sábado, 3 de maio de 2014

Ponderações sobre um fratrícidio eslavo

Aqui no Paraná a comunidade (seus voceros intelectuais e políticos e a militância cultural é pró EuroMaidan)passam por cima do direito internacional porque internalizaram uma russofobia e citam o Holodmor como genocídio perpetrado pelos russos contra os ucranianos além dos crimes dos bolsheviques russos contra as famílias , a religião e a propriedade ucranianas.n alguns hão vêem os ucranianos dessas regiões como ucranianos e sim russos ucranianos ou o que é pior ucranianos russificados.A independência deu aos partidários do ocidente (as áreas que no passado pertenceram a Polônia e Áustria-Hungria) livrarem-se dos russos e reeducar os russificados com doses cavalares de nacionalismo (fazendo releituras da participação de colaboracionistas no período 41-45).vai piorar muito antes de melhorar e as provocações (para engolfar a Rússia no conflito ) também .Incrível mas os republicanos parecem ser mais sensatos com sua Realpolitik .A guerra matará a paz? Penso que se os eua não precisar mandar seus soldados corre-se o risco do Fratrícidio acontecer...Quero estar errado.


 Não é só o "imperialismo russo" essa é uma leitura simplista . O Território da moderna Ucrania faz parte das entranhas da alma russa. está no inconsciente coletivo russo também . parte indissociável de sua própria identidade eslava . E isso não é discurso pan-eslavista do século xix .Como separar o sangue ucraniano derramado pela Rússia sendo a Rússia maior que o povo russo ?Das guerras contra os tártaros, os turcos , os teutônicos,os poloneses,suecos, franceses e alemães ucranianos se bateram ao lado de russos e de outros povos eslavos contra os invasores.E agora querem reescrever em suas faculdades com a tinta do ódio e do revanchismo o período em que não só a Ucrania mas toda a Rússia sofreu sob as ações brutais de Stálin e mesmo antes dele com a situação de guerra civil e intervenções estrangeiras que pretendiam estrangular o comunismo de comunistas não só russos mas também ucranianos ? A paz e a concórdia , diálogo e fraternidade não os olhos rubros de sangue russo ou ucraniano nas estepes pois o sangue beberá sem distinção se é russo, russificado ou ucraniano pró ocidental. irmãos eslavos, paz .E cuidado .Como dizia aquele velho judeu : "Quando dois brigam sempre tem um terceiro para roubar os dois ".E não é a Rússia nem a Ucrânia.O que interessa é que não derramem sangue do povo para que vermes banqueiros em Berlin ,Washington enriqueçam .Os trabalhadores , as pessoas comuns ucranianas assistiram a que peça de teatro .Morreram pessoas de uma mesma família , uma contra as outras e os ladrões antigos ,os gatunos apareceram com novas roupagens e viajaram mais à Paris e Viena com suas contas nos paraísos fiscais . E quando sem emprego os ucranianos tentarem a sorte em Berlin ou outra terra prometida da União européia serão tratados como cães como o são romenos e búlgaros , isso se escaparem dos skins.Bom esses que eu sitei em sua maioria eram ciganos vindos desses países . Essa aposta , que serão integrados plenamente como europeus que são será subsidiado com os empregos e os horizontes cada vez mais estreitos da juventude desses nativos da Dourada Sampa européia . Bem vindo retirantes da Fronteira da civilização. Quem tem sangue nordestino sabe o garrote do preconceito agora os orgulhosos ucranianos russofobos poderão sentir na Bem Amada e rica União Européia.Claro que estou errado .

Wilson Roberto Nogueira

ESQUERDA E DIREITA DIANTE DA ÉTICA CONTEMPORÂNEA


Livro recente sugere: mesmo torturadores, ou especuladores financeiros, precisam amparar-se em valores considerados legítimos. Alguns destes ainda reforçam obediência, autoridade e tradição religiosa
Por Ladislau Dowbor
http://wp.me/p15fon-5rd



Homem chora sentado sobre escombros do incêndio que ocorreu em Odessa na sexta-feira. No pescoço, ele carrega uma medalha de São Jorge, símbolo associado aos protestos pró-Rússia na UcrâniaGleb Garanich / Reuters

Tarás Chevtchenko, o Poeta da Ucrânia

Poesia

Tarás Chevtchenko, o Poeta da Ucrânia

Redação e coautoria de Mariano Czaikowski. Edição independente, 162 págs., R$ 40. Vendas pelo telefone (41) 3335-1220.

“É-me Indiferente”

Já não me importa... É-me indiferente

Que eu morra na Ucrânia, ou algures,

Que alguém me lembre, ou olvide

Sozinho entre as neves do exílio,

Aí, não me importa, não me importa!

Cresci no exílio, como escravo,

Pois, exilado morrerei

E tudo levarei comigo.

Não deixo nem um rasto leve

Em nossa Ucrânia tão gloriosa,

Em nossa pátria escravizada.

Não lembrará o pai ao filho,

Não lhe dirá: “Aí, reze, filho,

Pois, pelo amor que teve à Ucrânia,

Outrora, foi sacrificado...”

E não me importa que esse filho

Reze, ou não reze por min´alma.

O que me dói é que homens maus

A Ucrânia embalam, com mentiras

E um dia acorde, o incêndio e o roubo.

Aí, isso, sim é que me importa!

Tradução: Wira Selanski e Helena Kolody.

Foi mais do que oportuna a publicação de Tarás Chevtchenko, o Poeta da Ucrânia neste ano de seu bicentenário de nascimento – que coincidiu com o tenso momento por que passa seu país, dividido entre as influências europeia e russa.

O poeta, morto em 1861, é considerado o autor e pintor inaugural de um nacionalismo realista ucraniano, escrevendo em sua língua materna numa época de opressão pelos czares russos. Conforme o relato apresentado pelo livro, seus escritos ajudaram a resgatar o sentimento nacional entre camponeses reduzidos a servos de glebas doadas a amigos do império. Em Curitiba, o símbolo de sua relevância entre imigrantes é a grande estátua dedicada ao artista, situada na Praça da Ucrânia.

“Tudo o que ele sofreu e pregou hoje está sendo um manual de atuação do verdadeiro patriota ucraniano”, emociona-se Mariano Chevtchenko, organizador da obra que integra a terceira geração de ucranianos no Paraná. “Temos que lutar e não aceitar a dominação. Estão querendo oprimir um país, então, precisa de tudo aquilo de novo.”

“Leiam Chevtchenko, pois lá está criada para vocês a completa revelação, história e alma do povo ucraniano. E enquanto nosso povo estiver lutando pela sua libertação, até então esse filho de servos estará diante dos nossos olhos”, escreveu Vassyl Stefanyk, escritor ucraniano morto em 1936.

A dedicação de Chev­tchenko à luta pela liberdade do país lhe custou caro. Preso em posse de manuscritos em que insultava a família do czar e pregava a revolução armada, foi enviado ao exílio na cidade de Orenburg, na Rússia, por dez anos. Pior do que as tarefas humilhantes a que era submetido, a proibição de escrever e pintar, sua expressão artística inicial, foi o mais duro de enfrentar.

Poemas

A relação entre a vida e a obra de Chevtchenko é o cerne da obra recentemente publicada, que reúne textos editados anteriormente, agora numa só edição, pela primeira vez bilíngue, feita por iniciativa da Representação Central Ucraniano-Brasileira. Dividido em três partes, o livro traz uma biografia (escrita por Mariano Czaikowski), um ensaio sobre a relação do poeta ucraniano com a obra do brasileiro Castro Alves e poemas traduzidos por Wira Selanski em parceria com a poeta Helena Kolody (1912-2004), que versificou a obra. Helena contava, em suas memórias de família, que um dos livros de cabeceira da mãe era de poesias de Chevtchenko.

Os onze poemas apresentados no livro foram escritos entre 1837 e 1861 e reúnem trabalhos nacionalistas românticos, criados em São Petersburgo; realistas; marcados pelo exílio de dez anos e, no final da vida do poeta, escritos de uma fase lírica.

Ainda que em algumas poesias ele exalte as belezas naturais de seu país e a infância simples, a maior parte é dedicada à revolta contra a opressão. O poeta faz isso usando, com frequência, narrativas – pequenas histórias que ele conta nos versos retrabalhados em português por Helena Kolody.

Há espaço ainda para temas realistas classificados como comédia: “E eu, boa gente?/ Dia e noite só festejo/ Triste ou contente./ As censuras não me atingem/ Ergo o copo cheio,/ Pois eu bebo o próprio sangue/ Não sangue alheio”.


DESTERRADOS

HISTÓRIA


Os exilados da Sibéria brasileira
Após as revoltas da Vacina e da Chibata, no início do século 20, milhares de “criminosos” foram banidos do Rio e enviados ao Acre

Publicado em 03/05/2014 | DIEGO ANTONELLI

Mais de duas mil pessoas tiveram suas vidas profundamente alteradas pelo governo brasileiro durante as revoltas da Vacina (1904) e da Chibata (1910). Desterrados, ou seja, banidos à revelia do Rio de Janeiro para o Acre, muitos desses exilados foram tachados de criminosos políticos, apesar de não existir condenação judicial alguma. Foi assim que crianças, mulheres e homens pobres se viram ao léu a mais de quatro mil quilômetros de distância de sua terra natal.

A pesquisa sobre o tema é do historiador da Universidade Federal do Acre (UFAC) Francisco Bento da Silva, que realizou uma tese de doutorado sobre o assunto pela Universidade Federal do Paraná em 2010 e, no ano passado, lançou o livro Acre, a Sibéria Tropical. Ele conta que, nos dois casos (1904 e 1910), a motivação para a expulsão dessas pessoas das terras fluminenses envolviam variáveis complexas.

TRATADO

O estado do Acre virou parte do Brasil em 1903, quando foi assinado o Tratado de Petrópolis com a Bolívia. Mesmo quando ainda pertencia ao país vizinho, a região já vinha sendo ocupada paulatinamente por brasileiros. O território era rico em borracha natural, isolado e vazio demograficamente.

PESQUISA

O historiador Francisco Bento da Silva relata que teve um primeiro contato mais efetivo com a história dos desterrados quando em um jornal antigo do Acre leu uma matéria falando sobre a chegada de “quebra lampiões” (outro termo genérico para se referir aos revoltosos) na região. “Em 2004, ocorreu um boom de publicações e matérias sobre a Revolta da Vacina, que de maneira muito simplificada falavam de pessoas desterradas para o Acre. Passei então a pesquisar cada vez mais sobre o assunto”. Em 2013, ele adaptou a tese de doutorado para o livro Acre, a Sibéria tropical. Informações chicobento_ac@yahoo.com.br.

REPÚBLICA

Governo autoritário anistiou só “gente graúda”

O pesquisador Francisco Bento da Silva afirma que o autoritarismo foi uma marca muito presente durante a Primeira República no Brasil, período também conhecido como República Velha. Ele explica que a nação era um país recém-saído da escravidão, com distinções de classe e cor muito visíveis, somada à falta de cidadania e direitos sociais às camadas mais pobres da população.

A própria adoção de sucessivos estados de sítio, instrumento que permitia o desterro, era um ato presidencial e a posterior anistia só atingiu gente graúda (militares de alta patente, jornalistas e políticos), as chamadas “canas miúdas” foram esquecidas no Acre após terem sido desterradas e não houve nenhuma ação para o regresso dessas pessoas aos seus locais de origem”, explica Bento.

Mesmo quem foi tecnicamente anistiado ficou à deriva. “O governo que fretou navios para desterrá-los não providenciou os seus regressos e nem deseja que voltassem. Os poucos que voltaram vieram por conta própria e com a ajuda de parentes e terceiros”, ressalta. Assim, a grande maioria jamais mais regressou ao Rio de Janeiro.

Entre elas, destacam-se as questões de ordem disciplinar, inadequações às normas sociais, como jogatinas, prostituição até a prática da capoeira, delitos leves, trabalhos informais e a vida nos cortiços. Além, é claro, dos aspectos políticos e econômicos, que levaram muitas pessoas a participarem das duas revoltas.

Segundo Bento, os desterrados formavam um grupo menor dos envolvidos nos dois conflitos. “Algumas pessoas até foram desterradas sem terem participação nas revoltas, como foi o caso dos prisioneiros recolhidos na Casa de Detenção do Rio de Janeiro”, explica. A versão oficial na época foi que os desterros serviram para tirar da então capital nacional os “vagabundos e criminosos irrecuperáveis, que em muitos momentos eram manipulados por adversários políticos do governo com intuito de golpe ou fragilização da ordem estabelecida”.

O desterro dessas pessoas foi utilizado para dar um exemplo de como o governo agia e agiria diante de quaisquer revoltas”, explica o pesquisador. Todas embarcavam em navios para desembarcar na Região Amazônica.

Sem adversários

Ao ser incorporado ao Brasil em 1903, o Acre passou a ser o único território federal brasileiro administrado diretamente pela União. “Desta forma, o governo federal não teve que negociar com autoridades locais ou adversários políticos regionais”, explica Bento. Além dessa questão de ordem política, havia outros aspectos simbólicos. “O Acre era visto com a terra da riqueza da borracha, que precisava de braços para o trabalho extrativo. Além de ser um local tomado pelo vazio demográfico e de morte pelas doenças tropicais endêmicas, com uma fronteira política tensionada”, salienta o pesquisador.

A recepção dos nativos acrianos aos desterrados não foi das mais calorosas, pois a notícias na época davam conta da chegada de vagabundos e criminosos. “Essas pessoas já chegaram com forte rejeição. Foram tratadas com desconfiança e temor. Muitos certamente tiveram que, nos anos seguintes, refazer suas identidades e esconder o passado de desterrados.”

Capital era palco dos protestos

Foram duas revoltas que envolveram múltiplos sujeitos e interesses. A chamada Revolta da Vacina ocorreu em novembro de 1904, tendo como estopim o projeto de lei que regulamentava a obrigatoriedade da vacinação antivariólica na então capital da República, o Rio de Janeiro. “A obrigatoriedade afetava o cotidiano de inúmeras pessoas que tinham aversão à vacinação por descrença na sua efetividade, por questões de ordem moral, religiosa e até princípios filosóficos, como era o caso dos positivistas”, diz o historiador Francisco Bento.

Ele afirma também que essa antipatia foi aproveitada pelos adversários políticos do então presidente Rodrigues Alves para insuflar a população insatisfeita com inflação alta, falta de moradias, transtornos das reformas urbanas, política de repressão aos cortiços, prostituição, vagabundagem, trabalhadores informais, entre outros.

Assim como a Revolta da Vacina não ocorreu só pela questão da vacina, a Revolta da Chibata não foi algo que ocorreu só pela questão do uso dos castigos físicos contra marinheiros, isso foi também o estopim”, afirma Bento. Em 1910, quando os marinheiros se rebelaram contra seus superiores na Armada Nacional, traziam insatisfações de longa data. Os marinheiros eram geralmente homens pobres, ampla maioria de negros e mestiços, que eram alistados à força desde o fim do Império e no início da República.

Quando os marinheiros tomaram os navios e ameaçaram bombardear a capital federal, o governo ficou acuado e negociou, para depois se vingar prendendo e matando muitos revoltosos.


Ao declarar nos dois episódios o estado de sítio, o governo teve em suas mãos amplos poderes extraconstitucionais que permitiam prisões sem mandados, provas contundentes e realizando desterros para fora da capital”, completa Bento.

Fonte : Gazeta do Povo