sábado, 12 de junho de 2010

O Beijo

O alumbramento dos corpos




ALUMBRAMENTO



Eu vi os céus! Eu vi os céus!

Oh, essa angélica brancura

Sem tristes pejos e sem véus!



Nem uma nuvem de amargura

Vem a alma desassossegar.

E sinto-a bela… e sinto-a pura…



Eu vi nevar! Eu vi nevar!

Oh, cristalizações da bruma

A amortalhar, a cintilar!



Eu vi o mar! Lírios de espuma

Vinham desabrochar à flor

Da água que o vento desapruma…



Eu vi a estrela do pastor…

Vi a licorne alvinitente!…

Vi… vi o rastro do Senhor!…



E vi a Via-Láctea ardente…

Vi comunhões… capelas… véus…

Súbito… alucinadamente…

Vi carros triunfais… troféus…

Pérolas grandes como a lua…

Eu vi os céus! Eu vi os céus!

- Eu vi-a nua… toda nua!


Manuel Bandeira
Clavadel, 1913.

With the Lincoln Brigade

O sexo é sagrado

O sexo é sagrado…



Cláudia Marczak



O sexo é sagrado,

como salgadas são as gotas de suor

que brotam dos meus poros

e encharcam nossas peles.

A noite é meu templo

onde me torno uma deusa enlouquecida

sentindo teus pelos sobre a minha pele.

Neste instante já não sou nada,

somente corpo,

boca,

pele,

pêlos,

línguas,

bocas.

E a vida brota da semente,

dos poucos segundos de êxtase.

Tuas mãos como um brinquedo

passeiam pelo meu corpo.

Não revelam segredos

desvendam apenas o pudor do mundo,

descobrem a febre dos animais.

Então nos tornamos um

ao mesmo tempo em que

a escuridão explode em festa.

A noite amanhece sem versos,

com a música do seu hálito ofegante.

O sol brota de dentro de mim.

Breves segundos.

Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.

Eu fui feliz

Cláudia Marczak
http://www.cseabra.utopia.com.br/