sábado, 18 de dezembro de 2010

Pessoa no Djone

Fernando Pessoa em Durban sentado e olhando o mar já nasceu o álvaro de campos. Aguarda a chegada da ode marítima o cansaço da noite antiquíssima e serena . Acende um charuto reflecte sobre esse estranho engenheiro que o liberta ]em navegação cosmopolita. Decerto na espreguiçadeira em que seu olhar se estende nada sabe de majonejones, nunca foi a um dumbanengue ,não conhece Maputo nem Tete,o fumo do charuto leva-o para outros lugares em que a névoa desponta a ocidente Poderia estar sentado no hotel Polana fazendo turismo ou pequenos burocráticos e acidentais negócios de passagem. Estrangeiro e incógnito com umbomcálice de cognac à sua frente espreita a máquina de escrever. Não vê gaivotas. Não sonha. Mas já usa óculos. É só um perfil com chapéu de palhinha branco na paisagem.Talvez quem sabe? o vulto inquieto do seu heterónimo bernardo soares folheando ausente umlivro do desassossego.

Ana Mafalda Leite.
fonte:Inimigo Rumor 17.p128

Neobarroso: in memoriam

"Hay
cadáveres"-canta néstor
perlongher e está
morrendo e canta
"hay..."seu canto de
pérolas-berrucas alambres bo-
quitas repintadas restos de unhas
lúnulas-canta-ostras desventradas um
olor de magnólias e esta espira
amarelo-marijuana novelando pensões
baratas e transas de michê(está
morrendo e canta)"hay..."
(madres de mayo heroínas-car-
pideiras vazadas em prata negra
lutuoso argento rioplatense plangem)
"...cadáveres" e está
morrendo e canta
néstor agora em go-
zoso portunhol neste bar paulista
que desafoga a noite-lombo-de fera
úmido-espessa de um calor serôdio e on-
de (o Sacro Daime éuma -já então-un-
ção quase extrema) canta
seu ramerrão(amaríssimo)portenho:"hay
(e está morrendo)cadáveres"

Haroldo de Campos
Homenagem de Haroldo de Campos a Néstor Perlongher .
Fonte:Nicolau.ano VII .número51.p30

"Meuscaminhos dehojesãoosmesmosde

"Meus caminhos de hoje
são os mesmos de ontem,
o que é novo em mim
é o jeito de caminhar. "
Thiago de Mello

Ecos

Passe através doespelho,
fraco de desejo antigo.
Queira de novo tudo,
não importa quem o amigo é.
Diga que sim aos lugares
desolados e vazios. Os palpites
foram o possível.
nenhum erro.

Robert Creeley
Trad :Luiza Franco Moreira

fonte :Inimigo Rumor17.p33
"A vida só pode ser compreendida olhando para trás;mas sópode ser vivida olhando para a frente."
Soren Kirkegaard

A Treva

Me escolhem osclaros do sono
engastados na madrugada,
a hora de Getsêmani
São cruas claras visões
às vezes pacificadas,
às vezes o terror puro
sem o suporte dos ossos,
que o dia pleno me dá.
A alma desce dos infernos,
a morte temseu festim.
Até que todos despertem
e eu mesma possa dormir,
o demônio come a seu gosto,
o que não é Deus pasta em mim.

Adélia Prado.
fonte:Folha de São Paulo.27/06/1982

Ode a Ártemis

Toco-te as rótulas, ó cervo temida
parte loira de Zeus, soberana
deferas infames,Ártemis.
De algum ponto, sobre os tufões de Leteu,
encaras agora comapreço a cidade
dos homens cardioudazes;
não apascentes homens grossos.

Anacreon
Trad:TrajanoVieira
fonte : Folhetim 09/03/1986.

XXVIII

La casa que reduce la noce a límites
y la hace llevadera
cuando el rugido de una bestia en el sueño
olas palabras que sin sentido
despiertan con todo ese extraño temor
surgen como restos de una oscura lengua
que desvela el origen y la amenaza
el techo que cubría un fuego manso
arderá
y entonces nada habrá seguro
y será necessário de nuevo cavar
hacer

Jose Manuel Arango

Frutos e apontamentos

Água apressada que corre – sem memória -,

que a terra distraída bebe,

duvida, só por um instante, na minha mão vazia,

lembra-te!

Claro e rápido amor, indiferença,

quase ausência que corre,

entre teu excesso de ficar e de partir,

tem arrepios de permanência.

Rainer Maria Rilke

in Frutos e Apontamentos

Relógio D´Água, 1996