domingo, 26 de junho de 2016

Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
.

- Augusto dos Anjos, in "Eu e outras poesias". 42ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Hipóteses sobre a etapa atual do impeachment e um caminho para a saída da crise


Defesa da Democracia

"A ampla divulgação, pela grande mídia corporativa, de denúncias envolvendo integrantes do primeiro escalão do governo interino de Michael Temer e também a divulgação do pedido de prisão de altos dirigentes do PMDB, Renan Calheiros, presidente do Senado, Romero Jucá, ex-ministro do planejamento, e de José Sarney, ex-presidente da República e do Senado, deixaram aturdidos os analistas políticos e, principalmente, os cidadãos comuns que procuram entender os rumos da política nacional.
Por que motivos a grande mídia, que tudo fez para desgastar o PT e suas lideranças e para criar o clima que possibilitou o afastamento, ainda temporário, da presidenta Dilma Rousseff, agora se apressa em divulgar, em amplas manchetes, os descalabros do governo Temer e de seus integrantes, incluindo acusações que atingem o próprio presidente interino?
Por que motivos o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que já havia pedido investigação sobre as alegadas propriedades do ex-presidente Lula da Silva e também sobre suas possíveis ações em benefício de grandes empreiteiras brasileiras no exterior, o que contribuiu em muito para desestabilizar o governo de Dilma Rousseff, depois de ter conseguido o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pede, agora, a prisão de figuras chaves do governo de turno?
As evidências disponíveis para a interpretação do jogo político em curso indicam que a articulação jurídico-parlamentar-midiática é muito maior, mais profunda e mais complexa do que tirar Dilma Rousseff e o PT do governo e, de quebra, impedir que Lula da Silva seja candidato em 2018. Há, pelo menos, duas hipóteses a serem analisadas para compreender os fatos, ambas reveladoras de que há um intenso processo de disputa no interior das forças que promoveram o impeachment e que desestabilizaram o país.
A primeira delas, mais simples, é a de que o PSDB, os procuradores federais, juízes e delegados que integram a Força Tarefa da Operação Lava Jato, mais o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e, ainda, parte do STF estejam aliados e disputando com Temer a posse do poder. Para destituir Dilma, eles teriam se aliado a Michel Temer e a Eduardo Cunha, em um primeiro momento. Cumprida a primeira etapa do processo, teria chegado a hora de afastar o presidente interino e conquistar o governo.
Para que isto seja possível, alguns peessedebistas poderiam até ser defenestrados, como por exemplo Aécio Neves, um dos campeões de citações nas delações premiadas envolvendo empreiteiras que atuaram na Petrobras, para que outros tucanos, talvez Geraldo Alckmin ou José Serra, tenham chance de disputar e vencer em uma nova eleição a ser realizada ainda neste ano, por meio do voto popular, ou no ano que vem, por meio do voto dos parlamentares – pois de acordo com Constituição, se a presidente Dilma e seu vice Temer forem destituídos durante a primeira metade do mandato para o qual foram eleitos, ocorrerão novas eleições populares; se, no entanto, a destituição dupla ocorrer na segunda metade do mandato, as eleições serão indiretas.
A segunda hipótese de análise, mais ousada e mais nebulosa, é a de que a articulação em curso inclua apenas a já chamada República do Paraná, ou seja a parcela de procuradores federais e delegados da PF integrantes da Força Tarefa da Operação Lava Jato, mais Rodrigo Janot e parte do STF, deixando de fora o PSDB e seus próceres. Na possibilidade de esta interpretação ser a correta, este conjunto de personagens estaria atuando para promover uma “limpeza geral” dos atuais quadros políticos nacionais e um desmonte completo das instituições políticas atualmente existentes no país.
Neste caso, as acusações aos políticos e os seus vazamentos, bem como os afastamentos, as prisões e as destituições continuariam com toda a força, não poupando integrantes de nenhum partido político e de nenhuma instância do governo Federal. Não apenas Lula da Silva, Dilma Rousseff, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney, Michael Temer e os integrantes de seu governo interino seriam investigados, processados e talvez presos, mas também Aécio Neves e, ainda, José Serra e Geraldo Alckmin e, ousadia suprema, até mesmo Fernando Henrique Cardoso. Até mesmo Marina Silva, que vinha se mantendo impune até há poucos dias, estaria sujeita a punições por fraudes e propinas utilizadas no financiamento da campanha eleitoral de seu antigo companheiro, Eduardo Campos, e dela própria.
A falta de informações confiáveis impede que se possa antever até onde poderá ir a chamada República de Curitiba. Sua força advirá apenas da aliança construída com a grande mídia corporativa e alimentada pelos vazamentos seletivos de depoimentos e acusações realizados em momentos estrategicamente planejados ou existirão aliados mais poderosos, possivelmente de fora do país? É sabido e foi amplamente noticiado que grande parte dos integrantes da força tarefa da Lava Jato e delegados da PF receberam treinamento no FBI, por força de convênio firmado durante o governo FHC e ainda vigente, e os procuradores federais brasileiros mantêm estreitas relações com seus congêneres norte-americanos. Além disso, a proximidade de Rodrigo Janot e Sérgio Moro com a justiça dos EUA é tão grande, que eles têm prestado informações confidenciais a respeito da Petrobras no processo movido contra ela por investidores internacionais que se julgaram prejudicados pela diminuição dos valores de suas ações na bolsa de Nova Iorque.
Cabe lembrar, ainda, que a Petrobras e o Pre-Sal, que garantirão ao Brasil a posse da quinta maior reserva petrolífera do mundo, foram os alvos da espionagem realizada pela NSA, agência nacional de espionagem norte-americana, sobre a presidenta Dilma Rousseff e todo seu staff palaciano. Escândalo que veio a público em 2012 e que estremeceu as relações entre o Brasil e os EUA, fazendo com que a presidenta brasileira cancelasse encontro anteriormente agendado com o presidente daquele país.
Qualquer que seja a hipótese verdadeira dentre as duas aqui consideradas, o fato concreto é que o país enfrentará um enorme desafio para reconstruir suas instituições ao final do tsunami político em curso.
Na Itália, onde ocorreu ação jurídico-midiática semelhante à que ocorre no Brasil hoje, com a Operação Mãos Limpas, durante os anos de 1992/1996, o saldo final foi desastroso. As máfias, que se pretendiam expurgar do país e da política, assumiram diretamente o poder por meio da conquista dos espaços políticos deixados vagos no Parlamento por força das cassações e prisões. Sílvio Berlusconi, dono do maior conglomerado de mídia do país, envolvido em casos de sonegação fiscal e associado aos segmentos políticos e empresariais mais retrógrados do país, foi eleito Chefe do Conselho de Ministros (Primeiro Ministro) e exerceu o poder durante nove longos anos. Ainda hoje, passados já 20 anos do encerramento do processo, os representantes das novas máfias continuam exercendo grande influência na política italiana.
No Brasil, a desestruturação política das instituições do Estado e das empresas nacionais responsáveis pela construção das plataformas submarinas de exploração de petróleo e pelo desenvolvimento do submarino e do projeto nuclear brasileiro, entre outras ações estratégicas, tem sido tão intensa e tão profunda que exigirá muito tempo e muito esforço para ser superada.
Está em curso o desmanche das instituições políticas e o enfraquecimento das únicas empresas nacionais aptas ao desenvolvimento de tecnologia de ponta e com capacidade de concorrer no mercado internacional, decorrente da forma como foram feitas as ações de combate à corrupção executadas por integrantes da Procuradoria Geral da República e do Poder Judiciário brasileiro.
A partir do início do governo interino, passaram a ser desmontadas também as políticas sociais, que garantiram a inserção de milhões de pessoas principalmente ao mercado de consumo, ao ensino e à saúde públicos, e a política de inserção internacional do país em uma posição de protagonismo entre as nações em desenvolvimento.
No espaço político, mesmo que Eduardo Cunha e Renan Calheiros sejam destituídos definitivamente de seus cargos e de seus mandatos e até mesmo presos, as bancadas BBB (da Bala, da Bíblia e do Boi), que reúnem os políticos mais reacionários da política brasileira, aliadas aos deputados e senadores eleitos pelo poder dos recursos de empresas privadas, continuarão dominando as votações na Câmara e no Senado e impondo novas derrotas e novos sobressaltos à governante, em caso de seu difícil retorno.
Além disso, os estragos feitos por Temer e seus aliados durante o exercício do governo interino, tanto nas políticas sociais, quanto na política econômica e, ainda, na política externa brasileira, dificilmente serão revertidos sem que se componha nova maioria parlamentar, só possível com a eleição de novos representantes no Congresso Nacional.
A disputa interna estabelecida e acirrada entre os articuladores e executores do processo de impeachment de Dilma Rousseff, aliada à resistência popular, eclodida em manifestações de repúdio a Temer em todo o país, ao surgimento de movimentos, comitês e núcleos em defesa da democracia e do estado democrático de direito, à baixa aprovação do governo interino, aferida por pesquisas de opinião pública e, ainda, à possível divulgação de uma carta, por meio da qual a presidenta afastada se comprometeria, tão logo reassumisse o cargo, a apresentar proposta de consulta popular sobre sua permanência ou a realização de eleições gerais no país, talvez possam influenciar o voto de um número suficiente de senadores para reverter o processo de impeachment.
Em qualquer um destes dois cenários – a permanência da presidenta ou a realização de eleições gerais no país – para reverter as medidas de desmonte do Estado efetuadas pelo governo interino, promover uma ampla reforma política e institucional e, com isto, dar início a um processo de reconstrução do país, será necessária a constituição de uma ampla frente política.
Sem a constituição de uma grande e ampla frente, na qual partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos e as novas organizações surgidas à margem das anteriores ajam em conjunto e tenham o mesmo peso nas decisões, de forma semelhante à Frente Ampla Uruguaia, o fôlego da resistência será curto e a força reunida será insuficiente para que se possa superar a crise atual.
Uma Frente Ampla, como a que vem sendo proposta por alguns movimentos, núcleos e comitês de resistência ao golpe e de defesa da democracia, só vingará se for assumida pelos partidos e líderes políticos de esquerda e centro-esquerda, acolhendo os partidos de centro e todos os liberais democratas que se mostrarem dispostos a participar da luta pela reconstrução das instituições políticas brasileiras.
Os partidos políticos de esquerda e de centro-esquerda, até agora pelo menos, não deram mostras de estarem dispostos a construir uma frente ampla deste tipo. A Frente Brasil Popular continua com muitos dos antigos vícios hegemonistas dos partidos que a compõem. A Frente Povo Sem Medo, ainda não contaminada por práticas oligárquicas, posto que recentemente fundada, não conseguiu sequer a adesão da totalidade dos dirigentes do PSOL, muitos deles ainda simpáticos ao processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Vejam-se, além disso, as articulações para as candidaturas das eleições municipais a se realizarem em outubro, nas quais cada partido tenta impor o seu candidato. De modo geral, não há renovação sequer de nomes, quanto mais de propostas e de posturas. Sendo assim, enquanto as oligarquias partidárias de esquerda não reavaliarem suas práticas, dificilmente vingará a possibilidade de composição de uma verdadeira Frente Ampla Democrática.
Será preciso uma enorme pressão dos movimentos recém surgidos na cena política brasileira, para fazer os militantes e dirigentes partidários entenderem que ou eles se renovam ou todos nós teremos muito pouca chance de mudar o jogo e de reestruturar o país no rumo da construção de uma efetiva democracia social em um tempo não muito dilatado.
Programas de frentes amplas têm que ser construídos em conjunto com os parceiros e nunca a priori, por apenas um ou por um pequeno grupo de forças políticas que tome a dianteira. Cada um dos integrantes precisa ter peso semelhante na formulação das propostas e, ao final, liberdade para aceitá-las ou não. Se algum dos possíveis parceiros se colocar como liderança e tentar definir isoladamente que rumos e que limites estabelecer, estará comprometida, desde o início, a frente agora proposta, pois, mais uma vez, haverá alguém ou um partido assumindo ou tentando assumir uma posição de hegemonia sobre os demais.

Só quando cada um dos movimentos, núcleos, comitês e partidos políticos realmente comprometidos com a democracia e a construção de um país socialmente mais justo se dispuserem a caminhar juntos sob estas bandeiras, teremos uma chance concreta de converter o processo de desmonte político-institucional, social e econômico em curso em um amplo, profundo e salutar processo de reconstrução e reestruturação nacional.

Benedito Tadeu César
Os Estados Unidos são o país das liberdades civis? Não exatamente. Após o genocídio da população indígena, o extermínio dos búfalos e a anexação de territórios mexicanos e centro-americanos, que fazem parte da história da fundação do estado norte-americano, a população negra foi submetida a um regime escravocrata que durou até meados do século XIX e, em seguida, a um sistema de apartheid em vigor até a década de 1960: negros e brancos sentavam-se em lados diferentes nos ônibus, usavam banheiros diferentes e não tinham igualdade de condições para o acesso ao estudo, nem os mesmos direitos políticos e trabalhistas que os brancos. Eram comuns, até há poucas décadas, os crimes racistas nos estados do Sul e ainda ocorrem nos dias de hoje, na forma da violência policial ou como o recente atentado em uma igreja que matou nove negros. As mulheres, assim como os negros, não recebiam salário igual ao dos homens brancos e não podiam votar até a década de 1920. Hoje, os Estados Unidos têm políticas de inclusão social, ao mesmo tempo que mantém a maior população carcerária do mundo, com 2,3 milhões de presos, em sua maioria negros, hispânicos, pobres, e continuam desrespeitando os direitos humanos em Guantánamo, no Iraque, na Síria, no Paquistão, no Afeganistão, na Palestina e em diversos outros países e territórios no mundo -- apenas a agressão contra o Iraque matou cerca de um milhão de pessoas. Não: os Estados Unidos NÃO SÃO o país das liberdades civis.

Claudio Daniel

Esquina peligrosa


Marco Denevi

El señor Epidídimus, el magnate de las finanzas, uno de los hombres más ricos del mundo, sintió un día el vehemente deseo de visitar el barrio donde había vivido cuando era niño y trabajaba como dependiente de almacén.

Le ordenó a su chofer que lo condujese hasta aquel barrio humilde y remoto. Pero el barrio estaba tan cambiado que el señor Epidídimus no lo reconoció. En lugar de calles de tierra había bulevares asfaltados, y las míseras casitas de antaño habían sido reemplazadas por torres de departamentos.

Al doblar una esquina vio el almacén, el mismo viejo y sombrío almacén donde él había trabajado como dependiente cuando tenía doce años.

-Deténgase aquí. -le dijo al chofer. Descendió del automóvil y entró en el almacén. Todo se conservaba igual que en la época de su infancia: las estanterías, la anticuada caja registradora, la balanza de pesas y, alrededor, el mudo asedio de la mercadería.

El señor Epidídimus percibió el mismo olor de sesenta años atrás: un olor picante y agridulce a jabón amarillo, a aserrín húmedo, a vinagre, a aceitunas, a acaroína. El recuerdo de su niñez lo puso nostálgico. Se le humedecieron los ojos. Le pareció que retrocedía en el tiempo.

Desde la penumbra del fondo le llegó la voz ruda del patrón:

-¿Estas son horas de venir? Te quedaste dormido, como siempre.

El señor Epidídimus tomó la canasta de mimbre, fue llenándola con paquetes de azúcar, de yerba y de fideos, con frascos de mermelada y botellas de lavandina, y salió a hacer el reparto.

La noche anterior había llovido y las calles de tierra estaban convertidas en un lodazal.

FIN

sábado, 25 de junho de 2016


Balada de amor tardío





Amor que llegas tarde,
tráeme al menos la paz:
Amor de atardecer, ¿por qué extraviado
camino llegas a mi soledad?

Amor que me has buscado sin buscarte,
no sé qué vale más:
la palabra que vas a decirme
o la que yo no digo ya...

Amor... ¿No sientes frío? Soy la luna:
Tengo la muerte blanca y la verdad
lejana... —No me des tus rosas frescas;
soy grave para rosas. Dame el mar...

Amor que llegas tarde, no me viste
ayer cuando cantaba en el trigal...
Amor de mi silencio y mi cansancio,
hoy no me hagas llorar.
Volver a poemas de Dulce María Loynaz




Biblioteca Digital Ciudad Seva
"Muitos coleguinhas nas TVs e jornais da vida estão decepcionados porque o Brexit 'marca o fim da esperança de um mundo sem fronteiras'. Mas isso pode ser resolvido.
A União Europeia pode, por exemplo, trocar o Reino Unido por alguns países africanos, para impedir que milhares morram afogados no Mediterrâneo em busca de dar o que comer para os filhos.
África não pode? Não é Europa? Ah, tá. Desculpem, eu pensei ter ouvido e lido mundo sem fronteiras. Foi mal aí, pessoal."

Leonardo Valente

Pesaj


Pesaj 5776/2016
¿Porque festejamos Pesaj? Porque la historia bíblica de Moisés y del pueblo de Israel nos nuestra un líder y sus seguidores conviviendo con las contradicciones de la libertad humana. Pues todos somos impulsados, al mismo tiempo, por deseos de cambio y por el miedo a lo desconocido, por amor y por voluntad de dominar, por egoísmo y por solidaridad.
Festejamos Pesaj para no olvidar que la lucha por la libertad es el embate constante entre el esclavizador y el esclavo que cargamos dentro de nosotros. Nuestro faraón que no acepta ningún límite, a no ser los suyos, y que quiere ser reconocido pero no reconoce el derecho a la dignidad y a la autonomía de los otros. Y la travesía del pueblo de Israel, que cada vez que desespera pierde la libertad, que es la capacidad de enfrentar desafíos, prefiriendo la seguridad de un pasado idealizado, que apostar en un mundo nuevo a construir
La narrativa bíblica del sufrimiento impuesto al pueblo egipcio, en los tiempos actuales, posee un sentido metafórico: el faraón tenía que sufrir para abrirse al sufrimiento de los otros. Porque el sufrimiento, en su dolor, nos puede aproximar a nuestra común humanidad, recordando que somos todos frágiles y que causamos sufrimiento por nuestra insensibilidad a los sentimientos de los otros. Y que al reaccionar contra el fanatismo de otros nos podemos transformar en fanáticos.
La historia de Pesaj debe ser leída como un hito en un proceso que nunca acaba. Proceso que comienza en la historia bíblica, con un acto de libertad, el de Eva, que desobedece una orden, y gracias a su curiosidad se inicia la aventura humana. Aventura que continua en el monte Sinaí, cuando Moisés entrega una constitución, pues no existe libertad individual sin reglas que aseguren la convivencia y el respeto de la libertad de los otros. Y que continúa en el mensaje de los profetas, que afirman que las los ritos y las oraciones son irrelevantes, si humillamos y maltratamos a los más débiles.
Pesaj nos recuerda que la libertad es la lucha cotidiana para no permitir que el amor se transforme en posesión, el cuidado del otro en control, el afecto en simbiosis, el miedo en parálisis, la inseguridad en agresividad, el éxito en arrogancia y el fanatismo de los otros nos transforme en fanáticos.
Como toda tradición cultural, el judaísmo puede ser usado para el bien y para el mal, para expandir nuestra sensibilidad o para negar la humanidad del otro, como una identidad que no teme lo diferente o como antojeras narcisistas que nos empobrecen.
Por eso festejamos Pesaj, como una celebración de la rebeldía, de la libertad al servicio del bien y de aproximación con todos los que son perseguidos, humillados, estigmatizados y sufren injusticias, y agradecemos:
Shehjianu ve quimanu ve highianu lazman haze
Que estamos vivos, que existimos y que llegamos a este momento
Bernardo Sorj

Texto do dr. Bernardo Sorj

Por que celebramos Pessach? Porque a história bíblica de Moisés e o povo de Israel nós mostra um líder e seus seguidores convivendo com as contradições da liberdade humana. Pois somos todos impulsionados, ao mesmo tempo, pelo desejo de mudança e pelo medo do desconhecido, pelo amor e pela vontade de dominar, pelo egoísmo e pela solidariedade. Celebramos Pessach para lembrar que a luta pela liberdade é o confronto constante entre o escravizador e o escravo que carregamos dentro de nós. O nosso faraó, que não aceita limites, a não ser os seus, e quer ser reconhecido, mas não reconhece o direito à dignidade e à autonomia dos outros. E a travessia do povo de Israel, que cada vez que se desespera perde a liberdade, que é a capacidade de enfrentar desafios, preferindo a segurança de um passado idealizado, do que apostar em um mundo novo a construir. A narrativa bíblica do sofrimento imposto ao povo egípcio, nos tempos atuais, possui um sentido metafórico: o Faraó teve que sofrer para se abrir ao sofrimento dos outros. Porque o sofrimento e a dor podem nos aproximar da nossa comum humanidade, lembrando que todos nós somos frágeis e que devemos ser sensíveis aos sentimentos dos outros. E que reagindo contra o fanatismo de outros podemos nos transformar em fanáticos. A história de Pessach deve ser lida como um marco em um processo que nunca termina. Processo que se inicia na história bíblica com um ato de liberdade, o de Eva, que desobedece uma ordem, e graças a sua curiosidade a aventura humana começa. Aventura que continua no Monte Sinai, quando Moisés apresenta uma constituição, já que não existe liberdade individual sem regras que assegurem a convivência e o respeito pela liberdade dos outros. E que continua na mensagem dos profetas, que afirmam que os ritos e as orações são irrelevantes, se os poderosos humilham e maltratam os mais fracos. Pessach nos lembra que a liberdade é a luta diária para não deixar que o amor se transforme em posse, o cuidado do outro em controle, o afeto em simbiose, o medo em paralisia, a insegurança em agressividade e o sucesso em arrogância. Como qualquer tradição cultural, o judaísmo pode ser usado para o bem e para o mal, para expandir a nossa sensibilidade ou a negar a humanidade do outro, como uma identidade que não teme o que é diferente ou como antolhos narcisistas que nos empobrecem. Por isso festejamos Pessach como uma celebração da rebeldia, da liberdade ao serviço do bem e de aproximação de todos aqueles que são perseguidos, humilhados, estigmatizados e sofrem injustiças, e agradecemos:
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.

Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.

Bernardo Sorj

domingo, 19 de junho de 2016

1815: Napoleão perde a batalha de Waterloo


Em 18 de junho de 1815, Napoleão Bonaparte perdeu a batalha de Waterloo contra a Inglaterra e a Prússia. As potências europeias encerraram o império de Napoleão 1º e o deportaram para Santa Helena.

Napoleão 1º dominou a política europeia de 1799 a 1815

Napoleão 1º deixou o seu exílio na ilha de Elba, em 26 de fevereiro de 1815, para retornar à pátria, no sul da França. Em 20 de março, ele foi recebido com triunfo em Paris. Pouco tempo depois, a Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia decidiram recomeçar a guerra contra Napoleão. O imperador francês aproveitou o entusiasmo na França para organizar um novo exército e, em seguida, marchou com 125 mil homens e 25 mil cavalos para a Bélgica, a fim de impedir a coalizão dos exércitos inglês e prussiano.

Em 26 de junho de 1815, as tropas francesas alcançaram Charleroi. Atrás da cidade, numa encruzilhada, o exército de Napoleão dividiu-se em duas colunas: uma marchou em direção a Bruxelas contra as tropas de Wellington, e outra, sob o comando do próprio Napoleão, em direção a Fleuru, contra o exército prussiano de Blücher.

No cerco das linhas inimigas, Blücher aquartelou-se no moinho de vento de Brye, sem saber que, igualmente a partir de um moinho, Napoleão podia observar, com telescópio, o movimento das tropas inimigas. Às 15 horas do mesmo dia, os franceses começaram a atacar.

Prússia perde batalha de Ligny

O exército da Prússia dispunha de mais de 84 mil homens e 216 canhões, enquanto os franceses tinham 67.800 homens e 164 canhões. Mas os prussianos cometeram um erro grave. Eles confiaram na chegada do exército de Wellington, na parte da tarde, a fim de apoiá-los no combate contra os franceses. Por isso, se entrincheiraram no lugarejo de Ligny para aguardar a chegada dos ingleses.

Os franceses atacaram o lugar com canhões. A esperança que os prussianos depositaram em Wellington foi em vão. Os franceses ganharam a batalha. Na mesma noite, Blücher ordenou a retirada para o norte. Os prussianos foram vencidos, deixando 20 mil mortos para trás, mas ainda não haviam sido derrotados definitivamente.

Chuvas retardam batalha de Waterloo

Wellington e sua tropa alcançaram o planalto de Mont Saint Jean, situado na estrada de Bruxelas para Charleroi, em 17 de junho de 1815. Até então, ele ainda não tinha se confrontado com as tropas francesas, porque Napoleão não havia feito novos ataques, depois da vitória de Ligny. Wellington se aquartelou na cavalariça de Waterloo. As fortes chuvas que haviam começado cair à tarde transformaram rapidamente o solo num charco, dificultando o movimento e o posicionamento dos canhões.

Blücher, general da Prússia

Ao cair da tarde, os soldados franceses também alcançaram a fazenda Belle Alliance, na estrada de Bruxelas para Charleroi. Napoleão se aquartelou na fazenda La Caillou e passou a observar como os ingleses se entrincheiravam no planalto. No café da manhã seguinte (18 de junho de 1815), o imperador francês expôs o seu plano de batalha. Ele queria primeiro conquistar a posição ocupada pelos ingleses. Os canhões deveriam atacar o inimigo com fogo cerrado. Napoleão estava seguro da vitória e que derrotaria as tropas de Wellington antes da chegada dos prussianos.

Primeiras armas de destruição em massa

O ataque estava previsto para as nove da manhã, mas sofreu um atraso de duas horas e meia por causa do aguaceiro. Primeiro, os franceses tentaram conquistar o morgadio Hougoumont, mas os ingleses estavam bem posicionados e usaram uma arma nova poderosa contra as fileiras compactas das tropas atacantes.
A arma eram granadas, espécie de balas de chumbo dentro de um invólucro de aço, que podiam ser disparadas a longas distâncias. Os franceses tentaram várias vezes, em vão, tomar Hougoumont, até desistirem às 17 horas. Diante dos muros de Hougoumont ficaram mais de 3 mil mortos.

Enquanto isso, Napoleão dava a ordem de avançar sobre La Haie Sainte, para poder atacar os ingleses entrincheirados no planalto. Neste momento, ele já sabia que os prussianos se aproximavam. E a partir daí, a saída para Waterloo era uma questão de tempo. A nova arma de destruição em massa causou baixas terríveis no ataque a La Haie Sainte, mas os franceses conseguiram conquistar a fazenda. O front de Wellington cambaleou. Seus generais exigiram que ele enviasse suas reservas, mas ele não as tinha mais.
Chegada das tropas prussianas

O comando avançado prussiano chegou, finalmente, ao campo de batalha depois das 19 horas. Para Napoleão, era evidente que tinha de tomar uma decisão e ordenou a sua combativa Guarda Imperial a atacar. A nova arma de destruição em massa atingiu os franceses em cheio. Para piorar a situação das tropas napoleônicas, as prussianas chegaram pouco depois das 20 horas.

O exército francês ainda tentou fugir, mas a batalha de Waterloo estava decidida. Às 21h30, o prussiano Blücher abraçou o inglês Wellington diante da fazenda Belle Alliance, selando a vitória. (ef)


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1901: Unificação da ortografia alemã



No dia 17 de junho de 1901, a Conferência para a Unificação da Ortografia Alemã impôs regras fundamentais para a língua, uniformizando-a na Alemanha, na Suíça e na Áustria.


Uma língua, uma grafia

Quando a língua alemã começou a substituir oficialmente o latim, na Idade Média, houve muita confusão nos mosteiros e entre os escrivães da Alemanha. O idioma oral era razoavelmente compreensível, mas, no papel, havia até três versões para a mesma palavra. Por isso, era necessário estabelecer uma ordem ortográfica.
Regras valem em parte até hoje

Suas regras fundamentais foram formuladas pelo filósofo e linguista Johann Christoph Adelung (1732-1806). A implementação dessas regras, porém, foi mais difícil do que se imaginava, porque só se dispunha do alfabeto latino para escrever em alemão. Adelung recorreu a combinações de consoantes e vogais para representar certos sons da língua alemã.

Nas suas Normas da Ortografia Alemã, de 1782, ele definiu uma forma escrita para cada palavra. A obra serviu de base para a unificação linguística da Alemanha e, em grande parte, continua valendo até hoje.
As regras de ortografia, que antes serviam apenas de orientação para uso geral, viraram lei no Império Prussiano. O primeiro principado alemão a transformá-las em norma escolar obrigatória foi Hannover, em 1855, seguido por Württemberg. O Ministério da Cultura da Prússia convocou, então, uma conferência para unificar a ortografia em todo o império.

Difícil consenso

Mas nem todos os estados alemães adotaram imediatamente a nova ortografia. A conferência teve de ser adiada.

Um dos participantes, o linguista Konrad Duden (1829-1911), tentou um consenso, apresentando um Dicionário Ortográfico Completo da Língua Alemã. Ao mesmo tempo, seu concorrente Wilhem Wilmanns escreveu o livro Regras e Vocabulário para a Ortografia Alemã a serem usados nas escolas prussianas.
Lutero como precursor

O chanceler imperial Otto von Bismark (1815-1898) optou pelo Dicionário Ortográfico – hoje conhecido como Duden. No final do século 19, a Suíça e a Áustria também adotaram a ortografia prussiana, proclamada oficial pela Conferência de 1901.

Adelung e Duden transformaram em regras parte do que Martinho Lutero (1483-1546) já havia testado, na prática, séculos antes. Ao traduzir a Bíblia em linguagem acessível em 1522 (publicada em 1534), ele foi o pioneiro de uma língua alemã unificada.

Autoria Catrin Möderler (gh)


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Venho aqui falar, Sergio Godinho

Quando eu morrer, que me
enterrem na beira do
chapadão
— contente com minha terra,
cansado de tanta guerra,
crescido de coração.
Tôo.

- João Guimarães Rosa, do conto "Barra da Vaca", no livro 'Tutaméia: Terceiras estórias'. 9ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

ADEUS, Ó RÚSSIA MAL LAVADA..."

"
Adeus, ó Rússia mal lavada,
terra de escravo e grão-senhor,
adeus, ubíquo azul de farda
e gente afeita ao seu feitor.
Talvez o Cáucaso, alto muro,
me oculte enfim de teus paxás,
cujo olhar vê tudo no escuro
e cujo ouvido ouve até mais.
*
MIKHAIL LIÉRMONTOV

tradução BORIS SCHNAIDERMAN e NELSON ASCHER.
Como diria o guru do Rodrigo Constantino: Pôxa! Ainda tem politólogo por aí dizendo que os partidos políticos e o legislativo não são importantes para a qualidade das políticas públicas, e que um "presidente forte" pode implementar as políticas que lhe der nas telhas, nas cacholas... Daí prá tese do "semi-presidencialismo é golpe" a distância é mínima. Isso sempre me faz recordar duas máximas do falecido Barão: (i) o Estavo Novo é o estado a que chegamos; (ii) com Jânio Quadros, a jumentalidade brasileira finalmente tem sua consagração nas urnas....Talvez esteja aí a origem do famoso traço nas eleições municipais e legislativas de certos partidos extremistas.

Sérgio Braga

SÉRGIO GODINHO, "Liberdade"

A la traición de una hermosa


Ramón López Velarde

Tú que prendiste ayer los aurorales
fulgores del amor en mi ventana;
tú, bella infiel, adoración lejana
madona de eucologios y misales:

Tú, que ostentas reflejos siderales
en el pecho enjoyado, grave hermana,
y en tus ojos, con lumbre sobrehumana,
brillan las tres virtudes teologales:

no pienses que tal vez te guardo encono
por tus nupcias de hoy. Que te bendiga
mi señor Jesucristo. Yo perdono

tu flaqueza, y esclavo de tu hechizo
de tu primer hijuelo, dulce amiga,

celebraré en mis versos el bautizo.

El niño espía


Alphonse Daudet

Se llamaba Stenne, el pequeño Stenne. Era un niño de París, débil, paliducho, que lo mismo podía tener diez años como quince. Con estos chiquillos, no se puede decir la edad con exactitud. Su madre había muerto; su padre, antiguo soldado de la marina, era guarda de jardines en una plaza del barrio del Temple. Los niños, las niñeras, las señoras mayores que van con sus sillas plegables bajo el brazo, las madres pobres, toda la gente sencilla y tímida que busca amparo contra los carruajes en esos parterres rodeados de aceras, conocían al señor Stenne y lo apreciaban. Todos sabían que bajo aquellos grandes bigotes, espanto de los perros y de los ociosos que bostezan en los bancos, se ocultaba una tierna sonrisa casi maternal, y que para hacer surgir esa sonrisa no había más que preguntarle al pobre hombre: «¿Cómo está su hijo? ¿Qué tal se porta?». ¡Quería tanto a su hijo! ¡Era tan feliz cuando por la tarde, al salir de la escuela, el niño venía a buscarlo y juntos daban una vuelta por los paseos, deteniéndose ante cada banco para saludar a los conocidos y corresponder a sus saludos!

Pero llegó el sitio y, desgraciadamente, todo cambió. Cerraron el jardín y lo convirtieron en depósito de barriles de petróleo, y el pobre hombre, obligado a una vigilancia constante, se pasaba la vida deambulando entre los macizos desiertos, destrozados, solitarios, sin poder fumar, sin poder ver al hijo nada más que en casa, por la noche y ya muy tarde. Así que había que ver sus bigotes cuando le mencionaban a los prusianos...

Pero Stenne hijo, por supuesto que no se quejaba de la nueva vida. ¡Un sitio! ¿Hay algo más entretenido para un chiquillo? ¡Ni escuela ni maestros! Vacaciones perpetuas y la calle animada como una feria... El niño se pasaba el día entero fuera de casa, en total libertad. Acompañaba a los batallones del barrio que iban a los fuertes, eligiendo preferentemente a los que tenían una buena banda, y en esto el chico era experto. Decía con aplomo que la del 96 no valía gran cosa; pero que, en cambio, la del 55 era estupenda. Otras veces miraba cómo los guardias móviles hacían instrucción. Y además tenía otro entretenimiento: las colas. Con su cesta al brazo, se metía en aquellas largas filas que se formaban, en la oscuridad de las mañanas de invierno sin gas, a la puerta de las carnicerías, de las panaderías. Con los pies en los charcos, se trababan nuevas amistades, se hablaba de política y, como hijo del señor Stenne, los demás le pedían su opinión. Pero más divertidas aún eran las partidas de chito, famoso juego de galocha que pusieron de moda los móviles bretones durante el sitio. Cuando Stenne hijo no estaba en las fortificaciones ni en las panaderías, ya se sabía dónde se le podía encontrar: en la partida de chito que se hacía junto al Château-d'Eau. Él no jugaba, claro está; necesitaría mucho dinero y no lo tenía; pero se contentaba mirando cómo jugaban los demás. Uno de ellos, alto, de camisa azul, que manejaba mucho dinero, despertaba su admiración. Cuando corría se le oían sonar los francos en el bolsillo. Un día, al agacharse para coger una moneda que había rodado hasta los pies de Stenne, el chico le dijo en voz baja:

-No te quedes bizco. Si quieres, puedo decirte de dónde se sacan.

Cuando la partida terminó, se lo llevó consigo a un rincón de la plaza y le propuso ir juntos a vender periódicos a los prusianos. Se sacaban treinta francos limpios por cada viaje. Al principio, Stenne lo rechazó muy indignado, y se pasó tres días sin volver a la partida; tres días terribles, sin comer ni dormir. Por la noche veía montones de chitos, derechos, al pie de la cama, y monedas de franco, brillantes, deslizándose por el suelo... La tentación era demasiado fuerte, y a los cuatro días volvió al Château-d'Eau, vio al otro y se dejó convencer. Una mañana que había nevado salieron con su saco al hombro y los periódicos escondidos bajo las camisas. Cuando llegaron a la puerta de Flandes, no se veía apenas; el grande tomó a Stenne de la mano, y acercándose al centinela -un buen hombre civil, con la nariz roja y aspecto de infeliz- le dijo:

-Déjenos pasar, buen hombre. Tenemos a nuestra madre enferma y no tenemos padre. Voy con mi hermano a ver si podemos coger algunas papas en el campo...

Lloraba mientras hablaba. Stenne, avergonzado, bajaba la cabeza; el centinela los miró un instante; luego miró el camino, nevado y desierto:

-¡Está bien, pasen! -les dijo, dejándolos pasar.

Ahí los vemos camino de Aubervilliers. ¡Y anda que no se reía el grandullón! Desconcertado, y como en sueños, Stenne veía fábricas convertidas en cuarteles, barricadas desiertas, llenas de andrajos mojados; largas chimeneas que perforaban la niebla y ascendían hacia el cielo, rotas, desportilladas. De trecho en trecho un centinela, oficiales encapuchados, que miraban a lo lejos con gemelos, y tiendas de campaña hundidas en la nieve, fundida junto a las hogueras medio apagadas. El joven conocía los caminos y se echaba a campo traviesa para evitar los puestos. Pero, de repente y sin tener escapatoria, fueron a dar de bruces con una avanzada de franco-tiradores. Los franco-tiradores, vestidos con capotes cortos, se agazapaban en el fondo de una trinchera encharcada que corría paralela al ferrocarril de Soissons. Ahora no les valió repetir su triste historia: no los dejaron pasar. Mientras lloriqueaba, de la casa de la guardesa salió un sargento, de cabeza canosa y cara arrugada, que se parecía al señor Stenne.

-¡Vamos, pequeños, límpiense esas lágrimas! -dijo a los chicos-. Luego irán a coger papas; ahora entren a calentarse un poco. ¡Vaya una cara de frío que tiene este chiquillo!

¡Ay! Stenne no temblaba de frío precisamente; temblaba de miedo, de vergüenza. En el puesto encontraron algunos soldados acurrucados junto al fuego agonizante, un auténtico fuego de viuda, a cuya llama deshelaban la torta, pinchada en la punta de las bayonetas. Les dieron una copa y un poco de café. Mientras bebían, un oficial llegó a la puerta, llamó al sargento, habló en voz baja con él y se fue enseguida.

-¡Muchachos! -dijo feliz el sargento-. ¡Esta noche va a haber hule! Conocemos el santo y seña de los prusianos. Me parece que esta vez les arrebatamos ese condenado fuerte de Bourget.

Sonó una explosión de ¡bravos! y de risas. Bailaban, cantaban, limpiaban los machetes. Aprovechando el bullicio, los muchachos desaparecieron. Más allá de la trinchera sólo se veía la llanura, y al fondo un largo muro blanco, agujereado de troneras. Se dirigieron hacia aquel muro, deteniéndose a cada paso e inclinándose como para coger papas.

-Volvamos... No vayamos allá -decía a cada momento el pequeño. El otro se encogía de hombros y seguía adelante. De repente oyeron el tictac de amartillar un fusil.

-¡Agáchate! -dijo el mayor, echándose cuerpo a tierra.

Luego silbó; otro silbido le respondió sobre la nieve. Avanzaban a rastras. Delante del muro, a ras del suelo, surgieron dos bigotes rubios bajo una gorra grasienta. El mayor saltó dentro de la trinchera, junto al prusiano.

-Es mi hermano -dijo, señalando a su acompañante.

Stenne era tan pequeño que, al verlo, el prusiano se echó a reír y tuvo que cogerlo en brazos para subirlo hasta la brecha del muro. Al otro lado de éste se veían terraplenes, árboles tendidos, agujeros negros en la nieve, y en cada agujero, la misma gorra grasienta, los mismos bigotes amarillentos riendo al ver pasar a los chiquillos.

En un rincón se hallaba la casa del jardinero, protegida por troncos de árboles. La planta baja estaba repleta de soldados que jugaban a las cartas mientras se cocía la sopa sobre una espléndida hoguera. Olía apetitosamente a coles, a tocino. ¡Qué diferencia con el campamento de los franco-tiradores! En el primer piso se oía a los oficiales tocar el piano, descorchar vino de Champaña. Cuando los parisinos entraron, los acogieron con un ¡hurra!; éstos entregaron sus periódicos y los otros los invitaron a beber haciéndolos hablar. Los oficiales tenían un aspecto bravucón y malévolo, pero el joven los divertía con su imaginación pintoresca y su vocabulario de golfillo; y reían, repetían las palabras después de él y se revolcaban gustosos en el cieno de París que llegaba hasta ellos. Stenne también hubiera querido decir algo para demostrar que no era un idiota; pero algo le trababa la lengua. Frente a él, a un lado, había un prusiano mayor, más serio que los demás, que leía, o que más bien parecía leer, porque no le quitaba ojo. En esa mirada había una mezcla de ternura y de reproche, como si el hombre estuviera pensando para sus adentros: «Quisiera morir antes que ver a mi hijo hacer semejante papel». Desde ese instante, Stenne sintió como si una mano se posase sobre su corazón y le impidiese latir. Para aturdirse, se puso a beber copa tras copa. Pronto todo empezó a darle vueltas; en medio de grandes carcajadas, oía confusamente que su compañero se burlaba de los guardias nacionales, de su manera de hacer la instrucción; imitaba un zafarancho de combate en el Marais, una alarma nocturna en las murallas. Después bajó la voz; los oficiales se le acercaron y sus rostros se pusieron serios. El miserable les iba a descubrir los planes de ataque de los franco-tiradores. Eso era demasiado. Stenne se levantó furioso, despejado de repente. «Eso no..., no quiero». Pero el otro sólo le contestó con una sonrisa y continuó. Antes de que acabara, los oficiales ya se habían levantado. Uno de ellos le indicó la puerta a los chiquillos:

-Ya pueden marcharse -les dijo. Y se pusieron a hablar muy agitados en alemán. El mayor salió de allí altivo como un dux, haciendo sonar el dinero; el pequeño lo seguía con la frente baja, y cuando pasó junto al prusiano, cuya mirada tanto le había impactado, oyó una voz triste que le decía: «Esto no está bien, no está bien». Y los ojos se le llenaron de lágrimas.

Una vez en la llanura, los muchachos echaron a correr y entraron pronto en París. Como llevaban el saco lleno de papas (que les habían dado los alemanes), llegaron sin tropiezo hasta la trinchera de los franco-tiradores. No se veía otra cosa sino preparativos para el ataque de la noche. Sigilosamente llegaban tropas que se agrupaban detrás de las paredes. El viejo sargento estaba muy contento de acá para allá preparando su sección. Cuando los muchachos pasaron, los reconoció y los saludó con una sonrisa paternal. ¡Qué daño le hizo aquella sonrisa al pequeño Stenne! Un grito estuvo a punto de salírsele de la boca: «¡No vayan esta noche!... Los acabamos de traicionar...». Pero el otro lo había advertido: «Si te vas de la lengua, nos fusilan a los dos», y el miedo le impidió hablar.

En el barrio de la Courneuve entraron en una casa abandonada para repartirse las ganancias. La verdad me obliga a decir que la partición se hizo con toda honradez, y que al oír sonar las monedas en su bolsillo, y al pensar en la cantidad de partidas de chito que podría jugar, Stenne no encontró tan horrible lo que había hecho. Pero cuando se quedó solo, cuando pasadas unas cuantas puertas el mayor lo dejó, entonces sus bolsillos empezaron a hacérsele cada vez más pesados, y la mano que le oprimía el corazón se lo apretaba más fuerte que nunca. París ya no le parecía el mismo de antes. La gente que pasaba a su lado lo miraba severamente, como si supiera de dónde venía. Escuchaba la palabra espía en el sonido de las ruedas, en el redoble de tambor de los que hacían la instrucción a lo largo del canal. Por fin llegó a su casa y, contento de que su padre no estuviera aún allí, subió corriendo a su cuarto y escondió bajo la almohada el dinero que tanto le pesaba.

Hacía tiempo que el señor Stenne no volvía a casa tan contento, tan feliz como aquella noche. Se acababan de recibir noticias de provincias; las cosas marchaban mejor. Mientras comía, el viejo soldado miraba su fusil colgado en la pared, y decía sonriendo al chiquillo:

-¡Qué bien te las verías con los prusianos si fueras un poco mayor!

Hacia las ocho comenzó a tronar el cañón. «Es el fuerte de Aubervilliers; la batalla es en el Bourget» -decía el buen hombre, que conocía todos los fuertes-. Stenne se puso lívido, y pretextando estar cansado, se fue a acostar; pero no pudo pegar un ojo. El cañón sonaba sin cesar. Se imaginaba a los franco-tiradores deslizándose en la noche para sorprender a los prusianos, y cayendo, a su vez, en una emboscada; se acordaba del sargento que le había sonreído y lo veía tendido en la nieve, y al lado de él, ¡quién sabe cuántos más! Y el precio de tanta sangre estaba escondido allí, bajo su almohada, y era él, el hijo del señor Stenne, el hijo de un soldado, el que... Las lágrimas lo ahogaban; en el cuarto contiguo oía a su padre andar, abrir la ventana. Abajo, en la plaza, tocaban a llamada; un batallón de móviles se numeraba para marchar. Iba a ser una gran batalla, si lugar a dudas. El infeliz no pudo contener un sollozo.

-¿Qué te pasa? -le preguntó el padre entrando en la habitación.

El chiquillo no aguantó más; saltó de la cama e intentó echarse a los pies de su padre. Al realizar este movimiento, el dinero rodó por el suelo.

-¿Qué es esto? ¿Has robado? -preguntaba el viejo, tembloroso.

Entonces, sin tomar aliento, el muchacho le contó que había ido a las líneas prusianas y lo que había hecho. A medida que hablaba sentía que su corazón latía con más libertad; la confesión lo aliviaba. Cuando terminó, se tapó la cara con las manos y se puso a llorar.

-¡Padre! ¡padre! -dijo el chico tratando de acercársele.

El padre lo rechazó sin hablar, recogió el dinero y lo guardó en el bolsillo.

-¿Has terminado? -preguntó.

El chico hizo un gesto afirmativo con la cabeza. El padre descolgó su fusil y su cartuchera.

-¡Voy a devolver esto!

Y, sin añadir ni una palabra más, sin volver siquiera la cabeza, fue a unirse a los móviles que iban a salir hacia el frente aquella misma noche.

No se le ha vuelto a ver nunca más.

FIN


Biblioteca Digital Ciudad Seva

sábado, 18 de junho de 2016

Tenho um aluno surdo que, quando conversava com ele, parecia que ele estava conversando com outra pessoa, não comigo. Ontem descobri a causa. A intérprete traduzia os conceitos que eu estava apresentando à revelia das definições delimitadas por mim. Por exemplo, ela traduzia premissa (proposição que usamos para justificar a conclusão) por "ocorrido". Isso é um disparate sem igual! Ela justificou a tradução dizendo que era assim que ele entendia, como se meu trabalho de professor consistisse em apenas dar outros nomes para as coisas. Meu trabalho é apresentar novas ideias aos alunos para eles se desfazerem por conta própria os preconceitos que adquirimos ao longo da vida, e, assim, usarem suas ideias com mais precisão e coerência. Negar isso a um aluno com deficiência é uma discriminação grave.

Thiago Melo

sábado, 11 de junho de 2016

“O que é a arte?”



“A principal particularidade da sensação estética é que o receptor se funde de tal modo com o artista que lhe parece que o objeto percebido não foi feito por outra pessoa, mas por ele mesmo (o receptor), e que tudo o que esse objeto expressa é exatamente o que ele gostaria de expressar há muito tempo. A verdadeira obra de arte faz com que na consciência do receptor se elimine a divisão entre ele e o artista, e não só entre ele e o artista, mas entre ele e todas as pessoas que entram em contato com a mesma obra de arte. E nessa libertação da pessoa de seu isolamento de outras pessoas, de sua solidão, nessa fusão de um indivíduo com outros, está a principal força atrativa e característica da arte”.

Liev Tolstói 
Арсений Тарковский Стихи
Перевод Софии Юсифпольской-Цилосани
и Джорда Рюкерта

Я учился траве, раскрывая тетрадь,
И трава начинала, как флейта, звучать.
Я ловил соответствие звука и цвета,
И когда запевала свой гимн стрекоза,
Меж зеленых ладов проходя, как комета,
Я-то знал, что любая росинка - слеза.
Знал, что в каждой фасетке огромного ока,
В каждой радуге яркострекочущих крыл
Обитает горящее слово пророка,
И Адамову тайну я чудом открыл.

Я любил свой мучительный труд, эту кладку
Слов, скрепленных их собственным светом,
загадку
Смутных чувств и простую разгадку ума,
В слове п р а в д а мне виделась правда сама,
Был язык мой правдив, как спектральный
анализ,
А слова у меня под ногами валялись.

И еще я скажу: собеседник мой прав,
В четверть шума я слышал, в полсвета я
видел,
Но зато не унизив ни близких, ни трав,
Равнодушием отчей земли не обидел,
И пока на земле я работал, приняв
Дар студеной воды и пахучего хлеба,
Надо мною стояло бездонное небо,
Звезды падали мне на рукав.

1956

I studied the grass, opening my notebook,
And the grass began resounding like a flute,
I caught the correspondences of sound and color
And when the dragon-fly began its hymn
Moving through the green tones like a comet,
I grasped that any dewdrop is a tear,
That in every facet of its giant eye
In each rainbow of its brightly rustling wings
The burning word of the prophet dwells
And uncovered by wonder the mystery of
Adam.

I loved my torturous labor, this masonry of
Words bound by their own light,
the riddle
Of vague feelings and the simple answer of the
mind.
In the word 'truth' I perceived the truth itself.
My language was truthful like spectral analysis
And the words lazed there just beneath my feet.

And I would also say: my interlocutor's correct,
I heard a quarter of the noise, saw half the light.
Yet I humbled neither my loved ones nor grass
Nor did I insult the earth with an indifference.
And while I was laboring on the earth, accepting
Its gift of cool water and fragrant bread,
The fathomless sky stood above me –
And stars were falling on my sleeve.

1956

Arseni tarkovsky poemas
Tradução de Sofia yusifpolʹskoy-Tsilosani
E JORDA RYUKERTA



sexta-feira, 10 de junho de 2016

“En la vida es más importante perder que ganar. La simiente no germina si no muere. Hay que vivir sin dejarse llevar, mirar hacia adelante y alimentarse de aquellas provisiones vivas que tanto el olvido como el recuerdo elaboran”. Doctor Zhivago

Boris Pasternak
Con la breve Belleza, ella reside,
y con la Dicha, a quien la boca sella
diciendo adiós, y al lado del doliente
Placer, que da veneno a quien lo liba.
Oh, sí: en el tabernáculo del Gozo
la Melancolía esconde su altar,
y tan sólo lo ve quien con la lengua
hace estallar las uvas de la Dicha;
su alma sabrá qué triste es su poder
pendiendo cual trofeo entre sus nubes.

Poesía [Antología bilingüe]

John Keats

Origens profissionais dos secretários estaduais de Segurança Pública


Fábia Berlatto (cespdh/ufpr)

O campo da segurança pública tem obtido cada vez mais destaque. Governos estaduais têm elegido o combate à violência e ao crime organizado como uma das prioridades em seus programas, convertendo a agenda da segurança em capital eleitoral.
Isso faz do secretário de Segurança Pública um dos parceiros políticos mais importantes do governador do estado, ao mesmo tempo em que aumenta o seu protagonismo político.
Conhecer as fontes onde esses secretários são recrutados --- se na polícia civil, na polícia militar, no MP, entre os políticos de carreira, etc. --- é útil porque elas dão indícios de algumas mudanças nas estratégias políticas em torno da segurança pública dos governos.
Mas o quão partidarizada é essa escolha?
Os dados mostram que existe uma relação positiva, e forte, entre governos estaduais do PT e secretários de segurança vindos da policial federal.
Por outro lado, há uma relação positiva, e forte, entre governos estaduais do PSDB e secretários de segurança vindos do Ministério Público.
Explicar isso é um dos objetivos deste estudo.


http://observatory-elites.org/…/newsletter-Observatorio-v.-…

Antes de falar em escola sem partido, é preciso falar em universidade sem partido

Thiago Melo   Antes de falar em escola sem partido, é preciso falar em universidade sem partido. E não só de partidarismo político, mas também de partidarismo teórico. As universidades promovem mais que as escolas o partidarismo teórico.

Gabriel Gil Nossa, você acredita mesmo nisso?

Thiago Melo Acredito em quê? No Movimento escola sem partido ou no partidarismo educacional brasileiro?

Gabriel Gil Na possibilidade do conhecimento ser apartidário de uma corrente ideológica?

Thiago Melo Dizendo melhor. O conhecimento tem que ser autônomo. Isso significa que devemos dar as condições para que as pessoas busquem o conhecimento por elas mesmas. Estas condições são o ensino de várias correntes diferentes sobre um mesmo problema.

Gabriel Gil Ja que não trata de.instituições, mas ideias esse projeto de lei.

Thiago Melo Já este movimento é equivocado, pois o que eles querem mesmo é que se ensine o posição deles.

Gabriel Gil Bom, não sei vc, mas eu faço isso. Ensino o Positivismo tanto quanto o materialismo, querer exigir neutralidade na exposição teórica, é dificil e já coloca em um desses lados e assim, não é acabar com a ideologização. É pribir determinadas idrologias. E desse fato, bem uma leitura da turma da mobica está alheia.

Gabriel Gil A grande questão é que: ao não conseguir superar premissas básicas do método dedutivo, os Positivistas não vem outra forma a não pela coerção e força obrigar todos a assumirem uma postura educativa. E isso, significa que eles perderam, na argumentação, ba exposição empírica e ainda não produzem efeitos suficientes para criar o padrão moral que idealizou os mentores desse corrente.

Thiago Melo Quando se fala em ensino neutro, é isso que deve ser buscado.

Gabriel Gil Mas isso, não existe. Somos animais políticos...l Neutralidade é para o opressor e suas balelas míticas como Estado democratico de direito, sufragio universal, estado-nação e outras categorias que modelam a ideologia moderna. Que substituiu Deus por mitos roamanticos, como democracia racial no Brasil.
Ou seja, dar aula é fazer política. E ai se escolhe entre incluir ou excluir...


Thiago Melo Discordo. Por que a maioria dos homens são machistas, implica que o feminismo não é possível? Essa sua visão é fruto de apenas uma corrente teórica. Posso te indicar outras que argumentam contra isso.E a partir daí, você tira suas próprias conclusões.

Gabriel Gil Não entendia relação entre termos uma maioria machista e a neutralidade. Uma escola que não debate genero tende a reproduzir o machismo e isso significa, manter uma serie de privilégio. E isso é uma decisão política.

Thiago Melo É que muitos que adotam a visão de que tudo é construído socialmente, que parece ser o seu caso, pensam que a neutralidade cognitiva não é possível porque é difícil conseguir. Porém, ser difícil, pois muitas coisas contaminam nosso pensamento, não implica que é impossível.

Gabriel Gil A questão é que ensino religioso não sai do currículo, mas sociologia, filosofia e biologia devem ser retiradas pq levam ideologia para sal de aula. Devemos debater a hipocrisia intelectual e política. Todos sabem que a ciência não tem todas as respostas. Mas tirar as poucas que temos, ai é vandalismo.

Thiago Melo Pra começar, sugiro "A última palavra", de Thomas Nagel. Depois "Medo do conhecimento", de Paul Boghossian.
Artigos, sugiro esses: http://criticanarede.com/sociologianormativa.html
Sobre o problema da sociologia normativa
Na última semana escrevi reclamando de como os jornalistas tendem a usar o termo indiferenciado…

CRITICANAREDE.COM

Thiago Melo Isso é outra coisa. Não está relacionada com a neutralidade.

Gabriel Gil Políticas que tratam sobre neutralidade epistêmica, não são neutras!


Valdinéli Martins Em termos práticos sabe se que o "apartidarismo" é desejado por quem não quer que se conheça a est

Valdinéli Martins . . .a esquerda teórica. Isso é também partidarismo.

Thiago Melo__________________ O apartidarismo não é uma ideia exclusiva deste movimento de fanáticos da escola sem partido. Meus motivos e razões são outros.


Valdinéli Martins_______________ Se algum tivermos uma esquerda não marxista e uma direita não oligárquica teremos uma chance como nação. Mas aí já outra discussão.

O que é um ensino ultrapassado em ciências humanas?



Thiago Melo____________ É o ensino de apenas uma corrente ou posição teórica e o ensino de apenas o pensamento dos outros. Semelhante a recusa de Galileu ao estudo da natureza através dos livros de Aristóteles, pois pensava que deveria ser através da própria natureza, devemos recusar o estudo das ciências humanas através do pensamento dos outros. Primordialmente, a sociedade deve ser estudada na própria sociedade, os conceitos básicos devem ser estudados neles mesmos e assim em todas as áreas de conhecimento.

André Shizuo Hachiguti_____ Quadros Existe, no entanto, uma questão que é o problema da consciência histórica. Quando Galileu recusa o estudo da natureza através de Aristóteles, evidentemente, ele não está recusando que se estude Aristóteles. Ele está propondo que se faça uma contraposição entre Aristóteles e a Natureza, ou uma leitura crítica de Aristóteles, tendo como base o estudo da natureza. Claro que Galileu também vive em um momento histórico que sofria transformações profundas na relação que os cientistas, filósofos e artistas têm com a natureza e Deus (o criador da natureza). O problema levantado, por exemplo, por Hans-Georg Gadamer, em Verdade e Método ou por Thomas Kuhn em seus estudo acerca dos paradigmas científicos é exatamente esse. Não existe a sociedade por ela mesma, os conceitos filosóficos básicos por eles mesmos ou a natureza por ela mesma. Todos esses elementos "concretos" ou "objetivos" das ciências em geral e os "conceitos por eles mesmos"(?) das ciências humanas são mediados (antes que possamos tê-los) por perspectivas teóricas (que Kuhn denomina dogmas ou paradigmas e Gadamer de prejuízos, preconceitos ou perspectiva). Só quero dizer que não se pode fazer uma coincidência pura e simples entre "passado" e ultrapassado. Enfim. É preciso aprender a filosofar! E às vezes isso significa "subir nos ombros de gigantes." (Agostinho) Eu entendo que você está se referindo ao dogmatismo de muitas pessoas na academia, mas se você não oferece um méthodos ficamos na doxa ao invés de praticarmos a episteme.

Thiago Melo____________ Estou me referendo ao funcionamento da academia no Brasil, não à algumas pessoas. Sobre "consciência histórica", o mesmo vale, ao meu ver, para este momento. O que estou dizendo é que o momento é semelhante no Brasil. Também julgo que estamos numa transformação profunda em relação a pensar que tudo é uma construção social ou cognitiva. A visão dos que você citou é uma perspectiva teórica, não a verdade, como pensavam que eram os livros de Aristóteles. Há outras visões diferentes da que diz que não existem conhecimento puro. E quem vai decidir isso sou eu, desde que me apresente às várias perspectivas, e eu possa pensar por conta própria, inclusive apresentar uma nova perspectiva. O exemplo de Galileu se refere a isso, a saber, a possibilidade de pensarmos nós mesmos os problemas, pensarmos os problemas por nós mesmos. Quando falei em recusa, quis dizer, recusar a estudar a natureza só nos livros de Aristóteles.


Thiago Melo Sobre a distinção entre passado e ultrapassado, penso que é possível. Ultrapassado é aquilo que temos evidências suficientes pra julgar inadequado. E penso que as temos.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

El vampiro estelar



Robert Bloch

Confieso que sólo soy un simple escritor de relatos fantásticos. Desde mi más temprana infancia me he sentido subyugado por la secreta fascinación de lo desconocido y lo insólito. Los temores innominables, los sueños grotescos, las fantasías más extrañas que obsesionan nuestra mente, han tenido siempre un poderoso e inexplicable atractivo para mí. En literatura, he caminado con Poe por senderos ocultos; me he arrastrado entre las sombras con Machen; he cruzado con Baudelaire las regiones de las hórridas estrellas, o me he sumergido en las profundidades de la tierra, guiado por los relatos de la antigua ciencia. Mi escaso talento para el dibujo me obligó a intentar describir con torpes palabras los seres fantásticos que moran en mis sueños tenebrosos. Esta misma inclinación por lo siniestro se manifestaba también en mis preferencias musicales. Mis composiciones favoritas eran la Suite de los Planetas y otras del mismo género. Mi vida interior se convirtió muy pronto en un perpetuo festín de horrores fantásticos, refinadamente crueles. En cambio, mi vida exterior era insulsa. Con el transcurso del tiempo, me fui haciendo cada vez más insociable, hasta que acabé por llevar una vida tranquila y filosófica en un mundo de libros y sueños.

El hombre debe trabajar para vivir. Incapaz, por naturaleza, de todo trabajo manual, me sentí desconcertado en mi adolescencia ante la necesidad de elegir una profesión. Mi tendencia a la depresión vino a complicar las cosas, y durante algún tiempo estuve bordeando el desastre económico más completo. Entonces fue cuando me decidí a escribir.

Adquirí una vieja máquina de escribir, un montón de papel barato y unas hojas de carbón. Nunca me preocupó la búsqueda de un tema. ¿Qué mejor venero que las ilimitadas regiones de mi viva imaginación? Escribiría sobre temas de horror y oscuridad y sobre el enigma de la Muerte. Al menos, en mi inexperiencia y candidez, éste era mi propósito.

Mis primeros intentos fueron un fracaso rotundo. Mis resultados quedaron lastimosamente lejos de mis soñados proyectos. En el papel, mis fantasías más brillantes se convirtieron en un revoltijo insensato de pesados adjetivos, y no encontré palabras de uso corriente con que expresar el terror portentoso de lo desconocido. Mis primeros manuscritos resultaron mediocres, vulgares; las pocas revistas especializadas de este género los rechazaron con significativa unanimidad. Tenía que vivir. Lentamente, pero de manera segura, comencé a ajustar mi estilo a mis ideas. Trabajé laboriosamente las palabras, las frases y las estructuras de las oraciones. Trabajé, trabajé duramente en ello. Pronto aprendí lo que era sudar. Y por fin, uno de mis relatos fue aceptado; después un segundo, y un tercero, y un cuarto. En seguida comencé a dominar los trucos más elementales del oficio, y comencé finalmente a vislumbrar mi porvenir con cierta claridad. Retorné con el ánimo más ligero a mi vida de ensueños y a mis queridos libros. Mis relatos me proporcionaban medios un tanto escasos para subsistir, y durante cierto tiempo no pedí más a la vida. Pero esto duró poco. La ambición, siempre engañosa, fue la causa de mi ruina.

Quería escribir un relato real; no uno de esos cuentos efímeros y estereotipados que producía para las revistas, sino una verdadera obra de arte. La creación de semejante obra maestra llegó a convertirse en mi ideal. Yo no era un buen escritor, pero ello no se debía enteramente a mis errores de estilo. Presentía que mi defecto fundamental radicaba en el asunto escogido. Los vampiros, hombres-lobos, los profanadores de cadáveres, los monstruos mitológicos, constituían un material de escaso mérito. Los temas e imágenes vulgares, el empleo rutinario de adjetivos, y un punto de vista prosaicamente antropocéntrico, eran los principales obstáculos para producir un cuento fantástico realmente bueno. Debía elegir un tema nuevo, una intriga verdaderamente extraordinaria. ¡Si pudiera concebir algo realmente teratológico, algo monstruosamente increíble!

Estaba ansioso por aprender las canciones que cantaban los demonios al precipitarse más allá de las regiones estelares, por oír las voces de los dioses antiguos susurrando sus secretos al vacío preñado de resonancias. Deseaba vivamente conocer los terrores de la tumba, el roce de las larvas en mi lengua, la dulce caricia de una podrida mortaja sobre mi cuerpo. Anhelaba hacer mías las vivencias que yacen latentes en el fondo de los ojos vacíos de las momias, y ardía en deseos de aprender la sabiduría que sólo el gusano conoce. Entonces podría escribir la verdad, y mis esperanzas se realizarían cabalmente. Busqué el modo de conseguirlo. Serenamente, comencé a escribirme con pensadores y soñadores solitarios de todo el país. Mantuve correspondencia con un eremita de los montes occidentales, con un sabio de la región desolada del norte y con un místico de Nueva Inglaterra. Por medio de éste, tuve conocimiento de algunos libros antiguos que eran tesoro y reliquia de una ciencia extraña. Primero me citó con mucha reserva algunos pasajes del legendario Necronomicón, luego se refirió a cierto Libro de Eibon, que tenía fama de superar a los demás por su carácter demencial y blasfemo. Él mismo había estudiado aquellos volúmenes que recogían el terror de los Tiempos Originales, pero me prohibió que ahondara demasiado en mis indagaciones. Me dijo que, como hijo de la embrujada ciudad de Arkham, donde aún palpitan y acechan sombras de otros tiempos, había oído cosas muy extrañas, por lo que decidió apartarse prudentemente de las ciencias negras y prohibidas. Finalmente, después de mucho insistirle, consintió de mala gana en proporcionarme los nombres de ciertas personas que a su juicio podrían ayudarme en mis investigaciones. Mi corresponsal era un escritor de notable brillantez; gozaba de una sólida reputación en los círculos intelectuales más exquisitos, y yo sabía que estaba tremendamente interesado en conocer el resultado de mi iniciativa. Tan pronto como su preciosa lista estuvo en mis manos, comencé una masiva campaña postal con el fin de conseguir los libros deseados. Dirigí mis cartas a varias universidades, a bibliotecas privadas, a astrólogos afamados y a dirigentes de ciertos cultos secretos de nombres oscuros y sonoros. Pero aquella labor estaba destinada al fracaso. Sus respuestas fueron manifiestamente hostiles. Estaba claro que quienes poseían semejante ciencia se enfurecían ante la idea de que sus secretos fuesen develados por un intruso.

Posteriormente, recibí varias cartas anónimas llenas de amenazas, e incluso una llamada telefónica verdaderamente alarmante. Pero lo que más me molestó, fue darme cuenta de que mis esfuerzos habían resultado fallidos. Negativas, evasivas, desaires, amenazas.... ¡aquello no me servía de nada! Debía buscar por otra parte. ¡Las librerías! Quizá descubriese lo que buscaba en algún estante olvidado y polvoriento. Entonces comencé una cruzada interminable. Aprendí a soportar mis numerosos desengaños con impasible tranquilidad. En ninguna de las librerías que visité habían oído hablar del espantoso Necronomicón, del maligno Libro de Eibon, ni del inquietante Cultes des Goules. La perseverancia acaba por triunfar. En una vieja tienda de la calle South Dearborn, en unas estanterías arrinconadas, acabé por encontrar lo que estaba buscando. Allí, encajado entre dos ediciones centenarias de Shakespeare, descubrí un gran libro negro con tapas de hierro. En ellas, grabado a mano, se leía el título, De Vermis Mysteriis, "Misterios del Gusano". El propietario no supo decirme de dónde procedía el libro aquél. Quizá lo había adquirido hace un par de años en algún lote de libros de segunda mano. Era evidente que desconocía su naturaleza, ya que me lo vendió por un dólar. Encantado por su inesperada venta, me envolvió el pesado mamotreto, y me despidió con amable satisfacción.

Yo me marché apresuradamente con mi precioso botín debajo del brazo. ¡Lo que había encontrado! Ya tenía referencias del libro. Su autor era Ludvig Prinn, y había perecido en la hoguera inquisitorial, en Bruselas, cuando los juicios por brujería estaban en su apogeo. Había sido un personaje extraño, alquimista, nigromante y mago de gran reputación; alardeaba de haber alcanzado una edad milagrosa, cuando finalmente fue inmolado por el fiero poder secular. De él se decía que se proclamaba el único superviviente de la novena cruzada, y exhibía como prueba ciertos documentos mohosos que parecían atestiguarlo. Lo cierto es que, en los viejos cronicones, el nombre de Ludvig Prinn figuraba entre los caballeros servidores de Monserrat, pero los incrédulos lo seguían considerando como un chiflado y un impostor, a lo sumo descendiente de aquel famoso caballero. Ludvig atribuía sus conocimientos de hechicería a los años en que había estado cautivo entre los brujos y encantadores de Siria, y hablaba a menudo de sus encuentros con los djinns y los efreets de los antiguos mitos orientales. Se sabe que pasó algún tiempo en Egipto, y entre los santones libios circulan ciertas leyendas que aluden a las hazañas del viejo adivino en Alejandría. En todo caso, pasó sus postreros días en las llanuras de Flandes, su tierra natal, habitando -lugar muy adecuado- las ruinas de un sepulcro prerromano que se alzaba en un bosque cercano a Bruselas. Se decía que allí moraba en las sombras, rodeado de demonios familiares y terribles sortilegios. Aún se conservan manuscritos que dicen, en forma un tanto evasiva, que era asistido por "compañeros invisibles" y "servidores enviados de las estrellas". Los campesinos evitaban pasar la noche por el bosque donde habitaba, no le gustaban ciertos ruidos que resonaban cuando había luna llena, y preferían ignorar qué clase de seres se prosternaban ante los viejos altares paganos que se alzaban, medio desmoronados, en lo más oscuro del bosque. Sea como fuere, después de ser apresado Prinn por los esbirros de la Inquisición, nadie vio las criaturas que había tenido a su servicio. Antes de destruir el sepulcro donde había morado, los soldados lo registraron a fondo, y no encontraron nada. Seres sobrenaturales, instrumentos extraños, pócimas... todo había desaparecido de la manera más misteriosa. Hicieron un minuciosos reconocimiento del bosque prohibido, pero sin resultado. Sin embargo, antes de que terminara el proceso de Prinn, saltó sangre fresca en los altares, y también en el potro de tormento. Pero ni con las más atroces torturas lograron romper su silencio. Por último, cansados de interrogar, arrojaron al viejo hechicero a una mazmorra. Y fue durante su prisión, mientras aguardaba la sentencia, cuando escribió ese texto morboso y horrible, De Vermis Mysteriis, conocido hoy por los "Misterios del Gusano". Nadie se explica cómo pudo lograrlo sin que los guardianes lo sorprendieran; pero un año después de su muerte, el texto fue impreso en Colonia. Inmediatamente después de su aparición, el libro fue prohibido. Pero ya se habían distribuido algunos ejemplares, de los que se sacaron copias en secreto. Más adelante, se hizo una nueva edición, censurada y expurgada, de suerte que únicamente se considera auténtico el texto original latino. A lo largo de los siglos, han sido muy pocos los que han tenido acceso a la sabiduría que encierra este libro. Los secretos del viejo mago sólo son conocidos hoy por algunos iniciados, quienes, por razones muy concretas, se oponen a todo intento de propagarlos.

Esto era, en resumen, lo que sabía del libro que había venido a parar a mis manos. Aun como mero coleccionista, el libro representaba un hallazgo fenomenal; pero, desgraciadamente, no podía juzgar su contenido, porque estaba en latín. Como sólo conozco unas cuantas palabras sueltas de esa lengua, al abrir sus páginas mohosas me tropecé con un obstáculo insuperable. Era exasperante poseer aquel tesoro de saber oculto, y no tener la clave para desentrañarlo.

Por un momento, me sentí desesperado. No me seducía la idea de poner un texto de semejante naturaleza en manos de un latinista de la localidad. Más tarde tuve una inspiración. ¿Por qué no coger el libro y visitar a mi amigo para solicitar ayuda? Él era un erudito, leía en su idioma a los clásicos, y probablemente las espantosas revelaciones de Prinn le impresionarían menos que a otros. Sin pensarlo más le escribí apresuradamente y muy poco después recibí su contestación. Estaba encantado en ayudarme. Por encima de todo, debía ir inmediatamente.

Providence es un pueblo agradable. La casa de mi amigo era antigua, de un estilo georgiano bastante caro. La planta baja era una maravilla de ambiente colonial. El piso alto, sombreado por las dos vertientes del tejado e iluminado por una amplia ventana, servía de estudio a mi anfitrión. Allí reflexionamos durante la espantosa y memorable noche del pasado abril, junto a la gran ventana abierta a la mar azulada. Era una noche sin luna, una noche lívida en que la niebla llenaba la vacía oscuridad de sombras aladas. Todavía puedo imaginar con nitidez la escena: la pequeña habitación iluminada por la luz de la lámpara, la mesa grande, las sillas de alto respaldo... Los libros tapizaban las paredes, los manuscritos se apilaban aparte, en archivadores especiales. Mi amigo y yo estábamos sentados junto a la mesa, ante el misterioso volumen. El delgado perfil de mi amigo proyectaba una sombra inquieta en la pared, y su semblante de cera adoptaba, a la luz mortecina una apariencia furtiva. En el ambiente flotaba como el presagio de una portentosa revelación. Yo sentía la presencia de unos secretos que acaso no tardarían en revelarse. Mi compañero era sensible también a esta atmósfera expectante. Los largos años de soledad habían agudizado su intuición hasta un extremo inconcebible. No era el frío lo que le hacía temblar en su butaca, ni era la fiebre la que hacía llamear sus ojos con un fulgor de piedras preciosas. Aun antes de abrir aquel libro maldito, sabía que encerraba una maldición. El olor a moho que desprendían sus páginas antiguas traía consigo un vaho que parecía brotar de la tumba. Sus hojas descoloridas estaban carcomidas por los bordes. Su encuadernación de cuero estaba roída por las ratas, acaso por unas ratas cuyo alimento habitual fuera singularmente horrible.

Aquella noche había contado a mi amigo la historia del libro, y lo había desempaquetado en su presencia. Al principio parecía deseoso, ansioso diría yo, por empezar enseguida su traducción. Ahora, en cambio, vacilaba. Insistía en que no era prudente leerlo. Era un libro de ciencia maligna. ¿Quién sabe qué conocimientos demoníacos se ocultaban en sus páginas, o qué males podían sobrevenir al intruso que se atreviese a profanar sus secretos? No era conveniente saber demasiado. Muchos hombres habían muerto por practicar la ciencia corrompida que contenían esas páginas. Me rogó que abandonara mi investigación, ahora que no lo había leído aún, y que tratara de inspirarme en fuentes más saludables. Fui un necio. Rechacé precipitadamente sus objeciones con palabras vanas y sin sentido. Yo no tenía miedo. Podríamos echar al menos una mirada al contenido de nuestro tesoro. Comencé a pasar hojas. El resultado fue decepcionante. Su aspecto era el de un libro antiguo y corriente de hojas amarillentas y medio deshechas, impreso en gruesos caracteres latinos... y nada más, ninguna ilustración, ningún grabado alarmante. Mi amigo no pudo resistir la tentación de saborear semejante rareza bibliográfica. Al cabo de un momento, se levantó para echar una ojeada al texto por encima de mi hombro; luego, con creciente interés, empezó a leer en voz baja algunas frases en latín. Por último, vencido ya por el entusiasmo, me arrebató el precioso volumen, se sentó junto a la ventana y se puso a leer pasajes al azar. De cuando en cuando, los traducía al inglés.

Sus ojos relampagueaban con un brillo salvaje. Su perfil cadavérico expresaba una concentración total en los viejos caracteres que cubrían las páginas del libro. Cuando traducía en voz alta, las frases retumbaban como una letanía del diablo; luego, su voz se debilitaba hasta convertirse en un siseo de víbora. Yo tan sólo comprendía algunas frases sueltas porque, en su ensimismamiento, parecía haberse olvidado de mí. Estaba leyendo algo referente a hechizos y encantamientos. Recuerdo que el texto aludía a ciertos dioses de la adivinación, tales como el Padre Yig, Han el Oscuro y Byatis, cuya barba estaba formada de serpientes. Yo temblaba, ya conocía esos nombres terribles. Pero más habría temblado, si hubiera llegado a saber lo que estaba a punto de ocurrir. Y no tardó en suceder. De repente, mi amigo se volvió hacia mí, preso de una gran agitación. Con voz chillona y excitada me preguntó si recordaba las leyendas sobre las hechicerías de Prinn, y los relatos sobre servidores invisibles que había hecho venir desde las estrellas. Dije que sí, pero sin comprender la causa de su repentino frenesí. Entonces me explicó el motivo de su agitación. En el libro, en un capítulo que trataba de los demonios familiares, había encontrado una especie de plegaria o conjuro que tal vez fuera el que Prinn había empleado para traer a sus invisibles servidores desde los espacios ultraterrestres. Ahora lo iba a escuchar, él me lo leería. Yo permanecí sentado como un tonto, ignorante de lo que iba a pasar. ¿Por qué no gritaría entonces, por qué no trataría de escapar o de arrancarle de las manos aquel códice monstruoso? Pero yo no sabía nada, y me quedé sentado adonde estaba, mientras mi amigo, con voz quebrada por la violenta excitación, leía una larga y sonora invocación:

Tibi, Magnum Innominandum, signa stellarum
nigrarum et bufaniformis Sadoquae sigillum...

El ritual siguió adelante; las palabras se alzaron como aves nocturnas de terror y muerte; temblaron como llamas en el aire tenebroso y contagiaron su fuego letal a mi cerebro. Los acentos atronadores de mi amigo producían un eco infinito, más allá de las estrellas más remotas. Era como si su voz, a través de enormes puertas primordiales, alcanzara regiones exteriores a toda dimensión en busca de su oyente, y lo llamara a la tierra. ¿Era todo una ilusión? No me paré a reflexionar. Y aquella llamada, proferida de manera casual, obtuvo respuesta. Apenas se había apagado la voz de mi amigo en nuestra habitación, cuando sobrevino el terror. El cuarto se tornó frío. Por la ventana entró aullando un viento repentino que no era de este mundo. En él cabalgaba como un plañido, como una nota perversa y lejana; al oírla, el semblante de mi amigo se convirtió en una pálida máscara de terror. Luego, las paredes crujieron y las hojas de la ventana se combaron ante mis ojos atónitos. Desde la nada que se abría más allá de la ventana, llegó un súbito estallido de lúbrica brisa, unas carcajadas histéricas, que parecían producto de la más completa locura. Aquellas carcajadas que no profería boca alguna alcanzaron la última quintaesencia del horror.

Lo demás ocurrió a una velocidad pasmosa. Mi amigo se lanzó hacia la ventana y comenzó a gritar, manoteando como si quisiera zafarse del vacío. A la luz de la lámpara vi sus rasgos contraídos en una mueca de loca agonía. Un momento después, su cuerpo se levantó del suelo y comenzó a doblarse hacia atrás, en el aire, hasta un grado imposible. Inmediatamente, sus huesos se rompieron con un chasquido horrible y su figura quedó colgando en el vacío. Tenía los ojos vidriosos, y sus manos se crispaban compulsivamente como si quisiera agarrar algo que yo no veía. Una vez más, se oyó aquella risa vesánica, ¡pero ahora provenía de dentro de la habitación!

Las estrellas oscilaban en roja angustia, el viento frío silbaba estridente en mis oídos. Me encogí en mi silla, con los ojos clavados en aquella escena aterradora que se desarrollaba ante mí. Mi amigo empezó a gritar. Sus alaridos se mezclaban con aquella risa perversa que surgía del aire. Su cuerpo combado, suspendido en el espacio, se dobló nuevamente hacia atrás, mientras la sangre brotaba de su cuello desgarrado como agua roja de un surtidor.

Aquella sangre no llegó a tocar el suelo. Se detuvo en el aire, y cesó la risa, que se convirtió en un gorgoteo nauseabundo. Dominado por en vértigo del horror, lo comprendí todo. ¡La sangre estaba alimentando a un ser invisible del más allá! ¿Qué entidad del espacio había sido invocada tan repentina e inconscientemente? ¿Qué era aquél monstruoso vampiro que yo no podía ver?

Después, aún tuvo lugar una espantosa metamorfosis. El cuerpo de mi compañero se encogió, marchito ya y sin vida. Por último, cayó en el suelo y quedó horriblemente inmóvil. Pero en el aire de la estancia sucedió algo pavoroso. Junto a la ventana, en el rincón, se hizo visible un resplandor rojizo... sangriento. Muy despacio, pero en forma continua, la silueta de la Presencia fue perfilándose cada vez más, a medida que la sangre iba llenando la trama de la invisible entidad de las estrellas. Era una inmensidad de gelatina palpitante, húmeda y roja, una burbuja escarlata con miles de apéndices, unas bocas que se abrían y cerraban con horrible codicia... Era una cosa hinchada y obscena, un bulto sin cabeza, sin rostro, sin ojos, una especie de buche ávido, dotado de garras, que había brotado del cielo estelar. La sangre humana con la que se había nutrido revelaba ahora los contornos del comensal. No era espectáculo para presenciarlo un humano.

Afortunadamente para mi equilibrio mental, aquella criatura no se demoró ante mis ojos. Con un desprecio total por el cadáver fláccido que yacía en el suelo, asió el espantoso libro con un tentáculo viscoso y retorcido, y se dirigió a la ventana con rapidez. Allí, comprimió su tembloroso cuerpo de gelatina a través de la abertura. Desapareció, y oí su risa burlesca y lejana, arrastrada por las ráfagas del viento, mientras regresaba a los abismos de donde había venido.

Eso fue todo. Me quedé solo en la habitación, ante el cuerpo roto y sin vida de mi amigo. El libro había desaparecido. En la pared había huellas de sangre y abundantes salpicaduras en el suelo. El rostro de mi amigo era una calavera ensangrentada vuelta hacia las estrellas.

Permanecí largo rato sentado en silencio, antes de prenderle fuego a la habitación. Después, me marché. Me reí, porque sabía que las llamas destruirían toda huella de lo ocurrido. Yo había llegado aquella misma tarde. Nadie me conocía ni me había visto llegar. Tampoco me vio nadie partir, ya que huí antes de que las llamas empezaran a propagarse. Anduve horas y horas, sin rumbo, por las torcillas calles, sacudido por una risa idiota, cada vez que divisaba las estrellas inflamadas, cruelmente jubilosas, que me miraban furtivamente a través de los desgarrones de la niebla fantasmal.

Al cabo de varias horas, me sentí lo bastante calmado para tomar el tren. Durante el largo viaje de regreso, estuve tranquilo, y lo he estado igualmente ahora, mientras escribía esta relación de los hechos. Tampoco me alteré cuando leí en la prensa la noticia de que mi amigo había fallecido en un incendio que destruyó su vivienda.

Solamente a veces, por la noche, cuando brillan las estrellas, los sueños vuelven a conducirme hacia un gigantesco laberinto de horror y locura. Entonces tomo drogas, en un vano intento por disipar los recuerdos que me asaltan mientras duermo. Pero esto tampoco me preocupa demasiado, porque sé que no permaneceré mucho tiempo aquí.

Tengo la certeza de que veré, una vez más, aquella temblorosa entidad de las estrellas. Estoy convencido de que pronto volverá para llevarme a esa negrura que es hoy morada de mi amigo. A veces deseo vivamente que llegue ese día, porque entonces aprenderé yo también, de una vez para siempre, los Misterios del Gusano.

FIN



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