domingo, 7 de setembro de 2014

Violoncelo


Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trêmulos astros,
Soidões lacustres...
_ Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
_ Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'


Camilo de Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 — Macau, 1 de Março de 1926), poeta português, que se encontra muito esquecido.

Государыня


Государыня,
Помнишь ли, как строили дом -
Всем он был хорош, но пустой;
Столько лет
Шили по снегу серебром,
Боялись прикоснуть кислотой;
Столько лет
Пели до седьмых петухов,
Пели, но боялись сказать.
Государыня,
Ведь если ты хотела врагов,
Кто же тебе смел отказать?
Так что же мы
До сих пор все пьем эту дрянь,
Цапаем чертей за бока?
Ведь нам же сказано,
Что утро не возьмет свою дань,
Обещано, что ноша легка;
Так полно, зря ли мы
Столько лет все строили дом -
Наша ли вина, что пустой?
Зато теперь
Мы знаем, каково с серебром;
Посмотрим, каково с кислотой



o suporte da música


o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
olhares encontrando-se, ou das suas
vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
crescendo como trepadeiras entre eles.
o suporte da música pode ser uma apetência
dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se
ramifica entre os timbres, os perfumes,
mas é também um ritmo interior, uma parcela
do cosmos, e eles sabem-no, perpassando
por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.


Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
A Embaixada norte-americana adotou um perfil muito discreto nas eleições, mas isso não deve se confundir com o fato de estarem alheios ao que acontece. Quando o Aécio fica fora do jogo, os Estados Unidos se inclinam para a Marina, por pragmatismo e porque ela representa o oposto ao PT. Além disso, é alguém sem quadros próprios e, segundo dizem, tem bons contatos nos Estados Unidos, e que demonstrou estar aberta para desmontar o Estado, reduzir sua capacidade e autonomia internacional. Interessa aos Estados Unidos que o Mercosul sejam desmontado e que projetos da era tucana sejam retomados, não nos enganemos: nestas eleições, está em jogo a retomada do processo privatizador, parcial ou total, da Petrobras, do Banco do Brasil e do BNDES'

de Samuel Pinheiro Guimarães, via Carta Maior 

onda política ou maremoto



Não se trata de nenhuma singularidade extraordinária do nome de Marina Silva, mas qualquer um surfaria na mesma "onda política" ou "maremoto". Caso fosse um Joaquim Barbosa, um empresário vivo qualquer como José Ermírio de Moraes (no melhor estilo Piñera do Chile), um Sílvio Santos, um médico rico qualquer (menos o tal Abdelmassih) e mesmo um Tiririca ou Bozo, desde que assumissem e reunissem as mínimas características para ocupar o mesmo lugar contra o governo redistributivista do PT e receber o sincero, carinhoso apoio dos mais ricos, dos velhinhos do Clube Militar (que apoiaram a tortura na ditadura também corrupta), dos pastores evangélicos neopentecostais milionários, dos tradicionais membros sensíveis da classe média-alta udenista-lacerdista e principalmente ganhar o apoio da base social mais popular dos jovens da "classe C" (incluindo os populares "coxinhas" de junho de 2013). Marina é util porque foi pobre, periférica, do Partido Revolucionário Comunista e é ambientalista para se adaptar a todos os ambientes neoliberais do capital financeiro com Neca do Banco Itaú. A onda não precisa de partido político ou instituições. O motor formador e promovedor da "onda política" é a mídia brasileira dominante. Segmentos da mídia no Brasil formam um dos principais pilares da classe dominante tradicional, trata-se de uma mídia oligárquica e familiar enraizada nos privilégios do passado. Muitas famílias da mídia estão nas listas das famílias mais ricas do Brasil desde a ditadura e a maioria dos bons jornalistas tem que aceitar ou driblar o padrão editorial conservador para preservarem os seus empregos. Bons jornalistas precisam de "autonomia" profissional. Algumas TVs, rádios, revistas e os jornais brasileiros representam a voz, os interesses políticos de seus donos e formam o principal partido de oposição, com muita ideologia e manipulação informativa (nenhuma novidade aí). Parte da mídia brasileira é murdochiana. Para obterem e inventarem qualquer notícia ou factoide eleitoral é um completo vale tudo com Cachoeiras, réus presos e qualquer ilicitude disponível, que fariam de Murdoch apenas um jornalista amador de província. Deve-se debater se as regulações e leis existentes nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Europa Ocidental já teriam impactos modernizadores neste setor e será uma agenda política inevitável para o pós-onda, seja em 2015 ou em 2019.
Ricardo Costa de Oliveira