quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sentado debaixo do grande terebinto XVI

"Apre! – exclamou o guia, sempre montado, arrebitando o queixoi que lembrava um fruto redondo r olhando por cima do ombro aquele que caminhava a seu lado. – Não – acrescentou depois de uma pausa. – Diz o que quiseres. Esta geração é repelente, bebe a injustiça como água e há muito que merece o dilúvio, mas sem a barca da salvação.
[José] - Quanto à injustiça, concordo. Mas repara que neste mundo tudo existe aos pares. Há sempre dois objectos opostos, para se poderem distinguir, e se ao pé de uma coisa não existisse a contrária, nem uma nem outra existiriam. Sem vida não haveria morte. Sem riqueza não haveria pobreza. E se a estupidez desaparecesse, de que serviria falar de inteligência? Dá-se o mesmo com a pureza e a impureza, é claro. Diz o animal impuro ao puro: «Agradece-me, porque, se não fosse eu, como saberias que és puro e quem te chamaria assim?» E o perverso diz ao bondoso: «Cai aos meus pés, porque sem mim, onde estaria a tua superioridade?
- É assim mesmo, tal qual – conveio o desconhecido. – Por isso é que eu desaprovo este mundo de dualidade e não compreendo a vantagem de conservar uma estirpe à qual só se pode atribuir pureza relativamente e por comparação. Mas tem que se pensar e tornar a pensar, contìnuamente, numa coisa e noutra, e sabe-se lá que mais se nos depara, ligado a um mínimo de futuro, como esta agora de eu ter que ter mostrar o caminho para que chegues ao teu fim. Não, é enfadonho de mais!"

Thomas Mann, "O Jovem José".

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