sábado, 4 de dezembro de 2010

Soneto

Se, para possuir o que me é dado,

Tudo perdi e eu própio andei perdido,

Se, para ver o que hoje é realizado,

Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,

Foi necessário andar desiludido,

Alegra-me sentir que fui odiado

Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,

Só se encontra sabor apetecido

Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento

De que afinal um roseiral florido

Vive de um triste e oculto movimento.


António Botto

António Boto

Aves de Um Parque Real

As Canções de António Botto

Editorial Presença