sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013



'mas a juventude é sobretudo uma soma de possibilidades"
- Albert Camus

III - O Escolhido



De tudo, ficaram três coisas:
a certeza de que ele estava
sempre começando, a certeza
de que era preciso continuar
e a certeza de que seria
interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho
novo. Fazer da queda um passo
de dança, do medo uma escada,
do sono uma ponte,
da procura um encontro."

- Fernando Sabino, In "III - O Escolhido", do livro 'O Encontro Marcado'. Editora Record, 79ª edição, 2005, SP/RJ.

OS CAIOWÁS E A BLOGUEIRA CUBANA




1. No dia 31 de setembro do ano passado, os índios caiowás Olindo e Jenivaldo Werá desapareceram na região de Paranhos, a 477 km de Campo Grande, após conflitos com pistoleiros pagos por grandes fazendeiros. No dia 18 de agosto, o fazendeiro Luis Carlos da Silva Vieira, conhecido como Lenço Preto, dissera em entrevista ao jornal Naviraí Diário: “Se eles podem invadir, então nós também podemos invadir. Não podemos ter medo de índio não. Nós vamos partir pra guerra, e vai ser na semana que vem. Esses índios aí, alguns perigam sobrar. O que não sobrar, nós vamos dar para os porcos comerem”.

Em novembro se alastrou pelas redes sociais a situação desesperadora de 170 índios caiowás (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) que estavam sob a mira de fuzis de pistoleiros, pagos por grandes fazendeiros, na região de Naviraí, a 270 km de Campo Grande. Eles divulgaram uma carta afirmando que estavam cansados de terem suas terras roubadas e de serem dizimados, ao longo de séculos. Haviam tomado uma decisão: só sairiam de onde estavam, mortos.

A repercussão que a carta teve nas redes sociais chegou ao Palácio do Planalto. Um destacamento da Polícia Federal foi deslocado para a região, para garantir a segurança das mulheres, homens e crianças indígenas. O barulho também obrigou a grande imprensa a noticiar o fato, ainda que com bastante discrição e durante pouco tempo. Até então, a grande imprensa se calava. Solenemente. Num país livre. Num país democrático. Num país onde todos têm o direito de expressar suas opiniões.

2. Não sou a favor que militantes impeçam a exibição de um filme ou o lançamento de um livro. Além de perda de tempo, acho um ato de burrice: só dão mais publicidade e argumentos para os que os criticam. Mas defendo o direito deles se manifestarem. Aqui, em Cuba ou em Wall Street. Agora, a máquina de propaganda da big mídia (o que Allen Ginsberg chamava, já nos anos 80, de máquina de propaganda do “capitalismo stalinista” – um paradoxo ultra-contemporâneo) é impressionante e dá muita bandeira: a eloquência do ataque que faz aos “xiitas” que se manifestaram contra a blogueira cubana Yoani Sánches é absurdamente inverso ao silêncio com que trataram os pistoleiros que miravam seus fuzis para os caiowás do Mato Grosso.

Uma pergunta simples, que parece ter se tornado fora de moda: Por quê?

3. Mas, sigamos em frente: há dois anos conversei com um músico cubano. Não lembro o nome dele. Estava trabalhando como rodie de uma banda. Tinha 27 anos. Perguntei-lhe sobre a situação de Cuba. Ele disse que era tudo muito precário, que a juventude queria ter acesso a produtos melhores do que eles têm, mas não queria perder as conquistas da revolução. Perguntei: que conquistas? Ele respondeu, sem pestanejar: sobretudo educação e saúde gratuitas e de qualidade. Perguntei o que ele achava quando andava pelas grandes cidades brasileiras e via miseráveis morando nas ruas. Respondeu que não conseguia entender como existiam pessoas nessas condições em um país rico como o Brasil. “Em Cuba não existem moradores de rua, sem escola, sem assistência médica?” “Nadie”, ele respondeu.

4. A esses “dissidentes”, que criticam o regime cubano, mas não querem perder as conquistas que tiveram nos últimos cinquenta anos, a big mídia não dá o mesmo impressionante destaque que Yoani Sánchez está conseguindo em sua visita ao Brasil. Compreendo o motivo: não interessa que opiniões como essa sejam ouvidas, pois tudo o que os “libertadores de Cuba” querem é transformar a ilha num “mercado livre”, um rentável negócio, que traga lucros e desenvolvimento, mesmo que esses lucros e esse desenvolvimento não sejam para todos. Só que, pelo visto, a maioria dos cubanos quer mais liberdade, quer melhores condições, mas não quer esse tipo de negócio. Senão, não tenham dúvidas: a máquina capitalista, com sua propaganda, seu dinheiro e seus fuzis (se necessário), já teria “libertado” a ilha.

5. Ah, uma última perguntinha: posso discordar da máquina de propaganda do mundo livre sem ser chamado de xiita? Posso, Nelson Motta? Posso, Arnaldo Jabor? Posso, Reinaldo Azevedo?


Ademir Assunção


''Como todo iconoclasta, destrocei meus ídolos para consagrar−me a seus restos.''
-Cioran

RINCHO POLO TAXES






Coa Lenta Raigame das súas mans escribiume
Quen xoga cos meus fillos ámame a min
eu puiden ler nos seus ollos
o Caderno de Bitácora dos poetas
o rixo dos que ouvean con Elas
Agora tamos vivos!

Miguel Pato Cabanas