sábado, 23 de novembro de 2013

 “É difícil separar a ficção da invenção, a fantasia da memória. Não há uma linha separando o que você viu do que você sonhou. A imaginação ocupa o espaço da memória.”

- Lygia Fagundes Telles, em entrevista ao jornal O Povo, 2007.


Não há literatura sem memória

"Não há literatura sem memória. A pátria de todo escritor é a infância. Acho que o momento da infância e da juventude é privilegiado para quem quer escrever. É onde a memória sedimenta coisas importantes: as grandes felicidades, os traumas, as alegrias e também as decepções. Certamente não estou falando da lembrança pontual e nítida. O que interessa é a memória desfalcada, a memória não lembrada. Isso é bom para a literatura porque aí é que se instala o espaço da invenção."

- Milton Hatoum - in: “Não há literatura sem memória”. [Entrevista concedida a Luiz Henrique Gurgel]. Na ponta do Lápis. Ano IV, n. 8. AGWM Editora e Produções editoriais, p. 2-4, Junho/2008, p. 4.


A Traição das Elegantes

(...)

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


- Rubem Braga, do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

Lavoura arcaica

 “... rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando aberto para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é.”

- Raduan Nassar, in: Lavoura arcaica, 1975.
http://www.elfikurten.com.br/2013/05/raduan-nassar-tradicao-e-vanguarda.html
Corren buenos tiempos,
buenos tiempos para la bandada
de los que se amoldan a todo
con tal que no les falte de nada.

Tiempos fabulosos,
fabulosos para sacar tajada
de desastres consentidos
y catástrofes provocadas.

Tiempos como nunca
para la chapuza,
el crimen impune
y la caza de brujas.

Corren buenos tiempos,
buenos tiempos para equilibristas,
para prestidigitadores
y para sadomasoquistas.

Y silenciosa
la mayoría,
aguantando el chaparrón
al pie de un cañón
de papel maché,
come el pan nuestro
de cada día
con un culo así
contra la pared.
Llorando en el mar
viéndolas venir,
viéndolas pasar,
pasar,
pasar.

Corren buenos tiempos,
buenos tiempos para esos caballeros
locos por salvarnos la vida
a costa de cortarnos el cuello.

Tiempos fabulosos
fabulosos para plañideras,
charlatanes visionarios
y vírgenes milagreras.

Tiempos como nunca
para echarle morro
o sacar coraje
y pedir socorro.

Corren buenos tiempos,
buenos tiempos preferentemente
para los de toda la vida
para los mismos de siempre.

Para los mismos de siempre.
Siempre.
Siempre.

J. M Serrat 

Quem é Lêdo Ivo?


"- É muito difícil saber isso. Você é você e você é aquilo que você pensa que é. E você é o que os outros pensam que você é. Então, você se faz com esta dupla imagem: uma real e outra imaginária. Embora ninguém saiba onde começa a realidade ou termina o imaginário. O filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860) diz que o mundo é a representação que a pessoa tem dele. Este é o problema. Vivemos hoje numa época de incertezas. Guerras absurdas. Fome. Crises terríveis. Retrocessos. Um mundo cada vez mais kafkaniano como se a própria vida real -a vida acordada- fosse o pesadelo para milhões de pessoas. Talvez o próprio mundo em que vivamos seja hoje um mundo virtual no qual a gente não tem como sair. Esta é a minha visão. E dentro deste mundo eu não sei o que sou, nem quem sou."

- Lêdo Ivo, em 'entrevista' a Jairo Máximo/EuroLantinNews.
http://www.elfikurten.com.br/2013/04/ledo-ivo-uma-aventura-poetica.html
"Desde seus primórdios, as cidades surgiram nos lugares onde existe produção excedente, aquela que vai além das necessidades de subsistência de uma população. A urbanização, portanto, sempre foi um fenômeno de classe, uma vez que o controle sobre o uso dessa sobreprodução sempre ficou tipicamente na mão de poucos. Sob o capitalismo, emergiu uma conexão íntima entre o desenvolvimento do sistema e a urbanização."


David Harvey no Blog da Boitempo. Amanhã é sua última conferência no Rio de Janeiro. Ele estará em Florianópolis no dia 25 e em São Paulo no dia 26! Saiba mais: http://goo.gl/TytDhj