto o combustível nuclear está sendo produzido.



Ao longo do processo, em lugar de construir confiança o Irã vem solapando a confiança, na forma pela qual abordou essa oportunidade. É por isso que questiono a disposição do Irã para um diálogo de boa fé com o Brasil, e por isso eu o acautelei a respeito em nosso encontro. Para iniciar um processo diplomático construtivo, o Irã precisa transmitir à AIEA um compromisso construtivo quanto ao diálogo por meio de canais oficiais algo que até o momento não fez. Enquanto isso, continuaremos a levar adiante nossa busca de sanções, dentro do cronograma que delineei. Também deixei claro que as portas estão abertas para uma aproximação com o Irã. Como você sabe, o Irã até o momento vem recusando minha oferta de um diálogo abrangente e incondicional.



Aguardo ansiosamente a próxima oportunidade de encontrá-lo e discutir essas questões, levando em conta o desafio que o programa nuclear iraniano representa para a segurança da comunidade internacional, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.



Sinceramente,



Barack Obama”



Tradução de Paulo Migliacci

terça-feira, 25 de maio de 2010

Dzua ya ku zambezi indzaoneca

Dzua ya ku zambezi indzaoneca







indza dzoquera cu ntsua



Entregará as crianças um sorriso feiticeiro



Arrancará o choro triste sincero



Deixar um mpotahahi de sonhos







Contará karingana wa karingana



Ilumirá todas as suas vias de acesso ao manguana



E te encostarás nas melhores almofadas



Puras de uma flor que nunca murcha







O sol quer te ver a dançar a mapandzura



Amarrada a capulana na cintura



Á cantar nhimbo za cumui



Igual a aquelas que o Samora delirava



Cantava e pulava



O “ tiende pa modzi ni nthima omodzi”



Onde dele carregamos missozi



Do amor de um pai imortal







Quer te ver a esquivares a mata - mata



E ao por do sol escolher o ti sankule



Depois do pimbo ou do banana ainda



Na manhã seguinte ir a escola







Entoar com patriotismo o hino nacional



Gritar o óh pátria amada vamos vencer



Com o olhar vitorioso e emocional



Olhar a bandeira e o 25 de Junho nunca esquecer


Luana

fonte: mocambiqueonline.blogspot.com

L’infini dans ma salle de bain

domingo, 23 de maio de 2010

A violência na internet

A toda mudança de patamar de civilização corresponde uma mudança tecnológica, do arado ao computador, que muda, às vezes dramaticamente, o sistema de produção e os parâmetros de relação social

A piada é velha: a internet veio para resolver problemas que antes não existiam – mas, de fato, fico me perguntando como consegui sobreviver mais de 40 anos sem computador nem internet. Resisto entretanto ao saudosismo bucólico, dos velhos tempos em que, para pagar uma conta ou trocar um cheque, pegava-se uma pesada ficha de bronze e aguardava-se o chamado em altos brados. O caixa colocava uma ficha gigante numa máquina contábil especial, onde marcava créditos e débitos. Hoje somos nós que viramos todos funcionários dos bancos, trabalhando de graça aos sábados, domingos e feriados, fazendo pagamentos, transferências, aplicações, docs e o que for preciso – e o incrível é que achamos isso maravilhoso.


• Teorias conspiratóriasO evangelho segundo LulaEntre palavras e legumesE é mesmo. A toda mudança de patamar de civilização corresponde uma mudança tecnológica, do arado ao computador, que muda, às vezes dramaticamente, o sistema de produção e os pa-râmetros de relação social. Discutir esses efeitos está longe da pretensão do cronista, que aliás tenta se defender da internet como pode. Fascinado por ela, já perdeu dias e semanas com a banda larga na veia, fazendo nada – até perceber que ou reorganizava o tempo ou viraria um zumbi do monitor. Algumas medidas básicas funcionaram: não leio e-mails que não sejam pessoais e resisto a “surfar”. Quando ligo o computador, sei o que procuro: percorrer jornais ou fazer consultas (e nessa área de referência, a revolução da internet é absolutamente fantástica).

Mas dia desses escapei distraído para uma ponte com “comentários de leitor”, que passaram a me atrair, primeiro como curiosidade linguística, depois como sociologia, e atualmente como, digamos, aspectos patológicos do comportamento cotidiano. Fiquei impressionado com a violência dos comentários, o grau de agressividade, o primarismo argumentativo, o desejo de ferir – enfim, a estupidez pura e simples em que tanto o bom como o mau domínio da escrita se mesclam com o desejo de sangue a qualquer custo. Qualquer tema é gancho para o jogo baixo, o preconceito escarrado, o ressentimento, o rancor miúdo, sempre ocultos no pseudônimo: dos candidatos ao governo às notícias policiais, das páginas de cultura ao preço dos carros, do futebol ao cinema, tudo é argumento para o tacape digital assassino, incapaz de uma ponderação civilizada. Como se o inconsciente selvagem de cada um, sem filtro, ganhasse vida num clique. Acompanhar comentários de leitores na internet é quase sempre uma viagem chocante, inútil, deprimente.

Talvez eu esteja mesmo ficando velho, saudoso de uma cordialidade brasileira que nunca existiu, exceto no papel. As estatísticas mostram que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, e no conforto da classe média tendemos a achar que isso é um problema distante. Mas, no escurinho da internet, vemos que o país real está muito próximo e mostra os dentes em toda parte.

fonte : gazeta do povo 11/05/2010

contato@cristovaotezza.com.br

terça-feira, 18 de maio de 2010

Declaração Conjunta de Irã, Turquia e Brasil – 17 de maio de 2010

Tendo-se reunido em Teerã em 17 de maio, os mandatários abaixo assinados acordaram a seguinte Declaração:



1. Reafirmamos nosso compromisso com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e, de acordo com os artigos relevantes do TNP, recordamos o direito de todos os Estados-Parte, inclusive a República Islâmica do Irã, de desenvolver pesquisa, produção e uso de energia nuclear (assim como o ciclo do combustível nuclear, inclusive atividades de enriquecimento) para fins pacíficos, sem discriminação.



2. Expressamos nossa forte convicção de que temos agora a oportunidade de começar um processo prospectivo, que criará uma atmosfera positiva, construtiva, não-confrontacional, conducente a uma era de interação e cooperação.



3. Acreditamos que a troca de combustível nuclear é instrumental para iniciar a cooperação em diferentes áreas, especialmente no que diz respeito à cooperação nuclear pacífica, incluindo construção de usinas nucleares e de reatores de pesquisa.



4. Com base nesse ponto, a troca de combustível nuclear é um ponto de partida para o começo da cooperação e um passo positivo e construtivo entre as nações. Tal passo deve levar a uma interação positiva e cooperação no campo das atividades nucleares pacíficas, substituindo e evitando todo tipo de confrontação, abstendo-se de medidas, ações e declarações retóricas que possam prejudicar os direitos e obrigações do Irã sob o TNP.



5. Baseado no que precede, de forma a facilitar a cooperação nuclear mencionada acima, a República Islâmica do Irã concorda em depositar 1200 quilos de urânio levemente enriquecido (LEU) na Turquia. Enquanto estiver na Turquia, esse urânio continuará a ser propriedade do Irã. O Irã e a AIEA poderão estacionar observadores para monitorar a guarda do urânio na Turquia.



6. O Irã notificará a AIEA por escrito, por meio dos canais oficiais, a sua concordância com o exposto acima em até sete dias após a data desta Declaração. Quando da resposta positiva do Grupo de Viena (EUA, Rússia, França e AIEA), outros detalhes da troca serão elaborados por meio de um acordo escrito e dos arranjos apropriados entre o Irã e o Grupo de Viena, que se comprometera especificamente a entregar os 120 quilos de combustível necessários para o Reator de Pesquisas de Teerã.



7. Quando o Grupo de Viena manifestar seu acordo com essa medida, ambas as partes implementarão o acordo previsto no parágrafo 6. A República Islâmica do Irã expressa estar pronta – em conformidade com o acordo – a depositar seu LEU dentro de um mês. Com base no mesmo acordo, o Grupo de Viena deve entregar 120 quilos do combustível requerido para o Reator de Pesquisas de Teerã em não mais que um ano.



8. Caso as cláusulas desta Declaração não forem respeitadas, a Turquia, mediante solicitação iraniana, devolverá rápida e incondicionalmente o LEU ao Irã.



9. A Turquia e o Brasil saudaram a continuada disposição da República Islâmica do Irã de buscar as conversas com os países 5+1 em qualquer lugar, inclusive na Turquia e no Brasil, sobre as preocupações comuns com base em compromissos coletivos e de acordo com os pontos comuns de suas propostas.



10. A Turquia e o Brasil apreciaram o compromisso iraniano com o TNP e seu papel construtivo na busca da realização dos direitos na área nuclear dos Estados-Membros. A República Islâmica do Irã apreciou os esforços construtivos dos países amigos, a Turquia e o Brasil, na criação de um ambiente conducente à realização dos direitos do Irã na área nuclear.



Manucher Mottaki,



Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Islâmica do Irã



Ahmet Davutoglu,



Ministro dos Negócios Estrangeiros da República da Turquia



Celso Amorim,



Ministro das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil


fonte:estadão.com.br

O Melhor romance da década ?

Agora que já adentramos dez anos no novo século, pode ser um bom momento para rever as realizações culturais do período e procurar discernir novos rumos. Poderíamos perguntar, por exemplo, quais foram os melhores ou mais notáveis romances publicados desde o começo do milênio.

Muitos leitores terão suas listas próprias de “finalistas”; a minha inclui “O Xará” (2003, lançado no Brasil pela Companhia das Letras), da escritora bengalesa-americana Jhumpa Lahiri; “A Hora Azul” (2005, Objetiva), do peruano Alonso Cueto; “Testimone Inconsapevole” (Testemunha Inconsciente, 2002), do magistrado italiano Gianrico Carofiglio, seguido por duas outras histórias policiais da mesma alta qualidade; “Chicago” (2007), do egípcio Alaa al Aswany, uma história de biografias entremeadas que tem minha preferência sobre “O Edifício Yacubian” (2002, Companhia das Letras), do mesmo autor.

Todas essas obras são comoventes e bem escritas. Mas minha primeira escolha não é nenhuma delas, e sim o ambicioso romance em três volumes do escritor espanhol Javier Marías, “Seu Rosto Amanhã” [tradução de Eduardo Brandão, cujos volumes 1º e 2º foram publicados no Brasil pela Companhia das Letras, que prevê lançar o volume 3º no segundo semestre].

Suponho que eu possa ser acusado de viés nacional por essa escolha, já que Marías é um anglófilo que chegou a lecionar espanhol em Oxford, minha antiga universidade, e gosta de citar Shakespeare com ainda mais frequência do que cita Cervantes (o título do romance é uma citação de “Henrique 4º”, de Shakespeare).

O cenário de boa parte da história é Londres. Além disso, tive o prazer, em mais de uma ocasião, de encontrar dois personagens do livro, o professor de Oxford e ex-agente secreto sir Peter Russell (1913-2006), que aparece no livro transparentemente disfarçado como “Peter Wheeler”, e o professor espanhol Francisco Rico, que aparece brevemente no volume 3 sob seu próprio nome.

Mesmo assim, escolhi “Seu Rosto Amanhã” por uma razão diferente: por suas técnicas narrativas, que -como as de Cueto, mas de modo ainda mais notável- ampliaram as possibilidades do romance. Não estou pensando tanto no uso feito no livro de fotos de pessoas reais, à maneira de W.G. Sebald, para conferir uma ilusão mais forte de realidade, mas em outras técnicas.

Thriller subjetivo

O romance é uma espécie de thriller. Embora seja espanhol, o protagonista tem um emprego temporário trabalhando para o serviço secreto britânico, e lemos que Wheeler foi amigo de Ian Fleming [1908-64], o inventor de James Bond. Mesmo assim, o leitor não deve esperar uma narrativa movimentada.

No início de sua carreira, Marías traduziu para o espanhol um romance inglês do século 18, “A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy”, de Laurence Sterne, e aprendeu com Sterne, como já admitiu a um entrevistador, a escrever muitas páginas sobre um momento breve.

Boa parte do espaço em “Seu Rosto Amanhã” é dedicado a reflexões sobre a vida tecidas pelo protagonista, Jacques, Jaime ou Jack Deza, e a longas conversas entre Deza e seu amigo Wheeler ou entre Deza e seu pai -uma figura baseada no pai do autor, o filósofo Julián Marías (1914-2005). Algumas das conversas são “traduzidas” pelo autor do inglês ao espanhol, permitindo a ele refletir sobre as diferenças entre as duas línguas.

O leitor pode muito bem ter a impressão de que essas reflexões e conversas sejam digressões da história -devo admitir que, inicialmente, eu ficava um tanto quanto impaciente com elas-, mas essas sempre acabam revelando-se partes essenciais da história, como as aparentes digressões de Peter Wheeler.

Com a exceção de duas descrições vívidas e por momentos grotescos de violência física, minuto a minuto, como se estivessem acontecendo diante do leitor, a maior parte da ação de “Seu Rosto Amanhã” acontece nos bastidores, sob a forma de anedotas relatadas por Deza ou, mais frequentemente, histórias contadas a Deza por outros personagens no romance. Outro aspecto incomum do romance é seu tema autodestrutivo. As primeiras seis palavras do livro são “No debería uno contar nunca nada” [Ninguém deveria nunca contar nada] -seguidas, é claro, por uma história que dura cerca de 1.500 páginas.

O romance retorna repetidas vezes ao tema das consequências desastrosas que podem advir de falar, já que as palavras escapam do controle de quem as proferiu assim que são ditas, no caso de falas impensadas não menos que no de conversas traiçoeiras, incluindo as denúncias de antigos amigos que se seguiram à vitória de Franco na Guerra Civil Espanhola [1936-39], tema que ocupa bastante espaço nessas páginas.

O sofrimento causado às vítimas desse tipo de conversa nunca poderá ser cancelado, mas pode, pelo menos, ser aliviado, quando se conversa sobre ele. Nesse sentido, pode-se dizer que o romance seja freudiano, apesar de o nome de Freud nunca ser mencionado.

Tema e variações

A repetição controlada é um dos segredos do estilo do autor, convertendo este longo romance em uma espécie de sinfonia na qual o leitor aprende a prestar atenção para captar o reaparecimento de um “leitmotiv” (como a traição ou o poder das histórias), de uma citação de Shakespeare ou de uma das palavras-chave do romance -febre, lança, baile, sonho, veneno e sombra.

Descrições de incidentes que, à primeira vista, pareciam ser triviais ou irrelevantes revelam, quando são repetidas, empurrar a história para a frente ou ajudar o protagonista -e, por meio dele, o leitor- a compreender seu significado.

Existem maneiras diferentes de descrever o que Javier Marías realizou neste romance impressionante, com certeza sua obra-prima, além de ser um dos trabalhos de ficção mais importantes escritas na década passada. Um crítico literário poderia dizer que “Seu Rosto Amanhã” enriqueceu o repertório de técnicas narrativas e prever que não demorará muito a ser imitado por outros romancistas. Um filósofo poderia afirmar que Marías encontrou uma maneira nova de fazer filosofia, especialmente ética.

Um historiador pode impressionar-se sobretudo com a maneira como o autor trouxe os anos 1930 e 1940 de volta à vida. Todos teriam razão, já que “Seu Rosto Amanhã” é um livro híbrido, espanhol e inglês, literário e filosófico, apropriado para nossa era de hibridez cultural, em que tantos escritores sentem-se atraídos a explorar o terreno fronteiriço entre ficção e história.

PETER BURKE é historiador inglês, autor de “A Tradução Cultural” (ed. Unesp) e “O Historiador como Colunista” (ed. Civilização Brasileira).

Tradução de Clara Allain.

fonte: Folha de São Paulo.Caderno Mais! 16/05/10
La Fellah



de Theophile Gautier



Caprice d’un pinceau fantasque

Et d’un impérial loisir,

Votre fellah, sphinx qui se masque,

Propose une énigme au désir.



C’est une mode bien austère

Que ce masque et cet habit long,

Elle intrigue par son mystère

Tous les Oedipes du salon.



L’antique Isis légua son voile

Aux modernes filles du Nil ;

Mais, sous le bandeau, deux étoiles

Brillent d’un feu pur et subtil.



Ces yeux qui sont tout un poème

De langueur et de volupté

Disent, résolvant le problème,

” Sois l’amour, je suis la beauté.”



Théophile Gautier

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pássaros nasceram para voar

O mundo sempre me pareceu um grande mistério. Lembro que ainda pequena, eu devia ter uns seis ou sete anos, vi minha irmã mais velha abater um passarinho para depois, com a ajuda de alguns amigos, dissecá-lo como a um sapo de laboratório familiar. Não arrisco explicar, aos olhos daquela menina, todo o sentimento que a cena lhe trouxe. Mas desconfio que deva ter sido algo aterrador, pois desde então, e observe que já se passaram muitos anos, passei a sentir a vida como uma eterna sucessão de enganos. Eu não cabia na família, na escola, no trabalho e, de resto, nem em mim mesma.



De início, achavam que se tratava apenas de timidez. Depois, os suores nas mãos e o silêncio que podia durar uma festa inteira, passou a ser visto pelos outros como arrogância. ‘Sofia, você precisa aprender a controlar suas emoções’, diziam-me os amigos mais próximos. No meio em que convivia, tornei-me o laboratório ideal para as frustrações alheias. E de tanto ouvir conselhos e repreendas, acabei por ter a sensação de que me dissecavam como àquele passarinho morto por minha irmã.



Primeiro arrancaram-me as pernas. Disseram-me que elas não me levavam na direção correta e que, portanto, não me eram úteis. Em seguida, analisaram e descartaram, um a um, os componentes desse pobre corpo. Foi quando descobri que ao invés de músculos, eu possuía raízes que se entrelaçavam e que pareciam expressar as mais longínquas memórias. E que no lugar de sangue, meus corredores vertiam um líquido gelatinoso e branco, uma seiva de vida que encerra um susto qualquer.



A simples idéia de que tal segredo pudesse vir a ser desvendado por algum de meus perscrutadores, congelava-me a alma. Pobre de mim. Como se não bastasse ter emprestado a esse mundo pernas, bocas e gestos aceitáveis, tinha ainda que esforçar-me para trocar com o ambiente externo, sentimentos corriqueiros, enxaquecas plausíveis, preocupações banais e um choro compreensível aqui e acolá.



Foi agarrada a essa indiscutível certeza que procurei encenar, neste grande palco, um medíocre, porém razoável, papel. Fiz-me mulher e deixei que rasgassem, dentro de mim, as mais finas veias. Como um acrobata, lancei-me em mãos e teias de palavras vilipendiosas. Deixei-me sugar até a última gota e derramei intranqüilas lágrimas em lençóis que nunca envelheciam. Ao final de cada espetáculo, retornava sozinha para o camarim. E ali ficava, ora imóvel — perturbada pelas ondas que me engoliam na mansidão do nada —, ora debatendo-me nas paredes invisíveis que me serviam de prisão.



Com o tempo, desisti de procurar aceitação. Percebi que de alguma forma não merecia ser amada, nem tampouco compreendida. Agarrei-me aos galhos que cresciam silenciosamente em meu mundo, adubando, no frescor das noites insones, algumas poucas lembranças que me pudessem ser úteis. Deixei que transbordasse nas veias partidas pelos inúmeros erros que cometi, aquilo que outrora era líquido e que não sei por qual motivo específico, tornara-se uma gosma pegajosa. Na solidão e na ausência, preguei em cada parede um retrato do que poderia ter sido minha existência e lancei-me aos ventos, experimentando a liberdade do pássaro que desconhece o momento exato da morte. E é feliz por existir na inocência de que está sempre pronto para o abate.

Vássia Silveira – Releituras


E-Mail: vassia@uol.com.br

Site: http://www.anaesuasmulheres.com

Blog: http://gavetasejanelas.zip.net

Vássia Silveira nasceu em Belém (PA), em 1971. É jornalista, mãe de Clara e Anaís e autora do site “Ana e suas mulheres”. Foi editora da revista “outraspalavras”, no Acre. Atualmente mora em Fortaleza e tem textos publicados nos sites Cronópios e Bestiário, entre outros. Assina também o blog “Gavetas e Janelas”. Em julho de 2007 lançou seu primeiro livro, “Braboletas e Ciúminsetos” (literatura infantil), pela Editora Letras Brasileiras, com ilustrações de Marcelo Vaz.

Fonte: blog leituras favre

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mario Quintana - Segundo Poema de muito Longe

POLYUSHKA POLYE - ORIGINAL VERSION

Russian Traditional Songs - Marusia

O Encouraçado Potemkin (1925) - Sergei Eisenstein

Escuridão formosa

À noite toquei-te e senti-te

sem que minha mão fugisse para lá de minha mão,

sem que meu corpo fugisse, aos meus ouvidos:

de um modo quase humano

senti-te.

A pulsar,

não sei se como sangue ou como nuvem

errante,

em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,

escuridão que desce, cintilante, correste.

Correste por minha casa de madeira,

e abriste as janelas,

e senti pulsar a noite toda,

filha dos abismos, silenciosa,

guerreira tão terrível e tão bela,

que tudo quando existe,

sem tua chama, não existiria para mim.


Gonzalo Rojas
do livro “Rosa do Mundo”
assírio & alvim, 2001
trad. José Bento

Criterion Trailer 2: Seven Samurai

Rua Vida Mimosa

Crédito: Fabiano Accorsi in http://www.flickr.com./

A Rua da vida

A Affonso Schmidt


Esta é rua da vida. E a vida se revela,

a rua sem pudor, completamente nua.

Mas, mostrando-se nua, a vida não é bela

e não é boa a vida através desta rua.



O convite que sai da entreaberta janela

tem a fascinação indizível da sua

promessa de pecado ! E, atraída por ela,

a sombra do homem pelas portas se insinua...



Marítimos gingando o corpo forte e suado,

malandros de chinelo, asiáticos franzinos,

toda esta malta vil que o homem detesta



vem deixar, nesta rua, um pouco do passado;

vem cumprir, nesta rua, os seus torvos destinos

para que possa haver a nossa rua honesta !

Cid Silveira(1910)

Carlos Drummond de Andrade

Erik Satie - Gnossienne No.1

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Il Grande Bar

http://www.outrosventos08.blogspot.com/

Hibridismo linguístico

Katyuscia Carvalho

Sou discípula das palavras subversivas

da língua insubmissa pela própria natureza

que não se dobra a doutrinas castradoras

nem cala a boca para as sentenças normativas.



Falo na língua que tem sangue nas veias

- que língua sem sangue ou sem pigmentação

não tem história: é língua-pálida, língua-amorfa!

E eu me pinto em dialetos da minha miscigeNAÇÃO.



Tenho na boca um idioma que dança,

que batuca, que se alegra e que se enfeita

com cocais, com colares, com sotaques

com as sílabas todas desta gente bra-si-lei-ra
Juracy Ribeiro – Blog Releituras

Jurássica



quando estou naqueles dias

é brabo deixar de escrever cartas

pode ser fatal



nos meus dias jurássicos

toda pedra no caminho

é um enorme dinossauro

toda corda bamba

é uma serpente

pra me enfocar

e me devolver

ao remetente



toda lembrança

de seu beijo

é tábua

de salvação



Minha crueldade



no ritual de purificação

eu sou uma borboleta

que Deus segura

pelas pontas das asas

com dois dedos

sobre a vela

acesa.

Juracy participou do livro “Mulheres de São José – Outros poemas”, 1996, de onde extraímos os poemas ora apresentados (p. 67 e 69 )

fonte: blog leituras favre

swanee river boogie

Meade Lux Lewis - Boogie Woogie

Erik Satie "Trois Gymnopédies"

Lena Horne - Stormy Weather (1943)

A barca Silenciosa


foto : Helmut Newton



« Le suicide est certainement la ligne ultime sur laquelle peut venir s’écrire la liberté humaine. Elle en est peut-être le point final.



Le droit de mourir n’est pas inscrit dans les droits de l’Homme



Comme l’individualisme n’y est pas inscrit



Comme l’amour fou n’y est pas inscrit



Comme l’athéisme n’y est pas inscrit ; Ces possibilités humaines sont trop extrêmes. Elles sont trop antisociales pour être admises dans le code qui prétend régir les sociétés. »



Pascal Quignard in « La barque silencieuse », Seuil, 237p.

http://www.lecrownlyrique.wordpress.com/

domingo, 9 de maio de 2010

Karl Marx, le grand gagnant de la crise financière

Max Weber - sociologia

Max Weber

Vida e obra de Karl Marx

Paulo Freire - Karl Marx (subtitled)

Alienação X Trabalho

Alienação e Trabalho

Sociologia - Alienação Karl Marx

Teoria Marxista.

DOMESTIC

Gymnopedia No 1

La casa: refugio o encierro.

Mi casa es su casa – Cristina Civale – Civilización & Barbarie

La casa: refugio o encierro.



¿Cómo afectan a nuestra identidad los códigos que aprendemos en el ámbito doméstico?

¿Qué relaciones desarrollamos con las personas con las que convivimos?

¿Qué relación existe entre lo público, lo privado y lo íntimo?

¿Qué papel juegan las nuevas tecnologías en los hogares de hoy en día?

¿Cómo influyen los modelos culturales y económicos dominantes en la relación con nuestro hogar?



Estas son algunas de las cuestiones que pretende explorar la exposición Domestic curada por Arianna Rinaldo y Silvia Omedes y presentada por Obra Social Caja Madrid y la fundación Photographic Social Vision en Espacio de Caja Madrid en Barcelona.



No todas las casas son iguales ni lo que sucede dentro de ellas: y qué pasa con los que viven en colchones en las calles: cuál es su “casita”, su no relación con lo doméstico, ese espacio perdido.

¿O hay otra construcción de lo doméstico en los tiempos de los sin techo?









Domestic está formada por más de 300 fotografías seleccionadas a partir de una convocatoria internacional abierta realizada entre junio y octubre de 2009.



La selección final recoge las obras de más 74 fotógrafos de 16 países, entre los que destacan Ed Kashi, Gail Albert Halaban, Dona Schwartz, Giorgio Barrera, Adriana López Sanfeliu, Aleix Plademunt, Paola de Grenet, Raphäel Dallaporta, Mattia Insolera, Massimo Siragusa o Ana Jiménez, estos tres últimos ganadores recientes del World Press Photo.



Audiovisuales, instalaciones y más de 300 fotografías constituyen esta muestra que cuestiona de forma analítica y sensible el ámbito de lo doméstico.



Para estos fines, se realizó una minuciosa investigación coordinada por el doctor en antropología Roger Canals, que reunió a expertos psicólogos, sociólogos e historiadores para marcar los lineamientos del guión curatorial.



Entre amigos, desconocidos, desprotegidos, sin techo, inmigrantes, cuánto vale hoy la afirmación “mi casa es su casa”.



Es lo doméstico el último reducto de lo privado, la cueva para protegernos ante un mundo que parece hostil, el espacio de convivencia con los que amamos o con quien no nos queda otra que compartir el mismo espacio?



Me gusta el disparador que nos ofrece esta exposición catalana.



Cristina Civale

Seja eu quem for

Serei eu a chama que arde em ti ou por acaso já se apagou o fogo que deixei de ver nos teus olhos.




Serás tu a minha alma gémea ou incendiou-se o rastilho de paixão que me cega.



Louca esta visão que me surge no horizonte: o sol que se põe, a noite que desliza por entre nós, o cheiro do mar, a flor que nos faz falta, o perfume que nos une.



Ando à procura de um ideal para que amanhã seja um ideólogo, um fantasma ou um psicólogo, alguém por quem possam chamar. Por isso quero ser alguém, quero ser de alguém e, sem saber bem porquê, entrego-me sem ver a quem, pois é a forma mais fácil de fugir.



Preencho a espaços aquilo que me falta entender. Em cada passo em falso que dou descubro algo mais e encho a minha já vasta colecção de frustrações. Entrego-me a quem quer que seja mas sem nunca me deixar possuir.



Aperta-me algo por dentro, foi mais um pedaço que morreu. Volta de novo o vazio que me pinta por fora, levanta-se o muro que chega a ser ridículo. Cubro-me de fantasias, crio mitos e personagens, distribuo papeis por aqueles com que me deparo, elaboro maquiavélicos obstáculos e sento-me à espera.



Espero que peguem em mim, que mandem o muro abaixo, que me prendam. Espero em vão. Troco as voltas à vida, construo um labirinto à minha volta e perco-me. Devolvo a paz ao mundo nas horas em que me deixo dormir para, mais tarde, voltar ainda mais insaciável.



Fecho os olhos, continuo a fugir, tropeço em mais alguém que ficou por amar, mais um erro de percurso. Mas continuo nesta minha entrega, a quem quer que seja.



Continuo a fingir para a vida seja eu de quem for. Continuo a viver do engano e mantenho-me fiel a esta espécie de infidelidade da qual ninguém está a salvo. Este é o meu furacão, o meu tsunami que arrasta almas, corações e deixa um rasto terrível de desilusões.



(Foi mantida a grafia original)


Carlos Miguel Leite (1975) é de Lisboa – Portugal
E-mail: carlosmigueltleite@hotmail.com

“‘É bom se saber apoiado”

PAUL KRUGMAN DO “NEW YORK TIMES” – FOLHA SP

Será que a Grécia será o próximo Lehman Brothers? Não. O país não é grande ou interconectado o bastante para causar congelamento semelhante ao de 2008 nos mercados. O que quer que tenha causado a breve oscilação de mil pontos no Dow Jones certamente não tinha justificativa nos acontecimentos reais na Europa.



E os analistas que alegam que estamos vendo o início de uma corrida contra todos os títulos de dívida pública tampouco devem ser levados a sério.



Essas são as boas notícias. A má é que os problemas da Grécia são maiores do que os líderes europeus estão dispostos a reconhecer, mesmo agora -e se aplicam, em grau menor, a outros países europeus.

Muitos esperam que a tragédia grega termine em moratória. Estou cada vez mais convencido de que estão sendo otimistas e que a moratória será acompanhada ou seguida pelo abandono do euro.



De certa forma, estamos vendo a crônica de uma crise anunciada. Quando foi assinado o Tratado de Maastricht, que colocou a Europa no caminho para o euro, lembro-me de brincar que o local escolhido para a cerimônia deveria ser outra cidade holandesa. O tratado deveria ter sido assinado em Arnhem, local da infame “ponte longe demais” da Segunda Guerra Mundial, onde um plano militar aliado muito ambicioso terminou em desastre.



O problema, tão evidente em termos prospectivos quanto o é agora, está no fato de que faltam à Europa alguns dos atributos essenciais a uma zona cambial bem-sucedida. Acima de tudo, um governo central.



Considere a comparação muitas vezes oferecida entre a Grécia e a Califórnia. Os dois enfrentam problemas fiscais e ambos têm longo histórico de irresponsabilidade fiscal. E o impasse político na Califórnia é até pior que o grego -afinal, apesar de todas as manifestações, o Legislativo grego aprovou medidas de austeridade.



Mas os problemas fiscais da Califórnia não importam tanto quanto os da Grécia, mesmo para os moradores do Estado.



Por quê? Porque boa parte do dinheiro gasto na Califórnia vem de Washington, e não de Sacramento (a capital estadual). As verbas estaduais podem ser cortadas, mas os desembolsos do plano federal de saúde, os cheques de aposentadoria da Previdência e os pagamentos federais às fabricantes de material bélico continuam.



O que isso significa, entre outras coisas, é que os problemas orçamentários da Califórnia não impedirão o Estado de participar da recuperação econômica nacional mais ampla. Os cortes orçamentários na Grécia, por outro lado, terão forte efeito depressivo sobre uma economia já deprimida.



Assim, será que uma reestruturação de dívida -termo polido para calote parcial- é a resposta? Isso não ajudaria tanto quanto muitos imaginam, porque pagamentos de juros respondem por apenas uma parte do deficit orçamentário grego. Mesmo que suspenda completamente o serviço de sua dívida, o governo grego não liberaria dinheiro suficiente para evitar cortes orçamentários ferozes.



A única coisa que poderia reduzir a dor da Grécia seria uma recuperação econômica, que geraria mais arrecadação, diminuiria a necessidade de cortes de gastos e criaria empregos. Se a Grécia tivesse moeda própria, poderia tentar promover uma recuperação assim via desvalorização cambial, o que elevaria a competitividade das exportações. Mas o país usa o euro.



Assim, como tudo isso acabará? Em termos lógicos, vejo três caminhos para que a Grécia mantenha o euro.



Primeiro, os trabalhadores gregos precisam se redimir por meio de sofrimento, aceitando grandes cortes de salários que tornem a Grécia competitiva o bastante para promover crescimento no emprego.

Segundo, o BCE (Banco Central Europeu) poderia adotar uma política mais expansiva, via compra de largo volume de títulos de dívida pública e da aceitação da inflação resultante (que pode até ser bem-vinda).



Isso tornaria mais fáceis os ajustes na Grécia e nos demais países problemáticos do euro. Ou, terceiro, Berlim poderia desempenhar quanto a Atenas o papel que Washington desempenha sobre Sacramento -ou seja, os governos europeus mais fortes em termos fiscais poderiam oferecer assistência aos vizinhos mais fracos.



O problema, claro, é que nenhuma dessas alternativas parece viável politicamente.



O que resta parece impensável: que a Grécia abandone o euro. Mas, quando todas as demais saídas foram descartadas, é só isso que sobra.



Argentina



Caso aconteça, a situação transcorrerá mais ou menos como em 2001 na Argentina, cuja moeda tinha o dólar como âncora supostamente permanente e inflexível. Abandonar esse sistema era considerado impensável pelos mesmos motivos por que deixar o euro parece impossível: até sugerir a possibilidade causaria corridas paralisantes aos bancos.



Mas as corridas aconteceram, de qualquer forma, e o governo argentino impôs restrições de emergência aos saques. Isso deixou a porta aberta à desvalorização, e a Argentina atravessou aquela porta. Se algo parecido acontecer na Grécia, causará ondas de choque em toda a Europa e possivelmente deflagrará crises em outros países. Mas, a menos que os líderes europeus estejam dispostos a agir com muito maior ousadia do que demonstraram até agora, é nessa direção que caminhamos.



Tradução de PAULO MIGLIACCI

sábado, 8 de maio de 2010

NADA PERMANECE TANTO COMO EL LLANTO

I





¿En qué preciso momento se separo la vida de nosotros,

en qué lugar,

en qué recodo del camino?

¿En cuál de nuestras travesías se detuvo el amor

para decimos adiós?

Nada ha sido tan duro como permanecer de rodillas.

Nada ha dolido tanto a nuestro corazón

como colgar de nuestros labios la palabra amargura.

¿Por qué anduvimos este trecho desprovistos de abrigo?

¿En cuál de nuestras manos se detuvo el viento

para romper nuestras venas

y saborear nuestra sangre?

Caminar... ¿Hacia dónde?

¿Con qué motivo?

Andar con el corazón atado,

llagadas las espaldas donde la noche se acumula,

¿para qué?, ¿hacia dónde?,

¿Qué ha sido de nosotros?

Hemos recorrido largos caminos.

Hemos sembrado nuestra angustia

en el lugar más profundo de nuestro corazón.

¡Nos duele la misericordia de algunos hombres!

Conquistar nuevos continentes, ¿quién lo pretende?

Amar nuevos rostros, ¿quién lo desea?

Todo ha sido arrastrado por las rigolas.

No supimos dialogar con el viento y partir,

sentarnos sobre los árboles intuyendo próxima la partida.

Nos depositamos sobre nuestra sangre

sin acordamos de que en otros corazones el mismo líquido ardía

o se derramaba combatido y combatiendo.

¿Qué silencios nos quedan por recorrer?

¿Qué senderos aguardan nuestro paso?

Cualquier camino nos inspira la misma angustia,

el mismo temor por la vida.

Nos mutilamos al recogemos en nosotros,

nos hicimos menos humanidad.

Y ahora,

solos,

combatidos,

comprendemos que el hombre que somos

es porque otros han sido.





II





Ya no es necesario atar al hombre para matarlo.

Basta con apretar un botón

y se disuelve como montaña de sal bajo la lluvia.

Ni es necesario argüir que desprecia al amo.

Basta con proclamar -ceñuda la frente-

que comprometía la existencia de veinte siglos.

Veinte siglos,

dos mil años de combatida pureza,

dos mil años de sonrisas clandestinas,

dos mil años de hartura para los príncipes.

Ya no es necesario atar al hombre para matarlo.

La noche,

los rincones,

no,

nada de eso sirve ya.

Plazoletas y anchas calles se prestan bulliciosas.

No cuenta el asesinato con los pacientes,

No cuenta el príncipe con los sumisos.

Todos han olvidado que el hombre es aún capaz de cólera.

Las llamas se extinguen sin haber consumido el odio.

El día irredento ha postergado la resurrección del hombre.

Y los otros,

Aquellos que presencian la matanza sentenciando:

"Locos, habeis tocado a la puerta de la muerte

y ella se quedó en vosotros!"

Esos

Solo saben predecir la muerte,

No han aprendido a combatirla.

No han aprendido a cobijar la tierra en el corazón

Ni a ganar la patria para el hombre.

Y el sumido, ¿qué hace?

¿Dónde deposita su silencio?

¿En qué lugar del corazón teje la venganza?

Nadie lo sabe.

Todos le han olvidado.

Se ha dictaminado que su morada sea la sombra,

que el pan deshabitado sea su alimento,

que el pico le prepare el lecho

y la pala le cubra el corazón.

¿Qué es el hombre combatido?

Nadie lo recuerda.

Lo visten los trapos.

Lo arrojaron en la parte trasera de la casa

y allí

con los residuos

un guiñapo se amontona.

Las llamas se extinguen.

Se arrinconan los hombres en una sola sombra,

en un solo silencio,

en un solo vocablo,

en un llanto solo

y cuando todo sea uno,

uno el llanto y el vocablo uno

no habrá paz sobre la tierra.

¿No habrá paz?

Y aquellos que dictaminaron el destino del hombre,

los que jamás contaron con los sumisos,

amasarán con sangre su propia podredumbre.

¡No habrá paz!

¡Llanto para quebrar el llanto,

muerte para matar la muerte!



Um poema de Jacques Viau Renaud - poeta haitiano - (Port-au-Prince, 28/07/1941 - Santo Domingo, 15/06/1965)

Billie Holiday - Strange Fruit

LOS NADIES - eduardo galeano

Elizeth Cardoso e Cartola - Encontro memorável - 1973

Edith Piaf - La Foule

Paco de Lucia - Entre dos aguas (1976) full video

Para el fin del mundo el año nuevo - Lhasa de Sela.

This is Not a Film

"Ler devia ser proibido"

E agora José - Carlos Drummond de Andrade

'Via Crucis "

Aral Sea

Chavela Vargas - Un mundo raro

Migration to Misery

Gotan Project

Collateral Murder - Wikileaks - Iraq

Carmen Souza-Mar na Coraçon-Lisbon

Arquivo - Vinicius e Toquinho - Trama / Radiola

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Animated film noir short

Le "sage" Tzvetan Todorov: "Il n'y a pas de choc des civilisations"

Ela se sentou e se cobriu com o lençol. Que hora mais estranha de se ter pudor! Mas não era pudor, era medo, porque naquele dia ela estava nua. Não apenas seu corpo se mostrava inteiro àquele homem que a possuíra, mas sua alma estava despida, tocável, ao alcance de qualquer coração ou mente… Naquele momento de verdade absoluta, ela se via totalmente entregue e teve medo.



O que ele faria se a percebesse assim? Talvez o fim de todo mistério e a certeza da conquista o deixasse tomado de tédio e desejando um outro alguém ainda não desvendado nem conquistado. Ou talvez ele também se despisse para ela! Talvez ele entendesse aquele momento supremo da entrega total, não apenas de dois corpos mas a fusão de dois seres que se completam, quem sabe ele também baixasse a guarda, se tornasse humano, e seria tão bom…



Mas a cama já estava fria, a sensação mágica já o tinha abandonado, prova disso era o barulho do chuveiro e a melodia fora de tom que ele cantarolava no banheiro. Ele já estava de volta à sua realidade de “ser sozinho”, apenas ela ainda permanecia sentada, enrolada nos lençóis macios pulsando e pensando entre ser natural ou ser ideal. Mas o que ele espera? Ela se pergunta. Qual seria o próximo olhar ideal, o sorriso esperado que lhe traria mais momentos como aquele: de calor, prazer e dúvidas? O que daria a ele o desejo de ter mais? Mais daquela mulher, que o preenchia em seus desejos e lhe oferecia um quase amor e um abraço quase terno.



Olhando pela janela enquanto o sol nasce lá fora ela sorri e admite para si mesma: Ela o ama! Pronto! Está acabado! Ela o ama e talvez isso seja motivo suficiente para que tudo termine ali, de uma vez. E se terminasse também seria bom, ao menos seu sono seria mais leve, sua consciência estaria mais leve e sua vida teria peso e medidas corretas para caber no que chamam por aí de felicidade. Não existem finais felizes para histórias como essas. Afinal, não existem finais para histórias como essas e isso traz uma ferida que sangra sempre, sem remédio, sem paliativo, sem palavras…



O barulho do chuveiro acabou. Ela logo vai reencontrar seu algoz e seu amor, e rapidamente ela decide: Continuar fingindo. Fingindo casualidade, falta de compromisso e de amor. Ela se levanta, solta os lençóis deixando a mostra toda sua beleza, e lhe diz sem olhar em seus olhos:



“ Por que não me acordou? Preciso ir! Já estou atrasada…”



Cláudia Ferreira de Moura (1977) é paulistana, casada e tenho um filho. Além de dona de casa e estudante de pedagogia, escreve, como diz, “por que é assim que consigo organizar meu mundo. Amo as palavras e elas me completam”. Profere conferências sobre relacionamentos. Atualmente mora em Gravatal, Santa Catarina.

fonte : Blog Releituras
E-mail: feiapracaramba@yahoo.com.br

História do Olho, Georges Bataille

Georges Bataille é um autor que tem seus estudos reverberando mais no meio acadêmico do que sua literatura nas livrarias; e quando chega a elas, acaba recebendo o rótulo incompleto de “literatura erótica”. Há quem defenda que até essa denominação seja errônea: uma leitura superficial sobre um montador de histórias vastamente embasado em excelentes teorias próprias e narrador sagaz.

Bataille teve a chance de ver em vida três edições de História do Olho, todas sob o pseudônimo de Lord Auch. A primeira em 1928, a terceira em 1952. Mesmo esta última não passou da tiragem de 500 exemplares, mostrando que sua obra seria mais bem aproveitada por gerações futuras.

A grande magia já acontece no título: História do Olho. Não se trata de um olho, mas de vários olhos que estão interligados numa mesma história – mesmo que não participem dela, ou mesmo até mortos. É esse deleite de Bataille em lançar luz sobre o que está esquecido pela narrativa, apontando vida em todas as direções, outras possíveis histórias sendo escritas ao mesmo tempo.

O primeiro capítulo, por exemplo: «O olho do gato». No início, a personagem Simone senta-se nua em um prato de leite levando ao orgasmo o protagonista que observa tudo a certa distância. Sabemos que o prato de leite no corredor era deixado para o gato, mas o animal não aparece na cena. Quer dizer: com o título criado pelo autor, é possível sentir a presença do gato no mesmo recinto, mesmo que nenhuma palavra na narrativa tenha se preocupado em designar isso. E o livro vai se sucedendo desta maneira: a exploração do erotismo através desses personagens, utilizando-se de várias experiências – não somente sentindo, mas contextualizando, compreendendo, associando. Num fluxo narrativo claro e elegante, mesmo que palavrões apareçam constantemente no texto para identificar “porra”, “merda” ou “cu”. O contexto abarca uma suavidade e valorização das sensações físicas para a qual seria impossível o uso de uma linguagem que camuflasse essa vivência mais básica. E a nudez da linguagem torna-se extremamente original e delicada, em oposição à sexualidade quase etérea de Anaïs Nin ou o bruto descortinar de Sade – já que o nu em Sade é a humilhação; em Bataille, a liberdade. «O ser absurdo possui todos os direitos», nos afirma o autor no decorrer do livro.

O prefácio a esta edição, de Eliane Robert Moraes, deixa claro que esta curta narrativa tem muito de autobiográfico e que foi feita por recomendação do psicanalista de Bataille, para que seu paciente expelisse no papel fantasias sexuais e obsessões de infância. O término desta narrativa gerou no autor um nítido tipo de cura, onde suas lembranças só puderam tomar vida deformadas, irreconhecíveis; e assim se instaura uma obra de ficção.

Aí pode entender-se quando Bataille afirma no livro O Erotismo que «o sentido último do erotismo é a morte». O erotismo, embora se oponha à reprodução, é seu fundamento. A reprodução envolve a relação sexual entre dois seres descontínuos que trazem em si a continuidade. Por si só, o ser humano possui o que Bataille chama de «nostalgia da continuidade perdida». Essa nostalgia é a base das três formas de erotismo que defende: erotismo dos corpos, erotismo dos corações e erotismo sagrado.

Nessas três formas de experiência erótica existe a busca pela substituição do isolamento do ser, a substituição de sua descontinuidade por um sentimento de continuidade profunda. O erotismo dissimula a descontinuidade individual e será sempre violência, pois arrancar o ser da descontinuidade é um ato violento comparável com a morte que nos tira da nossa persistência em conservar o ser descontínuo que somos. Ao mesmo tempo em que buscamos a experiência da continuidade, a tememos, por ela simbolizar a morte. Tememos o aniquilamento da individualidade descontínua, pois a realização erótica visa a destruição.

O erotismo dos corações sempre tem origem no dos corpos, mas difere dele por alcançar uma estabilidade proveniente da afeição entre os amantes. Aqui também há violência, pois a paixão pode ser mais brutal do que o simples desejo, fazendo com que a felicidade anunciada seja facilmente perdida e a vida se transforme em não-presente, prisão. Trata-se da relação entre dois seres descontínuos que anseiam uma continuidade impossível, despertando desejos de morte quando da constatação dessa impossibilidade.

A transcendência do ser pode ser alcançada através da terceira forma de erotismo, o sagrado, e em torno disso gira História do Olho. Nesse caso a ação erótica é comparável ao sacrifício religioso: a morte ritualística quebra a descontinuidade por meio do retorno ao divino. A continuidade do ser não é conhecível, mas sua experiência é dada através da experiência mística. Para Bataille, esse erotismo representa um tipo de religião sem dogmas: uma experiência erótica interior verdadeira criando consciência, retorno à natureza.

por Enzo Potel

Blog Orgia Literária  http://www.orgialiteraria.com/


História do Olho
Georges Bataille
trad. Eliane Robert Moraes
Cosacnaify
2008