Ricardo Costa de Oliveira
Para o doutor em Sociologia e professor da Universidade
Católica de Brasília (UCB) Luiz Otávio Teles Assumpção, o fortalecimento de
nomes que não possuem trajetória política está relacionado à exposição
midiática e à despolitização da população.
“Para alguns, a política deixou de ser campo de formação
cultural, educacional e isso dá margem, obviamente, para quem está exposto,
para quem tem acesso à mídia. E essa turma vai vender a si mesmo como um
produto. Surgem essas lideranças oportunistas”, analisa.
A política virou um espetáculo, critica especialista sobre
políticos ‘midiáticos’
Para doutor em Sociologia, a falta de interesse da população
por política amplia a força da mídia e propicia o surgimento de candidatos sem
qualquer trajetória de militância, como Datena
Em diversas partes do mundo, pessoas públicas, conhecidas
por suas aparições na televisão e em outros meios de comunicação, ingressam na
política. O fenômeno é registrado no Brasil, nos Estados Unidos, na Itália,
além de outros países. O último anúncio foi a pré-candidatura à Prefeitura de
São Paulo do apresentador José Luiz Datena, pelo PP. O empresário João Dória
também ambiciona o cargo, pelo PSDB.
Datena segue o caminho de outros famosos da TV, como Celso
Russomanno, que se elegeu deputado federal (PRB-SP) com mais de 1,5 milhão de
votos.
Nos Estados Unidos, o magnata Donald Trump é pré-candidato à
presidência pelo Partido Republicano e está em larga vantagem sobre seu
concorrente, de acordo com pesquisa divulgada na semana passada. Trump ficou
ainda mais conhecido depois de apresentar o reality show de negócios The
Apprentice.
O fenômeno não é recente. Controlador da Mediaset e
proprietário do clube de Futebol Milan, Silvio Berlusconi foi primeiro-ministro
da Itália por nove anos ao todo, entre 1994 e 1995, de 2001 a 2006 e entre 2008
e 2011. Há ainda outros nomes na política brasileiro, como o humorista
Tiririca, reeleito deputado federal como o segundo mais votado de São Paulo.
Para o doutor em Sociologia e professor da Universidade
Católica de Brasília (UCB) Luiz Otávio Teles Assumpção, o fortalecimento de
nomes que não possuem trajetória política está relacionado à exposição
midiática e à despolitização da população.
“Para alguns, a política deixou de ser campo de formação
cultural, educacional e isso dá margem, obviamente, para quem está exposto,
para quem tem acesso à mídia. E essa turma vai vender a si mesmo como um
produto. Surgem essas lideranças oportunistas”, analisa.
Um problema de base, avalia Assumpção, que começa no
desinteresse pelo assunto e deságua na falta de participação na política
cotidiana.
“Parte da população só considera política importante em
época de eleição, quando há uma crise muito forte ou quando ocorre uma pressão
da mídia sobre o assunto. As pessoas não lutam por causas coletivas, não se
associam”, afirma Assumpção.
O resultado da falta de conhecimento, é a fragilização
diante das informações expostas pela mídia. “O fato é construído e
desconstruído pela mídia e se você não tem conhecimento, uma coisa mais sólida,
você começa a entrar nesse jogo e começa a fazer papel de bucha de canhão”,
critica.
Para o professor, como o eleitor não monitora e não
participa, os políticos não se sentem obrigados a representar os interesses do
País. “As próprias bancadas estão muito concentradas em assuntos particulares.
Poucos no Brasil discutem o País como um todo, os projetos a longo prazo”,
argumenta.
“Nos Estados Unidos chega a assustar. Trump talvez
represente o ideal consumista da população. Na Itália, um país que tem uma
tradição política, elege um fanfarrão como Berlusconi. O que ele era? Um rei da
mídia, do império midiático”, comenta.
Corrupção – Assumpção cita como exemplo da manipulação da
mídia e da falta de conhecimento da história do País a ideia, já transformada
em senso comum, de que a corrupção é um fenômeno recente.
“A história política brasileira é uma história corrupta.
Desde a descoberta do Brasil, no Brasil Colônia, no Império, no período dos
grandes coronéis, sempre houve corrupção. O País passou por ditaduras
seríssimas, em que censura impedia qualquer denúncia de corrupção, de suborno”,
lembra.
Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias
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