sábado, 1 de agosto de 2015

Espaço curvo e finito


Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

[José Saramago]

(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

Acordai

Acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raiz.
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações.
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!


Poema: José Gomes Ferreira

Instituto Camões

Fascismo Presente e sua Dimensão Psicossocial


 ARNOBIOROCHA · 30 DE JULHO DE 2015



A luta contra o Fascismo, ontem e hoje, uma obrigação de vida e liberdade.
O Fascismo é, antes de tudo, um estado de espírito (ou de ânimo), ele é, primeiro, emocional, está no inconsciente, ali meio escondido, sempre ameaçando se revelar, nos denunciar, está presente nas nossas conversas privadas quando falamos de sexualidade, futebol ou religião, ou quando nos acerbamos nas relações conflituosos de uma sociedade cada vez mais paranoica, em especial nas redes sociais em que os baixos instintos prevalecem, em detrimento da lógica e da razão.

O Fascismo se instaura lentamente, ganhando corpo e almas, aos poucos, não é uma coisa imediata, é resultado de um estado de coisas. Mais precisamente ele explode e se torna força social viva e visível nas crises econômicas, pois essas elevam o nível de frustrações pessoais e as ambições (pessoais ou coletivas) deixam de ser satisfeitas ou ficam distantes de serem atendidas.

A luta pela sobrevivência ou a selvageria causada por ela, vai elevando aos pícaros as nossas mazelas humanas, coletivamente (na sociedade) não se enxerga qualquer saída, o passo natural seguinte é crescer nossa revolta e nosso sentimento beligerante se acentuar. Wilhelm Reich,  médico, psicanalista e cientista social, talvez tenha sido quem mais compreendeu a gênese e desenvolvimento da “mente fascista”.

Reich tem uma definição clássico do Fascismo que, segundo ele, é “a expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos impulsos têm sido reprimidos há milênios”. Enquanto nossas satisfações pessoais estão sendo atendidas, o “monstro” vai sendo relevado, escondido ou adormecido.

Leio constantemente nas redes sociais  algo como se o fascismo estivesse para ser instalado no Brasil, aqui entendido como regime político ditatorial de extrema-direita. Tenho uma discordância quanto à questão estrutural da instalação, mas, ao mesmo tempo, afirmo que nós já vivemos psicologicamente e socialmente o fascismo, que, por enquanto, não se instaurou como regime político de poder.

As relevantes manifestações de jundo de 2013 foram um ensaio coletivo, uma catarse do que estava por vir , aliás em julho de 2013, ainda no calor das “massas”, publiquei um artigo sobre o tema “A Psicologia de Massas do Fascimo – Ou, o Gigante Acordou”, ali já alertava que “o fenômeno do Fascismo, de como surge e suas principais características, em particular a catarse de massas, de movimento contra tudo e todos, que esconde um profundo reacionarismo político”.

O resultado eleitoral posterior foi desigual e incompleto em relação aos desejos do movimento de junho de 2013, se por um lado conseguiu eleger majoritariamente o pior congresso nacional em décadas. Em outra mão e, contraditoriamente, Dilma Rousseff se reelegeu, houve uma sobrevida do PT, o que parecia impossível diante do que se gestou e do que se colheu no parlamento.

A conta não bate, a leva reacionária não se fez ouvir por completo, então passa a questionar e não aceitar o que saiu das urnas, este é o embate. A contradição se deu na estrutura econômica, incerta, mas o avanço da crise 2.0 no Brasil passou a cobrar a fatura explicitamente, exigindo a ruptura irracional, através de qualquer golpe possível.

Quando o processo de fascistização psicológico e social se torna majoritário e bestial, a comoção fascista justifica e legaliza qualquer ação, ainda que racionalmente seja repudiável, que em sã consciência jamais se tentaria esse caminho, como, por exemplo, o rompimento com a democracia, ainda que ela se apresente como democracia formal.

Esse é o nosso drama, potencializado pelas redes sociais, o embrutecimento parece completo, não se consegue mais qualquer debate honesto e mesmo os mais simples, a radicalização em forma de adjetivos pejorativos, sem base ou consistência, venceu a argumentação substantiva. Avança escandalosamente pela sociedade a ignorância, o “baixo clero” e o desvalor humano, presa fácil nos momentos de crise e torpor.

Ainda segundo, Reich, “O fascismo só pode ser vencido se for enfrentado de modo objetivo e prático, com um conhecimento bem fundamentado dos problemas da vida.” Basta lembrar que a culta e racional sociedade alemã se deixou levar pelo fascismo, as razões de fundo são brilhantemente analisadas por Reich, o que demonstra que não há nada de novo ou inovador na revolta do “Gigante” dos “bem informados”, “plugados”, as questões são bem mais irracionais e perversas, mas é preciso ler o Todo e entender as Partes do problema.

Portanto não adianta vociferar de forma estéril contra queda de governo, fim da democracia, pois o gene do mal já deu cria, a sociedade está muito doente, sem remédio aparente para curá-la. Aqui não se trata de falar que escrevi antes, ou que avisei etc. Isso não vale nada, mas sim saber por qual razão não temos diálogo e repercussão diante da tragédia que ameaça a todos nós.


Ainda teremos tempo de deter o caos?

Estado, classe dominante e parentesco no Paraná

Um dos capítulos do livro "Estado, classe dominante e parentesco no Paraná" é de autoria de Daiane Resende.

O DESMONTE DO REGIME AUTORITÁRIO E O CONTEXTO HISTÓRICO DO PMDB NA ESFERA PARANAENSE: A HETERODOXIA DE ROBERTO REQUIÃO EM RELAÇÃO ÀS CONCEPÇÕES PEEMEDEBISTAS LOCAIS

RESUMO: Neste artigo, será traçado uma breve análise sobre o período histórico da ditadura militar, procurando-se explicitar a importância do MDB (atual PMDB) na luta contra a militarização e também a sua ascensão ao poder após a derrocada deste regime, a chamada “redemocratização” em vários estados, salientando principalmente o Paraná. Consideramos de extrema importância evidenciar esses fatos para contextualizar o período histórico no qual Roberto Requião foi inserido politicamente no Paraná como Deputado Estadual, no ano de 1982, e sua participação neste momento conturbado que o país atravessava, primando por uma postura muitas vezes independente da doxa partidária. Utilizaremos, para tanto, HELLER (1988) , BREPHOL (2001) e BEGA (1990) como aparato teórico-histórico.


A política virou um espetáculo

Ricardo Costa de Oliveira

Para o doutor em Sociologia e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Luiz Otávio Teles Assumpção, o fortalecimento de nomes que não possuem trajetória política está relacionado à exposição midiática e à despolitização da população.


“Para alguns, a política deixou de ser campo de formação cultural, educacional e isso dá margem, obviamente, para quem está exposto, para quem tem acesso à mídia. E essa turma vai vender a si mesmo como um produto. Surgem essas lideranças oportunistas”, analisa.
A política virou um espetáculo, critica especialista sobre políticos ‘midiáticos’
Para doutor em Sociologia, a falta de interesse da população por política amplia a força da mídia e propicia o surgimento de candidatos sem qualquer trajetória de militância, como Datena 

Em diversas partes do mundo, pessoas públicas, conhecidas por suas aparições na televisão e em outros meios de comunicação, ingressam na política. O fenômeno é registrado no Brasil, nos Estados Unidos, na Itália, além de outros países. O último anúncio foi a pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo do apresentador José Luiz Datena, pelo PP. O empresário João Dória também ambiciona o cargo, pelo PSDB.

Datena segue o caminho de outros famosos da TV, como Celso Russomanno, que se elegeu deputado federal (PRB-SP) com mais de 1,5 milhão de votos.

Nos Estados Unidos, o magnata Donald Trump é pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano e está em larga vantagem sobre seu concorrente, de acordo com pesquisa divulgada na semana passada. Trump ficou ainda mais conhecido depois de apresentar o reality show de negócios The Apprentice.

O fenômeno não é recente. Controlador da Mediaset e proprietário do clube de Futebol Milan, Silvio Berlusconi foi primeiro-ministro da Itália por nove anos ao todo, entre 1994 e 1995, de 2001 a 2006 e entre 2008 e 2011. Há ainda outros nomes na política brasileiro, como o humorista Tiririca, reeleito deputado federal como o segundo mais votado de São Paulo.

Para o doutor em Sociologia e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Luiz Otávio Teles Assumpção, o fortalecimento de nomes que não possuem trajetória política está relacionado à exposição midiática e à despolitização da população.

“Para alguns, a política deixou de ser campo de formação cultural, educacional e isso dá margem, obviamente, para quem está exposto, para quem tem acesso à mídia. E essa turma vai vender a si mesmo como um produto. Surgem essas lideranças oportunistas”, analisa.

Um problema de base, avalia Assumpção, que começa no desinteresse pelo assunto e deságua na falta de participação na política cotidiana.

“Parte da população só considera política importante em época de eleição, quando há uma crise muito forte ou quando ocorre uma pressão da mídia sobre o assunto. As pessoas não lutam por causas coletivas, não se associam”, afirma Assumpção.

O resultado da falta de conhecimento, é a fragilização diante das informações expostas pela mídia. “O fato é construído e desconstruído pela mídia e se você não tem conhecimento, uma coisa mais sólida, você começa a entrar nesse jogo e começa a fazer papel de bucha de canhão”, critica.

Para o professor, como o eleitor não monitora e não participa, os políticos não se sentem obrigados a representar os interesses do País. “As próprias bancadas estão muito concentradas em assuntos particulares. Poucos no Brasil discutem o País como um todo, os projetos a longo prazo”, argumenta.

“Nos Estados Unidos chega a assustar. Trump talvez represente o ideal consumista da população. Na Itália, um país que tem uma tradição política, elege um fanfarrão como Berlusconi. O que ele era? Um rei da mídia, do império midiático”, comenta.

Corrupção – Assumpção cita como exemplo da manipulação da mídia e da falta de conhecimento da história do País a ideia, já transformada em senso comum, de que a corrupção é um fenômeno recente.

“A história política brasileira é uma história corrupta. Desde a descoberta do Brasil, no Brasil Colônia, no Império, no período dos grandes coronéis, sempre houve corrupção. O País passou por ditaduras seríssimas, em que censura impedia qualquer denúncia de corrupção, de suborno”, lembra.


Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias