Congresso Nacional, 1º de janeiro de 2015
[...]
Meus queridos brasileiros e brasileiras.
Volto a esta Casa com a alma cheia de alegria, de
responsabilidade, de esperança. Sinto alegria por ter vencido os desafios e
honrado o nome da mulher brasileira. O nome de milhões de mulheres guerreiras,
mulheres anônimas que voltam a ocupar, encarnadas na minha figura, o mais alto
posto dessa nossa grande nação.
Encarno, também, outra alma coletiva que amplia ainda mais a
minha responsabilidade e a minha esperança. O projeto de nação que é detentor
do mais profundo e duradouro apoio popular da nossa história democrática. Esse
projeto de nação triunfou e permanece devido aos grandes resultados que
conseguiu até agora, e que porque também o povo entendeu que este é um projeto
coletivo e de longo prazo. Este projeto pertence ao povo brasileiro e, mais do
que nunca, é para o povo brasileiro e com o povo brasileiro que vamos governar.
A partir do extraordinário trabalho iniciado pelo governo do
presidente Lula, continuado por nós, temos hoje a primeira geração de
brasileiros que não vivenciou a tragédia da fome. Resgatamos 36 milhões da
extrema pobreza e 22 milhões apenas em meu primeiro governo.
Nunca tantos brasileiros ascenderam às classes médias. Nunca
tantos brasileiros conquistaram tantos empregos com carteira assinada. Nunca o
salário mínimo e os demais salários se valorizaram por tanto tempo e com tanto
vigor. Nunca tantos brasileiros se tornaram donos de suas próprias casas. Nunca
tantos brasileiros tiveram acesso ao ensino técnico e à universidade. Nunca o
Brasil viveu um período tão longo sem crises institucionais. Nunca as
instituições foram tão fortalecidas e respeitadas e nunca se apurou e puniu com
tanta transparência a corrupção.
Em nossos governos, cumprimos o compromisso fundamental de
oferecer a uma população enorme de excluídos, de pessoas excluídas, os direitos
básicos que devem ser assegurados a qualquer cidadão: o direito de trabalhar,
de alimentar a sua família, de educar e acreditar em um futuro melhor para seus
filhos. Isso que era tanto para uma população que tinha tão pouco, tornou-se
pouco para uma população que conheceu, enfim, governos que respeitam e que a
respeitam, e que realmente se esforçam para protegê-la.
A população quis que ficássemos porque viu o resultado do
nosso trabalho, compreendeu as limitações que o tempo nos impôs e concluiu que
podemos fazer muito mais. O recado que o povo brasileiro nos mandou não foi só
de reconhecimento e de confiança, foi também um recado de quem quer mais e
melhor.
Por isso, a palavra mais repetida na campanha foi mudança e
o tema mais invocado foi reforma. Por isso, eu repito hoje, nesta solenidade de
posse, perante as senhoras e os senhores: fui reconduzida à Presidência para
continuar as grandes mudanças do país e não trairei este chamado. O povo
brasileiro quer mudanças, quer avançar e quer mais. É isso que também eu quero.
É isso que vou fazer, com destemor mas com humildade, contando com o apoio
desta Casa e com a força do povo brasileiro.
Este ato de posse é, antes de tudo, uma cerimônia de
reafirmação e ampliação de compromissos. É a inauguração de uma nova etapa
neste processo histórico de mudanças sociais do Brasil.
Faço questão, também, de renovar, nesta Casa, meu
compromisso de defesa permanente e obstinada da Constituição, das leis, das
liberdades individuais, dos direitos democráticos, da mais ampla liberdade de
expressão e dos direitos humanos.
Queridos brasileiros e brasileiras,
Em meu primeiro mandato, o Brasil alcançou um feito
histórico: superamos a extrema pobreza. Mas, como eu disse - e sei que é a
convicção e a expectativa de todos os brasileiros -, o fim da miséria é apenas
um começo. Agora é a hora de prosseguir com o nosso projeto de novos objetivos.
É hora de melhorar o que está bom, corrigir o que é preciso e fazer o que o
povo espera de nós.
Sim, neste momento, ao invés de simplesmente garantir o
mínimo necessário, como foi o caso ao longo da nossa história, temos, agora,
que lutar para oferecer o máximo possível. Vamos precisar, governo e sociedade,
de paciência, coragem, persistência, equilíbrio e humildade para vencer os
obstáculos. E venceremos esses obstáculos.
O povo brasileiro quer democratizar, cada vez mais, a renda,
o conhecimento e o poder. O povo brasileiro quer educação, saúde, e segurança
de mais qualidade. O povo brasileiro quer ainda mais transparência e mais
combate a todos os tipos de crimes, especialmente a corrupção e quer ainda que
o braço forte da justiça alcance a todos de forma igualitária.
Eu não tenho medo de encarar estes desafios, até porque sei
que não vou enfrentá-los sozinha, não vou enfrentar esta luta sozinha. Sei que
conto com o apoio dos senhores e das senhoras parlamentares, legítimos
representantes do povo neste Congresso Nacional. Sei que conto com o apoio do meu
querido vice-presidente Michel Temer, parceiro de todas as horas. Sei que conto
com o esforço dos homens e mulheres do Judiciário. Sei que conto com o forte
apoio da minha base aliada, de cada liderança partidária de nossa base e com os
ministros e as ministras que estarão, a partir de hoje, trabalhando ao meu lado
pelo Brasil. Sei que conto com o apoio de cada militante do meu partido, o PT,
e da militância de cada partido da base aliada, representados aqui pelo mais
destacado militante e maior líder popular da nossa história, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Sei que conto com o apoio dos movimentos sociais e dos
sindicatos; e sei o quanto estou disposta a mobilizar todo o povo brasileiro
nesse esforço para uma nova arrancada do nosso querido Brasil.
Assim como provamos que é possível crescer e distribuir
renda, vamos provar que se pode fazer ajustes na economia sem revogar direitos
conquistados ou trair compromissos sociais assumidos. Vamos provar que depois
de fazermos políticas sociais que surpreenderam o mundo, é possível corrigir
eventuais distorções e torná-las ainda melhores.
É inadiável, também, implantarmos práticas políticas mais
modernas, éticas e, por isso, mesmo mais saudáveis. É isso que torna urgente e
necessária a reforma política. Uma reforma profunda que é responsabilidade
constitucional desta Casa, mas que deve mobilizar toda a sociedade na busca de
novos métodos e novos caminhos para nossa vida democrática. Reforma política
que estimule o povo brasileiro a retomar seu gosto e sua admiração pela
política.
Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Neste momento solene de posse é importante que eu detalhe
algumas ações e atitudes concretas que vão nortear nosso segundo mandato.
As mudanças que o país espera para os próximos quatro anos
dependem muito da estabilidade e da credibilidade da economia. Isso, para nós
todos, não é novidade. Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o
valor da estabilidade econômica, da centralidade do controle da inflação e do
imperativo da disciplina fiscal, e a necessidade de conquistar e merecer a
confiança dos trabalhadores e dos empresários.
Mesmo em meio a um ambiente internacional de extrema
instabilidade e incerteza econômica, o respeito a esses fundamentos econômicos
nos permitiu colher resultados positivos. Em todos os anos do meu primeiro
mandato, a inflação permaneceu abaixo do teto da meta e assim vai continuar.
Na economia, temos com o que nos preocupar, mas também temos
o que comemorar. O Brasil é hoje a 7ª economia do mundo, o 2º maior produtor e
exportador agrícola, o 3º maior exportador de minérios, o 5º país que mais
atrai investimentos estrangeiros, o 7º país em acúmulo de reservas cambiais e o
3º maior usuário de internet.
Além disso, é importante notar que a dívida líquida do setor
público é hoje menor do que no início do meu mandato. As reservas
internacionais estão em patamar histórico, na casa dos US$ 370 bilhões. Os
investimentos estrangeiros diretos atingiram, nos últimos anos, volumes
recordes.
Mais importante: a taxa de desemprego está nos menores
patamares já vivenciados na história de nosso país. Geramos 5 milhões e 800 mil
empregos formais em um período em que o mundo submergia no desemprego. Porém
queremos avançar ainda mais e precisamos fazer mais e melhor!
Por isso, no novo mandato vamos criar, por meio de ação
firme e sóbria, firme e sóbria na economia, um ambiente ainda mais favorável
aos negócios, à atividade produtiva, ao investimento, à inovação, à
competitividade e ao crescimento sustentável. Combateremos sem trégua a
burocracia. Tudo isso voltado para o que é mais importante e mais prioritário:
a manutenção do emprego e a valorização, muito especialmente a valorização do
salário mínimo, que continuaremos assegurando.
Mais que ninguém sei que o Brasil precisa voltar a crescer.
Os primeiros passos desta caminhada passam por um ajuste nas contas públicas,
um aumento na poupança interna, a ampliação do investimento e a elevação da
produtividade da economia. Faremos isso com o menor sacrifício possível para a
população, em especial para os mais necessitados. Reafirmo meu profundo
compromisso com a manutenção de todos os direitos trabalhistas e
previdenciários.
Temos consciência que a ampliação e a sustentabilidade das
políticas sociais exige equidade e correção permanente de distorções e
eventuais excessos. Vamos, mais uma vez derrotar a falsa tese que afirma
existir um conflito entre a estabilidade econômica e o crescimento do
investimento social, dos ganhos sociais e do investimento em infraestrutura.
Ao falar dos desafios da nossa economia, faço questão de
deixar uma palavra aos milhões de micro e pequenos empreendedores do Brasil. Em
meu primeiro mandato, aprimoramos e universalizamos o Simples e ampliamos a
oferta de crédito para os pequenos empreendedores.
Quero, neste novo mandato, avançar ainda mais. Pretendo
encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de lei criando um mecanismo de
transição entre as categorias do Simples e os demais regimes tributários. Vamos
acabar com o abismo tributário que faz os pequenos negócios terem medo de
crescer. E sabemos que, se o pequeno negócio não cresce, o país também não
cresce. Nos dedicaremos, ainda, a ampliar a competitividade do nosso país e de
nossas empresas.
Daremos prioridade ao desenvolvimento da ciência, da
tecnologia e da inovação, estimulando e fortalecendo as parcerias entre o setor
produtivo e nossos centros de pesquisa e universidades.
Um Brasil mais competitivo está nascendo também, a partir
dos maciços investimentos em infraestrutura, energia e logística. Desde 2007,
foram duas edições do Programa de Aceleração do Crescimento - o PAC-1 e o PAC-2
-, que totalizaram cerca de R$ 1 trilhão e 600 bilhões em investimentos em
milhares de kms de rodovias, ferrovias; em obras nos portos, nos terminais
hidroviários e nos aeroportos. Em expansão da geração e da rede de transmissão
de energia. Em obras de saneamento e ligações de energia do Luz para Todos.
Com o Programa de Investimentos em Logística, demos um passo
adiante, construímos parcerias com o setor privado, implementando um novo
modelo de concessões que acelerou a expansão e permitiu um salto de qualidade
de nossa logística. Asseguramos concessões de aeroportos e de milhares de km de
rodovia e a autorização para terminais privados nos portos.
Agora, vamos lançar o 3º PAC, o 3º Programa de Aceleração do
Crescimento e o segundo Programa de Investimento em Logística. Assim, a partir
de 2015 iniciaremos a implantação de uma nova carteira de investimento em
logística, energia, infraestrutura social e urbana, combinando investimento
público e, sobretudo, parcerias privadas. Vamos aprimorar os modelos de
regulação do mercado, garantir que o mercado privado de crédito de longo prazo,
por exemplo, se expanda. Garantir também que haja sustentação para os projetos
de financiamento de grande vulto.
Reafirmo ainda meu compromisso de apoiar estados e
municípios na tão desejada expansão da infraestrutura de transporte coletivo em
nossas cidades. Está em andamento na realidade uma carteira de R$ 143 bilhões
em obras de mobilidade urbana por todo o Brasil.
Assinalo que, neste novo mandato, daremos especial atenção à
infraestrutura que vai nos conduzir ao Brasil do futuro: a rede de internet em
banda larga. Em 2014, em um esforço conjunto com este Congresso Nacional, demos
ao Brasil uma das legislações mais modernas do mundo na área da internet, o
Marco Civil da Internet. Reitero aqui meu compromisso de, nos próximos quatro
anos, promover a universalização do acesso a um serviço de internet em banda
larga barato, rápido e seguro.
Quero reafirmar ainda o compromisso de continuar reduzindo
os desequilíbrios regionais, impulsionando políticas transversais e projetos
estruturantes, especialmente no Nordeste e na região da Amazônia. Foi decisivo
mitigar o impacto desta prolongada seca no semi-árido nordestino, mas mais
importante será a conclusão da nova e transformadora infraestrutura de recursos
hídricos perenizando mais de 1.000 km de rios, combinada com o importante
investimento social em mais de um milhão de cisternas.
Senhoras e Senhores,
Gostaria de anunciar agora o novo lema do meu governo. Ele é
simples, é direto e é mobilizador. Reflete com clareza qual será a nossa grande
prioridade e sinaliza para qual setor deve convergir o esforço de todas as
áreas do governo. Nosso lema será: BRASIL, PÁTRIA EDUCADORA!
Trata-se de lema com duplo significado. Ao bradarmos
"BRASIL, PÁTRIA EDUCADORA" estamos dizendo que a educação será a
prioridade das prioridades, mas também que devemos buscar, em todas as ações do
governo, um sentido formador, uma prática cidadã, um compromisso de ética e um
sentimento republicano.
Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um
futuro próspero. Democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a
um ensino de qualidade em todos os níveis – da creche à pós-graduação;
Significa também levar a todos os segmentos da população – dos mais
marginalizados, aos negros, às mulheres e a todos os brasileiros a educação de
qualidade.
Ao longo deste novo mandato, a educação começará a receber
volumes mais expressivos de recursos oriundos dos royalties do petróleo e do
fundo social do pré-sal. Assim, à nossa determinação política se somarão mais
recursos e mais investimentos.
Vamos continuar expandindo o acesso às creches e pré-escolas
garantindo para todos, o cumprimento da meta de universalizar, até 2016, o
acesso de todas as crianças de 4 e 5 anos à pré-escola. Daremos sequência à
implantação da alfabetização na idade certa e da educação em tempo integral.
Condição para que a nossa ênfase no ensino médio seja efetiva porque através
dela buscaremos, em parceria com os estados, efetivar mudanças curriculares e
aprimorar a formação dos professores. Sabemos que essa é uma área frágil no
nosso sistema educacional.
O Pronatec oferecerá, até 2018, 12 milhões de vagas para que
nossos jovens, trabalhadores e trabalhadoras tenham mais oportunidades de
conquistar melhores empregos e possam contribuir ainda mais para o aumento da
competitividade da economia brasileira. Darei especial atenção ao Pronatec
Jovem Aprendiz, que permitirá às micro e pequenas empresas contratarem um jovem
para atuar em seu estabelecimento.
Vamos continuar apoiando nossas universidades e estimulando
sua aproximação com os setores mais dinâmicos da nossa economia e da nossa
sociedade. O Ciência Sem Fronteiras vai continuar garantindo bolsas de estudo
nas melhores universidades do mundo para 100 mil jovens brasileiros.
Queridas e queridos brasileiros e brasileiras
O Brasil vai continuar como o país líder, no mundo, em
políticas sociais transformadoras. Aos beneficiários do Bolsa Família
continuaremos assegurando o acesso às políticas sociais e a novas oportunidades
de renda. Destaque será dado à formação profissional dos beneficiários adultos
e à educação das crianças e dos jovens.
Com a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida contrataremos
mais 3 milhões de novas moradias, que se somam aos 2 milhões de moradias
entregues até 2014 e às 1 milhão e 750 mil moradias que estão em construção e
que serão entregues neste segundo mandato.
Na saúde, reafirmo nosso compromisso de fortalecer o SUS.
Sem dúvida, a marca mais forte do meu governo, no primeiro mandato, foi a
implantação do Mais Médicos, que levou o atendimento básico de saúde a mais de
50 milhões de brasileiros, nas áreas mais vulneráveis do nosso país. Persistiremos,
ampliando as vagas em graduação e em residência médica, para que cada vez mais
jovens brasileiros possam se tornar médicos e assegurar atendimento ao povo
brasileiro. Neste segundo mandato, vou implantar o Mais Especialidades para
garantir o acesso resolutivo e em tempo oportuno aos pacientes que necessitem
de consulta com especialista, exames e os respectivos procedimentos.
Assumo, com todas as brasileiras e brasileiros, o
compromisso de redobrar nossos esforços para mudar o quadro da segurança pública
em nosso país. Instalaremos Centros de Comando e Controle em todas as capitais,
ampliando a capacidade de ação de nossas polícias e a integração dos órgãos de
inteligência e das forças de segurança pública. Reforçaremos as ações e a nossa
presença nas fronteiras para o combate ao tráfico de drogas e de armas com o
Programa Estratégico de Fronteiras, realizado em parceria entre as Forças
Armadas e as polícias federais, entre o Ministério de Defesa e o Ministério da
Justiça.
Vou, sobretudo, propor ao Congresso Nacional alterar a
Constituição Federal, para tratar a segurança pública como atividade comum de
todos os entes federados, permitindo à União estabelecer diretrizes e normas
gerais válidas para todo o território nacional, para induzir políticas uniformes
no país e disseminar a adoção de boas práticas na área policial.
Senhoras e senhores,
Investimos muito e em todo o país sem abdicar, um só
momento, do nosso compromisso com a sustentabilidade ambiental, a
sustentabildiade ambiental do nosso desenvolvimento. Um dado explicita este
compromisso: alcançamos, nos quatro anos de meu primeiro mandato, as quatro
menores taxas de desmatamento da Amazônia.
Nos últimos 4 anos, o Congresso Nacional aprovou um novo
Código Florestal e implementamos o Cadastro Ambiental Rural, o CAR. Vamos
aprofundar a modernização de nossa legislação ambiental e, já a partir deste
ano, nos engajaremos fortemente nas negociações climáticas internacionais para
que nossos interesses sejam contemplados no processo de estabelecimento dos parâmetros
globais de redução de emissões.
Nossa inserção soberana na política internacional continuará
sendo marcada pela defesa da democracia, pelo princípio de não-intervenção e
respeito à soberania das nações, pela solução negociada dos conflitos, pela
defesa dos Direitos Humanos, e pelo combate à pobreza e às desigualdades, pela
preservação do meio ambiente e pelo multilateralismo. Insistiremos na luta pela
reforma dos principais organismos multilaterais, cuja governança hoje não
reflete a atual correlação de forças global.
Manteremos a prioridade à América do Sul, América Latina e
Caribe, que se traduzirá no empenho em fortalecer o Mercosul, a Unasul e a
Comunidade dos Países da América Latina e do Caribe (Celac), sem discriminação
de ordem ideológica. Agradeço, inclusive, a presença de meus queridos colegas e
governantes da América Latina aqui presentes. Da mesma forma será dada ênfase a
nossas relações com a África, com os países asiáticos e com o mundo árabe.
Com os Brics, nossos parceiros estratégicos globais - China,
Índia, Rússia e África do Sul –, avançaremos no comércio, na parceria
científica e tecnológica, nas ações diplomáticas e na implementação do Banco de
Desenvolvimento dos Brics e na implementação também do acordo contingente de
reservas.
É de grande relevância aprimorarmos nosso relacionamento com
os Estados Unidos, por sua importância econômica, política, científica e
tecnológica, sem falar no volume de nosso comércio bilateral. O mesmo é válido
para nossas relações com a União Européia e com o Japão, com os quais temos
laços fecundos.
Em 2016, os olhos do mundo estarão mais uma vez voltados
para o Brasil, com a realização das Olimpíadas. Temos certeza que mais uma vez,
como aconteceu na Copa, vamos mostrar a capacidade de organização do Brasil e,
agora, numa das mais belas cidades do mundo, o nosso Rio de Janeiro.
Amigos e amigas,
Tudo que estamos dizendo, tudo que estamos propondo converge
para um grande objetivo: ampliar e fortalecer a democracia, democratizando
verdadeiramente o poder. Democratizar o poder significa lutar pela reforma
política, ouvir com atenção a sociedade e os movimentos sociais e buscar a
opinião do povo para reforçar a legitimidade das ações do Executivo.
Democratizar o poder significa combater energicamente a corrupção. A corrupção
rouba o poder legítimo do povo. A corrupção ofende e humilha os trabalhadores,
os empresários e os brasileiros honestos e de bem. A corrupção deve ser
extirpada.
O Brasil sabe que jamais compactuei com qualquer ilícito ou
malfeito. Meu governo foi o que mais apoiou o combate à corrupção, por meio da
criação de leis mais severas, pela ação incisiva e livre de amarras dos órgãos
de controle interno, pela absoluta autonomia da Polícia Federal como
instituição de Estado, e pela independência sempre respeitada diante do
Ministério Público. Os governos e a Justiça estarão cumprindo os papéis que se
espera deles: se punirem exemplarmente os corruptos e os corruptores.
A luta que vimos empreendendo contra a corrupção e,
principalmente, contra a impunidade, ganhará ainda mais força com o pacote de
medidas que me comprometi durante a campanha, e me comprometo a submeter à
apreciação do Congresso Nacional ainda neste primeiro semestre.
São cinco medidas: transformar em crime e punir com rigor os
agentes públicos que enriquecem sem justificativa ou não demonstrem a origem
dos seus ganhos; modificar a legislação eleitoral para transformar em crime a
prática de caixa 2; criar uma nova espécie de ação judicial que permita o
confisco dos bens adquiridos de forma ilícita ou sem comprovação; alterar a
legislação para agilizar o julgamento de processos envolvendo o desvio de
recursos públicos; e criar uma nova estrutura, a partir de negociação com o
Poder Judiciário que dê maior agilidade e eficiência às investigações e
processos movidos contra aqueles que têm foro privilegiado.
Em sua essência, essas medidas têm o objetivo de garantir
processos e julgamentos mais rápidos e punições mais duras, mas jamais poderão
agredir o amplo direito de defesa e o contraditório; jamais poderão significar
a condenação prévia sem defesa de inocentes.
Estou propondo um grande pacto nacional contra a corrupção,
que envolve todas as esferas de governo e todos os núcleos de poder, tanto no
ambiente público como no ambiente privado.
Senhoras e Senhores,
Como fiz na minha diplomação, quero agora me referir a nossa
Petrobras, uma empresa com 86 mil empregados dedicados, honestos e sérios, que
teve, lamentavelmente, alguns servidores que não souberam honrá-la, sendo
atingidos pelo combate à corrupção.
A Petrobras já vinha passando por um vigoroso processo de
aprimoramento de gestão. A realidade atual só faz reforçar nossa determinação
de implantar, na Petrobras, a mais eficiente e rigorosa estrutura de governança
e controle que uma empresa já teve no Brasil.
A Petrobras é capaz disso e capaz de muito mais. Ela se
tornou a maior empresa do mundo em capacitação técnica para a prospecção de
petróleo em águas profundas. Daí resultou a maior descoberta de petróleo deste
início de século – as jazidas do pré-sal -, cuja exploração, que já é
realidade, vai tornar o Brasil um dos maiores produtores de petróleo do
planeta.
Temos muitos motivos para preservar e defender a Petrobras
de predadores internos e de seus inimigos externos. Por isso, vamos apurar com
rigor tudo de errado que foi feito e fortalecê-la cada vez mais. Vamos,
principalmente, criar mecanismos que evitem que fatos como estes possam voltar
a ocorrer. O saudável empenho da Justiça, de investigar e punir, deve também
nos permitir reconhecer que a Petrobras é a empresa mais estratégica para o
Brasil e a que mais contrata e investe no país.
Temos, assim, que saber apurar e saber punir, sem
enfraquecer a Petrobras, nem diminuir a sua importância para o presente e para
o futuro. Não podemos permitir que a Petrobras seja alvo de um cerco
especulativo de interesses contrariados com a adoção do regime de partilha e da
política de conteúdo nacional, partilha e política de conteúdo nacional que
asseguraram ao nosso povo o controle sobre nossas riquezas petrolíferas. A
Petrobras é maior do que quaisquer crises e, por isso, tem capacidade de
superá-las e delas sair mais forte.
Queridos brasileiros e queridas brasileiras,
O Brasil não será sempre um país em desenvolvimento. Seu
destino é ser um país desenvolvido e justo, e é este destino que estamos
construindo e buscando cada vez mais, com o esforço de todos, construir. Uma
nação em que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades: de estudar,
trabalhar, viver em condições dignas na cidade ou no campo. Um país que
respeita e preserva o meio ambiente e onde todas as pessoas podem ter os mesmos
direitos: à liberdade de informação e de opinião, à cultura, ao consumo, à
dignidade, à igualdade independentemente de raça, credo, gênero ou sexualidade.
Dedicarei obstinadamente todos os meus esforços para levar o
Brasil a iniciar um novo ciclo histórico de mudanças, de oportunidades e de
prosperidade, alicerçado no fortalecimento de uma política econômica estável,
sólida, intolerante com a inflação, e que nos leve a retomar uma fase de
crescimento robusto e sustentável, com mais qualidade nos serviços públicos.
Assumo aqui um compromisso com o Brasil que produz e com o Brasil que trabalha.
Reafirmo também o meu respeito e a minha confiança no Poder
Judiciário, no Congresso Nacional, nos partidos e nos representantes do povo
brasileiro. Reafirmo minha fé na política, na política que transforma para
melhor a vida do povo. Peço aos senhores e às senhoras parlamentares que
juntemos as mãos em favor do Brasil, porque a maioria das mudanças que o povo
exige tem que nascer aqui, na grande casa do povo.
Meus amigos e minhas amigas,
Já estive algumas vezes um pouco perto da morte e destas
situações saí uma pessoa melhor e mais forte.
Sou ex-opositora de um regime de força que provocou em mim
dor e me deixou cicatrizes, mas não tenho nenhum revanchismo. Mas este processo
jamais destruiu em mim o sonho de viver num país democrático e a vontade de
lutar e de construir este país cada vez melhor. Por isso, sempre me emociono ao
dizer que eu sou uma sobrevivente. Também enfrentei doenças mas, se me
permitem, quero dizer mais: pertenço a uma geração vencedora. Uma geração que
viu a possibilidade da democracia no horizonte e viu ela se realizar.
Essas duas características, elas me aproximam do povo
brasileiro - ele também, um sobrevivente e um vitorioso, que jamais abdica de
seus sonhos. Luta para realizá-los.
Deus colocou em meu peito um coração cheio de amor pela
minha pátria. Antes de tudo, o que a música cantava, um coração valente, não é
que a gente não tem medo de nada, a gente controla o medo. Um coração que
dispara no peito com a energia do amor, do sonho e, sobretudo, com a
possibilidade de construir um Brasil desenvolvido. Eu não tenho medo de
proclamar para vocês que nós vamos vencer todas as dificuldades, porque temos a
chave para vencê-las, vencer todas as dificuldades.
Esta chave pode ser resumida num verso, e esse verso tem, de
uma certa forma, sabor de oração, que diz o seguinte:
"O impossível se faz já; só os milagres ficam para
depois".
Muito Obrigada.
Viva o Brasil e viva o povo brasileiro!
(Fonte:
http://www2.planalto.gov.br/…/discurso-da-presidenta-da-rep…)