domingo, 4 de dezembro de 2016



Até prova em contrário, considero primária a posição dos que veem nas ruas uma "invasão" das classes médias situadas à direita. É simplificar algo muito mais complexo e abrangente. É deixar de reconhecer que a democracia atual assume formatos inusitados e demandas de novo tipo, e que as ruas também refletem expectativas sociais ampliadas, muitas das quais abertas à esquerda.

Marco Aurélio Nogueira
Salvo engano, parece haver uma diferença rombuda entre as manifestações de amanhã e aquelas pelo impeachment, que só o observador vitimado pelo efeito bolha não percebe. No impedimento de Dilma, as associações do empresariado caboclo se engajaram pesadamente nas manifestações, postura essa que foi repercutida imediatamente por seus aliados (segmentos da mídia, PMDB, políticos fisiológicos etc.). Agora, não. Só a burguesia cosmopolita (e seus aliados, especialmente na mídia globeleza), ex-esquerdistas ressentidos com o PT, burocratas sem brilho em busca de seus 15 segundos de glória, a cúpula judiciária, e a direita mais desparametrada estão participando das convocatórias, enquanto as classes produtoras estão mais preocupadas com a Chape e com a recuperação da economia brasileira, geração de empregos etc., enfim, com o futuro do Brasil e de sua população e não com seu Passado Assombroso. Vamos ver a força relativa desse povo todo amanhã já que a prova do Pudim está em come-lo, já dizia Bacon. Mas não pense que a arenga vai parar aí. Se não for gente suficiente, a expectativa é de mais vazamentos a jato e prisões espetaculares para estimular a ira pública justiceira, o que evidenciará mais uma vez que os custos da ausência de limites temporais e normativos, bem como do descontrole e da irresponsabilização suspeitas da operação, já estão sendo bem maiores do que seus eventuais benefícios para o Brasil...A ver.


Sergio Soares Braga