quinta-feira, 18 de novembro de 2010

 Digo do corpo digno inteligente activo


Digo do corpo digno inteligente activo,

ou adorativo aqui sob este sol demente

Digo do corpo digo o que indigente gente

declarou pervertido inútil indecente,

de escamotear esconder vestir e declarar

não-ter (sendo contudo algo de omnipresente).

Digo que o sexo existe apenas porque sim

como o pudera ser por exemplo um rim

ou qualquer outra víscera ou quem sabe um membro

que parece amovível quando e se preciso

porém nunca senhor deste secreto templo

vivo discreto imenso renovável todo

aqui e agora e logo e por fora e por dentro,

uno ou dispersivo, mas um corpo sempre.

Maria da Graça Varella Cid

Perfeito do Indicativo

Copacabana 20 Ag 81

& etc

Não é o coração

Não é o coração

mas esta carne

em seu rumor.

Não é o coração

mas teu silêncio

de intenso furor.

Não é o coração

mas as mãos

sem corpo, vazias.

Na grave melodia

de um instante

tu e eu

em desequilíbrio

na infame

consistência

de um absoluto

obstáculo.

Ana Marques Gastão


Nocturnos

Canções com palavras

Gótica

2002