sábado, 24 de outubro de 2009

De viva voz: as palavras dos griôs


Antes de declamar, o griô situa-se no tempo para fornecer o fundamento mais fidedigno à sua palavra. Orador e genealogista, ele relata não só os acontecimentos, mas também as relações entre as pessoas. Convidado a participar de todas as cerimônias, exerce a função de moderador e pode efetuar um “polimento” de sua narrativa para evitar que determinadas afirmações provoquem discórdias. Assim, ele começa por desculpar-se de suas omissões, por vezes voluntárias. Tendo a missão de facilitar a paz social, este “mestre da palavra” também desempenha, portanto, uma função ética. Na África, a palavra de fato tem um valor inestimável, pois, ao ser pronunciada, age como um tiro: é impossível recuperá-la. Por isso, é inconcebível falar à toa. “Deve-se falar apenas quando for necessário e guardar silêncio enquanto não for solicitada sua opinião”, diz um provérbio. Este, aliás, é o sentido de "palavrar".

M. C.

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