quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Por Jânio de Freitas

‘Está claro que não se trata de Sérgio Moro, ou de uma tribo de fanáticos religiosos empenhados em autos-da-fé (os livros em inglês preservam a expressão no original português). A decisão do tribunal do Sul (ah, o Sul dos saudosos do Duce e do Fuhrer, dos soldados da Falange e crentes da Opus Dei!) revela que se trata de contágio mais amplo Mostra-se a face da Justiça que nasceu para castigar escravos, roubar terras e fraudar impostos; espalhou-se em milhares - mais do mesmo em todo o mundo junto - de faculdades onde se ensina, ao lado de rudimentos da arte sofística, que o melhor Direito reside onde está a força e a grana."

 Nilson Lage (Linguista)


Mesmo para quem já pesquisou muito o Império e a República Velha, quem pesquisou o uso político-partidário da polícia como milícia privada, instrumentalizada como cabos eleitorais a serviço dos arcaicos interesses dos mandonismos de plantão, a serviço de tribunais de exceção - não se encontram ocorrências como a da prisão política de Palocci, com tantos deboches no colégio eleitoral local a partir de um ministro da Justiça. Também o atual nepotismo regional no ministério dos golpistas é ainda maior do que o nepotismo verificado há 100 ou 150 anos.

RCO
Tradicional nepotismo das Alagoas - "Cotado para assumir o ministério do Turismo no governo de Michel Temer, o deputado Marx Beltrão (PMDB) tem percorrido todo o Estado de Alagoas em busca votos para candidatos aliados na disputa por prefeituras. Mas em cinco cidades, uma possível vitória terá sabor especial: Jequiá da Praia, Coruripe, Feliz Deserto, Penedo e Piaçabuçu, onde disputam a prefeitura, respectivamente, irmã, tio, tia e dois primos."
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Candidato na frente das pesquisas em São Paulo, João Dória, João Agripino da Costa Dória Júnior, surge como o maior símbolo e fenômeno do atraso político, genealógico e pós-moderno de direita nestas eleições. Procede de algumas das mais antigas genealogias baianas, já estudadas por Francisco Antonio Doria, desde senhores de engenho escravistas, militares, burocratas, intelectuais. Filho de deputado federal e publicitário, João Dória, um dos inventores do dia dos namorados no Brasil, para ampliar vendas, sua mãe era prima próxima de Ruy Barbosa. Agora Dória Jr. declarou um patrimônio de quase 200 milhões, sempre subestimado, com muitas mansões, luxos cafonas e empresas de fachada. João representa o capitalismo imaterial contemporâneo imbricado no extrativismo estatal, marketing corporativo, editora de modas, alta gastronomia, programas em mídias e TVs. O grupo pouco produz de produtos físicos, além de articulações políticas e empresariais, como a LIDE, Grupo de Líderes Empresariais, conexões com o judiciário, como a famosa foto com o Juiz Moro. Seguem os típicos padrões comportamentais da classe dominante histórica brasileira, como o esbulho de terras públicas em Campos do Jordão, promiscuidade entre o público e o privado, sonegações, offshores, propriedades em Miami, Panama Papers. Na mesma chapa do PSDB entra como vice o deputado federal Bruno Covas, neto do ex-governador Mário Covas, fechando pesadamente o circuito oligárquico-familiar na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Um retrato das elites sociais, econômicas, ideológicas e políticas brasileiras em 2016, no Brasil pós-golpe. Dialética entre o passado escravista para o capitalismo imaterial, pós-moderno, subordinado, excludente, contemporâneo do processo existencial da classe dominante brasileira.

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