sábado, 20 de outubro de 2012

O HOMEM QUE ROUBOU A MONA LISA




Affonso Romano de Sant’Anna

A Mona Lisa virou assunto de novo. Até na novela “Avenida Brasil”tinha personagem com esse nome. E a imprensa divulgou ,há dias, que descobriram outra Mona Lisa, dessa vez mais jovem, feita pelo próprio Da Vinci. E nessa trilha de novidades sobre o antigo quadro, revelou-se que botaram um especialista no Louvre só para velar por ela. Entrevistaram o tal rapaz que é o curador da (velha) Mona Lisa no Louvre, o qual revelou estar apaixonado pela mítica pintura de Leonardo. Não só apaixonado, está traumatizado: acaba de descobrir que aquele quadro com a sua deusa, vai morrer um dia, pois a figura apresenta uma fenda na testa, fenda que tentam tapar com material extraído de peixe.

Aproveito essa onda de Mona Lisa para uma revelacão. Certa vez no Museu do Prado ( ou Louvre?) descobri uma Mona Lisa na qual ninguém prestava atenção. Estava numa sala secundária, não tinha admiradores, ninguém para vê-la, só eu. Fiquei impressionado. Quase escrevi um tormentoso ensaio ou crônica sobre essa solidão. E me perguntava: e se um dia se descobrissem que aquela pobre criatura era do Leonardo?
De outra feita, por causa daquela cena que se repete sempre no Louvre escrevi uma crônica intitulada “De que ri a Mona Lisa?”. Ironizava aquela multidão que ficava ali fotografando o quadro sem se dar conta que do lado esquerdo da Gioconda, havia dezesseis quadros de renascentistas de primeiro time. Do lado direito, dez quadros de Rafael, Andrea del Sarto e outros. E na frente, mais dez Ticianos, além de Veronses,Tintoretos e vários quadros do proprio Da Vinci. Para mim a jovem de Leonardo estava rindo do público, da carneirada de turistas ali pastando sua imagem.
Deu-se, então, que por causa de estudos que eu estava fazendo sobre o pândego Marcel Duchamp, que andou pintando e bordando com aquele icone, até usando palavrões para detratá-la, descobri um livro dedicado só à estrela do Louvre: “Mona Lisa- a história da pintura mais famosa do mundo”de Donaldo Sasson. Você sabia que em1887 já brincavam com aquele quadro,? Que um tal de Sapeck, foi o primeiro a botar rolos de fumaça saindo de um cachinbo na boca na moça? Você sabia que praticamente todos os pintores retomaram a figura da jovem? Malevich, Leger, Magrite,Dali, Dubuffet, o colombiano Fernando Botero, o japones Yasumasa Morimura fizeram quadros a partir daquela imagem, e que um publicitário, em 1915, usou a figura da Mona Lisa como rótulo de laxante?
A moça invadiu todos os gêneros. Romances, poemas e filmes. Quem nunca ouviu Nat King Gole cantar Mona Lisa? E foi até sequestrada. Sim, por um decorador italiano chamado Vincenso Peruggia (que havia trabalhado no Louvre) e que na manhã de 21 de agosto de 1911 retirou o quadro da moldura doada pela condessa Bear, botou a obra debaixo de um casaco e se mandou.
Houve quase um luto nacional quando os parisienses descobriram a lacuna. O quadro ficou na clandestinidade até 1913 quando Perugia tentou vendê-lo/devolvê-lo, alegando que havia feito aquele gesto por razõe patrióticas, pois Leonardo era italiano. Dizem que Gabriele Danunzio, sempre exibido, morreu de inveja da ideia e do feito desse Perugia. Dizem, no entanto, que este tinha pensado em roubar “Marte e Venus”de Mantegna, porque a elogiavam muito esse quadro, mas quando soube que Mona Lisa valia mais, trocou de ideia.

Mas o mais notável depois da fama provisória de Peruggia e sua prisão, foi o retorno do quadro à França. Em todas as estações onde o trem que vinha da Italia com o quadro tinha que parar, armava-se uma grande procissão para ver a Gioconda como se ela fosse uma santa milagrosa. E Vincenzo Peruggia teve uma pena de três anos que foi diminuida para doze meses. E ficou célebre. Em 1947, ao morrer, afinal, ele tinha em sua biografia esse feito incrível-“o homem que roubou a Mona Lisa”.


(Estado de Minas, 21.10.2012)

declaração de amor


Uma definição

amor é uma luz à
noite atravessando o nevoeiro
amor é uma tampinha de cerveja
pisada no caminho
do banheiro

amor é a chave perdida da sua porta
quando você está bêbado

amor é o que acontece
uma vez a cada dez anos

amor é um gato esmagado

amor é o velho jornaleiro na
esquina que
desistiu

amor é o que você acha que a outra
pessoa destruiu

amor é o que desapareceu junto
com a era dos navios encouraçados

amor é o telefone tocando,
a mesma voz ou uma outra
voz mas nunca a voz
correta
(...)
Bukowski por Koproski

 


 “Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte -
ou será arte?”

Ferreira Gullar

"Mi conducta de lector, tanto en mi juventud como en la actualidad, es profundamente humilde. Es decir, te va a parecer quizá ingenuo y tonto, pero cuando yo abro un libro lo abro como puedo abrir un paquete de chocolate, o entrar en el cine, o llegar por primera vez a la cama de una mujer que deseo; es decir, es una sensación de esperanza, de felicidad anticipada, de que todo va a ser bello, de que todo va a ser hermoso".

- Julio Cortázar