sábado, 10 de janeiro de 2015

OUTRA VISÃO SOBRE O ATENTADO NA FRANÇA


Quem está por trás do atentado contra Charlie Hebdo?

por Thierry Meyssan

Em 7 de janeiro de 2015, um comando irrompe na sede parisiense do Charlie Hebdo e mata 12 pessoas. Outras 4 vítimas foram reportadas como estando em estado grave.

Nos vídeos se ouve os atacantes gritando "Allah Akbar!" e afirmar depois que "vingaram Maomé". Uma testemunha, a cartunista Coco, afirmou que os indivíduos diziam ser da Al-Qaeda. Isso bastou para que inúmeros franceses denunciam ao fato como um atentado islamista.

Mas essa hipótese é ilógica.

A missão do comando não coincide com a ideologia jihadista

Em efeito, os membros ou simpatizantes de grupos como a Irmandade Muçulmana, Al-Qaeda ou Emirado Islâmico não teriam se limitado a matar cartunistas ateus. Teriam começado destruindo os arquivos da publicação na presença das vítimas, como fizeram na totalidade das ações que perpetram no Magreb e no Levante. Para os jihadistas, o primordial é destruir os objetos que - segundo eles - ofendem a Deus, antes de castigar os "inimigos de Deus".

E tampouco teriam se retirado de imediato, fugindo da polícia, sem completar sua missão. Pelo contrário, a teriam realizado até o fim ainda que isso custasse suas vidas.

Por outro lado, os vídeos e vários testemunhos mostram que os atacantes eram profissionais. Estão acostumados ao manejo de armas e só disparam quando é realmente necessário. Sua indumentária tampouco é a dos jihadistas senão mais exatamente a que caracteriza comandos militares.

Sua maneira de executar no chão um policial ferido, que não representava um perigo para eles, demonstra que sua missão não era "vingar Maomé" do humor não muito fino do Charlie Hebdo.

Objetivo da operação: favorecer o início de uma guerra civil

Os atacantes falam bem o idioma francês e é muito provável que sejam franceses, o que não justifica a conclusão de que seja tudo um incidente franco-francês. Pelo contrário, o fato de que se trata de profissionais nos obriga a separar estes executores dos que deram a ordem de realizar a operação. E nada demonstra que estes últimos sejam franceses.

É um reflexo normal, mas intelectualmente errôneo, acreditar que conhecemos nossos agressores no momento em que acabamos de sofrer a agressão. Isso é o mais lógico, tratando-se da criminalidade comum e corrente. Mas não é assim quando se trata de política internacional.

Quem deu as ordens que levaram à execução desse atentado sabia que estavam provocando uma ruptura entre franceses de religião muçulmana e os franceses não-muçulmanos. O semanário satírico francês Charlie Hebdo se havia especializado nas provocações anti-muçulmanas, das quais a maioria dos muçulmanos da França foram vítima direta ou indiretamente. Se bem os muçulmanos da França não deixaram certamente de condenar esse atentado, lhes será difícil sentir pelas vítimas tanta dor como os leitores da publicação. E não faltarão os que interpretem isso como uma forma de cumplicidade com os assassinos.

É por isso que, ao invés de considerar esse atentado extremamente sanguinário como uma vingança islamista contra o semanário que publicou na França as caricaturas sobre Maomé e dedicou reiteradamente seu primeiro plano a caricaturas anti-muçulmanas, seria mais lógico pensar que se trata do primeiro episódio de um processo tendente a criar uma situação de guerra civil.

A estratégia do "choque de civilizações" foi concebida em Tel-Aviv e Washington

A ideologia e estratégia da Irmandade Muçulmana, Al-Qaeda e Emirado Islâmico não prega provocar uma guerra civil no "Ocidente", senão pelo contrário, iniciar uma guerra civil no "Oriente" e separar a ambos mundos hermeticamente. Nem Sayyid Qutb, nem nenhum de seus sucessores convocaram a provocar enfrentamentos entre muçulmanos e não-muçulmanos no terreno destes.

Pelo contrário, quem formulou a estratégia do "choque de civilizações" foi Bernard Lewis e ele o fez a pedido do Conselho de Segurança Nacional dos EUA. Essa estratégia foi divulgada posteriormente por Samuel Huntington, apresentando-a não como uma estratégia de conquista senão como uma situação que podia chegar a se produzir. O objetivo era convencer aos povos dos países membros da OTAN de que era inevitável um enfrentamento, justificando assim o caráter preventivo do que seria a "guerra contra o terrorismo".

Não é em Cairo, em Riad nem em Cabul que se prega o "choque de civilizações", mas sim em Washington e em Tel-Aviv.

Os que deram a ordem que levou ao atentado contra o Charlie Hebdo não estavam interessados em agradar a jihadistas ou talibãs mas sim aos neoconservadores ou aos falcões liberais.
Não devemos esquecer os precedentes históricos
Temos que recordar que durante as últimas décadas temos visto os serviços especiais dos EUA e da OTAN:

-> Utilizar na França a população civil como "porquinhos da Índia" para experimentar os efeitos devastadores de certas drogas;
-> Respaldar às OAS para assassinar o presidente francês Charles De Gaulle;
-> Proceder à realização de atentados de "falsa bandeira" contra a população civil em vários países membro da OTAN.

Temos que recordar que, desde o desmembramento da Iugoslávia, o Estado-Maior americano experimentou e pôs em prática em vários países sua estratégia conhecida como "rinha de cães", que consiste em matar membros da comunidade majoritária e matar depois membros das minorias para conseguir que ambas as partes se acusem entre si e que cada uma delas creia que a outra está tentando exterminá-la. Foi assim que Washington provocou a guerra civil na Iugoslávia e, ultimamente, na Ucrânia.

Os franceses fariam bem em recordar igualmente que não foram eles que tomaram a iniciativa da luta contra os jihadistas que regressavam da Síria e do Iraque. De certo, nenhum desses indivíduos cometeu até agora nenhum atentado na França já que o caso de Mehdi Nemmouche não se pode catalogar como um fato perpetrado por um terrorista solitário senão por um agente encarregado de executar em Bruxelas 2 agentes do Mossad. Foi Washington que convocou, em 6 de fevereiro de 2014, os ministros do Interior da Alemanha, EUA, França (o senhor Valls enviou um representante), Itália, Polônia e Reino Unido para que inscrevessem o regresso dos jihadistas europeus como uma questão de segurança nacional. Foi apenas depois dessa reunião que a imprensa francesa abordou esse tema dado o fato de que as autoridades haviam começado a atuar.

Não sabemos quem ordenou esse ataque profissional contra o Charlie Hebdo mas sabemos sim que não devemos nos precipitar. Teríamos que ter em conta todas as hipóteses e admitir que, nesse momento, seu objetivo mais provável é nos dividir e que o mais provável é que quem deu as ordens esteja em Washington.


1905: Domingo sangrento em São Petersburgo




Em 9 de janeiro de 1905, uma petição em tom desesperado era dirigida ao czar Nicolau 2º. A Rússia enfrentava uma crise profunda, as pessoas passavam fome, todas as camadas da população estavam insatisfeitas.

No dia 9 de janeiro de 1905, o czar Nicolau 2º recebeu uma petição em tom desesperado: "Estamos em situação miserável, somos oprimidos, sobrecarregados com excesso de trabalho, insultados, não nos reconhecem como seres humanos, somos tratados como escravos. Para nós, chegou aquele momento terrível em que a morte é melhor do que a continuidade do sofrimento insuportável".
O país estava afundado numa enorme crise, as pessoas passavam fome, em todas as classes da sociedade havia insatisfação. Os nobres não queriam aceitar a industrialização da Rússia, por acreditar que isso os empobreceria. Os camponeses sentiam-se oprimidos e enganados: apesar da abolição do regime feudal em 1856, toda a terra continuava pertencendo exclusivamente aos nobres. E não havia perspectiva de mudança.
De sua parte, os intelectuais exigiam uma participação na vida política. O czar Nicolau 2º, absolutista, ainda podia administrar e agir no seu imenso reino como bem entendesse. Às vésperas da primeira revolução russa, o soberano ainda não tomava conhecimento dos problemas dos trabalhadores, da fome, da miséria e das arbitrariedades dos proprietários de fábricas.

Numa situação tão tensa, um fato insignificante transformou-se, de repente, numa catástrofe. Quatro operários da maior fábrica de São Petersburgo foram demitidos, narra Jutta Petersdorf, historiadora do Instituto da Europa Oriental na Universidade Livre de Berlim. "Eles foram demitidos porque exigiram a punição de um feitor que era injusto e tratava mal os operários."
Início da revolta

Os quatro revoltosos estavam dispostos a lutar. O protesto foi apoiado pelos sindicatos fiéis ao regime, os chamados "sindicatos amarelos", criados pelas autoridades estatais nas regiões industriais russas, no início do século, para canalizar e controlar a crescente insatisfação popular. Tais associações sindicais eram dirigidas e administradas pela polícia local. O sindicato de São Petersburgo, que contava 11 mil filiados em janeiro de 1905, tentou manter a paz social, procurando fazer com que o diretor da fábrica anulasse a demissão dos quatro operários. Em vão. O industrial permaneceu irredutível.

Em 2 de janeiro, foi realizada uma assembleia do sindicato. Discutiu-se de maneira extremamente emocional o que se podia fazer em tal situação. E surgiu então a conclamação à greve. Pouco a pouco, mas de maneira inexorável, a situação começava a fugir ao controle das autoridades estatais. Outras fábricas de São Petersburgo aderiram à greve. Foi nesse clima de revolta que se decidiu a realização da marcha de protesto do dia 9 de janeiro, que dirigiria uma petição ao czar, reivindicando uma melhoria das condições de vida dos trabalhadores.

Marcha de protesto

Na manhã gelada do domingo, 9 de janeiro, uma multidão de 100 mil pessoas dirigiu-se então para a residência do czar, o Palácio de Inverno de São Petersburgo. A residência estava protegida pelos militares, com o apoio da cavalaria dos cossacos. Mas a multidão era pacífica. Não eram os aspectos revolucionários que predominavam na marcha, mas sim os ícones de santos da Igreja Ortodoxa, os estandartes eclesiásticos, as ladainhas rezadas. Por onde passava o cortejo, nas ruas de São Petersburgo, as pessoas faziam o sinal da cruz, e muitas se juntavam a ele.

Quando a multidão aproximou-se do palácio, ouviram-se os primeiros disparos. Sobre o massacre que se seguiu, existem divergências de interpretação. Algumas fontes falam de um ato espontâneo e inconsequente. Jutta Petersdorf e muitos outros historiadores acreditam, porém, que o banho de sangue foi premeditado.
Duzentas pessoas foram assassinadas e cerca de 800 ficaram gravemente feridas. A sangrenta repressão da marcha de protesto diante do palácio do czar em São Petersburgo foi o ponto de partida para as rebeliões que se seguiram. Poucos dias mais tarde, a população de Varsóvia – na época, administrada pela Rússia – saiu às ruas para protestar. Novamente, o regime czarista mandou abrir fogo contra os manifestantes.
Fim da primeira revolução russa

Mas o povo, insatisfeito, não podia mais ser contido. Os protestos eclodiram em toda a Rússia. Em outubro do turbulento ano de 1905, após uma greve geral, o czar Nicolau 2º assinou um decreto conhecido como Manifesto de Outubro. Ele abriu caminho para as primeiras eleições parlamentares livres. Isso marcou, ao mesmo tempo, o fim da primeira revolução russa, que começara de maneira sangrenta em São Petersburgo.


Segundo Jutta Petersdorf, "por um lado, a classe política foi pacificada através da formação de partidos e a possibilidade de concretizar eventualmente as suas esperanças através do trabalho parlamentar. De outro lado estava o movimento socialista, com a sua conclamação a uma rebelião armada, a qual fracassou então estrondosamente".

O ofício de viver


Vou sempre além de mim mesmo
em teu dorso, ó verso.
O que não sou nasce em mim
e, máscara mais verdadeira
do que o rosto, toma conta
de meus símbolos terrestres.
Imaginação! teu véu
envolve humildes objetos
que na sombra resplandecem.
Vestíbulo do informulável,
poesia, és como a carne,
atrás de ti é que existes.
E as palavras são moedas.
Com elas, tudo compramos,
a árvore que nasce no espaço
e o mar que não escutamos,
formas tangíveis de um corpo
e a terra em que pisamos.
Se inventar é o meu destino,
invento e invento-me. Canto.

- Lêdo Ivo, in "Poesia Completa", 2004.


http://www.elfikurten.com.br/…/ledo-ivo-uma-aventura-poetic…

El armario viejo


Charles Dickens

Eran las diez de la noche. En la hostería de los Tres Pichones, de Abbeylands, un viajero, joven aún, se había retirado a su cuarto, y de pie, cruzados los brazos contra el pecho, contemplaba el contenido de un baúl que acababa de abrir.
-Bueno, todavía debo sacar algún partido de lo que me queda -dijo-. Sí, en este baúl puedo invocar un genio no menos poderoso que el de Las mil y una noches: el genio de la venganza... y quizá también el de la riqueza... ¿Quién sabe?... Empecemos antes por el primero.

Quien hubiese visto el contenido del baúl, más bien habría pensado que su dueño no debería hacer mejor cosa que llevárselo a un trapero, pues todo eran ropas, en su mayor parte pertenecientes, por su tela y forma, a las modas de otro siglo, excepto uno o dos vestidos de mujer; pero ¿qué podía hacer con traje de mujer el joven cuya imaginación se exaltaba de ese modo ante aquel guardarropa híbrido? No eran días de Carnaval...

-¡Alto! Dan las diez -repuso de pronto-. Tengo que apresurarme, no vaya a cerrar la tienda ese bribón.

Y hablando consigo mismo se abrochó el frac, se echó encima un capote de caza, bajó, franqueó la puerta, siguió por la Calle Mayor hasta recorrerla casi toda, torció por una calleja y se detuvo ante el escaparate de un comercio.

Quizá fuese el único abierto de todo el pueblo. Detrás del escaparate se veían las más variadas mercancías: muebles, libros, gemelos, monedas de plata, alhajas, relojes, hierro viejo y artículos de tocador. La mayoría de estos objetos tenían un rótulo que indicaba su precio. Detrás de un mostrador enrejado se sentaba un hombre con la pluma sobre la oreja, como un contable que acabara de interrumpir una operación matemática para despabilar la luz de la vela. Porque, en medio de todas aquellas riquezas, el hombre del mostrador se alumbraba económicamente con una prosaica vela de sebo colocada en una vieja botella vacía.

También él, lo mismo que el joven de la hostería, animaba su soledad con un monólogo o con uno de esos diálogos cuyas preguntas y respuestas las hace uno mismo.

“Es una gran verdad, sí, señor. En un chelín hay un millón, como en un grano de trigo hay toda una cosecha para llenar un granero; el secreto consiste en colocar bien el chelín y en sembrar el grano de trigo en buena tierra. La inteligencia y el ahorro dan a los ceros valor poniéndolos a continuación de las cifras; la locura y la prodigalidad ponen la cifra a continuación de los ceros. ¡Qué maravillosa semana! Las doscientas libras esterlinas que me prestó hace diez años Tomás Evans han dado excelente fruto. El imbécil perdió mi pagaré; siempre hacía igual por su habitual negligencia. Eso sí, también habría perdido el dinero si se hubiera presentado al vencimiento, en vez de morir nombrando heredero a su hijo Jorge, aún más derrochador que él. Creo firmemente que Tomás Evans tuvo la intención de dejarme ese legado, aunque el joven me escribió reclamándome las doscientas libras esterlinas con el pretexto de que no pagué a su padre”.

-"Señor mío -le contesté-, presénteme el pagaré y haré honor a mi firma. No pido ningún requisito más: soy solvente. Venga usted mismo si no tiene confianza en su agente de negocios”.

"¡Sí, sí! Le pareció mejor correr mundo con una actriz y gastarse las rentas antes de cobrarlas, en Norteamérica, de donde creo que no regresará. Dicen que también él se ha hecho cómico... ¡Cómico!... ¡Cualquier día el teatro le indemnizará de lo que le ha costado! Razón tiene nuestro ministro, el reverendo señor Mac-Holy, cuando llama escuela de Satanás al teatro. Si Tomás Evans hubiera sabido que su hijo acabaría su educación en esa escuela, además del pagaré de las doscientas libras esterlinas me hubiera legado también todo el modesto patrimonio que tan mal invirtió el heredero réprobo. ¡Comerse con una actriz la herencia de Tomás Evans y acabar por dedicarse él mismo a las tablas!... Ese joven está perdido. ¡No seré yo quien vaya a verlo trabajar, ni aunque me regalase la entrada!”

El señor Benson, intérprete de este soliloquio, que ejercía el doble oficio de prendero y prestamista, era acaso igualmente ingrato con el teatro y con su difunto amigo Tomás Evans. Porque muchos de los artículos que había en su tienda procedían de esos pobres comediantes que él convertía en discípulos de Satán, y los había comprado hacía poco por la tercera parte de su valor, a consecuencia de la quiebra del empresario del coliseo de Abbeylands. Su última frase, pronunciada con la elocuencia de un fiel sectario del reverendo Mac-Holy, quizá fuera oída por el joven pupilo de la hostería de los Tres Pichones, quien después de echar una ojeada llena de curiosidad a través de los cristales entraba en aquel momento en la tienda.

-Para servirle, señor Benson -saludó-. Me alegro de que no haya cerrado aún. Deseo tratar con usted un pequeño negocio.

-¿Tiene usted algún reloj de más y algunas guineas de menos? -preguntó Benson abriendo un cajoncito.

-No, señor, no me sobra ninguno. Respecto a las guineas, tengo, por fortuna, bastantes todavía para poder comprarle un mueble que he visto esta mañana al pasar delante de su tienda: un armario pequeño con cajones... Creo que es de encina... ¡Ah! Casualmente está ahí...

-¡Dispénseme! -exclamó Benson al comprender que había juzgado mal al comprador, quien llegaba a la hora intempestiva que suele elegirse para deshacerse de alguna prenda-. Si le interesa el armario está por completo a su disposición... ¡Buen mueble, de veras..., de encina, sí..., y encina de primera calidad, con cajones muy útiles y bonitos! Ese armario me ha costado bastante caro en la subasta del granjero Merrywood, que murió la semana pasada. Pero me conformo con poca ganancia, aunque se han puesto de moda los muebles antiguos. El granjero Merrywood decía que este armario lo tenía su familia desde hace lo menos dos siglos. Puedo vendérselo por dos libras esterlinas.

-No presumo de ser inteligente en muebles viejos -respondió el joven-; pero tengo una tía a quien creo que le gustaría éste, y es un regalo que quiero hacerle para completar nuestro mobiliario. No regatearé; aquí tiene usted las dos libras esterlinas. Pago al contado, con dos condiciones: primera, que el mueble sea entregado esta noche, sin gastos, y que si por casualidad no agradase a mi tía, me lo cambie usted mañana a primera hora por otra cosa, en cuyo caso los gastos de devolución correrían de mi cuenta.

-Con mucho gusto, con mucho gusto -asintió Benson, que se esperaba el regateo de algunos chelines-. Pero ¿cómo voy a enviarlo esta noche?

-Eso allá usted -respondió el comprador-. Deseo también un recibo del dinero, y en ese recibo tendrá la bondad de especificar que me vende el armario con todo cuanto contiene, porque a lo mejor se encuentra una fortuna en estos armatostes antiguos -añadió sonriendo-. Se habla de butacas que la propietaria había rellenado de billetes de banco.

-¡Oh! Eso no me preocupa -dijo Benson, extendiendo el recibo-. En cuanto al transporte... No pesa mucho el armario... Yo me encargo de él... ¿Adónde hay que llevarlo?

-A la señora de Truman, Calle de Salisbury, número 2, en el arrabal... No es un barrio muy recomendable, pero cada uno se aloja donde puede, con los alquileres tan caros.

-Es una calle muy oscura y que no goza de buena fama -objetó el prestamista-. ¿No podría usted aguardar a mañana por la mañana? Estoy solo en casa con una criada, y como a estas horas no encontraré en su puesto al recadero de la esquina, seguro que me veré obligado a llevar yo mismo el armario. Hace unos veinte años, en esa misma calle, robaron y asesinaron a un hombre.

-¡Oh! ¡Sí, hace veinte años...! -comentó riendo el joven-. Pero la Calle de Salisbury ha mejorado mucho desde esa fecha. Además, ¿a qué ladrón seduciría la idea de robar un armario vacío, que ha estado dos o tres siglos en poder de la familia del granjero Merrywood?

El señor Benson dirigió una mirada de desconfianza al comprador; pero le tranquilizó la fisonomía franca y leal de aquel joven de apenas veinticuatro años. En efecto, ¿qué podía temer? Y, además, “¡qué ocasión tan excelente para ahorrarme el viaje del mozo de cuerda! ¡Verdaderamente -se decía a sí mismo-, yo debiera invitar a este hombre a un refresco! Pero la buena intención se desvaneció como tantas otras buenas que a veces cruzaban rápidas por su imaginación.

-Si llega a casa de mi tía antes que yo, le ruego que diga únicamente que es de parte de su sobrino, aunque estaré a tiempo para recibirlo yo mismo. Sólo me detendré un cuarto de hora en la Calle Mayor y regresaré a toda prisa.

Y acto seguido se envolvió el joven con el capote y se despidió del señor Benson.

Éste paseó una mirada de satisfacción en tomo suyo.

-¡Ea! -concluyó-. He hecho un magnífico negocio que completa el día con gran beneficio. ¡Qué buen muchacho! ¡Cuánto debe de querer a su tía para no regatear al hacerle un regalo! Me daré prisa en llevarle este armario, que amenazaba con estorbarme aquí mucho tiempo.

Y llamando a la criada para participarle su salida, se echó el armario al hombro, cerró la puerta de la tienda y se encaminó con paso rápido a la Calle de Salisbury. Había cesado de llover.

Cuando llegó al número 2, el prestamista llamó una vez con la aldaba sin obtener respuesta.

-¡Vaya! -dedujo para su capote-. Creo que esta es la casa que ha estado desalquilada tanto tiempo. No sabía que la ocuparan ya inquilinos. ¿A quién se habrán dirigido, pues, para los muebles?

Volvió a llamar y entonces dieron señales de vida; se oyeron pisadas en el pasillo y abrió una vieja que parecía extrañada por tan tardía visita.

-Iba a acostarme -dijo la anciana-. No esperaba más que a mi sobrino y creí que sería él...

-Pronto estará aquí -respondió Benson-, y me ha encargado que le traiga de su parte este precioso armario. Todo está pagado..., a menos que quiera usted añadir alguna propina -indicó sin el menor remordimiento de conciencia, porque el avaro prestamista pensaba que no debía impedir a la buena mujer mostrarse tan generosa como su sobrino.

-¡No faltaba más! -accedió la vieja-. Ahí tiene una moneda de seis peniques... ¡Qué amable es para su tía mi querido sobrino!

-¿Hace mucho tiempo que vive usted aquí, señora? -indagó Benson mientras la tía se registraba los bolsillos.

-¡No! Sólo llevo tres días -contestó la anciana.

-Gracias, señora; y si le hace falta algún mueble más, venga usted misma a mi tienda, donde hallará objetos de su agrado y baratísimos.

-Gracias a mi sobrino, no creo que me falte gran cosa, máxime cuando mi antiguo mobiliario ha llegado todo esta mañana por el canal. Buenas noches.

Benson se embolsó la propina y se marchó, sin preocuparse más que la vieja de prolongar la conversación en el pasillo, donde le había mandado dejar el armario, sin invitarle a entrar en las habitaciones.

Al llegar a su casa, el prestamista, como hombre minucioso, encendió de nuevo la bujía, anotó su último ingreso y se permitió el lujo de fumar una pipa antes de acostarse, y de servirse una copa de aguardiente para humedecer de cuando en cuando los labios. No tardó en oír dar las doce en uno de sus relojes; pero como otro dio una hora menos creyó que este último era el que acertaba y cargó de nuevo la pipa para esperar a que tocase un tercero. En aquel momento paró a su puerta un carruaje.

-¿Quién podrá llegar a mi casa a estas horas? -se preguntó al oír que llamaban-. ¡Ya va, ya va!... Probablemente será algún noble arruinado que viene a ofrecerme su vajilla heredada o alguna condesa que quiere deshacerse de un diamante que la estorba.

Con tan agradable reflexión, salió a abrir. Vio a una señora que se apeaba de una silla de postas, cuyo estribo fue levantado de nuevo por el conductor, quien cerró también la portezuela, en tanto que la viajera disponía:

-Que aguarde el coche. Tengo que tratar con usted un asunto importante, señor Benson; entremos en su casa, para que nadie nos moleste.

Benson penetró en la tienda, y a la luz de la vela notó que su entrevista a solas se efectuaba con una mujer de distinguidísimo porte, vestida con sencillez y dominada por una gran emoción.

-¿Es usted, realmente, el señor Benson el prestamista? -se informó.

-Sí, señora, y comerciante de objetos de ocasión: muebles, libros, estatuas, relojes de pared y bolsillo, alhajas, escopetas de dos cañones, pistolas y otros diversos artículos.

-¿Estuvo usted en la subasta del granjero Merrywood el miércoles de la semana pasada?

-Sí, señora.

-¿Lo ha comprado usted?

-¿Qué?

-¡Ah, es verdad! Aún no se lo he dicho, ni debo decírselo... ¿Cuánto ha pagado usted por todos los artículos que adquirió allí?

-He hecho algunas buenas adquisiciones, lo confieso, pero me han costado unas treinta guineas

-¿Quiere enseñarme la factura de todos los lotes y dejarme escoger? O mejor aún, ¿quiere usted concedérmelo por cien guineas?

Benson miraba a aquella señora tan emocionada, de labios temblorosos. Lo que ofrecía era de corazón.

-No -contestó-. Cien guineas es muy poco. Acaso para usted valga eso, pero para mí vale más.

-¡Le daré doscientas, y asunto terminado! ¿Qué ha adquirido usted? ¿Las camas, las butacas, los aparadores?... Enséñeme la lista...

Benson descolgó de un clavo de la tienda la memoria del tasador y se la entregó a la señora, que la examinó y con la misma agitación febril exclamó:

-¿Para qué comprobar artículo por artículo? Sólo hay uno que me interesa, y es éste. Quédese con los demás y véndame ese armarito con sus cuatro cajones. Señale usted mismo el precio y no perdamos un tiempo precioso.

-¡No puede ser, señora! -opuso Benson, a su vez pálido y azorado-. Ese armario no está ya en mi poder. Lo he vendido y lo he llevado yo mismo al comprador.

-¡Infeliz! -exclamó la señora-. ¡Me ha arruinado usted y se ha arruinado también a sí mismo! Ese armario nos hubiera hecho ricos a los dos. ¿Por qué me enteraría tan tarde de la venta? ¿Por qué? ¿Y no puede usted recobrarlo? ¿Quién lo ha adquirido? ¿Accederá el comprador a vendérmelo? Dígame su nombre y su dirección... Quizás no se haya perdido todo aún...

-No sé el nombre del comprador -replicó Benson-; pero, por fortuna, sé dónde vive, y quizá encontremos medio de volver a verlo... Sin embargo, dígame antes por qué se le antoja tan valioso el armario. Lo he examinado detenidamente, se lo aseguro; es un mueble ordinario, no tiene doble fondo ni muelle alguno secreto... Debe usted de equivocarse, sin duda.

-No hay equivocación. ¿Ha mirado usted bien los cuatro cajones? ¿Se ha fijado en su grueso? ¿No ha reparado en que el de arriba tenía una especie de corredera en un borde?

-No... nada he visto. Pero si tan segura está usted de lo que afirma, habré mirado mal... Decididamente, soy muy torpe; se han burlado de mí... me han engañado...

Pareció tan abrumado el prestamista por la convicción de su simpleza, que hasta la misma señora se conmovió.

-Escúcheme -le dijo-; si se las agencia usted bien, aún podremos repararlo todo; pero es necesario que actuemos de acuerdo. ¿Quiere que acordemos repartirnos lo que contenga el cajón?

-Pero ¿qué contiene? -inquirió Benson bajando la voz-. ¿Contiene realmente algo?

-¿Le ofrecería yo si no cien o doscientas guineas por tal mueble? En fin, quiero confiárselo todo. ¿Conocía usted al granjero Merrywood?

-No, no puedo asegurar que lo conociera. Hace tiempo le vendí una silla de montar y recuerdo que pocos días después vino a reprocharme haberlo engañado en la calidad de la borra.

-¡Qué suyo es eso! Espíritu desconfiado, inquieto, lúgubre... Pero no siempre fue así el pobre hombre; la desgracia trastorna con frecuencia un buen carácter. Tenía una hija cuya extraordinaria belleza ponderaba todo el mundo hace unos veinte años; hija única... ¡Pobre Carolina! Constituía su ídolo y mostraba con él todas las atenciones del cariño filial. Agradecida a la brillante educación que recibiera, quería consagrar su vida a tan buen padre: le leía, le ejecutaba sonatas al piano; en una palabra, era el ángel de la casa. ¡Tan amable! Todos la queríamos.

-¿También la conocía usted?

-¡Que si la conocía! Fuimos amigas desde la infancia y éramos primas por parte de madre. Aunque yo era pobre, se portó muy bien conmigo; exigió a su padre que yo viviera con ellos en la granja. Claro que yo, por mi parte, los ayudaba con multitud de pequeños servicios; pero ¡qué delicadeza en el proceder de tan generosos parientes! Me hubieran tomado por hermana de Carolina siempre vestida igual, compartiendo sus diversiones... yendo al baile con ella... ¡Al baile!... Ya adivinará usted lo demás.

-¡No, se lo juro! La escucho.

-¿De modo que no ha oído usted hablar del viejo marqués de...? ¡Pero dejemos ese nombre odioso!... Tenía un hijo, el joven conde Rogelio..., muchacho amabilísimo, espléndido, muy alegre, sin la menor arrogancia... Vio a Carolina y le impresionó su belleza; la amó, como todos... ¿Quién no la hubiera amado?... Le declaró su amor y lo compartió con ella... Lo de siempre, señor Benson... el amor y sus penas amargas... Una noche, hará de esto doce años, sí, doce años, transcurría el mes de septiembre, Carolina vino a verme a mi cuarto... “Prima -me dijo-, ¿crees que mi padre es hombre capaz de perdonar?” “Sin duda, Carolina -le respondí-. ¿No es cristiano?” “Lo es; pero ¿perdonaría a una hija que hubiese ambicionado elevarse por encima de su condición? ¿Le perdonaría hacerse lady? ¿Se descubriría de buena gana ante ella, como hace cuando la marquesa pasa por su lado en carroza para ir a la iglesia?” “¡Qué locura!”, contesté a Carolina, temiendo comprenderla. Y en cuanto me hubo confesado todo, le di un consejo amistoso, aunque me sedujera también verla ir y venir por mi cuarto aquella noche dándose aires de condesa, abanicándose con una zapatilla y recogiéndose la cola del traje de corte..., que a la sazón no era sino el camisón...

-¿Y qué sucedió? ¿Cogió una pleuresía y murió?

-No, sucedió que fue raptada. Carolina desapareció una mañana de aquel mes, y desde tan aciago día, el granjero Merrywood no levantó la cabeza de humillación. El infortunado padre pareció olvidar que había tenido una hija. No volvió a hablar de Carolina; nadie se atrevió ya a nombrarla, y cuando al mes siguiente recibió carta de ella, en la que le anunciaba que se iba a casar, que iba a ser una gran señora importante y rica, pero que siempre amaría y respetaría a su padre... el granjero rompió la carta y arrojó los pedazos al aire, sin pronunciar más que estas palabras: “¡Insensata! ¡Insensata!”

-Loca estaba, en efecto -confirmó Benson-, porque presumo que no se casaría con ella el joven conde.

-¡Ay, no! Y ella no volvió a escribir. Merrywood subió al cuarto que ocupaba Carolina, abrió violentamente el armario de encina en que ella guardaba sus vestidos y ropa blanca, vació en el suelo los cajones y echó al fuego trajes, lencería, cofias, toquillas, etcétera, etcétera. Aquel armario era un antiguo mueble de familia que había pertenecido a su propia abuela, luego a su madre, después a su esposa... El cajón superior tenía un doble fondo, que servía a Carolina de cartera, donde guardaba las cartas que cuando estaba en el colegio recibió de su padre. El granjero abrió asimismo ese doble fondo, las sacó de él todas, intentó releer una y no pudo continuar por las muchas lágrimas que acudieron a sus ojos. Pasó un mes, luego otro, después el año entero, y el pobre padre no se mostraba menos taciturno ni menos triste, cuando recibió otra carta que llevaba en el sello las armas del marqués. La abrió y vio que era del joven conde Rogelio, cuyo padre acababa de morir, legándole todos sus títulos y propiedades, pero a condición de que se casara con la heredera de lord Rockigham. “Carolina -escribía el nuevo marqués- es dichosa; mas yo debo a usted una reparación personal, porque sé que su fortuna se ha resentido de sus penas. Le envío, pues, en nombre de su hija, cuatro billetes de banco de mil libras esterlinas cada uno.”

-¡Alabado sea Dios! -gritó el prestamista-. ¡Qué señor tan noble y dadivoso! ¡Cuatro mil libras esterlinas! ¡Vaya una fortuna para el granjero Merrywood!

-¡Qué mal lo juzga usted! ¡Ah! ¡Si hubiera visto, como yo vi, la cólera reconcentrada con que estrujó en sus manos la carta sin pronunciar una palabra!... Al cabo de un cuarto de hora de triste silencio me dijo: “Sube conmigo, Juana. Deseo que seas testigo de lo que voy a hacer.” Lo seguí toda temblorosa hasta el cuarto de Carolina. “Aquí hay -agregó- cuatro mil libras esterlinas que ese cobarde seductor pretende hacerme aceptar en nombre de mi hija. Líbreme Dios de tocarlas, y no se las devuelvo porque podría emplearlas en seducir a otras; pero... cuando yo muera..., si alguna vez queda en la miseria la hija que él me raptó, no quiero que perezca de hambre. Justo es que recobre el precio de su deshonra; tú sabrás de dónde sacar lo que le pertenece.” Y al decir esto, abrió el doble fondo, metió en él los billetes de banco, empujó el cajón con un postrer acceso de desesperación y me entregó este alfiler de plata, que sirve para activar el muelle secreto. El granjero Merrywood ha muerto; Carolina ha dejado también de existir. ¿Para quién deben ser las cuatro mil libras esterlinas?

-¡Y yo que he vendido el armario por dos libras! -suspiró Benson- ¡Miserable de mí! Lo repito: ¡me han robado! ¿Está usted segura de que es la única que sabía lo que acaba de contarme? ¡Ah! ¡He debido desconfiar del joven de aparente inocencia que venía como por casualidad a escoger ese mueble entre todos los de mi tienda!

-Dígame el nombre del comprador -repitió la dama-; no sólo poseo el secreto, sino que tengo también el alfiler.

-Déjeme el alfiler -prosiguió Benson-. No es demasiado tarde para ir a comprobarlo. Corro allá.

-No, no; quiero conservar la llave. Traiga usted el armario, y una vez que esté aquí lo comprobaremos juntos, y juntos lo abriremos puesto que debemos repartirnos la suma. A no ser que prefiera darme la dirección del comprador para que me arregle con él.

-No, no -porfió, a su vez, Benson-; yo he cometido la falta, yo tengo que repararla. Esté usted aquí mañana por la mañana, a las nueve.

-¡Mañana, a las nueve! -repitió la prima Juana-. Buenas noches.

Y montó de nuevo en el carruaje.

Benson no cerró los ojos en toda la noche por miedo a que el sol y el joven de la Calle de Salisbury madrugaran más que él. En cuanto amaneció, corrió a la calle en cuestión, y daban las seis cuando se hallaba delante del número 2.

Antes de echar mano a la aldaba, se cercioró de que llevaba en el bolsillo una bolsa de monedas de oro. “Supongo -pensaba- que la vista del dinero seducirá a mi modesto joven, y, sobre todo, a la tía vieja, a quien tal vez haya que indemnizar. ¡Magnífico! Estoy prevenido. Llamemos.”

-¿Quién es?

-¿Está levantada la señora de Truman? -preguntó Benson por el ojo de la cerradura.

-Aún no.

-¿Y su sobrino?

-Soy yo -respondió una voz desde dentro.

Y al abrirse la puerta. el sobrino, presentándose en persona, expresó su extrañeza por tan temprana visita.

-Caballero -le expuso Benson-, nunca se apresura uno lo bastante, cuando se trata de reparar un error. Lo cometí anoche, al venderle un armario que me descabalaba la pareja. Y vengo a deshacer el trato; pero soy demasiado justo para no resarcirle espléndidamente. Usted mismo escogerá lo que quiera de toda mi tienda.

-De ningún modo, señor. Mi tía está entusiasmada con el regalo y no creo que haya el menor error. Por otra parte, todavía no he abierto los cajones, y recordará usted que lo he previsto todo... ¿Y si encontrase en él mi fortuna? Esos muebles antiguos de familia han enriquecido a más de un heredero, como le decía a usted ayer.

Hubo una pausa. Benson reflexionaba y calculaba. Reanudó la conversación a media voz y apoyó su elocuencia sacando del bolsillo la bolsa. Y debió de hallar, por fin, un argumento contundente, porque media hora más tarde el armario gótico entraba de nuevo en la tienda, después de desandar, a hombros del prestamista, todo el camino recorrido la víspera.

-¡Al fin respiro! -exclamó-. Pero ¿aguardaré a las nueve? ¡Ah! ¡Esa buena prima que cree que no puedo prescindir de su alfiler! Aquí tengo una hachita que ha roto otros muchos muebles!

Monologando así, sacó el primer cajón del armario y vio pegado en una de las paredes interiores un papel.

-¡Vaya, vaya! -murmuró-. ¿Será uno de los billetes?

Y leyó:

“Recibí: Jorge Evans.”

En el mismo instante entraba el joven cómico en su cuarto de la hostería de los Tres Pichones y restituía a su baúl dos vestidos de mujer.

-¡Vaya! -se dijo-. ¡Mucha prisa se ha dado en quebrar el empresario de este pueblo! Yo hubiera podido hacerle recaudar algunos ingresos con mi estreno. He tenido bastante éxito en mis papeles de la tía Truman y de la prima Juana. Deducidos de mis doscientas cincuenta libras esterlinas el alquiler de la casa de la Calle de Salisbury, las dos libras del armario, lo que debo por la silla de posta y la propina de seis peniques, tan generosamente dada al ambicioso Benson, aún me quedarán las doscientas libras de mi padre, con los intereses de diez años. ¡Ojalá la conciencia de mi deudor esté tan tranquila como la mía!

FIN

20 Jul 2011

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Odio desde la otra vida



Roberto Arlt

Fernando sentía la incomodidad de la mirada del árabe, que, sentado a sus espaldas a una mesa de esterilla en el otro extremo de la terraza, no apartaba posiblemente la mirada de su nuca. Sin poderse contener se levantó, y, a riesgo de pasar por un demente a los ojos del otro, se detuvo frente a la mesa del marroquí y le dijo:
-Yo no lo conozco a usted. ¿Por qué me está mirando?

El árabe se puso de pie y, después de saludarlo ritualmente, le dijo:

-Señor, usted perdonará. Me he especializado en ciencias ocultas y soy un hombre sumamente sensible. Cuando yo estaba mirándole la espalda era que estaba viendo sobre su cabeza una gran nube roja. Era el Crimen. Usted en esos momentos estaba pensando en matar a su novia.

Lo que le decía el desconocido era cierto: Fernando había estado pensando en matar a su novia. El moro vio cómo el asombro se pintaba en el rostro de Fernando y le dijo:

-Siéntese. Me sentiré muy orgulloso de su compañía durante mucho tiempo.

Fernando se dejó caer melancólicamente en el sillón esterillado. Desde el bar de la terraza se distinguían, casi a sus pies, las murallas almenadas de la vieja dominación portuguesa; más allá de las almenas el espejo azul del agua de la bahía se extendía hasta el horizonte verdoso. Un transatlántico salía hacia Gibraltar por la calle de boyas, mientras que una voz morisca, lenta, acompañándose de un instrumento de cuerda, gañía una melodía sumamente triste y voluptuosa. Fernando sintió que un desaliento tremendo llovía sobre su corazón. A su lado, el caballero árabe, de gran turbante, finísima túnica y modales de señorita, reiteró:

-Estaba precisamente sobre su cabeza. Una nube roja de fatalidad. Luego, semejante a una flor venenosa, surgió la cabeza de su novia. Y yo vi repetidamente que usted pensaba matarla.

Fernando, sin darse cuenta de lo que hacía, movió la cabeza, confirmando lo que el desconocido le decía. El árabe continuó:

-Cuando desapareció la nube roja, vi una sala. Junto a una mesa dorada había dos sillones revestidos de terciopelo verde.

Fernando ahora pensó que no tenía nada de inverosímil que el árabe pudiera darle datos de la habitación que ocupaba Lucía, porque ésta miraba al jardín del hotel. Pero asintió con la cabeza. Estaba aturdido. Ya nada le parecía extraordinario ni terrible. El árabe continuó:

-Junto a usted estaba su novia con el tapado bajo el brazo -y acto seguido el misterioso oriental comenzó con su lápiz a dibujar en el mármol de la mesa el rostro de la muchacha.

Fernando miraba aparecer el rostro de la muchacha que tanto quería, sobre el mármol, y aquello le resultaba, en aquel extraño momento, sumamente natural. Quizás estaba viviendo un ensueño. Quizás estaba loco. Quizás el desconocido era un bribón que lo había visto con Lucía por la Cashba. Pero lo que este granuja no podía saber era que él pensaba en aquel momento matar a Lucía.

El árabe prosiguió:

-Usted estaba sentado en el sillón de terciopelo verde mientras que ella le decía: "Tenemos que separarnos. Terminar esto. No podemos continuar así". Ella le dijo esto y usted no respondió una palabra. ¿Es cierto o no es cierto que ella le dijo eso?

Fernando asintió, mecanizado, con la cabeza. El árabe sacó del bolsillo una petaca, extrajo un cigarrillo, y dijo:

-Usted y Lucía se odian desde la otra vida.

-...

-Ustedes se vienen odiando a través de una infinita serie de reencarnaciones.

Fernando examinó el cobrizo perfil del hombre del turbante y luego fijó tristemente los ojos en el espejo azul de la bahía. El transatlántico había doblado el codo de las boyas, su penacho de humo se inmovilizaba en el espacio, y una tristeza tremenda lo aplanaba sobre el sillón, mientras que el árabe, con una naturalidad terrorífica, proseguía.

-Y usted quiere morir porque la ama y la odia. Pero el odio es entre ustedes más fuerte que el amor. Hace millares de años que ustedes se odian mortalmente. Y que se buscan para dañarse y desgarrarse. Ustedes aman el dolor que uno le inflige al otro, ustedes aman su odio porque ninguno de ustedes podría odiar más perfectamente a otra persona de la manera que recíprocamente se odian ya.

Todo ello era cierto. El hombre de la chilaba prosiguió:

-¡Quiere usted venir a mi casa? Le mostraré en el pasado el último crimen que medió entre usted y su novia. ¡Ah!, perdón por no haberme presentado. Me llamo Tell Aviv; soy doctor en ciencias ocultas.

Fernando comprendió que no tenía objeto resistirse a nada. Bribón o clarividente, el desconocido había penetrado hasta las raíces de su terrible problema. Golpeó el gong y un muchachito morisco, descalzo, corrió sobre las esteras hacia la mesa, recibió el duro "assani", presto como un galgo le trajo el vuelto y pronto Fernando se encontró bajo las techadas callejuelas caminando al lado de su misterioso compañero, que, a pesar de gastar una magnífica chilaba, no se recataba de pasar al lado de grasientas tiendas donde hervían pescado día y noche, y puestos de té verde, donde en amontonamiento bestial se hacinaban piojosos campesinos descalzos.

Finalmente llegaron a una casa arrinconada en un ángulo del barrio de Yama el Raisuli.

Tell Aviv levantó el pesado aldabón morisco y lo dejó caer; la puerta, claveteada como la de una fortaleza, se entreabrió lentamente y un negro del Nedjel apareció sombrío y semidesnudo. Se inclinó profundamente frente a su amo; la puerta, entonces se abrió aun más, y Fernando cruzó un patio sombreado de limoneros con grandes tinajones de barro en los ángulos. Tell Aviv abrió una puerta y lo invitó a entrar. Se encontraban ahora en un salón con un estrado al fondo cubierto de cojines. En el centro una fontana desgranaba su vara de agua. Fernando levantó la cabeza. El techo de la habitación, como el de los salones de la Alhambra, estaba abombado en bóveda. Ríos de constelaciones y de estrellas se cuajaban entre las nebulosas, y Tell Aviv, haciéndole sentar en un cojín, exclamó:

-Que la paz de Alá esté en tu corazón. Que la dulzura del Profeta aceite tu generosidad. Que tus entrañas se cubran de miel. Eres un hombre ecuánime y valiente. No has dudado de mi amistad.

Y como si estuvieran perdidos en una tienda del desierto, batió tan rudamente el gong que el negro, sobresaltado, apareció con un puñado de rosas amarillas olvidado entre las manos:

-Rakka, trae la pipa -y dirigiéndose a Fernando, aclaró:

-Fumarás ahora la pipa de la buena droga. Ello facilitará tu entrada en el plano astral. Se te hará visible la etapa de tu último encuentro con la que hoy es tu novia. La continuidad de vuestro odio.

Algunos minutos después Fernando sorbía el humo de una droga acre al paladar como una pulpa de tamarindo. Así de ácida y fácil. Su cuerpo se deslizó definitivamente sobre los cojines, mientras que su alma, diligentemente, se deslizaba a través de espesas murallas de tinieblas. A pesar de las tinieblas él sabía que se encaminaba hacia un paisaje claro y penetrante. Rápidamente se encontró en las orillas de una marisma, cargada de flexibles juncos. Fernando no estaba triste ni contento, pero observaba que todas las particularidades vegetales del paisaje tenían un relieve violento, una luminosidad expresiva, como si un árbol allí fuera dos veces más profundamente árbol que en la tierra.

Más allá de la marisma se extendía el mar. Un velero, con sus grandes lienzos rojos extendidos al viento, se alejaba insensiblemente. De pronto Fernando se detuvo sorprendido. Ahora estaba vestido al modo oriental, con un holgado albornoz de verticales rayas negras y amarillas. Se llevó la mano al cinto y allí tropezó con un pistolón de chispa.

Un pesado yatagán colgaba de su cinturón de cuero. Más allá la arena del desierto se extendía fresca hasta el ribazo de árboles de un bosque. Fernando se echó a caminar melancólicamente y pronto se encontró bajo la cúpula de los árboles de corteza lisa y dura y de otros que por un juego de luz parecían cubiertos por escamas de cobre oxidado. Como Tell Aviv le había dicho, la paz estaba en él. No lejos se escuchaba el murmullo de un río. Continuó por el sendero, y una hora después, quizá menos, se encontró en la margen del río. El lecho estaba sembrado de peñascos y las aguas se quebraban en sus filos en flechas de cristal. Lo notable fue que, al volver la cabeza, vio un hermoso caballo ensillado, con una hermosa silla de cuero labrado. Fernando, sorprendido, buscó con la mirada en derredor. No se veía al dueño del caballo por ninguna parte. El caballo inmóvil, de pie junto al río, miraba melancólicamente pasar las aguas. Fernando se acercó. Un sobresalto de terror dejó rígido su cuerpo y rápidamente llevó la mano al alfanje. No lejos del caballo, sobre la arena, completamente dormida, se veía una boa constrictor. El vientre de la boa, cubierto de escamas negras y amarillas, aparecía repugnantemente deformado en una gran extensión. Por la boca de la boa salían los dos pies de un hombre. No había dudas ahora. El hombre que montaba el caballo, al llegar al río, desmontó posiblemente para beber, y cuando estaba inclinado de cara sobre el agua, probablemente la boa se dejó caer de la rama de un árbol sobre él, lo trituró entre sus anillos y después se lo tragó. ¡Vaya a saber cuántas horas hacía que el caballo esperaba que su amo saliera del interior del vientre de la boa!

Fernando examinó el filo de su yatagán -era reciente y tajante-, se aproximó a la boa, inmóvil en el amodorramiento de su digestión, y levantó el alfanje. El golpe fue tremendo. Cercenó no sólo la cabeza del reptil sino los dos pies del muerto. La boa decapitada se retorció violentamente.

Entonces Fernando, considerando el atalaje del caballo, pensó que el hombre que había sido devorado por la boa debía ser un creyente de calidad, cuya tumba no debía ser el vientre de un monstruo. Se acercó a la boa y le abrió el vientre. En su interior estaba el hombre muerto. Envuelto en un rico albornoz ensangrentado, con puñal de empuñadura de oro al cinto. Un bulto se marcaba sobre su cintura. Fernando rebuscó allí; era una talega de seda. La abrió y por la palma de su mano rodó una cascada de diamantes de diversos quilates. Fernando se alegró. Luego, ayudándose de su alfanje, trabajó durante algunas horas hasta que consiguió abrir una tumba, en la cual sepultó al infortunado desconocido.

Luego se dirigió a la ciudad, cuyas murallas se distinguían allá a lo lejos en el fondo de una curva que trazaba el río hacia las colinas del horizonte.

Su día había sido satisfactorio. No todos los hijos del Islam se encontraban con un caballo en la orilla de un río, un hombre dentro del vientre de una boa y una fortuna en piedras preciosas dentro de la escarcela del hombre. Alá y el Profeta evidentemente lo protegían.

No estaban ya muy distantes, no, las murallas de la ciudad. Se distinguían sus macizas torres y los centinelas con las pesadas lanzas paseándose detrás de los merlones.

De pronto, por una de las puertas principales salió una cabalgata. Al frente de ella iba un hombre de venerable barba. El grupo cabalgaba en dirección de Fernando. Cuando el anciano se cruzó con Fernando, éste lo saludó llevándose reverentemente la mano a la frente. Como el anciano no lo conocía, sujetó su potro, y entonces pudo observar la cabalgadura de Fernando, porque exclamó:

-Hermanos, hermanos, mirad el caballo de mi hijo.

Los hombres que acompañaban al anciano rodearon amenazadores a Fernando, y el anciano prosiguió:

-Ved, ved, su montura. Ved su nombre inscripto allí.

Recién Fernando se dio cuenta de que efectivamente, en el ángulo de la montura estaba escrito en caracteres cúficos el posible nombre del muerto.

-Hijo de un perro. ¿De dónde has sacado tú ese caballo?

Fernando no atinaba a pronunciar palabra. Las evidencias lo acusaban. De pronto el anciano, que le revisaba y acababa de despojarle de su puñal y alfanje ensangrentado, exclamó:

-Hermanos..., hermanos..., ved la bolsa de diamantes que mi hijo llevaba a traficar...

Inútil fue que Fernando intentara explicarse. Los hombres cayeron con tal furor sobre él, y le golpearon tan reciamente, que en pocos minutos perdió el sentido. Cuando despertó, estaba en el fondo de una mazmorra oscura, adolorido.

Transcurrieron así algunas horas, de pronto la puerta crujió, dos esclavos negros lo tomaron de los brazos y le amarraron con cadenitas de bronce las manos y los pies. Luego a latigazos lo obligaron a subir los escalones de piedra de la mazmorra, a latigazos cruzó con los negros corredores y después entró a un sendero enarenado. Su espalda y sus miembros estaban ensangrentados. Ahora yacía junto al cantero de un selvático jardín. Las palmas y los cedros recortaban el cielo celeste con sus abanicos y sus cúpulas; resonó un gong y dejaron de azotarle. El anciano que lo había encontrado en las afueras de la ciudad apareció bajo la herradura de una puerta en compañía de una joven. Ella tenía descubierto el rostro. Fernando exclamó:

-Lucía, Lucía, soy inocente.

Era el rostro de Lucía, su novia. Pero en el sueño él se había olvidado de que estaba viviendo en otro siglo.

El anciano lo señaló a la joven, que era el doble de Lucía, y dijo:

-Hija mía; este hombre asesinó a tu hermano. Te lo entrego para que tomes cumplida venganza en él.

-Soy inocente -exclamó Fernando-. Lo encontré en el vientre de una boa. Con los pies fuera de la boa. Lo sepulté piadosamente.

Y Fernando, a pesar de sus amarraduras, se arrodilló frente a "Lucía". Luego, con palabras febriles, le explicó aquel juego de la fatalidad. "Lucía", rodeada de sus eunucos, lo observaba con una impaciente mirada de mujer fría y cruel, verdoso el tormentoso fondo de los ojos. Fernando de rodillas frente a ella, en el jardín morisco, comprendía que aquella mirada hostil y feroz era la muralla donde se quebraban siempre y siempre sus palabras. "Lucía" lo dejó hablar, y luego, mirando a un eunuco, dijo:

-Afcha, échalo a los perros.

El esclavo corrió hasta el fondo del jardín, luego regresó con una traílla de siete mastines de ojos ensangrentados y humosas fauces. Fernando quiso incorporarse, escapar, gritar, otra vez su inocencia. De pronto sintió en el hombro la quemadura de una dentellada, un hocico húmedo rozó su mejilla, otros dientes se clavaron en sus piernas y...

El negro de Nedjel le había alcanzado una taza de té, y sentado frente a él Tell Aviv dijo:

-¿No me reconoces? Yo soy el criado que en la otra vida llamé a los perros para hacerte despedazar.

Fernando se pasó la mano por los ojos. Luego murmuró:

-Todo esto es extraño e increíblemente verídico.

Tell Aviv continuó:

-Si tú quieres puedes matar a Lucía. Entre ella y yo también hay una cuenta desde la otra vida.

-No. Volveríamos a crear una cuenta para la próxima vida.

Tell Aviv insistió.

-No te costará nada. Lo haré en obsequio a tu carácter generoso.

Fernando volvió a rehusar, y, sin saber por qué, le dijo:

-Eres más saludable que el limón y más sabroso que la miel; pero no asesines a Lucía. Y ahora, que la paz de Alá esté en ti para siempre.

Y levantándose, salió.

Salió, pero una tranquilidad nueva estaba en el fondo de su corazón. Él no sabía si Tell Aviv era un granuja o un doctor en magia, pero lo único que él sabía era que debía apartarse para siempre de Lucía. Y aquella misma noche se metió en un tren que salía para Fez, de allí regresó para Casablanca y de Casablanca un día salió hacia Buenos Aires. Aquí lo encontré yo, y aquí me contó su historia, epilogada con estas palabras:

-Si no me hubiera ido tan lejos creo que hubiera muerto a Lucía. Aquello de hacerme despedazar por los perros no tuvo nombre...


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Bautismo de fuego


Mijaíl Bulgákov

Rápidamente pasaron los días en el hospital de N. y yo comencé poco a poco a acostumbrarme a mi nueva vida.

En las aldeas continuaban agramando el lino, los caminos seguían estando intransitables y a la consulta no venían más de cinco personas cada día. Las noches las tenía completamente libres y las dedicaba a poner en orden la biblioteca, a leer los manuales de cirugía y a tomar té, larga y solitariamente, junto al samovar.

La lluvia caía durante días y noches enteras y las gotas golpeaban inexorablemente el techo; el agua caía con gran fuerza bajo la ventana y resbalaba por el canalón hacia un cubo. El patio estaba cubierto de fango, de niebla, de una negra penumbra en la cual, como manchas opacas y difusas, se iluminaban las ventanas de la casita del enfermero y la lámpara de petróleo del portón.

Una de aquellas noches estaba yo sentado en mi gabinete y estudiaba un atlas de anatomía topográfica. A mi alrededor había un completo silencio, interrumpido de vez en cuando por el roer de los ratones detrás del aparador del comedor.

Estuve leyendo hasta que mis párpados, ya pesados, comenzaron a cerrarse. Finalmente bostecé, dejé a un lado el atlas y decidí acostarme. Me estiré y, saboreando por anticipado un sueño pacífico, acompañado por el ruido y el golpeteo de la lluvia, me dirigí a mi dormitorio, me desvestí y me acosté.

No había tenido siquiera tiempo de rozar la almohada cuando, delante de mí, en la penumbra soñolienta, apareció el rostro de Ana Prójorova, de diecisiete años, de la aldea Tóropovo. A Ana Prójorova había que extraerle un diente. El enfermero Demián Lukich se deslizó suavemente con unas brillantes tenazas en las manos. Recordé cómo decía "aquesto" en lugar de "esto", llevado por el amor que profesaba al estilo elevado. Sonreí y me quedé dormido.

Sin embargo, no había pasado media hora cuando me desperté de repente, como si me hubieran dado un tirón; me senté y, examinando con temor la oscuridad, me puse a escuchar con atención.

Alguien golpeaba con fuerza e insistencia la puerta exterior y desde un primer momento presentí que aquellos golpes eran de mal agüero.

Llamaban a mi apartamento.

Los golpes cesaron, resonó el cerrojo; se oyó la voz de la cocinera y, en respuesta, una voz poco clara; luego alguien subió por la escalera, provocando chirridos, entró silenciosamente en el gabinete y llamó en mi dormitorio.

-¿Quién es?

-Soy yo -me respondió un respetuoso susurro-, yo, Axinia, la enfermera.

-¿De qué se trata?

-Ana Nikoláievna me envía a buscarle, pide que vaya enseguida al hospital.

-¿Qué ha sucedido? -pregunté, y sentí que el corazón me daba un vuelco.

-Han traído a una mujer de Dúltsevo. Tiene complicaciones con el parto.

"Ya está. Ya comenzamos -cruzó por mi cabeza, mientras trataba inútilmente de meter mis pies en las zapatillas-. ¡Ah, diablos! Las cerillas no encienden. Bien, tarde o temprano tenía que suceder. No podía pasarme toda la vida con las laringitis y los catarros estomacales."

-Está bien. ¡Vete y dile que ahora mismo iré! -grité, y me levanté de la cama. Detrás de la puerta se oyeron los pasos de Axinia y de nuevo resonó el cerrojo. El sueño desapareció en un instante. Con dedos temblorosos encendí la lámpara apresuradamente y comencé a vestirme. Las once y media... ¿Qué complicaciones con el parto tendría aquella mujer? Jumm... posición incorrecta... pelvis estrecha... O quizá alguna cosa peor. Tal vez tendré que utilizar los fórceps. ¿No sería mejor enviarla directamente a la ciudad? ¡Impensable! "¡Qué doctor tan bueno!", dirían todos. Y además, no tengo derecho a hacerlo. No, tengo que hacerlo yo mismo. ¿Hacer qué? El diablo lo sabe. Será una tragedia si me confundo, una vergüenza ante las comadronas. Aunque primero es necesario ver de qué se trata; no vale la pena inquietarse antes de tiempo...

Me vestí, me puse el abrigo y, confiando mentalmente en que todo saldría bien, corrí bajo la lluvia hacia el hospital, pisando sobre tablones que al hundirse hacían saltar el agua del patio. En la semioscuridad se distinguía, junto a la entrada, una carreta; el caballo golpeaba con sus cascos las tablas podridas.

-¿Usted ha traído a la parturienta? -pregunté a la figura que se movía junto al caballo.

-Yo... sí, yo, padrecito -contestó lastimeramente una voz de mujer.

En el hospital, pese a lo avanzado de la hora, había agitación. En la recepción ardía, parpadeante, una lámpara de petróleo. Por el angosto corredor que conducía a la sección de maternidad, Axinia pasó rápidamente junto a mí, llevando una palangana. Detrás de la puerta se oyó de pronto un débil gemido que cesó inmediatamente. Abrí la puerta y entré en la sala de partos. La pequeña habitación blanqueada estaba intensamente iluminada por la lámpara del techo. En la cama, junto a la mesa de operaciones, yacía una mujer joven, cubierta hasta el mentón por una manta. Su rostro estaba desfigurado por una mueca de dolor y húmedos mechones de pelo se le habían pegado a la frente. Ana Nikoláievna, con un termómetro en la mano, preparaba una solución en un recipiente, mientras la segunda comadrona, Pelagueia Ivánovna, sacaba sábanas limpias del armario. El enfermero, apoyado contra la pared, estaba en pose de Napoleón. Al verme, todos se animaron. La parturienta abrió los ojos, se estrujó las manos y de nuevo gimió lastimeramente.

-¿Qué ocurre? -pregunté, y yo mismo me asombré del tono de mi voz. Hasta tal punto era seguro y tranquilo.

-Posición transversal -contestó rápidamente Ana Nikoláievna, mientras continuaba echando agua en la solución.

-Bien -dije alargando las sílabas y frunciendo el entrecejo-; bien, veamos...

-¡El doctor tiene  que  lavarse  las manos!  ¡Axinia! -gritó de inmediato Ana Nikoláievna. Su rostro había adquirido una expresión seria y solemne.

Mientras corría el agua y me quitaba la espuma de las manos enrojecidas por el cepillo, hacía preguntas poco importantes a Ana Nikoláievna; por ejemplo, cuándo habían traído a la parturienta y de dónde venía...

La mano de Pelagueia Ivánovna levantó la manta y yo, sentándome al borde de la cama y tocándola suavemente, comencé a palpar el vientre hinchado. La mujer gemía, se estiraba, crispaba los dedos, arrugaba la sábana.

-Tranquila, tranquila... aguanta -le dije, mientras apoyaba cuidadosamente las manos sobre su piel estirada, ardiente y seca.

En realidad, después de que la experimentada Ana Nikoláievna me había sugerido de qué se trataba, este examen no era necesario. Por más que continuara examinándola, no sabría más que Ana Nikoláievna. Su diagnóstico era, por supuesto, correcto. Posición transversal. Era evidente. Bien, ¿y después?

Frunciendo el entrecejo, continué palpando el vientre por todos lados y de reojo observaba los rostros de las comadronas. Estaban concentradas y serias y en sus ojos leí aprobación a lo que yo hacía. En efecto, mis movimientos eran seguros y correctos; intentaba ocultar mi intranquilidad en lo más recóndito de mi ser y no demostrarla de ninguna manera.

-Bien -dije tras un suspiro, y me levanté de la cama, ya que por fuera no se podía ver nada más-, hagamos la exploración interna.

La aprobación apareció de nuevo en los ojos de Ana Nikoláievna.

-¡Axinia!

De nuevo corrió el agua.

"¡Eh, si pudiera leer ahora el Doderlein!", pensé tristemente mientras me enjabonaba las manos. Pero era imposible hacerlo en ese momento. Además, ¿cómo me podría ayudar en aquel momento Doderlein? Me quité la espesa espuma y me unté los dedos con yodo. La sábana limpia crujió bajo las manos de Pelagueia Ivánovna. Inclinándome hacia la parturienta comencé tímida y cuidadosamente a realizar la exploración interna. En mi memoria surgió de manera espontánea la imagen de la sala de operaciones de la maternidad. Lámparas eléctricas que ardían intensamente dentro de globos opacos, un brillante suelo de baldosas, el instrumental y los grifos que relucían por todas partes. El asistente, con una bata blanca como la nieve, manipulaba sobre la parturienta; a su alrededor estaban tres ayudantes, los médicos practicantes y una multitud de estudiantes. Todo estaba bien, era luminoso y sin peligro.

Aquí, en cambio, estoy completamente solo y tengo en mis manos a una mujer que sufre; yo respondo por ella. Pero no sé cómo ayudarla pues solo he visto de cerca un parto dos veces en mi vida. En este momento estoy realizando una exploración, pero eso no me hace sentir ningún alivio a mí ni a la parturienta; no entiendo absolutamente nada ni consigo palpar nada en su interior.

Pero había llegado el momento de decidirse a hacer algo.

-Posición transversal... como se trata de una posición transversal, entonces es necesario... es necesario hacer...

-Un viraje sobre la piernecita -no pudo contenerse y dijo, como para sí misma, Ana Nikoláievna.

Un médico viejo y experimentado la habría mirado con desaprobación por entrometerse y adelantarse con sus conclusiones... Yo, en cambio, no soy una persona que se ofenda con facilidad.

-Sí -confirmé significativamente-, un viraje sobre la piernecita.

Y entonces desfilaron con rapidez ante mis ojos las páginas de Doderlein. Viraje directo... viraje combinado... viraje indirecto...

Páginas, páginas... y en ellas dibujos. La pelvis, bebés torcidos, asfixiados, con enormes cabezas... una manita que cuelga y en ella un lazo.

Hacía poco tiempo que había leído el libro. Además, lo había subrayado, reflexionando atentamente sobre cada palabra, imaginándome la correlación de las partes y todos los métodos. Al leerlo, me parecía que el texto quedaría para siempre impreso en mi cerebro.

Pero ahora, de entre todo lo leído, solo surgía una frase:

"La posición transversal es una posición absolutamente desfavorable."

Lo cierto, cierto. Absolutamente desfavorable tanto para la mujer que va a parir como para el médico que ha terminado la universidad solo seis meses atrás.

-Está bien... lo haremos -dije incorporándome.

El rostro de Ana Nikoláievna se animó.

-Demián Lukich -se dirigió al enfermero-, prepare el cloroformo.

¡Fue magnífico que lo dijera porque en ese momento yo no estaba seguro de si la operación debía realizarse con anestesia o sin ella! Por supuesto que con anestesia. ¡Acaso podía ser de otra manera!

Pero de cualquier forma tenía que consultar el Doderlein...

Me lavé las manos y dije:

-Bien... prepárenla para la anestesia, colóquenla en la mesa. Ahora vuelvo, voy a casa a buscar mis cigarrillos.

-Está bien, doctor, está bien, hay tiempo -contestó Ana Nikoláievna.

Me sequé las manos, la enfermera me echó el abrigo sobre los hombros y, sin meter los brazos en las mangas, corrí a casa.

Una vez en mi gabinete encendí la lámpara y, olvidando quitarme el gorro, me lancé hacia la estantería.

Allí estaba: Doderlein. Operaciones en obstetricia. Comencé a pasar rápidamente las lustrosas páginas.

"...el viraje representa siempre una operación peligrosa para la madre..."

Un escalofrío recorrió mi espalda a todo lo largo de la columna vertebral.

"...el peligro principal radica en la posibilidad de un desgarramiento espontáneo del útero..."

Es-pon-tá-ne-o.

"...si el partero al introducir la mano en el útero, como consecuencia de la falta de espacio o por la influencia de la reducción de las paredes del útero, encuentra dificultades para llegar hasta la pierna, debe renunciar a intentos posteriores de realizar el viraje..."

Bien. Si por algún milagro llegara a ser capaz de determinar esas "dificultades" y de renunciar a "intentos posteriores", ¿qué haría con esa mujer anestesiada de la aldea de Dúltsevo?

Más adelante:

"...se prohíbe terminantemente tratar de llegar hasta las piernas a lo largo de la espalda del feto..."

Lo tomaremos en cuenta.

"...sujetar la pierna que está arriba se considera un error, ya que al hacerlo el feto puede girar sobre su propio eje, lo que puede originar un grave encajamiento del feto y puede conducir a las más tristes consecuencias..."

"Tristes consecuencias." Algo indefinidas, ¡pero qué palabras tan impresionantes! ¿Y si el marido de la mujer de Dúltsevo se queda viudo? Me sequé el sudor de la frente, reuní fuerzas y, saltándome aquellos terribles pasajes, traté de recordar solo lo esencial: qué es lo que debía hacer y por dónde introducir la mano. Pero mientras recorría rápidamente los negros párrafos, una y otra vez me topaba con nuevas cosas terribles. Me saltaban a la vista:

"...debido al enorme peligro de desgarramiento... los virajes interno y combinado son de las operaciones obstétricas más peligrosas para la madre..."

Y como acorde final:

"...con cada hora de retraso, crece el peligro..."

¡Basta! La lectura trajo sus frutos: todo se confundió definitivamente en mi cabeza y en un instante me convencí de que no entendía nada, y sobre todo, de que no sabía qué tipo de viraje iba a realizar: ¡combinado, no combinado, directo, indirecto...!

Abandoné el Doderlein y me dejé caer en el sillón, forzándome a poner en orden mis fugitivos pensamientos... Luego miré el reloj. ¡Diablos! ¡Llevaba veinte minutos en casa! En el hospital me esperaban.

"...con cada hora de retraso..."

Las horas se componen de minutos y los minutos, en estos casos, vuelan a una velocidad increíble. Arrojé el Doderlein y corrí de regreso al hospital.

Todo estaba listo. El enfermero estaba de pie junto a la mesita y en ella preparaba la mascarilla y el frasco con cloroformo. La parturienta ya estaba acostada en la mesa de operaciones. Un gemido ininterrumpido se extendía por toda la clínica.

-Aguanta, aguanta -balbuceaba tiernamente Pelagueia Ivánovna, inclinándose hacia la mujer-, el doctor te ayudará ahora mismo.

-No tengo fuerzas... no... ¡Ya no tengo fuerzas!... ¡No lo soportaré!

-No temas, no temas... -balbuceaba la comadrona-. ¡Lo soportarás! Ahora te daremos a oler algo... No sentirás nada.

El agua salía ruidosamente de los grifos; Ana Nikoláievna y yo comenzamos a limpiarnos y a lavarnos las manos y los brazos desnudos hasta el codo. Ana Nikoláievna, con un fondo de gemidos y lamentos, me contaba cómo mi antecesor -un experto cirujano- hacía los virajes. Yo la escuchaba ansiosamente, procurando no perderme una sola palabra. Y esos diez minutos me dieron más que todo lo que había leído sobre obstetricia cuando me preparaba para el examen estatal, en el que -justamente en obstetricia- había obtenido una nota "sobresaliente". Por palabras aisladas, frases inconclusas, insinuaciones hechas de paso, me enteré de lo más necesario, de aquello que no se encuentra nunca en ningún libro. Cuando comencé a secarme las manos -idealmente blancas y limpias- con gasa esterilizada, la decisión ya se había adueñado de mí y tenía en la cabeza un plan firme y determinado. En aquel momento ya no tenía para qué pensar si el viraje iba a ser combinado o no combinado.

Todos aquellos términos científicos ahora no venían al caso. Lo importante era una cosa: debía introducir una mano, con la otra ayudarme desde fuera para ejecutar el viraje y, confiando ya no en los libros sino en el sentido de la medida sin el cual el médico no sirve para nada, debía cuidadosa pero insistentemente hacer bajar una piernecita y, tirando de ella, extraer el bebé.

Debía estar tranquilo y ser cuidadoso pero al mismo tiempo ilimitadamente decidido y audaz.

-Comencemos -le ordené al enfermero, y empecé a untarme los dedos con yodo.

Pelagueia Ivánovna inmediatamente cruzó los brazos de la parturienta y el enfermero cubrió con la mascarilla el rostro extenuado. Del frasco amarillo oscuro comenzó a gotear el cloroformo. Un olor dulce y nauseabundo inundó la habitación. Los rostros del enfermero y de las comadronas se volvieron severos, como si estuvieran inspirados.

-¡Ah! ¡¡Ah!! -gritó de pronto la mujer. Durante unos segundos se agitó, intentando quitarse la máscara.

-¡Sujétenla!

Pelagueia Ivánovna la sujetó por los brazos, los dobló y los apretó contra el pecho. La mujer gritó unas cuantas veces más alejando el rostro de la máscara. Pero cada vez se movía menos... cada vez menos... Luego balbuceó sordamente:

-¡Ah!... ¡Suéltame!... ¡Ah!

Balbuceaba cada vez más débilmente. La blanca habitación quedó en silencio. Las gotas transparentes seguían cayendo sobre la gasa blanca.

-Pelagueia Ivánovna, ¿el pulso?

-Es bueno.

Pelagueia Ivánovna levantó el brazo de la mujer y lo dejó caer; este, inanimado como una rama, se precipitó sobre la sábana. El enfermero retiró la mascarilla y miró las pupilas.

-Duerme.

* * *

Un charco de sangre. Mis brazos están ensangrentados hasta el codo. En las sábanas hay manchas sanguinolentas. Coágulos rojos y bolas de gasa. Y Pelagueia Ivánovna sacude al recién nacido y le da golpecitos. Axinia hace ruido con los baldes al verter el agua en las palanganas. Sumergen al niño alternativamente en agua fría y caliente. El bebé calla y su cabeza parece sujeta por un hilo, cuelga sin vida y se balancea de un lado a otro. Pero de pronto: se escucha algo como un chirrido, o un gemido, y después se oye el primer grito, ronco y débil.

-Está vivo... está vivo... -murmura Pelagueia Ivánovna, y coloca al bebé sobre una almohada.

Y la madre también está viva. Por suerte no ha ocurrido nada terrible. Yo mismo le tomo el pulso. Sí, es regular y claro; el enfermero sacude ligeramente a la mujer por el hombro y dice:

-Bueno, mujer, mujer, despierta.

Arrojan a un lado las sábanas ensangrentadas y apresuradamente cubren a la madre con una sábana limpia; el enfermero y Axinia se la llevan a la sala. El bebé, ya envuelto en sus pañales, se marcha sobre la almohada. Una pequeña carita marrón y arrugada mira desde el borde blanco sin dejar de emitir un agudo llanto.

El agua corre por los grifos de los lavabos. Ana Nikoláievna fuma ansiosamente un cigarrillo, arruga la cara a causa del humo y tose.

-Doctor, ha hecho usted muy bien el viraje, con mucha seguridad.

Me froto afanosamente las manos con un cepillo y la miro de reojo: ¿estará burlándose? Pero en su rostro hay una sincera expresión de orgullosa satisfacción. Mi corazón rebosa alegría. Miro el blanco y sangriento desorden que hay a mi alrededor, el agua roja de la palangana y me siento vencedor. Pero en algún recóndito lugar de mi ser se agita el gusano de la duda.

-Todavía debemos esperar a ver qué ocurre después -digo.

Ana Nikoláievna levanta asombrada la vista hacia mí.

-¿Qué puede ocurrir? Todo ha salido bien.

Murmuro cualquier cosa como respuesta. En realidad, lo que quisiera decir es lo siguiente: ¿estará todo intacto en el interior de la madre?, ¿no la habré lastimado durante la operación...? Esto atormenta confusamente mi corazón. ¡Pero mis conocimientos de obstetricia son tan poco claros, tan librescamente fragmentarios! ¿Un desgarramiento? ¿Cómo debe manifestarse? ¿Cuándo se presentarán los primeros síntomas, ahora o más tarde...? No, mejor no hablar sobre este tema.

-Cualquier cosa puede ocurrir -digo yo-, no está excluida la posibilidad de una infección -repito la primera frase que se me ocurre de algún manual.

-¡Ah, eso! -alarga tranquilamente las palabras Ana Nikoláievna-. Si Dios quiere nada ocurrirá. ¿Una infección? Todo está limpio y esterilizado.

* * *

Era más de la una cuando regresé a mi apartamento. Sobre el escritorio del gabinete, bajo la mancha de luz de la lámpara, yacía pacíficamente el Doderlein, abierto en la página "Peligros del viraje". Durante casi una hora, estuve bebiendo el té ya frío y hojeando el libro. Entonces ocurrió algo interesante: todos los pasajes que hasta ese momento me habían resultado oscuros se volvieron completamente claros, como si se hubieran llenado de luz, y allí, bajo la luz de la lámpara, por la noche, en aquel lugar apartado, comprendí lo que significa el verdadero conocimiento.

"Se puede adquirir una gran experiencia en la aldea -pensé mientras me quedaba dormido-, pero hay que leer, leer todo lo posible... leer..."

FIN
1925



Biblioteca Digital Ciudad Seva

A ilusão europeia

por Paulo Nogueira Batista Jr. - [ECONOMIA & POLÍTICA] 




Do Projeto Nacional

(*)Paulo Nogueira Batista Jr.

Em fevereiro de 2010, publiquei nesta coluna um artigo que me deu imensa dor de cabeça. 

O título era: “Europa em declínio.” Entre outras coisas, escrevi que os sinais do declínio relativo da Europa estavam em toda parte. A recessão havia sido mais profunda na Europa do que nos EUA. A recuperação europeia também estava sendo mais lenta.


Na periferia europeia, escrevi, o quadro era especialmente ruim. Muitos países estavam em crise ou próximos disso. Suprema humilhação: especulava-se que, pela primeira vez, um país integrante da área do euro teria que recorrer ao FMI – a Grécia. As autoridades europeias, temendo a perda de prestígio, procuravam evitar esse desfecho. Mas a crise grega já contaminava outros países do Sul da Europa, também da área do euro, notadamente Portugal e Espanha. 

Os europeus ficaram furiosos comigo. Naquele tempo, eles ainda tinham tempo de seguir os meus artigos. Fizeram grande pressão e muitas queixas contra mim, inclusive formais, no FMI e no G-20. Foi medonho.


O artigo terminava com uma citação de De Gaulle que, no fim da vida, em 2009, observou profeticamente: “Eu tentei fortalecer a França em face do fim de um mundo. Fracassei? Outros dirão, mais tarde. Sem dúvida, o fim da Europa está diante de nós.”


Fim da Europa? Leitor, para entender plenamente a crise atual é preciso ter alguma noção da história da unificação europeia. O assunto é vasto. Menciono apenas o seguinte: originalmente, a unificação europeia foi um projeto das elites do continente, em especial das elites francesas e alemãs, que visava, entre outros objetivos, a conter e reverter o declínio da posição relativa da Europa no mundo. Uma Europa unida seria capaz de fazer face às grandes potências do pós-guerra: os EUA e a União Soviética. 

Do ponto de vista do Brasil, uma Europa unida e próspera poderia, em tese, ser um elemento positivo num mundo crescentemente multipolar. Isso se tornou até mais necessário depois do colapso do bloco soviético.


Em tese, friso. Na prática, a Europa é uma ilusão. Tem sido, não raro, a principal força pró-status quo na área internacional, inclusive em instituições financeiras como o FMI. Os europeus estão super-representados nas organizações e nos foros internacionais. E se agarram tenazmente a suas posições e privilégios. O pior de tudo é que a área do euro constitui atualmente o principal risco de desestabilização da economia mundial.


Não se pode generalizar. Evidentemente, há muitos europeus qualificados e esclarecidos, que oferecem contribuições importantes no FMI, no G-20 e em outros foros. Infelizmente, isso parece ser mais exceção do que regra. 

A crise na zona do euro, volto a dizer, é uma ameaça muito considerável, inclusive para o Brasil. A essa altura, não se pode descartar um colapso geral da união monetária europeia. 

Os problemas da zona do euro são legião. As vulnerabilidades fundamentais estão na própria construção original – toda ela influenciada pela forma alemã de pensar e por uma versão rígida dos dogmas econômicos liberais: regras fiscais simplistas, Banco Central Europeu independente e dedicado à estabilização monetária, unificação monetária sem unificação fiscal e política, livre movimentação de capitais, insuficiente regulação e supervisão dos mercados financeiros etc. 

Essas fragilidades não apareciam nos tempos de bonança. Com a crise iniciada nos EUA em 2007, tudo isso veio à tona com força brutal. O sonho europeu virou pesadelo. 

Várias cúpulas europeias, várias reuniões do G-20, inclusive a cúpula em Cannes na semana passada – nada disso foi capaz de dar resposta convincente à crise. A zona do euro está à deriva e, dado o seu peso econômico e financeiro, pode produzir ondas de choque no resto do mundo. 

O Brasil precisa estar preparado para uma turbulência semelhante, talvez mais intensa do que a que ocorreu em fins de 2008 depois do colapso do Lehman Brothers. 

(*)Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional

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Postado por Evaristo Almeida no ECONOMIA & POLÍTICA em 11/14/2011 04:50:00 PM