domingo, 8 de março de 2015

Pancada matinal do Thomas de Toledo:



Só queria entender: por que o PSDB é o único partido que pode roubar livremente neste país, pois sempre dão um jeitinho de salvá-lo pela mídia ou pela "justiça"? O mensalão do PSDB ficou anos tendo seu julgamento sendo enrolado e quando o STF decidiu fazer alguma coisa, devolveu-o a primeira instância e tudo terminou em pizza por ter expirado o prazo. A privataria tucana foi comprovada e documentada pela CPI do Banestado, mas o engavetador (vulgo procurador) de FHC sequer enviou as denúncias ao MPF e tudo terminou como está. Há algumas semanas, o STF proibiu que uma CPI investigue o escândalo bilionário de desvios dos trens e metrôs de SP. Agora, no caso da Petrobrás, quando há denúncias fundamentadas de que Aécio se envolveu no esquema a partir de Furnas, seu nome foi tirado da lista enviada e ele não é réu. A regra do STF parece ser clara: só investiga o que envolver o atual governo e em troca os deputados aprovam a PEC da Bengala para estender o mandato dos atuais ministros para até 75 anos. Vale ainda mencionar SP, onde já são quase 100 CPIs barradas pelo PSDB na Assembleia Legislativa. Assim, o PSDB dá o recado ao país de que o crime compensa desde que seja feito na legenda 45. Portanto, ladrões, se quiserem roubar e sequer serem investigados, já sabem o caminho.

Thomas de Toledo
"(...) 45% de toda a renda e a riqueza nacionais é apropriada por apenas 5 mil famílias extensas. Estas são nossas elites. Vivem de rendas e da especulação financeira, portanto, ganham dinheiro sem trabalho. Pouco o nada investem na produção para alavancar um desenvolvimento necessário e sustentável.
Veem, temerosas, a ascensão das classes populares e de seu poder. Estas invadem seus lugares exclusivos. No fundo, começa a haver uma pequena democratização dos espaços sociais. (...) Como teólogo me pergunto angustiado: na sua grande maioria, essas elites são de cristãos e de católicos. Como combinam esta prática perversa com a mensagem de Jesus? (...) Mas entendo, pois para elas vale o dito espanhol: entre Deus e o dinheiro, o segundo é primeiro.

Infelizmente."

 Leonardo Boff

O ANIMAL QUE LOGO SOU

Frequentemente me pergunto, para ver, quem sou eu - e quem sou eu no momento em que, surpreendido nu, em silêncio, pelo olhar de um animal, por exemplo os olhos de um gato, tenho dificuldade, sim, dificuldade de vencer um incômodo.
Por que essa dificuldade?
Tenho dificuldade de reprimir um movimento de pudor. Dificuldade de calar em mim um protesto contra a indecência. Contra o mal-estar que pode haver em encontrar-se nu, o sexo exposto, nu diante de um gato que nos observa sem se mexer, apenas para ver. Mal-estar de um tal animal nu diante de outro animal, assim, poder-se-ia dizer uma espécie de animal-estar: a experiência original, única e incomparável deste mal-estar que haveria em aparecer verdadeiramente nu, diante do olhar insistente do animal, um olhar benevolente ou impiedoso, surpreso ou que reconhece. Um olhar de vidente, de visionário ou de cego extralúcido. É como se eu tivesse vergonha, então, nu diante do gato, mas também vergonha de ter vergonha. Reflexão da vergonha, espelho de uma vergonha envergonhada dela mesma, de uma vergonha ao mesmo tempo especular, injustificável e inconfessável. No centro ótico de uma tal reflexão se encontraria a coisa - e aos meus olhos o foco dessa experiência incomparável que se chama nudez. E que se acredita ser o próprio do homem, quer dizer, estranha aos animais, nus como são, pensamos então, sem a menor consciência de sê-lo.


JACQUES DERRIDA, "O ANIMAL QUE LOGO SOU" (Editora Unesp, 2. edição, 2011), tradução de Fábio Landa.

Porrada no estômago:



"Em 23 de abril de 1849 Dostoiévski foi preso e torturado a mando do Czar e chorou lendo os salmos da Bíblia. Em 1867 um poeta inglês morreu afogado tentando atravessar o canal da mancha carregando sonetos para uma prostituta francesa. Em 1315, no auge da crise da fome na Europa, uma escritora obscura escreveu seu último poema e decepou o próprio braço e arrancou um pedaço da bunda para dar de comer aos filhos famintos. Em 1968 Waly Samolão sentiu o peso do amor e escreveu “Vapor Barato” com Jards Macalé. Em 2098, o último negro africano do planeta escreverá um poema tão lindo que desativará a bomba atômica. A poesia é antibiótico para as desilusões da vida. O consolo dos perseguidos e descontentes. A poesia salva." 

Diego Moraes

Mignon


Conheces o país onde os limões florescem
E laranjas de ouro acendem a folhagem?
Sopra do céu azul uma doce viragem
Junto ao loureiro altivo os mirtos adormecem.
Conheces o país?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amado! Longe, longe!
Conheces o solar? O teto que descansa
Nas colunas, a sala, os quartos luminosos,
E as estátuas a olhar-me, os mármores zelosos:
Que fizeram a ti, minha pobre criança?
Conheces o solar?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amigo! Longe, longe!
Conheces a montanha e a vereda de bruma,
A alimária que busca a enevoada senda?
Nas grutas ainda vive o dragão da legenda,
A rocha cai em ponta e à roda a onda espuma,
Conheces a montanha?
É onde, para onde
Nosso caminho, pai, nos chama. Vamos. Longe.

- Johann Wolfgang von Goethe. 
"Da Atualidade de Goethe". [tradução Haroldo de Campos]. In:_____. O arco-íris branco. Rio de. Janeiro: Imago 1997.

Mignon
Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn,
Im dunkeln Laub die Goldorangen glühn,
Ein sanfter Wind vom blauen Himmel weht,
Die Myrte still und hoch der Lorbeer steht?
Kennst du es wohl? Dahin!
Dahin möcht’ ich mit dir,
O mein Geliebter, ziehn.
Kennst du das Haus? Auf Säulen ruht sein Dach,
Es glänzt der Saal, es schimmert das Gemach,
Und Marmorbilder stehn und sehn mich an:
Was hat man dir, du armes Kind, getan?
Kennst du es wohl? Dahin!
Dahin möcht’ ich mit dir,
O mein Beschützer, ziehn.
Kennst du den Berg und seinen Wolkensteg?
Das Maultier such im Nebel seinen Weg,
In Höhlen wohnt der Drachen alte Brut;
Es stürzt der Fels und über ihn die Flut.
Kennst du ihn wohl? Dahin!
Dahin geht unser Weg!
O Vater, laß uns ziehn!

- Johann Wolfgang von Goethe


http://www.elfikurten.com.br/…/johann-wolfgang-von-goethe.h…

O Poder da Ideologia

“Somente nas condições de uma crise importante – como durante a Primeira Guerra Mundial e sua sequência de revoluções, não apenas na Rússia mas também em vários países europeus, ou durante a Segunda Guerra Mundial, seguida pela vitória da revolução chinesa e por um deslocamento significativo para a esquerda do espectro político em quase todo o mundo, pelo menos durante alguns anos – os sistemas críticos de pensamento podem afetar drasticamente o ‘panorama ideológico da época’. Em circunstâncias normais, devem lutar não apenas contra seus adversários ideológicos especializados, mas também, o que é muito mais desalentador, contra a ‘aliança profana’ entre o ‘senso comum’ e a ideologia dominante sustentada pela evidência prática das estruturas materiais estabelecidas, em cujo interior as pessoas têm de reproduzir as condições materiais e culturais de sua existência e ‘sentir-se à vontade como um peixe dentro d’água.”


(István Mészáros em O Poder da Ideologia, p. 482)