terça-feira, 22 de novembro de 2016

Quem salvar primeiro?


Considerando as muitas variáveis possíveis, entendo que entre duas pessoas que estiverem com risco de morte iminente, salva-se primeiro aquela que tem mais chances de sobreviver. Se uma estiver em estado "grave" e a outra "leve", salva-se primeiro a grave.
Penso que o profissional da saúde deve julgar suas escolhas por esses critérios ou outros mais adequados, que um leigo como eu desconhece. A resposta à pergunta da Fátima Bernardes ("salva-se antes o traficante em estado grave ou o policial levemente ferido?"), me parece mais que óbvia: salva-se antes o traficante.
Mas não parece racional para aqueles que atacaram com fúria a apresentadora, como se ela estivesse defendendo "bandidos". Aliás, os tais "bandidos" se tornaram uma categoria discursiva interessante no pensamento binário: universais e homogêneos, são seres maus e que precisam ser exterminados sumariamente.
A polêmica, portanto, não foi dar ou não a preferência ao atendimento do policial, mas de se negligenciar ou não o atendimento ao "bandido". Uma parcela da população deseja que o médico julgue seus pacientes e, se for o caso, autorizam que ele execute, a seu critério, a pena de morte. Assim, a pergunta em questão seria se o traficante pobre (ou que assim o for pelo julgamento do médico), que vende a cocaína para as festas dos ricos, deveria ou não ser salvo quando toma um tiro do policial.
Ou melhor, sem tergiversar, o que se pretende por essas pessoas é permitir que os policiais possam entrar em uma favela e eliminar quem quer que seja, em nome do extermínio da "bandidagem", quando os verdadeiros bandidos estão justamente entre aquelas "pessoas de bem" que invariavelmente pregam a chacina dos pobres.

André Castelo Branco Machado
"Então, aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça coisas impopulares que serão necessárias e que vão desenhar este governo para os próximos anos. Aproveite sua impopularidade. Tome medidas amargas. Aliás, este é o grande desafio das democracias do mundo. Como fazer coisas impopulares?”

Nizan Guanaes, ontem, no 'Conselhão', dirigindo-se ao golpista Temer.

Em outras palavras, a democracia é um estorvo.


SOBRE AMIZADES E LUTA POLITICA:


 Valério Arcary:

"Entre aqueles engajados na militância há muita confusão entre o que são as relações de amizade e as relações de camaradagem. Esta confusão gera muitas desilusões quando as diferenças políticas levam à perda das relações de amizade. Relações de amizade são um vínculo emocional poderoso. Lidar com perdas é sempre uma experiência dolorosa. Não é incomum que as decepções pessoais com camaradas se transformem em desalento ideológico no futuro da luta pelo socialismo. E o desânimo, a desesperança, o desengano são maus conselheiros, porque obscurecem a mente e diminuem a lucidez.
Tentar definir o que é a amizade foi sempre difícil. Em uma época em que confiar nos outros é percebido como credulidade ingênua é importante lembrar que uma vida sem amizade é muito triste. A solidão parece ser uma epidemia no mundo contemporâneo. Ela é sempre mencionada como um dos fatores de depressão. A desconfiança generalizada – contra tudo e todos – só pode alimentar, evidentemente, vidas solitárias.
(...)
Lealdade entre amigos não pode repousar somente em acordos políticos. Ela se constrói alicerçada na confiança pessoal, que vai além das ideias políticas. Existindo, inevitavelmente, diferenças de opinião, cultivar amizades exige uma disposição para a tolerância. Ninguém gosta de ser contrariado. Podemos ficar desgostosos ou até aborrecidos quando discordam de nossas opiniões. Mas romper amizades por diferenças de opinião é uma tolice infantil. Estar disposto a acolher ideias diferentes das nossas revela maturidade para aceitar graus de dissenso com que podemos conviver.
O que são camaradas? Camaradas são aqueles que, na tradição socialista, pertencem a uma mesma organização e ou compartilham uma visão do mundo comum, o igualitarismo, ou luta pela igualdade social. Esta visão do mundo socialista se fundamenta, em primeiro lugar, no reconhecimento de que todos os seres humanos têm em comum necessidades, intensamente, sentidas que são iguais. Ser socialista significa uma ruptura ideológica com o capitalismo, uma adesão ao movimento dos trabalhadores e dos oprimidos, uma aposta no projeto de luta pela revolução, e uma aspiração internacionalista por um mundo sem dominação imperialista. Nas sociedades em que vivemos ser socialista exige, portanto, uma escolha de classe. Não importa a classe social na qual nascemos. O que importa é a qual classe unimos nosso destino.
Acontece que nem todos os nossos amigos são camaradas, e nem todos os camaradas são amigos. Porque amigos podem ter visões do mundo diferentes. Amizades não devem ter como condição, necessariamente, uma mesma visão do mundo. Por outro lado e, talvez, mais importante, podemos ser camaradas de militantes que não conhecemos tão bem. Só em pequenas organizações, núcleos de pouco mais do que cem militantes, é que é possível conhecer todos os membros. Se a amizade pessoal for um critério de pertencimento, uma organização revolucionária estará condenada à estagnação, ou a rupturas recorrentes.
(...)
A violência verbal, seja na forma ou no conteúdo, é uma maneira desonesta, intelectualmente, de tentar ganhar um debate a qualquer preço. Acusações ad hominem são aquelas que são dirigidas às pessoas, e não às ideias que elas defendem.
Coloca-se o caráter do adversário em dúvida, através de ataques pessoais, para desqualificar suas ideias. Trata-se de uma tática diversionista porque tenta desviar o tema da polêmica. Aqueles que recorrem a este método retórico confessam, involuntariamente, que não têm confiança nos seus argumentos. Precisam destruir o outro porque não conseguem refutar suas ideias. Violência verbal através de acusações ad hominem é um método inaceitável, porque diminui a importância das ideias, e só serve para a desmoralização dos adversários.

Na esquerda revolucionária para o século XXI que queremos construir devemos saber preservar amizades, apesar das diferenças políticas que nos separam em distintas organizações, e aprender a distinguir os adversários dos inimigos. Isso parece simples e elementar. Mas não é.

Agora mesmo ·

Ricardo Costa de Oliveira


Acertou plenamente a defesa de Lula ao enquadrar Moro, juiz denunciado na ONU pela acusação de desrespeitar os direitos humanos de Lula, como uma justiça persecutória e arbitrária, semelhante aos procedimentos políticos do fascismo italiano e do nazismo derrotados em 1945, bem como apontarem ranços do típico "Juiz de Paz da Roça", clássico de nosso teatro para tipos prepotentes, imbuídos de provincianismos, característicos de uma região agrícola e sem maiores culturas cosmopolitas. Porém o funcionário golpista do mês é o Ministro Geddel Vieira Lima, citado no livro biográfico "Renato Russo: O filho da Revolução" como "suíno" desde o Colégio Marista ! Geddel representa a previsão do filme "Aquarius", este capitalismo familiar destrutivo que existe no Brasil. Geddel pertence a uma das principais famílias políticas na Bahia, os Vieira Lima, ocupantes de vários cargos políticos, o irmão, tio e pai foram deputados. O Desembargador Alfredo Luiz Vieira Lima foi Presidente do Tribunal de Justiça da Bahia nos anos 1950. Uma família de pecuaristas e grandes proprietários rurais. Geddel foi acusado pelo ex-Ministro da Cultura Calero de graves irregularidades nas licenças do alto apartamento La Vue, em Salvador e nada aconteceu até agora, mesmo com todas as provas e evidências colocadas contra ele, exatamente o contrário do processo contra Lula, sem provas e sem evidências em prédio nenhum. A crise política, jurídica, educacional e econômica afunda o projeto dos golpistas de vez.