quarta-feira, 30 de julho de 2014

‘Lección sobre la lección


Enlace: https://anonfiles.com/file/f5f9683c8c80ff2924d2a92c1a9a57bd

En esta lección inaugural con ocasión de su ingreso en el Collége de France, en 1982, Pierre Bourdieu impartió una suerte de metalección («lección sobre la lección inaugural de sociología consagrada a la sociología de la lección inaugural») en la que dejó muy clara su noción de la sociología : no una ciencia descriptiva de la sociedad, sino una interrogación acerca de la «violencia simbólica» con que se «trata de imponer la verdad parcial de un grupo como la verdad de las relaciones objetivas entre los grupos». Así, la sociología es, ella misma, objeto de su propia labor de investigación: «en la sociología, tal como yo la concibo, todas las proposiciones que esta ciencia enuncia pueden y deben aplicarse al sujeto que hace la ciencia» . Para Bourdieu, el sociólogo es una especie de policía del capital simbólico, que permanece atento a los engaños que la cultura establecida siempre querrá imponer; por eso su labor no puede no ser política: se tratará de detectar en qué momento el racismo, la demagogia o el populismo aparecen en el discurso del periodista, del ministro, del libro de texto. En este sentido, Bourdieu rinde homenaje a Marx, «fundador de la sociología del conocimiento», y a Foucault, quien forma parte de «la gran tradición de epistemología histórica», de la que también participa Canguilhem. Bourdieu agrega, en esa senda, que «no hay crítica epistemológica sin crítica social». Un texto que puede ser una excelente introducción a la obra de Bourdieu y también, para los iniciados, un documento histórico a la par que un interesante resumen de las ideas esenciales del autor a mediados de su carrera intelectual.



 PIERRE BOURDIEU
Todos os anos exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de florestas e até inúmeras palavras das nossas línguas. A cada minuto extinguimos uma espécie de aves e alguém em algum lugar recôndito contempla pela última vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz não se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por concluir. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática como a ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efêmeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tribo da sensibilidade...


José Saramago, in 'Revista Universidad de Antioquia (2001)'

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Passageiros entre palavras fugazes


(Mahmud Darwish)

Carreguem os vossos nomes e vão-se embora,
Cancelem as vossas horas do nosso tempo e vão-se embora,
Levem o que quiserem do azul do mar
E da areia da memória,
Tirem todas as fotos que vos apetecer para saberem
O que nunca saberão:
Como as pedras da nossa terra
Constroem o tecto do céu.
Passageiros entre palavras fugazes:
Vocês têm espadas, nós o sangue,
Têm o aço e o fogo, nós a carne,
Têm outro tanque, nós as pedras,
Têm gases lacrimogéneos, nós a chuva.
Mas o céu e o ar
São os mesmos para todos.
Levem uma porção do nosso sangue e vão-se embora,
Entrem na festa, jantem e dancem...
Depois vão-se embora
Para nós cuidaremos das rosas dos mártires
E viveremos como queremos.
Passageiros entre palavras fugazes:
Como poeira amarga, passem por onde quiserem, mas
Não passem entre nós como insectos voadores
Porque temos guardada a colheita da nossa terra.
Temos trigo que semeámos e regámos com o orvalho dos nossos corpos
E temos aqui o que não vos agrada:
Palavras e pudor
Se quiserem, levem o passado ao mercado de antiguidades
E devolvam o esqueleto à poupa
Numa travessa de porcelana.
Temos o que não vos agrada: o futuro
E o que semeamos na nossa terra.
Passageiros entre palavras fugazes:
Amontoem as vossas fantasias numa
Sepultura abandonada e vão-se embora,
Devolvam os ponteiros do tempo à lei do bezerro de ouro
Ou ao horário musical do revólver
Porque aqui temos o que não vos agrada.
Vão-se embora
E temos o que não vos pertence:
Uma pátria e um povo exangue,
Um pais útil para o olvido e para a memória.
Passageiros entre palavras fugazes:
É hora de vocês se irem embora.
Fiquem onde quiserem, mas não entre nós.
É hora de se irem embora
Para morrerem onde quiserem, mas não entre nós
Porque nós temos trabalho na nossa terra
E aqui temos o passado,
A voz inicial da vida,
E temos o presente e o futuro,
Aqui temos esta vida e a outra.
Vão-se embora da nossa terra,
Da nossa terra, do nosso mar,
Do nosso trigo, do nosso sal, das nossas feridas,
De tudo... vão-se embora
Das recordações da memória,
Passageiros entre palavras fugazes

Israel e a questão Palestina

Ricardo Costa de Oliveira
Muito ruim a posição do governo de Israel. Lembremos que os judeus sem amigos causaram a sua expulsão de Portugal e posteriormente também do Brasil, depois que perderam a guerra com os holandeses, em 1654. Desproporcional foi o Brasil ter recebido milhares de judeus fugidos do nazismo alemão. Desproporcional foi Osvaldo Aranha ter contribuído decisivamente na criação de Israel pela ONU. Podemos percorrer 4.000 km em linha reta dentro do nosso país porque somos gigantes. O massacre em massa de crianças e mulheres é um genocídio e sempre será condenado pela maioria dos países.
Sergio Amaral E pela primeira vez na história o Brasil retira seu embaixador ...para consultas ...Inadimissível a frieza do governo sionista...
Ricardo Costa de Oliveira
Gutenberg Alves Fortaleza Teixeira Mais uma vez Ricardo Costa de Oliveira, foi lúcido e correto, sem se prender as paixões!! Para resolver qualquer problema devemos abandonar uma opinião subjetiva e buscar com base na racionalidade a lógica que se planteia...
Maria Marce Moliani Concordo com sua colocação Ricardo Costa de Oliveira e achei muito acertada a decisão de chamar o Embaixador depois da resposta ofensiva de Israel ao Brasil. Nas relações internacionais o Brasil sempre se posicionou firmemente agressivas e de desrespeito por parte de nações mais poderosas e por isso é um membro respeitado na ONU. Acho que é o momento de nos posicionarmos firmemente a respeito da criação do Estado Palestino e os argumentos que foram usados para a criação de Israel se aplicam perfeitamente para a criação desse Estado.
Drelenay Prado Mafra Oi Ricardo, não sei se entendi ou confundi o trecho de seus post em que fala sobre "os judeus sem amigos causaram a sua expulsão de Portugal e depois do Brasil, depois que perderam a guerra com os holandeses em 1654." Nesse período e até o Século XIX ainda havia a questão da Inquisição, e ficava em Portugal ou no Brasil, quem se tornava Cristão-Novo, pagava para ficar no lugar ou então, ia para outro país cumprir alguma função e olha que muitos perdiam tudo ou se não perdiam, pagavam impostos altos. E olha que não havia tantos pobres entre eles. https://www.youtube.com/watch?v=fBsemwK4DJc Este link mostra um vídeo de um Rabino a explicar a situação sobre o que está a acontecer no Estado de Israel e explica a diferença entre Judaísmo Ortodoxo e o Judaísmo Sionista. Acho útil!
Judeus Contra Sionismo, Contra a Opressão do Estado Israelita
Rabino Dovid Weiss fala sobre o roubo da imagem publica da religião Judaica pelo sinistro movimento ateu, o Sionismo, primeira fonte de anti-semitismo no mun...
Drelenay Prado Mafra Salmo, eu não fiz pra enfeitar. Eu partilhei algo que um Rabino judeu julgou ser necessário falar. E sinto te dizer, mas tenho parentes e amigos que pertenceram ou pertencem ao Judaísmo. Então, eu digo e afirmo, eles também dizem o mesmo, que o verdadeiro judeu, tal como o cristão ou outro religioso que entende a espiritualidade da fé e da religião que escolheu, não mata. Eu nenhum momento falei que o Estado de Israel era assim ou assado. Pelo jeito você não viu o vídeo, eles diz que há pessoas judias que têm um outro tipo de idéia e distorcem a sua religião e os conceitos que lhe pertencem. Como um cristão do Século XV ou os de agora que por achar que os outros eram ou são um nada, condenam e fazem palhaçadas ou barbaridades a partir disto. Então, por favor. Comente a sua opinião, mas não me inclua em seus comentários, porque eu quis trocar uma idéia com o Prof. Ricardo e não com você. Obrigada de qualquer forma.
Ricardo Costa de Oliveira Salmo, A Resolução S21 aprovada pela maioria dos países no Conselho de Direitos Humanos da ONU é correta. Eu não tenho nenhuma simpatia, afinidade ou cumplicidade com governos assassinos como os descritos na resolução. Quem apóia este tipo de violência militar contra crianças e mulheres está cada vez mais isolado politicamente no mundo e no Brasil. 21st special session of the Human Rights Council on the human rights situation in the Occupied Palestinian Territory, including East Jerusalem - 23 July 2014 http://www.ohchr.org/.../Pages/21stSpecialSession.aspx21st Special Session
www.ohchr.org
Office of the High Commissioner for Human Rights
Ricardo Costa de Oliveira "O comitê de Aécio Neves deu aval à posição do Itamaraty contra a ofensiva de Israel na faixa de Gaza. Responsável pelo programa de política externa do tucano, o embaixador Rubens Barbosa concorda com o governo nas críticas à "desproporcionalidade" dos ataques israelenses. Para ele, o país deve se manter firme em favor da criação do Estado palestino e da negociação pelo fim do confronto armado. Barbosa reprovou a reação de Israel, que chamou o Brasil de "anão diplomático". http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/177601-painel.shtml
Ricardo Costa de Oliveira Concordamos neste ponto. O primeiro passo é o fim dos massacres contra a população civil. Os judeus foram expulsos de Pernambuco, em 1654, porque estavam associados com os agressores holandeses. Eles chegaram em Nieuw-Amsterdam, Nova Amsterdam, colônia holandesa tal como o Suriname e Curaçao, para onde também se deslocaram muitos judeus. Os ingleses conquistaram Nieuw-Amsterdam somente em 1664 e depois mudaram o nome para New York, Nova Iorque. http://www.brown.edu/.../John.../judaica/pages/curacao.html
Jews and the Americas
www.brown.edu
In the mid-seventeenth century, Spain was greatly concerned by the rising milita...Ver mais
Gustavo Lemos Para mim, o Brasil quer marcar território no campo diplomático com vistas a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. China e Rússia sempre vetaram essa pretensão, por considerarem nosso país alinhado com os americanos. A atitude brasileira no meu entender foi uma tentativa desastrada de quebrar essa escrita.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/177601-painel.shtml
www1.folha.uol.com.br
João Simões Lopes Filho O cerne da questão vai além da escolha do lado. A causa foram os europeus e americanos que ao recriar um país artificial baseado em fronteiras vagas de 2.000 anos antes ignorou que já existia um povo ali habitando. Para compensar os judeus pelo que eles sofreram (nas mãos dos europeus), acabou-se criando um conflito interminável. Imagina se a ONU decidisse que um país africano fosse dado para afro-americanos para que eles voltasse para uma terra de origem, expulsando os africanos do lugar para regiões pequenas e periféricas?
Salmo Raskin João Simoes, a Partilha não foi feita pelos Americanos, e não ignorou que já existia um povo ali habitando, o território foi divido em dois, um para cada Povo. A ONU, a pedido do Reino Unido, elaborou o plano de partição da área do Mandato Britânico da Palestina. O plano consistia na partição da banda ocidental do território em dois Estados - um judeu e outro árabe -, ficando as áreas de Jerusalém e Belém sob controlo internacional. 53% do território seriam atribuídos aos 700 mil judeus, e 47% aos 1 milhão e 400 mil árabes sendo desses 900 mil que imigraram durante o inicio do seculo XX e 500 mil viviam no local (antes desse acontecimento, judeus provenientes da europa ocidental e do norte da africa também já haviam imigrado a Palestina se juntando a outros poucos milhares de judeus que viviam historicamente ali , anteriormente a publicação dos Livros Brancos, e comprado 65% das terras daquela região, do antigo mandato Turco-Otomano, por isso essa proporção de terras).
João Simões Lopes O problema é que foi uma decisão arbitrária, o fato de que estes emigrantes teriam direito a ter um país próprio. Foi uma engenharia geopolítica arriscada, cujos frutos até hoje os habitantes de lá colhem, sem possamos culpa o povo judeu ou o palestino que herdou essa situação. É natural que os segmentos árabes mais radicais se opusessem a partilha, o que não justifica, é claro, a violência e o fanatismo. Para piorar o cenário existe o elemento religioso que põe pimenta na mistura: segmentos obscurantistas do fundamentalismo islâmico prontos para uma jihad sem limites, e o fundamentalismo judaico, baseando-se em limites traçados na Bíblia cuja base histórica é discutível. Só que a divisão foi feita, enfiada goela abaixo dos árabes, que partiram para a guerra, e perderam, para um adversário muito mais poderoso, e aí ficaram encurralados em métodos terroristas.
Ricardo Costa de Oliveira O João aponta importantes questões. Salmo, leia os textos com atenção. Eu marquei o começo do texto e citei o link de referência, que você utilizou. A Resolução da ONU, muito bem votada pelo Brasil, também condena os foguetes lançados contra Israel e que mataram duas pessoas. Veja o item 3. Condemns all violence against civilians wherever it occurs, including the killing of two Israeli civilians as a result of rocket fire, and urges all parties concerned to respect their obligations under international humanitarian law and international human rights law; S-21/1 Ensuring respect for international law in the Occupied Palestinian Territory, including East Jerusalem. http://www.ohchr.org/.../Pages/21stSpecialSession.aspx
21st Special Session
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Office of the High Commissioner for Human Rights
João Simões Lopes Filho Qualquer proposta de divisão territorial geraria descontentamentos, principalmente se tratando de uma divisão entre um povo já presente, e outro imigrante mais recente. Era um proposta não muito diferente da visão romântica do Lebensraum alemão, que consistiaem acreditar que a Alemanha tinha legitimidade em reclamara autoridade sobre territórios na Polônia, Tchecoslováquia, Áustria, porque fariam parte de uma idealizada pátria germânica ancestral. O mais correto teria sido dar independência à Palestina, e deixar que os judeus continuassem livremente migrando para lá. Claro que as consequência seriam imprevisíveis. Teríamos uma sociedade mista mais harmoniosa, ou mais cedo ou mais tarde o choque entre fundamentalismos descambaria para conflitos étnicos?

21st special session of the Human Rights Council on the human rights situation in the Occupied Palestinian Territory, including East Jerusalem - 23 July 2014http://www.ohchr.org/.../Pages/21stSpecialSession.aspx
https://fbexternal-a.akamaihd.net/safe_image.php?d=AQDWldgFZec-svIp&w=154&h=154&url=http%3A%2F%2Fwww.ohchr.org%2FSiteCollectionImages%2FDesign%2FEN%2Fheader_EN.jpg

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A ESTA TERRA QUE SOFRE


A esta terra que sofre,
Diminuída, mutilada,
À procura de si própria,
Perdida, abandonada.
Mas ouvi, ó portugueses,
Corruptos ou estrangeiros,
Tontos, traidores, burocratas,
Ingénuos, fanatizados,
E vós também, os fiéis
Da verdade da raiz,
Ouvi o que diz o povo,
Ouvi a voz do país.
Portugal somos ainda,
Porque a semente que outrora
Germinou em terra ingrata,
Há-de reviver agora!
Em cada volta do tempo,
De novo começa o mundo.
Juventude, redescobre
O Portugal mais profundo!
(....)
Transviados, cabisbaixos,
Levantai o vosso olhar!
Pátria antiga, que sofreste
Há mais mar, p'ra além do mar!
(...)

António Quadros

POÉTICA CONTRADITÓRIA


Não digas o que sabes nos teus versos,
Deixa para trás a ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti não for ausência
São ideais perdidos, ou submersos.
Abandona-te às vozes que não ouves,
E liberta os teus deuses nos teus dedos;
Não busques os sorrisos, mas os medos,
E o que não for ignoto e só, não louves.
Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos.
É uma imagem heroica dos teus prantos.
Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um escritor, mas um profeta.

António Quadros


António Gabriel de Quadros Ferro, conhecido como António Quadros (Lisboa, 14 de Julho de 1923 — Lisboa, 21 de Março de 1993), filósofo, escritor, professor universitário e tradutor português.

Nostalgia

Na casa não é ainda madrugada
E deitada a meu lado a nostalgia
Dorme e recupera suas forças.
Fatiga muito a companhia
De um negro rebelde e romântico.
Tem ela quinze anos ou mil anos
Ou apenas acaba de nascer
E é o seu primeiro sono
Sob o mesmo teto que meu coração.
Há quinze anos ou há muitos séculos
Levanto-me sem poder falar
O idioma do meu povo,
Sem o bom-dia de seus deuses pagãos
Sem o sabor de seu pão de mandioca
Sem o cheiro do seu café da manhã.
Acordo distante de minhas raízes,
Longe da infância,
Longe da minha própria vida.
Há quinze anos ou desde que meu sangue
Atravessou, chorando, o mar
A primeira vida que saúdo ao despertar
É esta desconhecida de fronte tão pura
Que um dia será cega
À força de usar seus olhos verdes
A contar os tesouros que perdi.

René Depestre
- Poeta haitiano - Do livro “Jornal de um animal marinho”, 1964

Tradução de Idelma Ribeiro de Faria (Editora Hucitec)

[Poesia dificilmente se transforma em mercadoria, e por isso é indesejável] by Paulo Leminski

Priscila Merizzio Bem isso.
Vox Urbe Da coletânea de entrevistas do projeto Um Escritor na Biblioteca, da Biblioteca Pública Do Paraná.
Ricardo Pedrosa concordo, mas o poeta autor da frase foi transformado em mercadoria.
Priscila Merizzio Afinal: o poeta deve ou não tirar sustento de sua poesia? Pergunta que repasso over and over e não concluo nothing. Ricardo Pedrosa e Ricardo Pozzo, alguma opinião sobre?
Vox Urbe acho que os anos 80 não se comparam a hoje em dia. ma\s é uma verdade ainda válida, a poesia, como a mais injustiçada das artes é a que irremediavelmente está condicionada ao lugar de "inutensílio".
Priscila Merizzio Entrevistei Contador Borges ano passado e ele disse que o escritor que vive da própria escrita pode comprometer a qualidade da mesma. Acho que concordo, sabia?
Vox Urbe hoje há o caso da Editora Cozinha Experimental e da Editora Patuá como dois exemplos apenas de que há pessoas que investem em poesia, mesmo que não seja um sucesso de lucratibilidade.
Priscila Merizzio Poesia e arte em geral, INFELIZMENTE, é artigo de luxo no Brasil.
Ricardo Pedrosa não vejo bem como um problema do escritor, mas uma situação social: o intelectual como profissional é característica de sociedades de capitalismo avançado. aqui a nossa constituição histórica nos levou mais para uma dimensão da honra do que da profissionalização. o dinheiro nos impediria de sermos puros e de buscarmos a verdade, o belo, o bem etc. então vivemos de honra. é um masoquismo honrado. acho uma merda.
Vox Urbe quanto ao Leminski ter se tornado mercadoria, dom Pedrosa, é uma verdade irrefutável, porém isso se torna única verdade apenas quando não temos o argumento de uma crítica astuta, que aliás, é um dos legados mais importantes do próprio Leminski.
Priscila Merizzio O Leminski me parece, dadas as proporções, como Mario Quintana. O povo conhece apenas os versos até mais simplórios do velhinho. Li sua obra completa dia desses e ele é excelente poeta. Leminski está indo para o mesmo caminho, de ficar com fama de poeta "batatinha quando nasce" e, com isso, desestimular "novos escritores" a engajaram-se em sua escrita..
Vox Urbe Não acho que o Leminski corra mais esse risco depois de Toda Poesia, mas o mais importante do Leminski e que, aí sim o povo desconhece, é o Leminski intelectual marxista, que bagunçou, e ainda bagunça, a mentalidade classe média brasileira.
Priscila Merizzio Espero mesmo que ele não corra esse risco. Li alguns comentários bem ignorantes sobre a obra dele, por isso fiquei apreensiva que ele tivesse fama de "quirera literária". O "Toda Poesia" é excelente! E Leminski foi professor de literatura, uma pá de coisas. Tenho a biografia dele, escrita por Toninho Vaz, e ela esclarece muito sobre a vida intelectual do autor.


Marcelo De Angelis Mercadoria é capa de caderno, camiseta, caneca. Mas se tem poesia impressa nelas, ótimo! Melhor do que aquelas frases em inglês sem significado algum, aplicadas aqui e ali trazendo sentido nenhum à vida de quem lê.

O cenário político da América Central

Hugo Allan Matos

O cenário político da América Central vem passando por importantes mudanças nos últimos tempos. Especialmente Costa Rica, El Salvador e Honduras demonstram essa tendência. Apesar disso, ainda é preciso cautela, pois não há garantias que as mudanças significarão um novo jeito de fazer política, voltado para o povo e não para as elites oligárquicas ultraconservadoras. A análise é de Albrecht Koschützke e Hajo Lanz, no documento "Três tênues luzes de esperança - As forças de esquerda ganham impulso em três países centro-americanos”.

Há quase um século, a Costa Rica não vivenciava eleições tão intensas. Após a confirmação de que haveria segundo turno nas eleições presidenciais, o candidato Johnny Araya, do Partido Liberação Nacional (PLN) – o mesmo de Laura Chinchilla e Óscar Arias – abandonou a disputa e abriu espaço para a vitória de Luis Guillermo Solís, do Partido Ação Cidadã (PAC). Até bem pouco tempo, Solís era uma figura pouco conhecida pela população, mesmo assim foi eleito com 80% dos votos.

"Não se pode falar de um deslocamento para a esquerda como consequência dessas eleições. O que se verifica é, na verdade, um distanciamento dos partidos tradicionais, o PLN e o PUSC. Isso sim constitui uma tendência persistente. Apesar de que os habitantes da Costa Rica não se situaram necessariamente mais a esquerda do que em eleições anteriores, os eleitores são agora mais jovens, críticos, informados e urbanos. São fortes defensores de seu sistema democrático, de suas conquistas sociais e de sua ambição por êxito econômico e ascensão social”, analisa o documento.

No Panamá, desde 2009, o Partido Revolucionário Democrático (PRD), maior partido do país, vem sofrendo enfraquecimento, disputas internas e perda de espaço. O mesmo vem acontecendo com o Câmbio Democrático (CD), partido do ex-presidente Ricardo Martinelli. O enfraquecimento das legendas tradicionais deu espaço para o surgimento de novos grupos de interesses políticos e permitiu a vitória de Juan Carlos Varela (Partido Panamenhista), que assumiu a cadeira presidencial na última terça-feira, 1º de julho. Entretanto, não há grandes expectativas em torno de seu governo; acredita-se que ela vá continuar a política de Martinelli.

Sobre o cenário político da Nicarágua, comandado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), os autores destacam algumas polêmicas, como a manipulação da decisão da Corte Suprema de Justiça, que declarou a invalidade no artigo 147 da Constituição (proibição da reeleição imediata do presidente). O documento considera que a Frente Sandinista perdeu toda sua credibilidade, entre outros motivos, porque o governo foi corrompido por interesses particulares.

Pela primeira vez na história, Honduras tem uma oposição parlamentar. Com a chegada do Partido Libre, nascido a partir do movimento antigolpista ‘Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP)’ foi quebrado o bipartidarismo. Apesar de ter perdido as eleições presidenciais de 2013, o Libre é hoje o partido opositor mais poderoso do país e considerado como a segunda força do Parlamento. "Esse partido pode modificar a democracia hondurenha, o trabalho parlamentar e o discurso político do país”, destacam Albrecht Koschützke e Hajo Lanz.

Em El Salvador, mais uma vez, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional - FMLN conquistou a cadeira presidencial. Com o fim do governo de Mauricio Funes, cuja atuação despertou críticas até mesmo dentro do partido, teve início a era Sanchez Cerén, considerado um presidente realmente de esquerda e com raízes na FMLN. O documento destaca que a apertada vitória de Cerén obriga o governo a não defraudar as esperanças do povo de que as reformas iniciadas continuem.

Na Guatemala, não há registro de mudanças políticas. Os partidos se encontram fragmentados, muitos têm uma curtíssima vida útil. Nos últimos 20 anos, surgiram 60 partidos e, atualmente, há mais de 20, sendo que poucos têm plenas condições de apresentar um projeto e um programa político dignos dos problemas enfrentados pelo país.

Os autores analisam os avanços encontrados no cenário político centro-americano com cuidado para não gerar expectativas em excesso e destacam: "Se as forças progressistas poderão tornar realidade as esperanças é algo ainda incerto. Não tem acontecido grandes debates programáticos e não se destaca necessariamente uma nova cultura política. Por isso, resta esperar se o PAC, a Frente Ampla, o Libre e o FMLN se afirmarão como partidos programáticos, ao invés de serem associações eleitorais tradicionais, se a democracia interna nos partidos se tornará realidade e deixará de ser uma mera promessa, e se os partidos poderão, finalmente, transformar seu discurso em uma política prática”.


Leia a análise completa em: http://www.nuso.org/upload/articulos/PERSPECTIVA%20Koschuetzke%20Lanz.pdf.

Contra el fatalismo económico


El neoliberalismo es una poderosa teoría económica cuya estricta fuerza simbólica, combinada con el efecto de la teoría, redobla la fuerza de las realidades económicas que supuestamente expresa. Sostiene la filosofía espontanea de los administradores de las grandes multinacionales y de los agentes de la gran finanza, en especial los agentes de Fondos de pensión. Seguida en todo el mundo por políticos nacionales e internacionales, funcionarios oficiales y especialmente por el mundillo de los periodistas tradicionales –todos más o menos igualmente ignorantes de la teología matemática subyacente– se está transformando en una creencia universal, en un nuevo evangelio ecuménico. Este evangelio, o más bien la vulgarización gradual que se ha hecho a nombre del liberalismo en todos los lugares, está confeccionada con una colección de palabras mal definidas –”globalización”, “flexibilidad”, “desrregulación” y otras– que, a través de sus connotaciones liberales e incluso libertarias pueden ayudar a dar la apariencia de un mensaje de libertad y liberación a una ideología que se piensa a sí misma como opuesta a toda ideología.

De hecho, esta filosofía tiene y reconoce como su único objetivo la permanente creación de riqueza y, más secretamente, su concentración en manos de una minoría privilegiada, y por lo tanto conduce un combate por cualquier medio, incluso la destrucción del medio ambiente y el sacrificio humano, contra cualquier obstáculo a la maximización de las ganancias. Seguidores del laisser-faire, como Thatcher, Reagan y sus sucesores ponen cuidado en la práctica no del laisser-faire sino, al contrario, en dar mano libre a la lógica de los mercados financieros para llevar adelante una guerra total contra los sindicatos, contra las adquisiciones sociales de los últimos siglos, en una palabra, contra todas las formas de civilización asociadas con el estado social.

PIERRE BOURDIEU 

Todo hombre necesita contar con un parresiastés


Extractado de Discurso y verdad en la antigua Grecia, conferencias dictadas en la Universidad de Berkeley en 1983, de próxima aparición (editorial Paidós).

Se dice que alguien utiliza la parresía y merece consideración como parresiastés sólo si hay un riesgo o un peligro para él en decir la verdad. Por ejemplo, desde la perspectiva de los antiguos griegos, un profesor de gramática puede decir la verdad a los niños a los que enseña y, en efecto, puede no tener ninguna duda de que lo que enseña es cierto: pero, a pesar de esa coincidencia entre creencia y verdad, no es un parresiastés. Sin embargo, cuando un filósofo se dirige a un soberano, a un tirano, y le dice que su tiranía es molesta y desagradable porque la tiranía es incompatible con la justicia, entonces el filósofo dice la verdad, cree que está diciendo la verdad y, más aún, también asume un riesgo (ya que el tirano puede enfadarse, castigarlo, exiliarlo, matarlo).

MICHEL FOUCAULT

Parresía

La palabra parresía aparece por vez primera en la literatura griega en Eurípides (484-407 a.C.), y recorre todo el mundo literario griego de la Antigüedad desde finales del siglo V a.C. Parresía es traducida normalmente al castellano por `franqueza´. El parresiastés es alguien que utiliza la parresía, es decir, alguien que dice la verdad.
Etimológicamente, parresiazesthai significa `decir todo´. Aquel que usa la parresía, el parresiastés, es alguien que dice todo cuanto tiene en mente: no oculta nada sino que abre su corazón y su alma por completo a otras personas a través de su discurso. En la parresía se presupone que el hablante proporciona un relato completo y exacto de lo que tiene en su mente, de manera que quienes escuchen sean capaces de comprender exactamente lo que piensa el hablante. La palabra parresía hace referencia, por tanto, a una forma de relación entre el hablante y lo que se dice, pues, en la parresía, el hablante hace manifiestamente claro y obvio que lo que dice es su propia opinión. Y hace esto evitando cualquier clase de forma retórica que pudiera velar lo que piensa. En lugar de eso, el parresiastés utiliza las palabras y las formas de expresión más directas que puede encontrar. Mientras que la retórica proporciona al hablante recursos técnicos que le ayudan a prevalecer sobre las opiniones de su auditorio (sin preocuparse de la propia opinión del retor respecto de lo que dice), en la parresía, el parresiastés actúa sobre la opinión de los demás, mostrándoles, tan directamente como sea posible, lo que él cree realmente.
Si distinguimos entre el sujeto hablante (el sujeto de la enunciación) y el sujeto gramatical del enunciado, podríamos decir que hay también un sujeto del enunciandum –que se refiere a la creencia u opinión mantenidas por el hablante–. En la parresía, el hablante subraya el hecho de que él es, al tiempo, el sujeto de la enunciación y el sujeto del enunciandum –que se refiere a la creencia u opinión mantenidas por el hablante–. En la parresía, el hablante subraya el hecho de que él es, al tiempo, el sujeto de la enunciación y el sujeto del enunciandum –que él mismo es el sujeto de la opinión a la que se refiere–. La `actividad de habla´ específica de la enunciación parresiástica adopta así la forma: `Yo soy quien piensa esto y aquello´.
Parresiazesthai significa `decir la verdad´. Pero, ¿dice el parresiastés lo que él cree que es verdadero, o dice lo que realmente es verdadero? En mi opinión, el parresiastés dice lo que es verdadero porque él sabe que es verdadero; y sabe que es verdadero porque es realmente verdadero.
El parresiastés no sólo es sincero y dice lo que es su opinión sino que su opinión es también la verdad. Dice lo que él sabe que es verdadero. La segunda característica de la parresía es, entonces, que hay siempre una coincidencia exacta entre creencia y verdad.
Desearía señalar que nunca he encontrado ningún texto en la antigua cultura griega en el que el parresiastés parezca tener ninguna duda sobre su posesión de la verdad. Y, en efecto, ésa es la diferencia entre el problema cartesiano y la actitud parresiástica, pues antes de que Descartes obtenga la indudable evidencia clara y distinta, no está seguro de que lo que cree sea, de hecho, verdadero. En la concepción griega de la parresía, sin embargo, no parece ser un problema la adquisición de la verdad, ya que tal posesión de la verdad está garantizada por la posesión de ciertas cualidades morales: si alguien tiene ciertas cualidades morales, entonces ésa es la prueba de que tiene acceso a la verdad –y viceversa–. El `juego parresiástico´ presupone que el parresiastés es alguien que tiene las cualidades morales que se requieren, primero, para conocer la verdad y, segundo, para comunicar tal verdad a los otros.
Si hay una forma de `prueba´ de la sinceridad del parresiastés, ésa es su valor. El hecho de que un hablante diga algo peligroso –diferente de lo que cree la mayoría– es una fuerte indicación de que es un parresiastés. Cuando planteamos la cuestión de cómo podemos saber si aquel que habla dice la verdad, estamos planteando dos cuestiones. En primer lugar, cómo podemos saber si un individuo particular dice la verdad; y, en segundo lugar, cómo puede estar seguro el supuesto parresiastés de que lo que cree es, de hecho, verdad. La primera pregunta –reconocer a alguien como parresiastés– fue muy importante en la sociedad grecorromana, y fue explícitamente planteada y discutida por Plutarco, Galeno y otros. Sin embargo, la segunda pregunta escéptica es especialmente moderna y, pienso, ajena a los griegos.
Se dice que alguien utiliza la parresía y merece consideración como parresiastés sólo si hay un riesgo o un peligro para él en decir la verdad. Por ejemplo, desde la perspectiva de los antiguos griegos, un profesor de gramática puede decir la verdad a los niños a los que enseña y, en efecto, puede no tener ninguna duda de que lo que enseña es cierto: pero, a pesar de esa coincidencia entre creencia y verdad, no es un parresiastés. Sin embargo, cuando un filósofo se dirige a un soberano, a un tirano, y le dice que su tiranía es molesta y desagradable porque la tiranía es incompatible con la justicia, entonces el filósofo dice la verdad, cree que está diciendo la verdad y, más aún, también asume un riesgo (ya que el tirano puede enfadarse, castigarlo, exiliarlo, matarlo).
Como ven, el parresiastés es alguien que asume un riesgo. Por supuesto, ese riesgo no siempre es un riesgo de muerte. Cuando, por ejemplo, alguien ve a un amigo haciendo algo malo y se arriesga a provocar su ira diciéndole que está equivocado, está actuando como un parresiastés. En tal caso, no arriesga su vida, pero puede herir al amigo con sus observaciones, y su amistad puede, consecuentemente, sufrir por ello. Si, en un debate político, un orador se arriesga a perder su popularidad porque sus opiniones son contrarias a la opinión de la mayoría o pueden desembocar en un escándalo político, utiliza la parresía.
Si, durante un juicio, se dice algo que puede ser utilizado en contra de uno, no se está utilizando la parresía a pesar del hecho de que se es sincero, de que se cree que lo que se dice es verdadero, y de que se está poniendo en peligro uno mismo hablando de ese modo. Pues en la parresía el peligro viene siempre del hecho de que la verdad que se dice puede herir o enfurecer al interlocutor. De este modo, la parresía es siempre un `juego´ entre aquel que dice la verdad y el interlocutor. La parresía implicada puede ser, por ejemplo, advertir al interlocutor de que debería comportarse de cierto modo, o de que está equivocado en lo que piensa, o en la forma en que actúa, etcétera.
Como ven, la función de la parresía no es demostrar la verdad a algún otro sino que tiene la función de la crítica: la crítica del interlocutor o del propio hablante. `Esto es lo que haces y esto es lo que piensas; pero eso es lo que no deberías hacer ni pensar.´ `Esta es la forma en que te comportas, pero ésa es la forma en que deberías comportarte.´ `Esto es lo que he hecho, y estaba equivocado al hacerlo así.´ La parresía es una forma de crítica, tanto hacia otro como hacia uno mismo, pero siempre en una situación en la que el hablante o el que confiesa está en una posición de inferioridad con respecto al interlocutor. El parresiastés es siempre menos poderoso que aquel con quien habla. La parresía viene de `abajo´, como si dijéramos, y está dirigida hacia `arriba´. Por eso, un antiguo griego no diría que un profesor o un padre que critica a un niño utiliza la parresía. Pero cuando un filósofo critica a un tirano, cuando un ciudadano critica a la mayoría, cuando un pupilo critica a su profesor, entonces tales hablantes están utilizando la parresía. En la parresía, decir la verdad se considera un deber. El orador que dice la verdad a quienes no pueden aceptar su verdad, por ejemplo, y que puede ser exiliado o castigado de algún modo, es libre de permanecer en silencio. Nadie le obliga a hablar; pero siente que es su deber hacerlo.
Para resumir lo dicho hasta el momento, la parresía es una forma de actividad verbal en la que el hablante tiene una relación específica con la verdad a través de la franqueza, una cierta relación con su propia vida a través del peligro, un cierto tipo de relación consigo mismo o con otros a través de la crítica (autocrítica o crítica a otras personas), y una relación específica con la ley moral a través de la libertad y el deber.
En la tradición socrático-platónica, la parresía y la retórica se encuentran en fuerte oposición; y esa oposición aparece muy claramente en el Gorgias, por ejemplo, en el que se encuentra la palabra parresía. El discurso largo y continuo es un recurso retórico o sofístico, mientras que el diálogo mediante preguntas y respuestas es típico de la parresía; es decir, dialogar es una técnica importante para llevar a cabo el juego parresiástico.
Plutarco, en sus Moralia, intenta responder a la pregunta: ¿cómo es posible reconocer a un verdadero parresiastés, a alguien que dice la verdad? Y análogamente: ¿cómo es posible distinguir a un parresiastés de un adulador? El título del texto es Cómo distinguir a un adulador de un amigo. ¿Por qué necesitamos, en nuestras vidas, tener algún amigo que desempeñe el papel de parresiastés o de aquel que dice la verdad? La razón que ofrece Plutarco se halla en el tipo predominante de relación que a menudo tenemos con nosotros mismos, a saber, una relación de philautía o `amor propio´. Esta relación de amor propio es, para nosotros, el fundamento de una persistente ilusión acerca de lo que en realidad somos: `Siendo cada uno mismo el principal y más grande adulador de sí mismo, admite sin dificultad al de afuera como testigo, juntamente con él, y como autoridad aliada garante de las cosas que piensa y desea´.
Somos nuestros propios aduladores, y es para desactivar esta relación espontánea que tenemos con nosotros mismos, para librarnos a nosotros mismos de nuestra philautía, para lo que necesitamos un parresiastés. Pero es difícil reconocer y aceptar a un parresiastés. Pues no sólo es difícil distinguir a un verdadero parresiastés de un adulador; sino que, además, a causa de nuestra philautía, no nos interesa reconocer a un parresiastés. De modo que lo que está en juego es determinar los criterios indudables que nos permitan distinguir al auténtico parresiastés del adulador que `representa el papel del amigo con la gravedad del trágico´. Plutarco propone dos criterios principales. Primero, hay una conformidad entre lo que dice el auténtico parresiastés y el modo en que se comporta –se puede confiar en Sócrates como parresiastés sobre el valor, puesto que Sócrates fue realmente valiente–. Hay un segundo criterio: la estabilidad y firmeza del verdadero parresiastés: `Si se alegra con las mismas cosas siempre y alaba las mismas cosas, y si dirige y ordena su propia vida hacia un único modelo. El adulador, por no tener una sola mirada de su carácter, ni vivir una vida elegida para él mismo sino para otros, y modelándose y adaptándose para otro, no es simple ni uno sino variado y complicado, por correr y cambiar de forma como el agua, vertida de uno a otro contenido, según sean los que lo reciben´.
Por supuesto, hay muchas otras cosas interesantes que decir sobre este texto. Desearía, empero, subrayar dos temas principales. En primer lugar, el tema del autoengaño y sus vínculos con la philautía. En el texto de Plutarco pueden ver que su noción de autoengaño, como consecuencia del amor propio, es algo muy distinto de la situación de quienes ignoran su propia falta de conocimiento de sí –un estado que Sócrates intentó superar–. La concepción de Plutarco hace hincapié en el hecho de que no sólo somos incapaces de saber que no sabemos nada sino que además somos incapaces de saber, exactamente, qué somos.
Un segundo tema que desearía acentuar es la firmeza de ánimo. Hay una relación obvia entre estos dos temas –el del autoengaño y el de la constancia o la persistencia de ánimo–. Pues destruir el autoengaño y adquirir y mantener continuidad de ideas son dos actividades ético-morales que están vinculadas una con otra. El autoengaño que impide saber quién o qué se es, y todos los cambios en los pensamientos, sentimientos y opiniones que obligan a moverse de un pensamiento a otro, de un sentimiento a otro, o de una opinión a otra, demuestran esta vinculación. Ya que si se es capaz de discernir exactamente qué se es, entonces se permanecerá en el mismo punto, y nada podrá cambiarle a uno. Pero si se es cambiado por alguna clase de estímulo, sentimiento pasión, etc., entonces no se es capaz de permanecer fiel a uno mismo, se es dependiente de algo otro, se es conducido a intereses diversos y, consecuentemente, no se es capaz de mantener una completa posesión de uno mismo.
En un texto de Galeno –el famoso médico de finales del siglo II– se puede ver el mismo problema: ¿cómo es posible reconocer a un auténtico parresiastés? Galeno plantea esta cuestión en su ensayo La diagnosis y la cura de las pasiones del alma, donde explica que para liberarse de sus propias pasiones, un hombre necesita a un parresiastés; tal como ocurría en Plutarco un siglo antes, la philautía, el amor propio, es la raíz del autoengaño: `Vemos los defectos de los otros, pero permanecemos ciegos a aquellos que nos atañen a nosotros mismos. Platón dice que el amante es ciego cuando se trata del objeto de su amor. Si, por lo tanto, cada uno de nosotros se ama a sí mismo por encima de todas las cosas, debe estar ciego en lo que a él mismo respecta. (…) Cuando un hombre no saluda por su nombre al poderoso ni al rico, cuando no los visita, cuando no cena con ellos, cuando vive una vida disciplinada, cabe esperar que ese hombre diga la verdad; intenta, además, alcanzar un conocimiento más profundo del tipo de hombre que es (y esto se logra a través de una larga convivencia). Si encuentras hombre semejante, llámale y habla un día con él en privado; pídele que te muestre inmediatamente cuanto de las pasiones que hemos mencionado vea en ti. Dile que estarás más agradecido por este servicio y que le tendrás por tu salvador en mayor medida que si te hubiera salvado de una enfermedad de tu cuerpo. Consigue que prometa descubrirte todo esto siempre que te vea afectado por cualquiera de las pasiones que he mencionado´.
En este texto, el parresiastés –que todo el mundo necesita para librarse de su autoengaño– no necesita ser un amigo, alguien a quien se conozca, alguien con quien se tenga trato. Y esto constituye, creo yo, una diferencia muy importante entre Galeno y Plutarco. En Plutarco, Séneca y la tradición que procede de Sócrates, es siempre necesario que el parresiastés sea un amigo. Y esta relación de amistad estaba siempre en la base del juego parresiástico. Por lo que sé, con Galeno, por primera vez, no es necesario que el parresiastés sea un amigo. En realidad, nos dice Galeno, es mucho mejor que el parresiastés sea alguien a quien no conozcamos, con el fin de que sea completamente neutral. Un buen parresiastés que nos dé consejos honestos sobre nosotros mismos no debe odiarnos, pero tampoco debe amarnos. Un buen parresiastés es alguien con quien no se ha tenido previamente ninguna relación particular.

Michel Foucault


Extractado de Discurso y verdad en la antigua Grecia, conferencias dictadas en la Universidad de Berkeley en 1983, de próxima aparición (editorial Paidós).

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Capital simbólico y clases sociales



La oposición entre la teoría Marxista, en la forma estrictamente objetivista que asume frecuentemente, y la teoría Weberiana que distingue entre clases sociales y grupos de status [Stand], definidos como tales por aquellas propiedades simbólicas que conforman el estilo de vida, constituye a su vez otra forma, meramente ficticia, de esta alternativa entre objetivismo y subjetivismo: por definición, los estilos de vida realizan su función de distinción sólo para los sujetos inclinados a reconocerse como tales y la teoría Weberiana de los grupos de status es muy cercana a todas aquellas teorías subjetivistas de clases, tales como la de Warner, que incluye estilos de vida y representaciones subjetivas en la constitución de las divisiones sociales. Pero el mérito de Max Weber reside en el hecho que, lejos de presentarlas como mutuamente excluyentes, como lo hacen la mayoría de sus comentaristas americanos y en particular sus epígonos, une estas dos concepciones opuestas, poniendo así la cuestión de la doble raíz de la división social, en la objetividad de las diferencias materiales y en la subjetividad de las representaciones.

PIERRE BOURDIEU

Autoanálisis de un Sociólogo


Enlace: http://es.scribd.com/doc/232164329/Bourdieu-Autoanalisis-de-Un-Sociologo


«No tengo la menor intención de entregarme al género autobiográfico, del que ya he dicho en demasiadas ocasiones cuán artificial e ilusorio es; tan sólo me gustaría reunir y presentar algunos elementos para un autosocioanálisis. Y no oculto mis recelos, que van mucho más allá del temor habitual a ser mal entendido. [...] Al adoptar el punto de vista del analista, me obligo (y me autorizo) a tener en cuenta todos, y únicamente, los datos pertinentes desde la perspectiva de la sociología, es decir, necesarios para la explicación y la comprensión sociológicas. Sin embargo, con ello no pretendo producir, como podría temerse, un efecto de blindaje, sino que, al imponer mi interpretación, creo confiar esta experiencia, enunciada con la máxima honestidad posible, a la confrontación crítica, como si se tratara de cualquier otro objeto de estudio.» Así era la presentación de Pierre Bourdieu, en la edición francesa de este texto extraordinario, un ejercicio tanto de virtuosismo intelectual como de maestría conceptual.



 PIERRE BOURDIEU

Cartas a um jovem poeta

"O que se torna preciso é, no entanto, isto: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém durante horas - eis o que se deve saber alcançar. Estar sozinho como se estava quando criança, enquanto os adultos iam e vinham, ligados a coisas que pareciam importantes e grandes porque esses adultos tinham um ar tão ocupado e porque nada se entendia de suas ações."

- Rainer Maria Rilke, em "Cartas a um jovem poeta." [tradução Paulo Rónai]. in: RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília Meireles]. Porto Alegre: Globo, 1975.