terça-feira, 28 de junho de 2011

Tua mão em mim

Você me acorda no meio da noite

e eu que navegava tão distante

cravada a proa em espumas

desfraldados os sonhos

afloro de repente entre as paradas ondas dos lençóis

a boca ainda salgada mas já amarga

molhada a crina

encharcados os pêlos

na maresia que do meu corpo escorre.

Cravam-se ao fundo os dedos do desejo.

A correnteza arrasta.

Só quando o primeiro sopro escapar

entre os lábios da manhã

levantarei âncora.

Mas será tarde demais.

O sol nascente terá trancado o porto

e estarei prisioneira da vigília.

Marina Colasanti,

Gargantas abertas, Editora Rocco, 1998 – Rio de Janeiro, Brasil

Carinho da igual

Eu quero mais é um carinho da igual.

Beber dessa doçura ímpar feminina-letal.

Trocar tocando seios que se bicam, magnéticos.

Saborear teus cheiros de menina, elétricos.



Eu quero mais é essa doçura sem igual.

Derreter nesses carinhos não homem-sexuais.

Beijar trocando línguas que se roçam, nirvanescas.

Acariciar tua púbis de menina – e sonhar, quixotesca.



Eu quero mais é esse prazer indizível que é teu prazer também.

Esse trocar de iguais tão diferentes de tudo – e tão bom.

Essa magia incandescente que só nasce de pólos-poros-peles iguais,

Que se tocam-retocam-retrocam criando amor.



Eu quero mais é beber dessa magia de nós duas,

Nuas e eternas,

Ternamente nuas,

Virando uma.

Criando mel-de-vida.

Fabricando amor.

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